domingo, 8 de abril de 2012

a Distância dos heterónimos


Tudo o que narro são mentiras
e são verdades.
Porque tudo o resto não interessa.
Tão pouco as mentiras
com o seu grande corpo de verdade.

é quase concreta esta força da fantasia..
Mas ao inspirar, ao inspirar realmente,
este é um perfume que já não existe,
é como tentar, por entre as árvores, sentir
a maresia longínqua. Abrir os olhos, sonhar,
fechar os olhos, morrer.

escolher não ver é tão grave como
fugir sem certeza de mais tarde voltar.
A cada passo dado na negação
mais sonora é a gargalha do diabo,
entrego-me a este vento, a outra vontade
qualquer - que não a minha,
como dados aleatórios numa mão.

azar e sorte presos na mesma matéria que oscila,
alguns são os escolhidos, eu escolhi escolher.
sem probabilidades, sem razão aparente de se ser,
quase tudo espalhado pelo chão, outros versos
amontoados, mais pedra do que areia,
queimaduras, e toda a falta de exactidão.

neste ódio que tudo abrange,
da mesma forma que o amor
se agarra à carne junta aos ossos
que a realidade deixou,
respiro frio, é frio que respiro
desejando acabar com a pior escolha
que pode ser feita:
forçar uma verdade a transformar-se
numa mentira.


Tudo o que narro são mentiras
e são verdades. Nunca me esquecerei,
pois quando me esquecer
é porque morri.