quarta-feira, 28 de julho de 2010

O amor ao ódio

"Quem tem vergonha do que sente perde sempre e nunca ganha..."

Esta é a pequena história que se conta há muito tempo:
Certo dia o Amor, cansado de tanto ser mal tratado pelo ódio, pergunta-lhe:
- Porque me odeias tanto?
E o Ódio respondeu:
- Porque já te amei de mais.

Este mundo é feito de contradições. Eu prefiro chamar-lhe equilíbrio. Não interessa se os opostos se atraem ou se se afastam. Interessa-me compreender e aceitar que o mundo é feito deste modo: tudo tem o seu contrário. E de todas as forças que caminham contrariamente podemos distinguir algumas mais importantes: força e fraqueza, verdade e mentira...justiça e injustiça, certo e errado...e talvez as mais importantes: amor e ódio. São esmagadoras. Com elas tudo caminha para todo o lado, tudo nasce e morre, é um duelo de titãs de duas forças capaz de tudo, desde o melhor ao pior, são duas forças contrárias com uma força igualmente devastadora.
E é em dias destes que me transtorna a falta de organização de Deus neste mundo...é nestes dias que me apetece ignora-lo, quase esquece-lo. É em dias como este que não acredito numa ordem que tenta equilibrar todas estas forças contrárias. Karma? Destino? Justiça?
Podem-me mandar para o Inferno...não me importo pois já lá julgo estar.

São muitas almas, são muitas doses de azar, é demasiado para um só alma numa vida ainda tão curta.
Sempre te admirei. Sempre me orgulhei de ti. Por tudo. Tudo. Mais do que algum dia saberás. Se pudesse escolher ser como alguém seria como tu. Mas ao que parece o universo fez uma suposta perfeição dividir-se em dois. E eu caí no lado menos bom. Mas foste parte de mim durante toda a minha vida, e custa ver-te sofrer. Sem quase culpa, sempre numa rotina tão baixa sentimentalmente...
Escolheste de forma sóbria defenderes a racionalidade. Existem mais como tu. Mas poucos são os que a usam tão eficazmente como tu...Sabes pensar, reflectir e agir, de forma quase fria mas certa. Raramente te arrependes. Raramente talvez te enganes...Queria ser como tu em quase tudo. Mas dentro de toda essa armadura dura existe um ser bem maior, bem mais comovido com o que está mal neste mundo...Um ser que ama muito e que apenas quer ser verdadeiramente amado...Mas parece que está difícil. E custa-me ver-te sofrer. Esta vida tem propósitos estranhos...Quero mais é que este mundo vá para o lixo. Que se lixe. Que morra.
Queria tanto reciclar este mundo. Não é que eu esteja mais certo...é apenas saber que não estou tão errado.
E podia estar ao teu lado, dar-te uma palavra amiga...Dizer-te que tudo se vai resolver...Que estou aqui para ti. Que nunca te deixei. Mas prefiro escrever este texto...Pelo menos é da forma que mais pessoas o podem sentir.
E depois perguntam-me porque sou um monstro? Porque venero tanto o ódio? Porque vejo o amor dar de si. Tantas vezes. Vejo o amor cansar-se de amar...E o ódio é da mesma força, e consegue vencer...
Eu não prefiro o ódio. Tenho é a consciência presente que o ódio, cada vez mais, por vossa culpa, por nossa culpa, ganha uma inércia em sair da nossa vida que o amor não tem...
Querem que eu vá para o Inferno?
Não gastem essa vossa preciosa saliva (que é mais útil em criticar, humilhar, destruir e afastar)
pois no Inferno
muitas vezes eu já julgo estar...
O amor ao ódio.
Porque o ódio cansou-se de amar.

Cais do Mundo

É com o maior prazer que volto a escrever com a Joana Garcia TH, minha adorada irmã. Este é o segundo texto que escrevemos juntos, e mais uma vez, penso que encaixamos literáriamente de forma perfeita. E agradeço-lhe o facto importante de ter conseguido com que eu escrevesse algo ligeiramente belo sem roçar o ódio. Por isso, e mais uma vez, parabéns aos dois, e que surjam mais oportunidades destas. Amo-te, keep going spiral out, contigo.


Chego ao cais bem cedo. O céu ainda está pintado com tons de violeta e laranja, e o sol não passa ainda de uma pequena esfera que ao longe, é tímida, mas ansiosa por nascer.

Inspiro o repentino cheiro do mar e quase consigo sentir o sabor a sal dentro da minha boca.

Sento-me num banco e deixo-me absorver pela vida à minha volta, pelos odores que pairam no ar e pela importância do que eu estou a testemunhar. Barcos partem e barcos regressam ao porto com as suas imponentes velas brancas que se movem ao sabor da brisa. Trazem consigo pedaços de outros mundos, de outras realidades distantes que a mim me parecem irreais e inalcançáveis.

Pergunto-me de onde será cada navio e questiono o que os homens que vêm neles dizem na sua língua. Imagino o que carregarão dentro das grandes caixas que transportam e sinto subitamente que sou realmente microscópica, em comparação com o planeta onde me encontro. Sinto-me realmente pequena com a imensidade de beleza e, ainda que rara, sincera riqueza que existem neste mundo.

Com tudo isto no meu pensamento, aguardo pela chegada do sol que trará consigo calor, mais luz e sobretudo, mais vida.

Porque é de vida que precisamos, em cada dia,

E desse sol que nos aquece bem mais do que o corpo

Que nos aconchega e acalma a alma.

Não louvamos a morte nem por ela esperamos

Pois sabemos que a seu tempo chegará

Mas até lá vivemos, vivemos cada dia como se

Fosse o último, como se fosse único.

Neste cais sinto pequenas gotas de água

Que tiveram a coragem de se afastar do mar

E que se serviram do vento para me tocar na face...

Hoje sou as forças do mundo,

Hoje sou a paz mundial, a ordem universal de todas

As coisas, de todas matérias, de todas as verdades,

Hoje sou este mar, este sossego,

Hoje sou essa doce espera de um sol que virá...

Mas mesmo nesta tempestade exterior que cresce

Consigo encontrar beleza no meu viver

No girar deste mundo.

Este mundo que é tão estranho e intrigante, mas ao mesmo tempo reconfortante. A esta hora, noutras partes dele, são horas de acordar para alguns. Outros estão a apreciar um pôr – do – sol num banco de jardim e outros ainda estão a preparar-se para se entregar ao mundo dos sonhos, dizendo adeus a mais um dia.

Neste mesmo segundo que passo aqui abrigada da chuva, neste cais antigo e parado no tempo, algumas pessoas vivem num dia anterior ao meu, ou serei eu que estou adiantada a eles? Se vivo num mundo à frente deles, onde aqui é dia e lá é a noite anterior, poderei contar-lhes o futuro? Saberei as coisas que ainda não lhes aconteceram? Ou o tempo é o mesmo? A mim parece-me que é quase elástico, ele estica e encolhe conforme quer, nem que seja só para me confundir por um bocado.

Sinto-me perdida. Ainda há tanto para ver, tanto para descobrir. Tantas culturas para conhecer, tantas experiências por sentir... Como vou conseguir tudo isso se o tempo corre contra mim? Se parece querer que eu o persiga, só para me poder ganhar, sempre. Se parece que será uma batalha eterna, uma corrida contra o tempo para conseguir pelo menos sentir metade da terra que banha o planeta a que chamo casa...

É difícil ser mortal, mas também nunca ninguém disse que a imortalidade era fácil. Tenho é de encontrar o equílibrio dentro de mim própria, onde poderei eventualmente deixar-me ir à descoberta do mundo que me espera e que eu tanto desejo conhecer.

Porque esse mundo está à minha espera.

Sempre esteve à minha espera.

E não terá esperado em vão:

Pois chegou a minha hora de o descobrir,

De o sentir em todas as suas vertentes,

E saber sempre que não estou sozinha;

Quando adormeço sei que outros estão a acordar,

Quando sonho no sono

Outros sonham acordados,

Quando me levanto outros estão-se a deitar.

Enquanto vivo outros morrem, enquanto choro

Outros estão a sorrir...Mas enquanto choro

Ou rio outros podem-me também acompanhar.

Se vejo o sol outros estarão a ver a lua,

E existem ainda outros que sentem o sol ou a lua

Demasiado tempo.

O mundo aguarda-me. Chega de o fazer esperar...

Não quero ser chuva

Nem calor

Frio

Ou céu aberto,

Quero fazer apenas o que é certo para mim,

Sentir-me e ser sentida,

Explorar todo o mundo enquanto respiro e ando

Enquanto ambiciono e corro,

Esta sou eu, filha deste Tempo,

Aprendiza desta momento, ser humano

Consciente da aprendizagem que toda esta experiência

Chamada vida tem para me ensinar e moldar.

Chegou a hora de me descobrir

Descobrindo tudo o resto,

Chegou a hora de me deixar ir

E deixar levar.


Por Diogo e Joana, GTH.