terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Interior do vértice


Vou fugir daqui, para mim esperar
É fraqueza, esperar é sofrer.
Vou ficar aqui, descobrir sozinho
É desconhecer, é ausência de beleza.

Vivo neste recanto escuro onde se encontram as esquinas,
As melhores sensações da vida são arestas
Que se unem num harmonioso vértice.
Eu moro do outro lado.
Num recanto escuro onde se acumula o pó,
O silêncio, a sujidade, o pensamento.
Conversar sozinho é para mim ciência
É uma arte que faço por aperfeiçoar.

Sei de cor cada prazer vosso,
Cada sorriso, cada razão de alegria.
E enquanto aguardo, sem vontade
De género algum, vou sonhando estar entre vós.

E eu não sonho com uma paz impossível,
Nem sonho com o cessar de guerras impensável,
Tão pouco sonho com a igualdade entre todos.
Eu sonho todos os dias que este sólido geométrico
Expluda em várias direcções diferentes,
E que quando chegar a hora de o voltar a montar
Alguém se engane e coloque os vértices ao contrário…
Só isso…
Só … isso…

29/12/08
Possivelmente o último poema de 2008... É um resumo? Sim e não. Não é o melhor poema para acabar um ano, mas também não é o pior. Que venha então um ano bom para todos, muito melhor. Que seja um ano de inspiração, mas mais importante ainda, de acção.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Hmm…rush

São onze horas, caminho pelas ruas
De Lisboa. O sol bate-me na face esquerda,
Mas não estou com disposição para dar
A outra face, não tenho pressa.
Vou pisando as folhas de um Outono
Que se está a aproximar do fim.
A vida é bela? Perguntem-me noutra altura.
Algumas pessoas conseguem passar por mim
Mais depressa do que ambulâncias,
Essas também por mim passam
Nunca lhes há-de faltar trabalho…
Porque temos nós de morrer?
Porque não podemos escolher a hora de morrer?
De todas as teorias e histórias sem nexo
Só respeito uma ideia: dar valor à vida.
A música que ouço sacode-me o espírito.
Alegria, poesia e um pouco de ousadia
Para me alegrar o dia.
Mas a euforia morre cedo, como morre
O sol nestes dias de Outono.
E de que vale passear nestes dias belos,
Sem razão para se caminhar,
Quando o sol que me aquece a cara
Não me aquece o interior?
Vale de nada.


22/12/08

Rush

Desenho-te uma ampulheta perto do umbigo,
Nessa parte que tanto gosto,
Com a areia que me vai caindo das mãos,
Nesta praia, o tempo que passo contigo
Não é tempo, não é hora, não é réstia.
Sem medo de perder esta vasta
Repetição de perfeição coloca-mos o tempo
Para trás das costas…
Quanto vale um pensamento teu? Diz-me.
Quanto vale um beijo meu dado com vontade?
Amor é perdição, estar-se só é morrer em vão,
Amar é mudar o sentido.
O ódio deixou de ser óbvio, o tempo é raiz do medo
Para perdermos a vida que temos e que queremos viver.
Falta de existência, ausência de essência,
Abraçados na aresta do tempo,
Ao som da melhor música acústica,
Lutamos contra a impotência.
Porque…
Porque…
Tu sabes.

21/12/08 – 16h00
Queria escrever mais, mas não encontrei as palavras.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Desperdício das massas

Graças a… ao condutor
Passamos vermelhos sinais.
Senti-me aliviado pois estávamos
Com alguma pressa.
A Lisboa bela estava molhada
Mas não me lembro de ver cair chuva.
Enquanto aguardávamos pela chegada
A casa respirei calma.
Ainda nos deram tempo
Para recitar Álvaro de Campos,
Algo parecido com: Margarida
Se te desse a minha vida que fazias tu com ela?
Éramos enormes e felizes
Nessa ilusão de quem bebe um
Pouco mais.
Nas pernas cansadas que me davam
Algum cansaço, depois de um longo dia,
Vislumbrei o sorriso aberto que me deste.
Não procurei nele sensação alguma
Mas o sorriso de uma mulher
É sempre um sorriso que não se esquece.
Nesse sorriso solto nada me disseste, mas o monstro
Foi libertado e nada mais em mim carece
Que a fome, a vontade, o saciar
Que em negação me entristece.

20/12/08 – 02h49, depois de saída à noite lisboeta. “Negar os nossos instintos é negar o que nos torna humanos.”(The Matrix)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ao sabor da insónia



Escrevo-te esta carta
Como justificação dos meus actos
Que nunca passaram de meros pensamentos.
Queres ficar a ler ou vais-te deitar?
Ao sabor do que me move a vontade
Vou escrevendo palavras para ti.
O sabor é de quem escreve palavras
Várias para serem lidas,
Apesar desse dom ou maldição
De cada palavra ser aceite de maneiras diferentes.
Até que ponto abdicas de tudo o que tomas por certo?
Gostava que te libertasses de tudo o que te prende.
Tudo. Tudo o que prende. Deixa-te ir…ao sabor.
Não te precipites mas também não hesites,
Deixa que esse sexto sentido te guie.
Deixa-te cair se te vais levantar mais forte.
Não aguardes, dá-me uma oportunidade,
O céu que te quero mostrar é o mesmo que todos vêem
Mas visto da minha perspectiva.
Tudo o que é meu é tudo o que eu te posso dar,
Não tenho o poder de tirar os defeitos a nada
Mas posso colorir o que o que não tem cor.
Vem comigo rasgar o que tomas por certo,
Dançar à beira rio ou respirar o fim de tarde
À luz do fecho das ruas.
Acabarás por saber viver
Quando aceitares que um dia vais morrer.
Não te comovas, o mundo não merece
Uma lágrima que desça desse suave rosto.

O frio evapora-se do meu corpo
Enquanto caminhas para mim,
Afinal sempre vieste.
O sol brilha como sempre brilhou
Mas hoje olho-o com mais beleza,
Com menos rancor de mim próprio.
As pedras que hoje sinto por baixo dos meus pés
Parecem mais alinhadas, mais perfeitas.
São as linhas que a minha alma esboça
E o que tem de ser…tem muita força.

17/12/08 - 02:53
Volta a escrever algo bonito às 03:00. Não sei, o que achas?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Lembrem-se

Gostava de descobrir quem colocou o tempo a funcionar,
Cosmos em movimento que foge à nossa compreensão,
Fósseis de seres grandiosos, provas de seres unicelulares,
Em nós nasce a vontade de levantar todos os restos
De provas que questionamos, pequenas pontas de icebergs.
Filósofos nasciam, pessoas que ainda hoje nos fazem pensar,
Nasciam culturas, maneiras de viver.
Apareceu o papiro, apareceram as religiões…
Apareceram os deuses…Apareceu o Deus.
Apareceram as ciências e com elas apareceu a dúvida.
Caminhámos, endireitamos as costas, aprendemos com os erros…
A única constante que perdurou foi a reprodução.
Muitas doenças, poucas curas, vontade de descobrir a
Existência de vida depois da morte.
Guerras, muralhas, sangue e vitórias.
Levada à fogueira de inocentes, fé espalhada pelo medo.
Aço e carvão, tecnologia sempre crescente num mundo que nunca parou de girar.

Histórias muitas que fazem parte da História,
A maioria foge à nossa memória, outras ao nosso conhecimento.

Nasceu a língua, nasceu a arte, nasceu o estereótipo.
Nascido depois de Cristo, só pelo que sou e faço
E só por isso grito.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Entrelaçado

Despede-te de uma só vez,
Não cries emoções desnecessárias
Que apenas servem para me pesar n’alma.
Todos eles estavam certos,
E hoje lançam-me em direcção
Ao céu na esperança de me ver
Chegar a uma nova utopia.

Chegaste, envolta em maravilha,
Fizeste-me acreditar numa utopia
Aqui em plena terra firme.
Seduziste-me com os teus sonhos
E com a tua forma de viver.

Todos somos únicos e todos somos diferentes,
Uns vêem em nós apenas mais alguém
Outros conseguem ver mais do que aquilo que
Às vezes vemos ao olhar para o espelho.
Resta-me ficar feliz imaginando-te caminhar
Por entre esses montes de cristal,
Sobre esse relva que canta por passares nela.

Que sejas feliz, que sejas sempre aquilo que és,
Hoje não me despeço porque senão seria para sempre,
Lembra-te que a utopia não nasceu aqui
Somos nós que a temos de moldar.
Sonha pois pequeno arco-íris,
Viaja ao céu e volta,
Mas transforma o teu sonho em acção,
Abre o coração e ama.

5/12/08
Aceitam-se sugestões para o título(já tentem três mas não me fizeram feliz)

Balada ao segundo sentido

Fica, fica mais um pouco,
O tempo corre demasiado louco,
Não fujas à vontade de estar e de ser,
O meu tempo é nosso…Lembra-te.

Não pares de te mexer, respira e desafia o mundo,
O tempo que reservei para outros agora pertence-te.
Encontrarás sempre força em pequenas coisas
Que te façam sorrir e amar mais,
Cordas prendem a minha vontade de me aproximar,
Sou refém do tempo, resta-me como muitos outros, esperar…
Porque não tentamos os dois agora?
A chama da esperança dura até se apagar na sombra
E depois já mais nada resta.
E o sol? Um dia o sol morre e nesse dia
De mãos dadas olharemos o céu ou o tecto ou a lua.

Fica, fica mais um pouco,
O tempo corre demasiado louco,
Não fujas à vontade de estar e de ser,
O meu tempo é nosso…Lembra-te.

Versologia

O sentimento que me une às linhas
É tão forte como o amor e como a morte.
Valem as acções para quem me conhece
E as palavras minhas.
Ignorado pelo azar sempre detestei a sorte.
Sempre fui receptor de sábios conselhos
Vindos desde os mais novos aos mais velhos.
Nem sempre encontro paz nas palavras,
Mas é certo que sinto que o mal foi expulso.
E enquanto se vai movendo o pulso
Criando histórias felizes ou macabras
Sinto-me renascer das cinzas.

Um minuto de atenção pode mudar um destino,
E neste traço azul fino
Tento fazer a diferença.
Sempre escrevi para mim
Mesmo quando quero escrever para outros.
Porque sei sempre o que preciso de ouvir
E nem sempre sei o que vocês precisam.

Escrever nunca foi razão de viver
Mas gosto de viver escrevendo.
Mas sei que as palavras, ditas ou escritas
Pouco ou nada têm de valor prático e sincero.
Por isso espero que as minha linhas
Sejam sempre uma transacção
Para a realidade,
O caminho mais curto entre a teoria e a prática.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Espessura da "alma"

Antes de começar a escrever sobre esta frase que apela ao nosso interior poético e que desperta em mim uma profunda curiosidade em descobrir até onde chegam os limites (se existirem) dessa mesma alma e o que poderá estar para além deles, gostava de esclarecer que esta frase apareceu na minha vida através de uma aula em que nos falavam sobre aços. Pois não deixa de ser uma irónica contrariedade falar de alma num pedaço de objecto. Só a título de curiosidade uma peça de aço que possa servir para suportar algo é constituída por duas partes: os banzos e a alma. Agora que já dei o meu toque de futuro homem ligado ao mundo das construções posso-me debruçar sobre o eu que eu mais gosto.

Começo pela questão mais básica da História: o que é a alma? Mas a esta pergunta nem filósofos, cientistas ou homens das religiões conseguiram dar resposta. Alguns defendem que a palavra alma é apenas uma designação mais bela para cérebro, outros dizes que o cérebro e a alma são coisas diferentes. Começo pois a duvidar da coerência e da razão de existir deste texto que escrevo. Senão sabemos definir “alma” como podemos então definir a sua espessura? Procurei então a sua definição no dicionário e passo a citar: “Alma, s.f. parte imaterial da natureza humana, constituída pela inteligência, o temperamento e o carácter. Principio vital. (…)”. Assim sendo já posso procurar encontrar a espessura da alma.
Na minha opinião todos nascemos com uma pequena alma, não que se possa medir ou pesar a alma, digo pequena no sentido que ainda tem muito para crescer. Assim como acredito que todos nós nascemos maioritariamente bons, no contexto das leis e normas da sociedade. Penso no entanto que a alma, em toda a sua complexa grandeza, é no fundo moldável. Acontecimentos e/ou pessoas tornam-nos constantemente melhores ou piores com seres humanos.
Qual é então a espessura da alma? Não me queria tornar previsível, por isso não direi sem pensar, impossível. Mas seria também arriscado dizer que a sua espessura é finita. Existem duas questões fundamentais: o que pode a alma alcançar e poderá a alma resistir à morte? A esta segunda pergunta não consigo responder, faltam-me argumentos plausíveis, é algo que por enquanto, depende de cada pessoa. Em relação à primeira pergunta poderia responder com uma frase cliché, que possivelmente encerraria a questão: o Homem é capaz do melhor e do pior. Certo? Se por um lado ousamos por vezes pensar que já vimos as piores acções feitas pelo Homem, a verdade é que nos conseguem sempre surpreender mais. São histórias e feitos incontáveis desde os primórdios até hoje, que todos nós conhecemos. Por isso, e acrescento aqui um infelizmente, para o lado negativo a alma não até hoje finita. Para o lado bom também existem muitos acontecimentos que fazem com que este mundo seja melhor, dando-nos assim uma alma infinita, ou se preferirem não finita por explorar.

Esta frase merecia diálogo, merecia discussão. Dada a minha situação reflicto para vocês. Qual é a espessura da alma?


13/12/08 , Foi apenas uma pequena reflexão. Há muito por onde explorar este tema.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Balada ao sentido

Apenas sei que sinto da mesma forma que tu,
Se algum dia precisares de mim aqui estou,
Não fujas à vontade de estar e de ser,
O meu tempo é nosso…Lembra-te.

O momento sempre me custou a passar
Se o passo longe de quem gosto,
Seja em competição ou cooperação o tempo
Passa tão mais rápido quanto menos se espera,
E esperar não basta, esperar não chega. Sente-me.
Respira-me na minha calma, respira na minha força
E deixemo-nos ficar ofegantes, apenas nós, a nossa respiração
E o esquecimento de tudo o que nos envolve.
Deixemo-nos cair nesse silêncio, onde duas pessoas de corpos entrelaçados,
De mãos dadas simplesmente olham o céu ou o tecto.

Apenas sei que sinto da mesma forma que tu,
Se algum dia precisares de mim aqui estou,
Não fujas à vontade de estar e de ser,
O meu tempo é nosso…Lembra-te.

07/12/08 – 03h00

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sentado ao lado de um fantasma teu

Cruzei-me com um frio
Que me fez tremer as pernas em plena cidade.
O tabaco de nada valia, servia apenas para passar o tempo,
Todo o ar que me entrava nos pulmões também era frio.
Depois de uma hora, onde o frio vinha e ia consoante o lugar
Onde estava, finalmente cheguei ao meu belo Terreiro do Paço.
É meu unicamente por que o amo e porque quando lá chego
É como se chegasse a um Oásis, é como chegar a terra firme
Depois de uma tempestade em alto mar.
Entrei então nesses vias subterrâneas que nos levam onde queremos
Em poucos minutos. Nunca apreciei a velocidade se esta não tem beleza
Em seu redor. E viajar vendo túneis não me faz feliz. Tão pouco gosto
De ver janelas quase artificiais que nos dão a ilusão de estarmos
Rodeados de ar e vento… Nunca gostei de nada ligado à claustrofobia.

Os vidros desses comboios subterrâneos são a única coisa onde encontro
Alguma graça. São espelhos enormes, com imagens cruzados de vários pontos.
E dada a falta de cor e de alternativas para quem viaja, acabamos por passar muito
Do tempo da viagem estudando rostos, olhando rostos, olhando olhos.
E numa distracção minha, devo ter fechado temporariamente os olhos,
Sentas-te a meu lado. Mas não podia ser…quais eram as probabilidades?
Só as mesmas do sol e da lua se beijarem…Mas isso já aconteceu algumas vezes desde
Que nasci… Só as mesmas de um pingo de chuva de alguma varanda, com tanto espaço
No chão e nos corpos que passam por ele, nos cair directamente na nuca...
Mas isso também me acontece e muito. Mas não podia ser. Tentei me manter calmo
E estudar-te. Virei devagar a cara e senti desde logo o teu perfume. Igual. Aquele
Aroma suave, que faz lembrar a Primavera mesmo no Inverno. A maneira como
Pegavas nos objectos que trazias contigo também era tão tua, como seguravas nas
Folhas, canetas, tudo. Mexias em tudo com a tua maneira de mexer. Nunca te captei
Os olhos, mas as sobrancelhas eram as tuas. A tua mão, não muito suave, mas perfeita,
A maneira como as tuas unhas se conjugavam com o dedo… Mas não podia ser.
Sim, claro, o nariz engraçava o ambiente. E o teu cabelo…que mais posso dizer?
Levantei-me, cheguei onde finalmente queria chegar. Ao sair, passando pelo primeiro vidro
Virei a cara e olhei-te. Não eras tu. Depois fiquei a pensar: terei mudado de perspectiva
Ou terei colocado naquela mulher as tuas características?
Saí para a rua, abrindo os abraços ao frio
Sabendo que estive sentado ao lado de um fantasma teu.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Herege

Os sentimentos não se devem escrever
Mas a raiva que sinto por vezes
É tamanha que é impossível deixa-la
Dentro de mim.
E por muito que lute por vislumbrar
Uma luz tua, que apenas encontro
Em felizes pequenos acontecimentos
Que são tão insignificantes como pó,
Não te vejo em parte alguma.
Há tempos presentes afastei-me
De uma das tuas religiões,
Por ter sentido honestamente que
Ela nada me fazia sentir diferente
Para ser melhor como ser humano.
Agora caiu na tentação de me afastar
De ti. Assim como outros que te chamam
Apenas em horas de aflição é o sentimento
Que me envolve de momento.
É apenas um sentimento do momento,
Bem o sei, mas não deixa de ser sentido.
A maneira como seivas vidas sem lógica
Ao nosso pensamento, como fazes sofrer
Inocentes que apenas praticam o bem.
Porque não esperas? Porque tiras com
Uma velocidade imensa pessoas às pessoas,
Felicidade a quem já não a tem?
Porque ofereces doenças a quem já sofre?
A fome e a miséria pintam o mundo
De vermelho, cinzento e preto.
Os pobres que te seguem sem questionar,
Que hipocritamente se fingem insensíveis à dor
À perda, a todo este lixo de humanismo,
Desculpam-te dizendo que são os teus desígnios
Que sejam…Não me interessam até me serem explicados.
A minha passividade agressiva é comum a quem sente.
E hoje, por uma vez que seja na minha vida, tenho fé no homem.
E a tua vontade, injustifica racionalmente, é me indiferente.

27/11/08 – 23:20
A todos faz pensar, em cada esquina esconde-se desgraça e injustiça.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Imagina..

You may say i’m a dreamer… but i’m not the only one…” (John Lennon)

Imagina que a vida é curta, onde cada momento é único
Um momento tão único que jamais vai voltar,
Imagina que aceitas a verdade tal como ela é, mesmo quando esta magoa,
Senta-te aqui ao pé de mim e vamos imaginar juntos.

Imagina que pões em prática todas as falas e acções que praticas em pensamento,
Consegues imaginar um mundo tão maior quanto maior for a perspectiva?
Imagina que não existem limites, que nada é o que parece…
Imagina que o mundo pode ser tudo o que possas imaginar.

Tens pernas, caminha. Tens mãos, faz. Tens alma, cria. És pessoa? Ama.
Imagina de quantas cores pode ser o teu céu, de que forma será a tua terra.
Imagina um mundo sem fome, sem guerra, sem hipocrisia. Um mundo à parte.
Se imaginar for o motor da tua acção…então…imagina.

26/11/08
Este poema está tão pequeno, minusculo, insatesfatório, comparado com a verdadeira música. Foi o pouco que consegui.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Desfibrilhador

Eras dois, tornaste-te um.
Bebeste dessa bênção branca
Que te deu força e vontade
Para lutares contra a falta de equilíbrio.
Deixaste que te educassem, aprendeste.
Descobriste a necessidade de partilhar
E receber, amar e odiar,
Descobriste que neste mundo ninguém nasce só.
Experimentaste e foste experiência.

Apertas a gravata para realçar
A tua sorte de condenado.
Nesse teu corpo rígido
Engomado pela sociedade
Respiras aflição numa arte já aperfeiçoada.
Sentes a revolta e uma pergunta
Frustrada de ironia
Bloqueia o teu pensamento:
Se o arrependimento não mata
Porque me sinto morto?
Tão morto quanto um morto deve estar…
Ouves vozes à tua volta,
Sentes um frio no peito que vai e vem…
E agora?

Hora da morte: dez e trinta.

18/11/08

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Decisão

Perdi-me outra vez
Mas encontrei o meu nome no mapa.
Da última vez que joguei xadrez
Com Deus ambos ficamos só com o rei.
Encontrei a luz,
Não uma luz divina mas
A luz que alguém acendeu para mim.
Neste profundo sentimento abstracto
Que me une à terra
Procurei uma razão segura
Para vos amar eternamente,
Até que veio alguém que me disse:
Não te deixes enganar.
Fui-me deixando render à paz
E ao ódio nunca quis dar tréguas.
Podem-me chamar sonhador
Mas prefiro estar só contra todos
Do que estarmos todos juntos
Contra nada.
Quem me ama aguarda nesse silêncio
De quem ama, sem esperar pela sua vez
De falar, apenas ouvem tudo o que
Podem escutar.
Os outro fingem ouvir,
Aguardam apenas a decisão.
Alguns deitam-me ao chão
Através do pensamento, outros erguem-me
Porque faço parte deles.
Que decides tu?
Eu escolho viver.

18/11/08

domingo, 16 de novembro de 2008

Black birds

Voas no ar pequena ave preta
Tão difícil de agarrar,
Mas quem precisa de te sentir
Quando nós temos as palavras?

Pequena ave preta
Que renega o chão que lhe foi dado,
Não te assustes, para quê sentir-te
Quando temos as palavras?

Preta ave pequena que se confunde na noite
Como rasga o dia trazendo o contraste,
Porque evitas o toque que não te quero dar?
Eu só tenho as palavras.

Lembra-te pois, pequena ave preta
Que neste mundo nada mais te poderemos dar,
É isto que somos, é isto que temos,
Nós apenas temos as palavras.


02:17
16/11/2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cocktail

Vejo-te sentado, aguardando
Pelo Inverno, pois assim que chegue
Aguardarás sentado pelo Verão.
Podias ter tudo ou podes não ter nada,
O relógio antigo que dá as badaladas
Recorda-te o passado que ainda te é presente.
Nesse país das maravilhas
Onde abunda o absinto e a aguardente
Sentes a felicidade como mais ninguém sente.
E brilham os olhos, de uma felicidade aparente,
Sorri a boca, presa ao cigarro que pende,
Na tua sala de fumo, és todos
E de ninguém dependes.
A dádiva da vida não é razão que chegue,
Sobram demasiados pedaços de algo,
Poderias mudar mas para quê,
Porquê, para quem.
Perdes a noção ao rosto que te olha
Quando olhas para o espelho,
A fome só dá vida a quem precisa de alimento.
Nem medicamentos, nem terapia,
Tudo não passa de uma luz artificial que dá que algum alento.
O cinzento pinta as paredes da tua alma,
Nessa luta interior de saber o próximo passo,
Aguardas o momento de falso triunfo
Em que recortas na tua lápide as palavras:
Aqui jaz ninguém.
Bebes com rapidez desse forte cocktail
Que mistura todos os sabores.
Um pouco de fé…
Um pouco de fé.

10/11/08

domingo, 9 de novembro de 2008

Canção do tempo

Quem ao tempo
Tempo tira com quanto tempo
Costuma ficar?
Não que faça do tempo
Um brinquedo ou
Um espaço familiar,
Mas o tempo que não gasto
Fica sempre a pesar,
Por outro lado o tempo que gasto
Por vezes deixa-me a desejar.

Perguntei ao tempo quanto tempo
Demoraria a chegar,
Ele franziu o sobrolho
E brincou dizendo:
Olha que o tempo não tem
Por costume atrasar.

Quanto mais corro
Mas tu passas devagar,
Ai tempo maldito
Que és tempo que chateia
Só por chatear.

Não foste criado, sempre serás
Dado adquirido, existes mesmo
Onde não existe lugar.
És sucessão de verbos, és impossível de enganar.

Embala-me e aconchega-me em ti
Até que chegue o tempo,
O tempo da minha hora.

7/11/08

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Fardo

Nasci do nada, do pedaço de nada
Que rodeia o Universo finito e infinito
Em contrariedades.
Nasci do Deus Todo-poderoso
Que se mantém silencioso.
Nasci dum amor nascido de mortais.

Pontapeio pedaços de sujidade que
Me bloqueiam o chão.
Piso o sujo caminho que os outros
Já sujaram.
Os erros ficam na história
Porque dá demasiado trabalho
Alguém os corrigir.

O fardo pesado, que hoje carrego,
Carrego-o porque nasci.
Ser-se humano é suficiente para
Reflectir sobre a razão de carregar tal fardo:
O facto de se ser um ser humano.

Instinto fatal

Sempre consciente do objectivo:
Destruir tudo
O que pode ser destruído.
” (DLM)

Nunca encontrarás o meu
Nome em santos livros…
O meu suspiro suprime
Todos os seres vivos.

Não dou ao Tempo
Tempo para criar raízes.
Eu nasci
Em vocês nasceram cicatrizes.

Basto-me a mim mesmo,
Sou eu sozinho, eu e mais ninguém.
Destruidor da falsa vida
Ao ser mau pratico o bem.

Abdico do amor
Esse vosso consolo é quase sempre em vão,
Ao ser forte abro mares
E multiplico, à minha maneira, o pão.

O medo não existe,
É simples invenção humana.
Crio verdades perfeitas
A razão é sempre soberana.

Venero-vos em todo o meu ódio,
Desistem, culpam
Choram e imploram,
Os vossos erros mantêm-me sóbrio.
Destruo os vossos sonhos
Ao transforma-los em realidade.

A realidade já pouco tem de real.
Vocês preferem uma vida sem sal,
Nem conservam nem dão sabor.
Neste mundo ponto de interrogação
Resta-me revelar-vos o vosso
E o meu lado sobre o qual reside
Todo o instinto fatal.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Desprezo minucioso

Como salvar uma vida
De quem já possui
Raízes rasgadas da terra?
Enquanto caminho vou devagar
Porque vais a meu lado,
E esse lado, essa companhia
Não provem das cinzas de um sentimento.
Se fazes questão que te vejam
Cair faz também questão que te vejam
Levantar.
De que lado vieste tu
Que não te voltei a encontrar?
Por vezes corrida louca em
Direcção a tudo
Noutras em rota de colisão
Em direcção à terra.
Depois desse astuto desprezo
De como quem brinca às sombras
Percebi que estar errado
Foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Não abrirei os braços
Para te estender conforto
Mas estenderei sempre a mão
Se isso evitar que caias no abismo.

Nunca te procurei
Mas tu apareceste.
Agora que te procuro
Esse minucioso desprezo
Que me vai aguardando
Deixa soltar um suspiro de perdão
Que envolto em vento vai dando tempo às
Raízes para curarem.
Como salvar uma vida
De quem já possui
Raízes rasgadas da terra?!

Quando o pano desce


Os aplausos abrandam,
Respiras fundo e pousas a máscara.
Na máscara que repousa
Repousam também as faces
Duramente aplicadas ao teu rosto
Que hoje, assim como em tantos outros dias,
Tiveste de usar.
Porque escolhes o caminho da direita
Quando é para a esquerda que queres virar?
Quando tiras a máscara
Cai o fardo das tuas costas,
Desaparece a espada que te encosta à parede,
Quando tiras a máscara
Apenas respiras alívio e satisfação.
Então para quê usá-la?
Temes uma mudança ao deita-la fora?

Um dia decides viver sem ela,
És feliz, todos vêem o teu rosto,
Aquilo que realmente és.
Uns gostam, outros não mas a vida é assim mesmo.

Mas nem só de felicidade vive o homem…
A pressão aumenta e a vida não é
Assim mesmo.
A ilusão da perfeição gosta de colorir
Este mundo mascarado.
E apesar de humano
O Homem é um ser programado.
Não sabes a razão
Mas sabes que fazes o mais correcto,
Reconstróis a máscara e voltas a coloca-la.
A vida é assim mesmo.
O pano levanta e ouves os aplausos.

sábado, 1 de novembro de 2008

Cálculo reprovado

Caminhamos neste mundo
Sorrindo, mentindo, fugindo.
Nesse turbilhão de ideias
Que fluem em direcção ao céu
Palmilhamos as brasas do chão
Que nos acompanham quando
Mais precisamos.
E não é por acaso
Que vejo tantos reflexos meus
Quando passeio neste mundo,
Como se me visse ao espelho.
Essas exterioridades coloridas
A mim não me incomodam,
Sinto-me muito mais incomodado
Quando vejo que sujo mais do que
O próprio lixo.
Sei que existo porque faço por existir,
E enquanto a morte não me
Ceifa o corpo a alma vai brincando.
Entre a vossa verdade e a minha
Prefiro a vossa. Porquê?
Porque é mais bela, carrega
De eufemismos e tão próxima
Da mentira.
Não se incomodem, quem está errado sou eu,
O erro desta equação é culpa minha,
Nunca gostei de números apesar da sua
Perfeição e das letras pouco ou nada
Sei.
E não é por acaso que um erro de
Cálculo nos obriga a rever tudo outra vez,
Só sei que quando chego à minha
Varanda para ver duas ou três estrelas penso:
Apetecia-me destruir algo belo.

31/10/08

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Aprendizagem

Abri os olhos e a luz intensa cega-me por
Breves instantes. Onde estou?
Estou numa gigantesca sala branca
Na qual não encontro as paredes ou tecto.
Mas sei que estou numa sala.
Estou sentado numa cadeira confortável.
Sinto que não estou amarrado mas não
Me consigo levantar.
Enquanto medito na razão para tal bizarra
Situação, aparecem na sala três homens.
Todos vestidos de preto, sem qualquer emoção no
Rosto, carregados de livros com folhas escritas,
Folhas arrancadas e folhas acrescentadas.
O livro de aspecto mais usado e antigo
Tem como título a data do meu nascimento.

O coração acelera o passo e começa a correr
Como se não existisse amanhã.
Corre, corre, corre, corre e corre um pouco mais.
A cada um chega a sua hora.
E a verdade mata-me como a morte mata uma vida.
Começo a cantar em voz baixa:
“Eu nunca falhei para sentir dor.”

Os homens começam a cantar comigo.
Enquanto cantamos percebo a razão de tal
Bizarra situação.
Cumprido o objectivo, os homens afastam-se.
Eu levanto-me e sigo o meu caminho
Consciente de que aprendi mais uma lição.



27/10/08 – (música cantada em voz baixa, Nirvana – You know you’re right)

Queda livre

Sempre desejas-te mais do que o possível. Sim, o céu é o limite mas tu quiseste ultrapassar o céu. Bem sei que só os tolos se apaixonam. E os que ainda ousam ultrapassar esse estado de loucura começam a amar. Mais interessante ainda é observar ou viver as loucuras de quem ama. Desde os gestos, às surpresas sempre únicas, as canções decoradas ou inventadas, as manifestações escritas ou ditas ao bom estilo cinematográfico. Mas para mim, aquilo que me faz quase esquecer isso tudo são as promessas, as juras de amor. Porque tudo o resto fica guardado na nossa memória, para o bem ou para o mal, mas ficam guardadas. Algumas para sempre, ou até serem esquecidas ou ainda até serem substituídas. Tudo o resto é sentido no momento, as promessas têm esse condão de serem feitas em alturas de clímax sentimental. Podem-se considerar uma verdade aparente, mas regra geral não passam de falsas verdades sem qualquer exactidão, em que muitas vezes não passam de um pretexto para passar o tempo.
Sei que o mundo muda e muda constante assim como sei que nós também mudamos e mudamos constantemente. Quando dizem que tudo pode mudar num segundo não estão assim tão longe da verdade. Agora que penso no assunto penso que Romeu e Julieta morreram para garantir que o ser amor seria eterno. Ao morrerem encontraram uma maneira romântica de se amarem para todo o sempre evitando assim cair nas milhares de situações que levam duas pessoas a separar-se. Seja como for a história contada, encontro sempre beleza no seu final. Fazias-me sorrir nessas tuas ideias de um amor resistente à morte. Era belo de facto mas pouco provável. Ninguém sabe o dia de amanhã, muito menos os supostos dias depois da morte.
Os meus pés sempre pisaram uma terra firme, de uma firmeza bela e real. Nunca prometi o impossível e sempre cumpri o que prometi. Depois de ultrapassares o céu perdi-te de vista. O que hoje sinto é um constante céu que me cai em cima em constante queda livre.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Quando Deus me tirou os sentidos

Acordei certo dia
Vivendo um pesadelo
Soube desde logo
Que jamais iria esquece-lo.

Uma luz pálida expulsou-me
Da mim e obrigou-me a caminhar
Na rua.
Vi então uma chuva forte que
Caía do céu
E eu nada sentia,
Tudo em volta molhado
E eu privado da sua frescura.
A saudade antiga fez-te correr
Até mim, agarrei-te com força
Como se te fosse perder outra vez.
Afinal era um sonho.
Mas não sentia a tua pele
Beijei-te e não sentia o teu sabor,
Afinal era um pesadelo.
Encostei-me a ti… e nada cheirei.

Bate-me até perder os sentidos,
Não basta a fé que tenho?!
Acredito, não preciso de rituais inventados
Por homens que se julgam melhores,
Respeito, não preciso de ficar com
Os joelhos dormentes,
Digo, não preciso de ser hipócrita.
Perco a visão e fico nessa incógnita existencial
Do ser: não vejo, não sinto, não saboreio, não cheiro,
De que vale não sentir dor?
Não vale de nada.
Seja pois feita a Tua vontade
Se essa for igual à minha.

22/10/08 – 23:00

sábado, 18 de outubro de 2008

Psicanálise

Eu sei que as peças encaixam
Porque as vi caírem desfragmentadas no chão,
Mas imagina que aceitavas a verdade.

Um vírus, um cancro que te
Devora por dentro
Enquanto sorris de frente para
A vida.
Ninguém te pode dizer
O que deves sentir,
Ninguém te pode dizer
O que queres gritar.

Pobres crentes na ilusão humana,
Apalpam pedaços de céu na
Vontade vã de se sentirem superiores.
A alegria que me corre nas veias
Deve-se a esta vontade não efémera
De provar que estão errados.

Os teus olhos que penetram
Numa solidão escura e sem sentido
Acabarão por se habituar à luz.
Deixa-te ser quem és.

Julgam poder voar alto como Ícaro
E cairão dessa mesma altura.
E não será a queda que vos magoa
Será terem-se tornado naquilo que mais temiam.

Num revirar constante de identidades
Subjectivamente infinitas,
Freud pensou:
Não há bem que sempre dure
Nem mal que dure para sempre. Ainda mal!

(17/10/08 – A primeira estrofe é tradução ligeiramente alterada de frases das músicas “The truth”(Limp Bizkit) e “Schism”(Tool). )

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Encantamento

Por isso vim,
Envolta em sombras
E cinzentas poeiras
Ouvi-te chamar.
E porque iluminas
Pedaços da noite
Como matas o dia
Trazendo as trevas
Vim.
Enfrento-te sem nada recear.
Enquanto me encantas
Eu finjo não me deixar
Encantar, saboreio a tua
Pessoa e gosto tanto
Da tua presença
Como gosto do teu lado lunar.

Um ódio reprimido
Solta o meu eu num
Espaço reduzido ao teu encantamento.
O melhor passou a pior
Num instante banal,
Sem regras, sem justificações,
Sem beleza…
E quando algo perde a beleza,
Seja ela de que género for,
Tudo perde sentido e lógica.
Quando vejo a tua alma
Força de tempestade
Tornar-se brisa,
Onde luto por ressuscitá-la
Sem conseguir,
Então começo a perder
O encantamento.
Com triste agradecimento
Procuro desencantar-me.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

E os deuses

Zeus pede cinco tempos e vai até à varanda. Senta-se e suspira. Limpa o suor da testa com o braço esquerdo. Acende um cigarro com a ponta do dedo e deixa-se fumar lentamente. Ainda cansado e com o coração em altos batimentos arranja forças para gritar pelo seu filho Apolo. Apolo vem correndo mais depressa do que o costume, pois trata-se do seu pai.
- Chamou?
- Chamei. Faz-me um favor, diz à minha esposa que tive uma reunião que vai prolongar o meu atraso.
- Com certeza pai… Hoje está com um ar mais cansado do que o normal, está bem?
- Ela hoje está insaciável.
Apolo correu então ainda mais depressa em direcção à actual esposa de Zeus, com uma nova verdade em forma de mensagem.
- Devo estar a ficar mesmo velho. Suspirou o velho Zeus.
Volta a entrar no quarto e ei-la ainda mais bela do que à cinco tempos atrás. Desta vez tinha um lençol branco que serpenteava todo o corpo, cuidadosamente por acaso tapando o ventre e os seios.
“Basta ser mulher, que homem ou deus cai na loucura. Nem só da alma podemos nós viver”, pensou. Estava agora loira, outrora morena e chegou mesmo a experimentar um tom mais ruivo. Era Vénus. Como sempre sublime, bela, intocável a qualquer um, desejando ser tocada por todos.
- Não me queres amar mais hoje?, perguntou Vénus num tom cedente de mais amor, num misto de brutalidade e melaço, enquanto se movia de mil maneiras diferentes, daquelas que levam um homem ou deus a uma loucura injustificada racionalmente. Amar… Estamos pois diante de uma palavra, com significados vários. “A carne é fraca e de muita carne vive o homem e o deus”, pensou Zeus.
- A minha esposa espera-me…
- Pois bem… Deitou-se então e apoiou a cabeça nas mãos formando uma rampa perfeita com as suas costas, num declive divinal. Que perfeição, o cabelo preso no lado direito dava a mostrar a sua cara, o seu pescoço, cada linha sua, os ombros e os belos seios que pendiam relativamente no ar apenas agarrados por aquele magnifico corpo. “Nem os homens nem eu!”
…Porém.

Zeus tinha pedido cinco tempos na varanda. Vénus olhava-o através das cortinas transparentes. “Tanta sabedoria e experiência num corpo tão belo.” Olhava-o com aquele amor de que se apaixona, de quem à primeira vista só procura atingir os olhos e a alma. Mas depressa mordeu o lábio e desejou toda aquela força possante dele nela. Afinal era apenas um corpo, talvez o melhor, mas apenas um corpo, que mais do que qualquer outro estaria ali a fazer o impossível para a fazer ter prazer. “A carne é fraca e é a carne que o homem ou o deus deseja, que o faz trair o espírito.”
Os seus cabelos brancos caiam-lhe harmoniosamente na testa. Um pescoço forte ligava o bonito rosto aos fortes ombros, donos de braços esculpidos. Todo ele ardia harmonia. Vénus gostava de harmonia e adorava queimar-se.
Zeus entrou no quarto. As velas iluminavam apenas uma das suas faces, como se exprimisse também a sua alma; a fome carnal ou uma presença crescente de espírito.

Há várias coisas que passam pela cabeça de um homem ou deus nestes momentos. Todas elas apesar de lógicas, vêem sempre desordenadas. Por um lado: vive a vida, aproveita o momento, goza o sabor doce da traição. Por outro lado: se amas quem amas para quê fazeres isso? Se amas quem desejas e desejas quem amas, para quê?
Zeus sorriu a Vénus e saiu do quarto. Reflectiu no caminho para casa. “É verdade que desejo Vénus, mas não a amo e desejo mais quem amo. É essa talvez a diferença entre paixão e amor. A paixão pode ser avassaladora, tão forte que parece por vezes derrubar o amor. Mas não. O amor está sempre lá. Cresce, esconde-se das intempéries e se for verdadeiro volta ainda mais forte.“
Errar é humano e divino, cabe pois ao homem ou deus aprender com o erro e não voltar a errar. E Zeus foi assobiando felicidade no caminho para casa.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Fragmento do ser

Ficas-te preso ao tapete
Desde o esquecimento da
Empregada de Fernando Pessoa.
Sentes os pés de quem te pisa
E sentes revolta:
Ou pisam de propósito
Fingindo não te ver
Ou pisam porque não te vêem.
Das duas uma,
E das duas ficas sempre infeliz.

És vidro partido, pedaço de porcelana,
Pedaço de alma fragmentada, fragmento de ser.
Tentas esquecer em vão
A razão pela qual te esqueceram no chão.
E sonhas todos os dias
Que alguém repare em ti
E te coloque no lixo,
Lugar onde encontrarás
Mais pedaços esquecidos e partidos
Como tu.
Fechas os olhos e tentas ignorar
O facto de a empregada ter
Acabado de varrer todo o tapete
Deixando-te numa solidão limpa.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Humanador

Só acredito num deus que saiba dançar.

Porque até lá respiro.
Subiste ao púlpito e gritas-te
O teu sermão para os teus
Fiéis. Eles gostam de ti.
Enquanto gritas, todos
Fingem prestar atenção.
E tu gostas dessa sensação.
Sofres e falas as tuas verdades
Em voz alta, com os sentimentos
Ao teu rubro, com uma força
De vontade tamanha que quase
Te chego a admirar.
Estou sentado na extremidade
Da sombra, tu sentes a minha
Presença e gritas ainda mais alto.

Alguns sorriem, ou acenam
Positivamente, tu começas a chorar,
Percebes que eles nada sabem de ti,
São apenas pessoas colocadas
No lugar certo para te fazer viver.
Dooooooooooooooooooooooooooooor!
Começas então a sussurrar
Para a única pessoa que te escuta.
E sussurras para mim.
No fim, só eu poderei dizer
Enquanto caminho para longe de ti
Se foste ou não uma desilusão.

Beleza artificial

Perguntaste-me certo dia
Até que ponto era eu real.
Disse-te que não bastava
O facto de existir, de estar
Nesse momento a olhar-te nos olhos
E a dizer-te ditos de amor.
Ficas-te sentada a olhar
Para mim, sorris-te
E fizeste-me o elogio mais
Original que me fizeram até hoje.
Disseste-me que tinha um aspecto confortável.
Ri-me e disse-te que a melhor
Prova de que existia
Era contar-te tudo o que já tinha sido,
Tudo o que era e tudo o que queria ser.
Acrescentei ainda, que seria desde logo
Mostrar-te todas as qualidades e defeitos meus.
E que contigo, se eu de facto existisse,
Devia abusar das minhas qualidades
E acalmar desde logo os meus defeitos.
Ficas-te satisfeita com a resposta
E continuamos a conversar.

sábado, 4 de outubro de 2008

Last day on earth

Visto deste meu actual presente. De certo faltam muitas coisas, de qualquer maneira nesse dia, mais do que em qualquer outro, o tempo passará a voar. Serio o meu. Como será o teu? Aproveita pois, como diz o povo, cada dia como se fosse o último.

“O que farias de diferente se o mundo acabasse amanhã, se exactamente ao fazeres algo diferente o mundo não acabasse?” (Bill Watterson – criador de Calvin and Hobbes)

Descobri hoje que tenho como últimas horas a réstia de tempo dos minutos de um nascer do sol até ao outro nascer do sol.
Acordo às oito da manhã e deixo-me na cama. Saboreio a sorna matinal no aconchego da cama. Sem alguém ao meu lado a quem possa acordar com suaves beijos, visto os calções e vou correr um bocado. Correr, pelo simples prazer de correr, sem qualquer meta, apenas até os músculos pegarem fogo e os pulmões fraquejarem é o que eu mais gosto.
O resto da manhã passo-a com os meus. Recordamos os velhos tempos. Choramos de tanto rir com histórias e fotografias antigas. Dedico um tempo especial à minha irmã. Ela merece-o. Damos um passeio agradável. Prometo-lhe que à tarde estará comigo na despedida da praia e do mar.
Volto para casa e despeço-me de quem posso através do computador e telefone. Vou ouvindo todas as músicas que posso. Almoço a melhor lasanha alguma feita por um português. Bebo água, a melhor bebida até hoje inventada.
Peço um momento a sós e passeio na minha rua. A mais comprida estrada lisboeta, a Estrada de Benfica. Não choro mas comovo-me, a minha rua e um último caminhar nela. Adeus vizinho e conhecidos, foi um prazer.
Reservo uma boa fatia da tarde para pegar nos meus verdadeiros amigos. Nunca vos esquecerei. Há três coisas que os verdadeiros podem e devem fazer: estar lá no bom e no mau, apoiar-nos quando estamos certos e corrigir-nos quando estamos errados. Por último filosofar ou rir até não podermos mais. Vamos de carro para me despedir dessa cidade mais bonita que alguma vez encontrei. A grande Lisboa. Colocamos uma banda sonora só nossa. Variada. Lisboa serei para sempre teu. Sentirei falta de cada pedra na calçada tão perfeitamente colocada com arte e engenho, dos teus monumentos, dos teus mendigos, lojas e paisagens. Lamento não me puder despedir de sítios tão belos como o Algarve, Sintra, a terra da minha avó e mais ainda do grandioso Porto.
Na praia aproveito a areia, a calma e o mar. Amigos de todos os géneros e família. É bom estar ali.
Tinha mesmo razão, tantas coisas para fazer e tão pouco tempo. De volta a casa faço uns últimos recados e janto esparguete à bolonhesa. Que posso dizer? Adoro comer e adoro comida italiana. A comida portuguesa ficará sempre no meu paladar, desde a feijoada, cozido à portuguesa, os enchidos, os peixes, as sopas. A melhor.
Despeço-me por fim da minha família, como qualquer viajante para a morte deixo uma mensagem especial para cada um.
Saio de casa. Uma noite enorme espera-me. Com os meus amigos vamos viver o que resta da minha vida.
Conversamos, bebemos álcool até ao estado de felicidade consciente e rimos.
De manhã corri, de noite danço. Dançar liberta-nos. Ironicamente parece-me a noite mais comprida que alguma vez já tive dada a diversão diversificada. Está quase a nascer o sol. Vamos até Belém enquanto saboreio um ‘final-fast-food’.
Ao pé do rio Tejo despeço-me de cada um deles e de todos em conjunto. Sento-me e acendo um cigarro. Este rio sujo é o meu rio. A sua calma espera-me. Sem ninguém a quem por o braço por cima do ombro penso em todos o que ali queriam estar. Mas se a morte pode ser silenciosa também assim seria a minha despedida.
Como todos aqueles prestes a morrer ou como todos aqueles que perdem alguém reduzo-me à realidade: quem me dera voltar atrás, quem me dera ter vivido mais, ter corrido até não poder mais, ter amado cada mulher como se fosse única e última, ter feito tudo de melhor que conseguisse. Não choro, gostei de ter nascido e amei viver a vida.
A banda sonora final? O pouco barulho do rio e os carros que passam. Porque nesta vida a banda sonora é incontável, para todos nós, uma mistura de todos os estilos de música. O sol vai espreitando e desta vez não abre a janela do meu quarto mas a janela para morte. Riu-me sozinho, depois do dia que tive hoje o que poderei mais ver nas visões ante morte?


(depois de ter escrito, de facto reparei, faltaram algumas coisas)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Nunca lhe chamei vida utópica(6ªparte)

“Porque a nossa guerra é outra”

Está assim justificado o porquê de andarmos todos em direcções diferentes ou até mesmo opostas. Basta pensarmos que a nossa guerra é outra para seguirmos um caminho sozinho na maneira de andar mas inundado de pessoas que caminham famintas para uma meta qualquer, pessoas que se atropelam mutuamente e seguem as suas vidas. O tempo nunca pára e tu preferes caminha-lo sozinho, mesmo quando existem outros que te acompanham o pensamento e a alma. O ser humano é um ser social, as pessoas fazem falta às pessoas, o amor e amizade, uma empatia temporária ou eterna é essencial, então porquê caminhar sozinho? Para quê?

Está assim justificado o porquê de cada um caminhar por si próprio, de rosto tapado pela solidão, atropelando e deixando-se atropelar por outros: neutros, competidores, aliados. A nossa guerra às vezes é mesmo outra, mas quase sempre tens alguém que pode ajudar a trava-la. A tua guerra é outra? Que seja, mas deixa que outros iguais te ajudem a trava-la.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Coisas pequenas

O que tu sempre quiseste
Foi ter alguém para amar verdadeiramente.

E as coisas pequenas
Que para os outros não passam
De coisas pequenas
Para ti valem mais do que qualquer descoberta.

As coisas pequenas nada têm de pequeno
Apreciar o seu pormenor é das melhores
Coisas que podes apreciar.
Vives a vida procurando e por vezes
Encontras.

O que tu sempre quiseste
Foi ter alguém para amar verdadeiramente.

Lamentas agora que o passado
Seja algo que já passou.
Sentes saudade do toque, do beijo, da conversa.
Partes por isso, à procura de novas coisas pequenas.
Se são melhores ou piores não sabes,
Sabes apenas que serão diferentes.

O tempo demora-se a apagar
Fotografias de pequenas coisas antigas.
E por isso agora começas a construir um presente
Alicerçado em novas coisas pequenas.
Sorris, sabes que são coisas novas.

Saís-te da casca, ganhas-te asas, imigraste de local,
Descobres então novos gestos, maneiras de pensar,
Novas sensações, um novo tocar, lábios que não conhecias.
Tudo mudou de rumo, coisas pequenas saiem da tua vida
E entram constantemente, descobres que o que sempre quiseste
Foi alguém para amar verdadeiramente.

19/09/2008 -10:12 (Linkin Park desta vez ajudaram, thkz coelho * )

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Insónia de dormir(d'A outra face)


Davas tudo para estar aconchegado
Estares deitado com o teu amor em ti deitado.

Por outro lado não pregas olho
Dás voltas quase infinitas na tua cama…
Já nem te lembras do que queres
Se o silêncio da aldeia
Ou do barulho de carros sem rumo
Autocarros
E taxistas que gastam os pneus.

Não… O sono é para os fracos
Só os fortes lhe dão valor.
Vens à tua varanda
Fumas um cigarro para queimar tempo. O tempo passa
Mais depressa que o fim do cigarro.
A lua? Essa está igual a ela própria.

O que se faz quando o sono não vem?
Nada. Por isso mesmo é que não ter sono
É igual a outra sensação qualquer.

Culpado(d'A outra face)

Ouves o barulho da rua
Enquanto caminhas decidido
Ou de pés arrastados.
Algo te deixou enervado.
Ou és tu quem culpa
Ou és tu o culpado,
Mas o que interessa isso?

Pegas com as duas mãos
Na arma e aponta-la
Para o céu:
Neste mundo não há
Inocentes nem réus!
Se existe Deus não o vejo,
Se Ele não existe
Alguém vai ter de me responder.

Quero lá saber de todos,
Detestei ser bode expiatório
Agora procuro outro.
O culpado acabará por pagar.

Ninguém escapa impune
De fazer mal a alguém.
Quem pensas tu que és
Para mover peças
De um tabuleiro que nem sequer é teu?

Sou ateu só quando me dá mais jeito,
Prefiro procurar no dicionário
O conceito de perfeito.

Olhos cor-de-ódio-raiva
Faíscam, abusam da razão
Como se fossem sábios.
Os sábios já morreram
Viva a Era dos computadores.

Incomodo mais que preto
No branco e vice-versa,
Se queres encontrar o
Culpado não fujas e conversa.

A loucura é controversa
Mas quem é louco descobre depressa
Que só vale a pena viver
Sendo-se louco até morrer.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Confusão mental


Hesitam, não vos vejo a
Ter certeza.
Avançam, recuam
E escolhem diagonais.
Num raro momento de beleza
Decidem o vosso objectivo.
Depressa de mais
O tempo passa
E vocês no vosso passivo
Passado não passam
De seres sem graça.
O pouco que vejo
Deixa-me triste, sem fé.
O pouco que vivo
Deixa-me perder.
E dizem vocês, abstractos
Verdadeiros, que a morte
Chega em breve.
Pois então que chegue
Pois então eu abro-lhe as portas
Enquanto ela não se decide
A entrar, tento decidir
A minha certeza, avanço ou recuo
Ou decido o meu objectivo.
Até lá? Vivo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Construção


Quem me dera ter tempo para fazer tudo aquilo que quero, mas há prioridades na vida e são elas a quem me entrego.” (Mundo)

Começando por baixo
E subindo aos poucos
Como em toda a boa construção.
Encarando de frente os problemas
E estudando da melhor forma
A sua solução.

Eliminando a apatia
E desenvolvendo a empatia.
Um edifício não se faz sozinho,
Sozinhos somos pó
Juntos somos deserto.

Tentando sempre escolher a porta
A melhor direcção,
Aquando do erro
Corrigir com a melhor exactidão.

Não lanço ao ar a moeda
Esperando sorte ou destino,
Se quero, tento e faço
E construo o meu próprio caminho.

Há muito para compreender e para descobrir
Neste mundo que nos vive,
E toda essa jornada
Deveria ser aproveitada.

07/09/2008 – 18:00

Recado

Escrito no autocarro, depois de vir do meu part-time. Parece que falar ao telefone com pessoas durante três horas deu isto. Ou então não. Mas gosto do ritmo deste poema. Boa leitura.

Para as almas
Mais puras, para
As pessoas que se
Julgam boas,
Para os ilusionistas
Vítimas da ilusão,
Para os que pensam
Que dão o pão
Quando na verdade
O tiram.

Não se iludam,
Hoje pensam que ajudam
Mas amanhã pedem ajuda.

Continuo sem perceber
Porque reina a hipocrisia.
Às vezes até asfixia
Mas respondem-me satisfeitos:
É assim que funciona a vida.

Se querem realmente ajudar
Então mexam-se! Sejam activos praticantes.
Ajam com sabedoria.

Sou pouco humilde,
Julgo-me superior a vós?
Não...
Se já nasci assim
Ou se fui influenciado,
Não sei.
Mas sou igual a todos vós:

A mesma ignorância
Está-me no cérebro.
A mesma fraqueza
Nos músculos.
A mesma falta de ganância, a passividade e futilidade
Correm-me no sangue.
A mesma covardia mora
No coração.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Caminho para as trevas


“Confio em todos os homens, só não confio no demónio dentro deles”

Sigam-me enquanto vos guio
Para a escuridão.
As trevas nunca estiveram
Tão perto.
Caminhem unidos, deixem-me guiar-vos
Para a escuridão.

O Apocalipse aproxima-se,
Sem terramotos, sem ciclones,
A Mãe Natureza não pertence a
Esta equação.
É apenas o Homem e toda a sua
Capacidade no aperfeiçoamento
Da sua própria destruição.

Não temam, vocês sabem o que querem
Vocês sabem que tudo vos pertence.
Rasga, mutila, estripa, mata,
As leis de Deus e as leis humanas
Não passam de escritos ignorados.

Deixem-me guiar-vos para a escuridão,
A mesma escuridão que guardam junto ao peito,
A escuridão que não deixa penetrar luz,
A escuridão na sua totalidade.

Soltem o monstro interior que ruge
Dentro dos vossos corações cansados
De tentar mudar e de tentar melhorar um mundo
Já sem qualquer hipótese de melhorar.

Ignora o amor, revolta-te com a paz
E deixa crescer o ódio, solta-te.
Vejam que a escuridão acabará por chegar
Ajudem-na a chegar mais depressa.
O sofrimento é a porta.
Acabarão por chegar lá de qualquer maneira.
Deixem-me guiar-vos para as trevas.

Coisa ruim

Só posso dizer isto uma vez...

Trancado no meu quarto
Devoro agonia universal,
Sentado debruço-me sobre o papel
E o azul da caneta
Esboça o ódio que todos
Nós preferimos guardar.

Não se iludam, o inferno
Não nos aguarda,
O inferno já nos engoliu
Há muito tempo.

Enquanto perdemos tempo
Com inutilidades sem nexo
A coisa ruim já se instalou:
Preferimos criticar os outros
(é tão fácil apontar o dedo),
Preferimos continuar iguais
(é mais fácil do que mudar).

Paradoxo, eu mesmo.

Não morri na cruz,
Nem ficarei conhecido por morrer,
O calor de morte
Que me guia nestas linhas
É o mesmo calor
Que escaldou a mão
Do primeiro ser humano quando
Descobriu o fogo.

A raiva é consequência
Desta impotência existencial.

Exausto de vos ver
Sentados ou deitados
Na vossa passividade,
Prefiro escrever.

Positivismo? Esperança?
Palavras de ilusão…
O vento da hipocrisia
Apenas vos lança areia
Para os olhos…

O momento é o agora,
O lugar é aqui,
Pensam que vos falo
Em enigmas, pois serei
Simples,
Vejam-se ao espelho:
Eis a coisa ruim.

27/05/07

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Negação

Não preciso de bussúlas
Pois tenho plena consciência
Que a direcção é só uma.
Em plena comunhão comigo mesmo
Sinto vontade neste quarto
De ouvir um som abstracto.

Não preciso de asas para voar
Para isso basta-me a imaginação,
De olhos bem abertos
Vou respirando
Até ser vida em vias de extinção.

Não quero o vosso abraço
Em horas de aflição
Nem quero o vosso sorriso falso
De falsa excitação,
Prefiro ser e estar ou estar e ser
Sozinho...

Não, não quero absolutamente nada.
Tenho tanto tempo para morrer
Que só quero um pouco de vida.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Coisas - Monte Gordo, Aymonte, Quintã



A minha perspectiva de três vistas diferentes, o que mais mais gostei. Uma pequena descrição, uma pequena "publicidade" para quem não conhece, para quem poderá vir a visitar. Passou-se de 20 de Setembro a 31 de Setembro.

Primeira paragem, Monte Gordo - "Faz tudo como se alguém te comtemplasse"(Epicuro)

Apesar de visitar Monte Gordo todos os anos, desde há cinco anos, a verdade é não sei ao certo se é uma pequena cidade ou uma vila. Fica no fundo do território português, junto a Espanha. Uma zona fantástica para quem gosta de passar férias a descansar e a divertir-se. Ruas muito animadas, desde o nascer do sol até à noite. Lojas que convidam, algum comércio artesanal, pay shops, ATMs, o necessário para ninguém morrer à fome. As praias que lhe pertencem, para quem nelas passeia, apanha sol ou prova o mar, justificam o porquê de o ALgarve ser conhecido pelas melhores praia.
Para quem arranja força de vontade para viajar 2\3kms poderá encontrar uma das melhores praias, a praia verde. Um mar fabuloso, uma areia fabulosa e uma calma que não se encontra em mais praia nenhuma. Mesmo quando se encontra cheia de pessoas, se fecharmos os olhos apenas ouvimos o mar.
Num dos dias em que passeava pelas ruas de Monte Gordo encontrei esta frase, num painél de publicidade redondo: "Faz tudo como se alguém te comtemplasse", adorei. Acho que esta frase devia ser regra, lei, mandamento.

Segunda paragem, Aymonte - "O sol morre em Portugal"

Lamento ir apenas uma vez por ano(quando vou) a esta cidade espanhola. Uma cidade espanhola de território mas muito portuguesa no seu dia-a-dia, pelo menos no Verão. È uma cidade extremamente acolhedora e viciante. Podemos desde logo reparar na postura perante a vida do povo espanhol, tão diferente da portuguesa. Uma felicidade, uma estado constante de animação, o chamado "salero". Fascinante.
Toda a Espanha é uma lufada de ar fresco em termos de qualidade e variedade para todos os gostos, mas em especial no ramo gastronónico. Ir a um supermecado espanhol, mesmo sendo pequeno é um espectáculo de cores e feitios. Tudo tem um aspecto impecavel e fantástico. O mais irónico é que alguns desses produtos são portugueses mas trabalhados e aperfeiçoados por eles. Aqui reside já um pequena grande diferença entre portugueses e espanhóis, enquanto que os portugueses só querem enriquecer sem grande trabalho os espanhóis empenham-se ao máximo. Primeiro o cliente final, um esforço por tornar tudo melhor. Cinco estrelas.
Ao fim do dia, numa paisagem linda, conseguimos ver que o sol, de maneira indescritivel, vai morrer do lado português.

Terceira paragem, Quintã - "Se existe algum sítio para ouvir Deus respirar, é aqui"

No ano passado tive o privilégio de visitar Ferreira do Alentejo, uma terra magnifica que desde já aconcelho. Uma vila animada e muito povoada, que parece uma cidade em ponto pequeno. Mas pensava eu que isso era o verdadeiro Alentejo. Como me enganei. A 50kms de Beja descobri o verdadeiro Alentejo. Uma aldeia, se é que se pode chamar tanto, com umas quinze casas e uma população de aproximadamente 10 pessoas(sem contar com pessoal de em estado de férias). Sem mini-mercados, sem cafés, nada. Apenas casas, no meio do nada e distanciado de tudo. Tive sorte pois estava um dia relativamente enublado, mas quando o sol mostrava a sua cara o sol queimava e muito, e por muito que queiramos encontrar uma sombra enquanto passeamos é impossivel, pois elas não existem. É tudo um conjunto de planícies gigantestecas em fim e à vista e alguns pequenos montos. Não deixa de ser uma paisagem bonita e contrasta com as paisagens do centro e norte do país. O castanho da terra, algum amarelo do pasto já comido ou seco. Bonito. O que mais me espantou foi o total silêncio daquela zona, nunca tiva "ouvido" nada como aquilo. Mesmo em outras aldeias, ou em outros sitios calmos e mesmo à noite, nada como aquilo. Não é exagero, não se ouvia absolutamente nada, nem carros ou aviões, nem animais ou insectos. Nada. Se é possivel escutar o silêncio do mundo, então naquele sitio escutei-o. Disse ao meu amigo, que me proporcionou todas estas viagens, que se houvesse um sitio para se ouvir Deus, ou para se falar com Deus era ali. Melhor, acho que seria quase impossivel.

Gravidade zero

Voltei hoje de viagem;
Pouco mais que nada
Levei de bagagem
Mas trouxe algo mais
do que o pouco nada que levei.

Novas paragens, um novo aroma
Um sabor novo
Um olhar novo sobre
o habitual olhado.
A rotina descansou.

Descansei do pesadelo
da lembrança rotineira
que gosta de se relembrar
em sonhos.

O sol, o mar e a terra seca,
Uma praceta.
Sem promessas, sem juramentos,
Eu, os meus e os meus
momentos, num pequeno ponto
de equilibrio
ao qual chamo
gravidade zero.

O melhor ar que já respirei

Olho fixamente para o buraco
na parede ao qual chamam
irónicamente janela.
Mas consigo respirar
Mas já me habituei.
Sei que lá fora a vida
é melhor mas cá dentro
Sou só eu e o meu suor frio.
Queria abrir a porta
e dançar, beijar o chão.
Mas aqui dentro dentro sou só eu
Eu e o meu suor frio
E o que me resta de
uma crença num Deus
Que já se cansou das minhas preces.

Já não saboreio o sabor
dos cigarros, apenas fumo
para passar o tempo.

Vocês só desvalorizam
a liberdade porque nunca
tiveram de abdicar dela.
Uma semanas mais tarde saí da prisão:
dancei, beijei o chão e ao respirar foi o melhor
ar que já respirei.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Até à perfeição

"Até à perfeição
são três degraus como o pódio" (VRZ)

Não procuro a perfeição
Procuro aperfeiçoar-me.
Mas nessa estrada tortuosa
O mais provável é queimar-me.

Não jogo ao dados com o Universo
Restrinjo-me à linha e ao verso.
Não me esqueço de quem se esforça
Pois todo esse vosso esforço
Deverá ser no sentido de ignorar a casca
E valorizar o caroço.

Nunca será em vão
Quereres melhorar
Se conseguires
Ao contrário de todos
Fazeres da tua vontade
Acção.

domingo, 17 de agosto de 2008

Texto e breve explicação

Este texto foi especial para mim porque não foi de todo rebuscado com palavras caras, foi simples e concreto, foi a descrição total e sincera das palavras e situações. È engraçado também, pois sou ligeiramente obsessivo em relação aos títulos, seja em poemas ou prosa, sem o título nunca consigo avançar e desenvolver ideias, mas neste caso consegui dar a volta. Nunca surgiu título e não vai ser agora que o vou dar. Este texto tem 3 anos de existência, na altura quem o leu gostou e foram vários os comentários. Na minha opinião foi o texto comprido que melhor escrevi. Espero que gostem se tiverem paciência para o ler. Tem muitas falhas, alguma linguagem pouco cuidada mas foi assim que o escrevi. Boa leitura.

Eram quatro da madrugada. O seu amor estava à distância de um corredor, uma sala, umas escadas, dum corredor. Depois de muitos pedidos de silêncio o silêncio finalmente tinha dado o braço a torcer. As luzes apagaram definitivamente e infelizmente reinou a paz. Ele perdia toda a esperança de voltar a estar com ela, pelo menos antes do raiar do dia... E como ele gostaria de partilhar com ela um nascer do sol!
Mas os professores e o padre pediam silêncio...
E o silêncio, acabada a força lutadora, cedeu. Os temas de conversa iam-se evaporando , estranhamente a maioria dos rapazes do corredor já dormia, e a ordem tinha sido explicita: durmam.
Eram quatro e meia da madrugada. Ele dormia desde as quatro. Acordou sobressaltado. Alguém, carinhosamente, acordava-o dizendo ao ouvido o seu nome num tom amoroso e suave. Era ela. Ainda com sono viu a sua outra parte deitada ao pé dele. Um sonho? Na pouca consciência que o mantinha de olhos abertos, beijo-a, afago-a, cobriu-a por baixo dos mesmos cobertores que o cobriam. Quase inocentemente percorreu o corpo dela com a mão direita. Aproximou-a dele. Sentia a sua cara fresca. E gostava dela assim. Beijo-a como se fosse a primeira vez. Lábios mornos envolviam-se com lábios doces e frescos. Queria ficar assim para sempre.
Mas ela tinha vindo acompanhada de amigas cansadas que depressa quiseram voltar para o seu quarto. Imóvel e confuso ouviu um “boa noite, amo-te, até amanhã". Zangado sentiu o corpo dela separar-se do seu e sair pela porta que se manteve sempre aberta. Irritado pela sua impotência de gestos e palavras caiu outra vez num sono profundo. Voltou a acordar pouco depois com a sensação de um chamamento. Levantou-se. Tinha adormecido vestido e vestido se levantou. Ela apareceu no corredor, fora ela a motivação do saltar da cama e aproveitar o que restava da noite que se ia transformando em dia.
As amigas dela comiam silenciosamente na sala de escura apenas iluminada por uma luz de presença. Depressa satisfizeram o seu apetite e depressa voltaram para o quarto. Naquela sala melancolicamente antiga ficaram apenas ele e ela.
A sala era enorme. Seis mesas enormes. Muitas cadeiras. Alguma mobília. Janelas enormes fechadas e trancadas para aquele enorme mundo que os esperava lá fora. No cantinho, uma pequena mesa com flores deixava ver um pequeno sofá. Um sofá verde com um cheiro característico. Cheirava a mofo. Sentaram-se. Conversaram sempre baixinho. Riam, sempre baixinho. Namoravam baixinho.
Tinham caminhado bastante nesse dia, ela estava cansada. Ele docilmente pediu que ela se deitasse em cima dele, com a cabeça sobre ele e o resto do corpo no sofá:
- Dorme um pouco. Pediu com amor. Mas ela não queria dormir, queria aproveitar aquele momento tão bom junto com quem mais amava naquele mundo:
- Dorme um pouco. Ela aceitou cansada, na condição de descansar apenas dez minutos. Ela aninhou-se. Sabia que ele estaria ali a protege-la de todos os monstros e fantasmas que todo o ser humano acredita existirem por muito que o negue. Ela sabia disso e sabia que ele também a amava e isso bastava.
Foi assim que ambos entraram num paraíso quase solitário: ela nos sonhos, ele na solidão acompanhada daquele anjo que lhe lembrava a sua missão nesse mundo tão complicado de tão simples ser.
Ela dormia. Ele agradecia por poder contempla-la. Era magnifico vê-la dormir: ar doce de criança traquina cansada, boca semi-cerrada beijando o ar, o nariguete grande de tão belo. Apesar de ela estar a dormir acariciou-lhe os cabelos. O toque físico era o seu contacto com ela nos sonhos. Brincou ainda com insectos que os rodeavam, observou sombras, inventou músicas que cantou (baixinho), fez-lhe festas na cara. Soube ao certo quanto tempo ali ficou.
Voltou a olhar aquele rosto tranquilo. Comoveu-se:
- Deus proteja esta criança pura e inocente.
Oxalá o recado tivesse sido recebido, afinal ela merecia tudo de bom que a vida pudesse dar. E ficou assim, assim como se fosse um anjo protector do seu próprio anjo, ela. Assim ficou, sempre alerta, e o paraíso solitário durou até ao amanhecer. Com o sol veio ela e com ela veio um paraíso para sempre.

Nunca lhe chamei vida utópica(5ªparte)

Desculpa cósmica

"Achas que o diabo existe? Um ser que corrompe e destrói o Homem?(Calvin) "Acho que o Homem não precisa de ajuda."(Hobbes) Este diálogo fantástico fez-me rir imenso na altura em que o li. Depois reflecti. Mais uma vez estava perante uma desculpa cósmica. Uma desculpa cósmica é algo que tira a responsabilidade ao ser humano nos actos por ele cometidos e que lhe dá, de certa forma, uma fuga covarde. Não estou a par de quem vive ou governa o Universo, mas se o Homem age mal e comete erros só o deve a ele próprio.

"Achas que o diabo existe?" Não sei. Sei que o ser humano é sempre capaz de fazer mais do que aquilo que faz.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Nascido


Nascido no paraíso
O caminho que hoje piso
São as brasas do inferno.
O mais comovente
É descobrir que os que vivem
No paraíso julgam morar no inferno.

E eu não finjo a dor
Não sofrida,
Como que de uma aberta ferida
Sinto o odor dos muitos que sofrem
Realmente. E com eles sofro.
Não choro, apenas desespero,
Não grito, apenas escrevo.

Como o planeta terra
Tenho períodos cíclicos
De luz e trevas.
Estremeço quando o sol nasce,
Louvo o nascer da noite.

Uma guerra civil mundial
Revolta Deus:
Homens ajudados pelos demónios
E demónios ajudados pelo Homem!
Os anjos? Morrem de exaustão.

De nada serve ter-se paz de espírito
Pois não passa de paz armada.
Nascido no paraíso
Não desprezo a importância do inferno.
Às vezes é preciso viver o mau
Para valorizar o bom.
Escrevo sobre o paraíso
Apesar de escrever no inferno.

21/04/08

Claustrofobia

Não consigo pensar claramente
Num mundo por mim
Fechado.
Respiro agonia desenfreadamente
Enquanto elevo o pensamento.

Não existem janelas onde
Costumo passar os meus dias,
Vivo num mundo à parte
Do meu, vivo nas alegrias
Diárias do mundo social,
Desfruto do sol nas varandas
Da hipocrisia.
Gosto de me ligar electronicamente
A todas as máquinas que o ser
Humano já criou.

Quando chega a hora,
Gosto de passear
O clone do meu animal
Preferido. Dentro de casa
Prefiro os seres mutantes
Criados pelo Homem científico.

O meu país é dirigido
Por forças de Inteligência Artificial
Mas é reconfortante
Saber que somos controlados por
Forças mais inteligentes do que todos nós…

Estou internado num instituto psicológico
Porque não aguentava mais esse mundo.
Aqui, rodeado de paredes pintadas
De claustrofobia sonho e recordo e
Desejo sair desta realidade com um leve sabor a
Metal, gasolina e falsidade.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pseudo-Renascimento

Os dias a voar passaram
Apesar de terem corrido como meses.
Acompanhado pelo sol
Viagei para outras paragens,
O pôr – do – sol em todos esses lugares
Foi apreciado.

Queria ter mudado ou ter feito mudar,
Mas o sujeito poético continua igual:
Ele próprio, ele mesmo.

O mundo raramente muda
E quando muda geralmente é para
Pior, num mundo que gira
Sempre da mesma forma
Porque havia as pessoas de outra
Forma girar?

Pois esta bola que gira,
Para além de ser rotineira
Gira sempre no mesmo lugar.

De que vale o conhecimento
Se não conseguimos mudar?
Por isso lhe chamo pseudo-renascimento.

7/10/07, Pelo melhor Verão, 2007

Estado de elevação


Mergulho de olhos abertos
Nesse teu mar profundo,
Respiro-te e sou, dentro do teu eu,
Uma faísca de egocentrismo.

Lutar por alguém
É a melhor prova que
Somos humanos.

Não procuro facilidade
nesta luta porcelana frágil,
Atingir o inantigível
é a minha aproximação a ti.

Por vezes não percebemos
que esta luta não é
por alguém que nos ilumina o dia;
É sim o melhor de cada
Estação do ano,
Porque luto por cada momento
que estou contigo,
Por isso luto pelo teu amanhecer.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Musa


Não encontro necessidade
De elogiar palavras,
De modificar adjectivos
Utilizados por tantos em tantas Eras.
Mereces mais do que uma reciclagem poética.

Vejo muita gente
Mas és tu que te destacas.
Agrada-me olhar-te.
Linhas de humana em forma de musa.
Desvio o olhar mas volta sempre para ti.

É graças a pessoas como tu
Que não desvalorizo o ser humano.
Penso-te. Aguardo-te.
Vivo-te em cada arte
E dou-te tudo o que posso dar-te.

Não passas de uma pessoa,
Uma como tantas outras,
Reparo agora que isso é o melhor:
O sonho em forma de realidade;
Não és deusa, nem musa,
E contigo percebi
Que um ser humano
Vale mais que mil deuses.

Nunca lhe chamei vida utópica(4ªparte)

"Morrer na praia"

Dizem as pessoas: é mau "morrer na praia", tomando um exemplo literal, um naúfrago que sobrevive no mar, que luta pela vida, que dá tudo por tudo para chegar a terra e quando chega a terra já não encontra força para pedir ajuda ou para chegar a alguém. Algo que nos acontece muitas vezes. Quantas vezes pensamos dar o nosso máximo para chegar a terra mas depois falta aquela réstia de força ou de vontade essencial para ficarmos bem. Por muito belo que seja suar em vão a verdade é que muitas vezes de nada vale. Na caminhada nem sempre devem existir objectivos, mas escolhida uma meta há que lutar por alcança-la, melhor, há que lutar por ultrapassa-la.

Dizem as pessoas: isso é "morrer na praia", então não morras. As forças só acabam quando morres, até lá temos força para tudo. Usando palavras minhas:

A vida é curta,
Mas enquanto te restar um sopro de vida
Luta.
A batalha diária que travas
Às vezes é injusta,
Mesmo assim luta.
(...)
Às vezes a força já é pouca,
Não faz mal, respira fundo
E Luta. (Conclusão;A outra face)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Breve explicação

Neste dia 1 de Agosto de 2008, aproveitei para passar estes poemas, que contam já com mais de dois anos. Para os mais atentos depressa podem reparar um sujeito diferente. Talvez até contraditório. Mas não, momentos diferentes da mesma pessoa. O que me leva de facto a reflectir é que a verdade pode ser só uma, mas pode ser vista de vários ângulos diferentes e interpretada de formas também diferentes. E nessa batalha eterna entre a razão e a emoção, chamemos-lhe assim, a verdade é que todos nós, influenciados pelo nosso estado de espírito e momento actual, podemos defender tanto um lado como o outro, ou ambos. Ambos têm as suas vantagens e desvantagens. Relativamente ao poema Alencar, para quem se lembrar, da personagem d'Os Maias. Também eu gostei e de momento a minha poesia reflecte mais um certo Ega, por assim dizer, mas neste caso calhou a vez ao Alencar. Mais uma vez, reina esta magia contrária, de dois pólos.

Canções de embalar


Tenho saudade de ser criança.
Quando fazia tudo por espontaneidade
Verdadeira.
Quando chorava para chamar
A atenção, quando chorava sentido,
Quando pedia um brinquedo.

Por outro lado gosto de ser quem sou.
De ter as características que fazem
De mim o que sou hoje.

Por outro lado sou apenas:
Idade de adulto em pensamento
Quase inteligente numa mentalidade
Cómica e infantil.

Como todos nós
Existiu um dia em que também
Eu chorei ouvindo uma canção
De embalar.
Lembro-me como se fosse anteontem.
A minha mãe querendo-me acalmar
E eu ali, no silêncio de pura
Paz de alma, a chorar.

Oxalá Deus tenha
A sensibilidade
De nos dar uma
Canção de embalar
Durante a intemporal
Caminhada para a luz.

Alencar

Podem-me tirar tudo,
Podem-nos tirar tudo:
A razão, a lógica, a ética,
A moral, a verdade.

Mas não nos tirem
A beleza.
Quando quero ser eu mesmo
Olho-me ao espelho.

Quero lá eu saber
Como funciona a fotossíntese,
Quando vejo uma flor
Vejo apenas as suas
Cores, a sua forma,
A sua origem criativa,
A sua essência divina ou não,
A sua beleza.

O coração comove-se e ama,
Não me desiludam dizendo:
“É o órgão que bombeia o sangue”.

Se pesarem beleza e razão
Encontrarão a resposta.
Pesa mais a razão
Pois no mundo só caminham
Seres cheios de razão,
Obcecados por mais razão,
Ofuscados pela falta de emoção.

Alencar de Alenquer,
Viva cada um como quiser
Mas cá entre nós:

Um dia o Homem morre
E sobra apenas a natureza
Vai-se o que estava a mais
Fica a beleza.

Os donos da verdade


Quando quero ofender todos
Os seres humanos de uma só vez
Digo que também eu sou dono da verdade.

Falas e dizes pensar melhor que todos
Os outros.
Abram alas, chegou o sabedor.

Às vezes não te percebo, sentes-te
Vencido ou vencedor?
A verdade nunca é dita
Na sua totalidade.

Falas e dizes que só falas a verdade.
Por isso opto pela escrita,
Porque se falo as verdades estas caiem
No abstracto, perdem-se no tempo.
Quem as ouviu, depressa as
Esqueceu.

Ser-se verdadeiro não é ter-se sucesso,
É conseguir incomodar de maneira
A corrigir o que está errado.

Os donos da verdade já me acenam
Ao longe,
Eu sorrio hipocritamente,
Nem imaginam como vos odeio.

Na linha ténue, quase inexistente
Que devide uma folha pintada de preto
E de branco, ai reside a diferença:
Eu sou dono da minha verdade,
Mas sei que muitas vezes a minha verdade
Está errada.
Pois eu paro, ouço e se necessário mudo-a.

Fotografia

Resta uma formação
De cores logicamente
Aplicadas, de acordo
Com o meu mundo.

Vejo o que quero ver
E não o que vejo.
Confundo realidade
Com verdade e isso
Deixa-me nervoso,
Um pouco irritado até.

Faço uma aproximação do tamanho
Do universo…
Que contradição absurda!
Pareço um modelo irracional.

Gosto de captar a sensação,
O sentimento.

Gosto de tirar fotografias
A mim próprio.
Rio-me sempre com elas.
Não significam nada mais
Do que aquilo que é uma
Fotografia. Apenas uma imagem.

Gosto de matar saudades
Do meu melhor amigo.
Tão perto mas ao mesmo tempo
Muito mais longe.

Nós até gostávamos um do outro.
Eu tentava proteger-te, agora já não
É preciso.
Às vezes sinto falta de nós.
Mas ninguém vive da saudade.
É melhor assim talvez.

Nós até tínhamos graça juntos.
Pode-se rasgar uma fotografia.
Mas também se pode voltar a colar.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Perdidos


Tento ao contrário dos outros
Não viver segundo o meu passado.
As pessoas gostam de se alimentar
Do passado e de por ele serem consumidas.
Recordar é para os velhos…

Mesmo admitindo que o passado guarda
Mensagens importantes,
E mesmo sabendo que o passado por vezes
Alicerça o presente,
A verdade é o que passado
Já passou.

Por isso encontro-me perdido
Como poemas meus literalmente
Perdidos em vários locais do meu pequeno quarto.
Sei que estão algures, mas não sei onde.

E o que mais me entristece é saber que
Deixarei de os procurar mesmo sabendo
Que estão lá…

Julgam-se os mesmos que conquistaram
Os oceanos e os mesmos que resistiram
Aos franceses de Napoleão.
Raça dura e pura num mundo de ingratidão…
Esses eram os vossos antepassados,
Agora a história é outra.

Essa razão que trazes
Trancada na garganta,
Essa vontade que te move
Os pés parados,
Essa emoção que te comove
Por não se concretizar,
Tudo isso?
Seria mais que suficiente
Para te fazer vencer
O presente do difícil
Cabo Bojador.

Nunca lhe chamei vida utópica(3ªparte)

Ausência de profetas

Num mundo cada vez mais degradado, onde reina um inúmero género de pequenas misérias chamadas pelo substantivo colectivo Miséria é urgente uma voz que nos comande ou nos guie.
Os verdadeiros sábios já morreram há muito tempo, vivemos hoje na era dos computadores, das bases de dados infinitas, da aprendizagem rápida e de conteúdo curto. Tantos outrora tentaram a sua sorte:
Gandhi, Sócrates, Jesus… E de certa maneira alguns dos maiores ditadores. Maneiras de pensar tão fascinantes e tão dificilmente simples para o nosso ser complexo.
Na conquista do nosso sonho e plenitude, quer pessoal ou colectiva, rastejamos por um pouco de fé e esperança onde tocar com um dedo.

Num mundo cada vez mais degradado luto pela vitória de uma melhoria mundial. De que vale essa luta? Pode não valer de nada mas estou a tentar. De tentativas está o inferno cheio, mas sozinho também não consigo.

sábado, 26 de julho de 2008

Momento

Sinto a luz por detrás
dos olhos fechados,
Sinto a areia debaixo do
meu corpo descansado.
Ouço as ondas.
Sinto o calor do sol
e sinto a brisa do vento
Sabe tão bem tudo em
movimento, tudo em mim,
Tudo ao mesmo tempo.

Sinto a tua respiração
Essa tua essência de adormecida
Comove-me os sentidos.
Dou graças pela tua presença
Tão diferente, tão distanciada de tudo o resto.

Ter-te assim a meu lado
tão despegada da realidade
tão sublime numa respiração divina;
As pessoas que passam
Seguem a sua vida
Sem de aperceberem
Que acabaram de passar
pela melhor pessoa do nosso mundo.

Arredondamento(poema d'A outra face)

Sou mais versátil
Do que o vento.
Sou mais imprevisível
Do que a chuva.
Sou mais imundo
Do que a lama.
Sou mais frio
Do que o inverno.
Sou mais ilusório
Do que uma miragem.
Sou mais rápido
Do que a luz e o som.
Sou mais contraditório
Do que uma contradição.
Sou mais desumano
Do que toda a população.
Sou mais explosivo
Do que um vulcão.

Quando transpiras
Sou eu a tua ira.
Quando tu finges a verdade
Eu sou a tua mentira.
Quando rogas pragas
Eu sou o destino delas.
Quando a algo te entregas
Eu não fui o mensageiro.

Quando vomitas
Eu sou a dor.
Quando acordas
Eu fui o pesadelo
Quando não encontras palavras
Eu fui a inspiração.

Quando quiseres algo
Eu não te dou.
Quando deres algo
Eu não recebo.

A força da Natureza
É apenas um brinquedo meu.
Podes construir com esforço e trabalho
Eu destruo.
Tudo o que nunca foste
Eu sempre fui.

Este sou eu?
Não, isto foi apenas um arredondamento.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Poemas d'A outra face

Estes são dois poemas de A outra face. Adorei escreve-los. Fazem parte de um passado algo recente. Foram o ponto de partida para uma poesia mais "séria", não que fosse boa ou melhor ou pior, mas foi o inicio de um amadurecimento do sujeito poético em várias perspetivas. Aproveito e dedico, em sentido de homenagem e reconhecimento o poema Vivo hoje para morrer noutro dia, a Alváro de Campos. A ele e a Fernando Pessoa, à sua maneira dois poetas, o mesmo, o melhor poeta de sempre.

Vivo hoje para morrer noutro dia

Vivo hoje porque não quero
Comer suicídio assumido à sociedade
Pelo sangue ou pela dor ou não
Sentida.
Apesar da não-água que corrói
As minhas úlceras e gastrites,
Apesar do escuro que lanço para
Os pulmões, apesar de tudo.
Vivo hoje para morrer noutro dia.
Não me enfiem conquistas,
(Campos estavas tão certo)
Sejam lá elas do que forem.
Acho tanta graça a essa ganância
Pelo inútil, como vibram por mudarem
O acento circunflexo duma palavra esdrúxula
E adjectiva do verbo substantivo.
As leis modificam-se para se mudar
Algo…
Tantas complicações…Vocês só complicam,
Fazem compilações de complicações.
Continuo a dizer que sou diferente
Por ser um doente consciente
Assim como Sócrates sabia um
Pouco mais (um pouco mais dizia ele)
Por admitir que nada sabia.

Vivo hoje porque prefiro morrer noutro
Dia,
Apesar de saber que para morrer
Qualquer dia serve.
Vivo hoje porque sei que o passado
Já passou, e o futuro ainda não chegou.
A vida é o agora, é o instante é
O presente, tudo o resto?
Não faço a mínima ideia.

Impressão digital


Acordo todos os dias
Com a impressão
Que estou a mais no mundo.
Maldita a hora em que
Comecei a inalar essa substância
A que chamam oxigénio.
As razões do meu nascimento
São uma incógnita, até mesmo
Para Deus.
Sinto-me mais inútil do
Que o uma pedra que não respira
Não come, não se mexe, não fala,
Não dorme, não acorda, não ama,
Não ajuda e não é ajudada…
Sinto-me acompanhado
Como um grão de areia no deserto
Pois ninguém conversa e mesmo
Que conversassem apenas perguntas
Fariam.
Sinto-me frustrado pois são todos
Diferentes de mim, todos dizem saber
O que fazem neste mundo,
Todos sabem os seus sonhos e
Quais os que são possíveis de concretizar.
Prefiro um pesadelo a um sonho
Pois está mais próximo da realidade.
Realidade essa que desconheço.
Não sei ao certo se estou
Mais longe de mim ou dos outros.
Nasci e cresci, ponto final.
Nada trouxe ao mundo
E o mundo nada me trouxe.
Talvez apenas um pouco de desilusão.
Não que estivesse à espera de algo
Só não estava à espera disto.
Acho que não passo
De uma cara sem razão de alma
Num bilhete de identidade
Sem impressão digital.

sábado, 19 de julho de 2008

Sem rumo(dedicado)

Rosto ocultado pelas sombras
Num raro momento de calma.
Dói-lhe a alma no meio dos
Pingos de chuva que vão caindo.
O vento fustiga os fragmentos
De todos os sentimentos
Por ele levados.
Expulso do paraíso e
Expulso do inferno
Mas encara a vida de frente
Afinal a vida é isso mesmo.

É isso mesmo a vida
Ocultar as sombras no rosto escondido,
Andar fugido do mundo
Esquecido da sorte, perdido sem norte,
Sem rumo, sem lágrimas sem força
Apenas uma réstia daquilo
Que nos prende à vida…

Vida essa perdida em si mesma,
Onde procuramos a cura, o algarismo,
A metáfora…
Vida essa, graças a Deus, contraditória
E estranha.


Não que exista uma razão de inspiração, mas por ser talvez um poema que achei que irias gostar, de certa maneira podia fazer parte ou ser uma segunda parte da auto-destruição descritiva, por isso é dedicado à Liliana, espero que gostes. (também conhecida por "monstra das bolachas" ^^)

Aflição

De nada te valem essas
Lágrimas que pesadamente caiem
No chão.
Assim como de nada te vale
Gritares a plenos pulmões
Frases em vão.

Somos o que somos e pouco mais
Podemos fazer,
E esse pouco mais nunca o
Fazemos, por isso custa envelhecer.

A vida que nos incomoda
Todos os dias
É a mesma vida que tememos
Perder,
Por isso além mentiras
Custa envelhecer.

Porque o tempo anda
Sem parar ou retroceder,
Por isso a batalha que travas
É inglória até entenderes
Que a vida passa sempre a envelhecer.