quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Apontamento

Durante três noites, antes de estar realmente a dormir, mas não estando realmente acordado, naquela fase transitória, em que um som nos perturba como se estivesse encostado a nós, entretive a minha imaginação, ou vice-versa, em versos que não paravam de me abalar o espírito. Sem vontade de me levantar para escrever frases que nem eu mesmo compreendia, deixa-as nascer, viver e morrer nessa mesma fase transitória… A verdade é que cravaram em mim pequenas linhas que originam letras e que crescem em palavras, soltas apenas. Se com os olhos fechados não as entendi muito menos as entendo agora. É preciso perceber e aceitar, algo que só agora reconheço, que existem coisas que funcionam melhor separadas. Mas não fui criado para ser perfeito, e dada a ideia já vã dos meus pensamentos, até pode ser, que hoje, mas só hoje, o azeite e a água se misturem…e formem algo.

Apontamentos são folhas soltas,
Escritos sem ordem nem lugar,
Sinto-me uma mesa de bilhar já gasta
De pano coçado e defeituoso,
Sinto-o porque tudo o que me toca
Segue direcção errada, direcção que mais ninguém queria.
Eu nunca grito, eu falo alto, falo muito alto, mas nunca grito,
Invejo o silêncio dos deuses, tão surdo, tão profundamente miserável…
Porque não gritam deuses?
Porque não te calas? Eu viro costas, e caminho covardemente em direcção oposta.
Se é verdade que nunca matei é também verdade…que nunca morri.
Pensamentos invadem-me da mesma forma que não os consigo explicar.
São narrativas de um homem morto, de um mostro, de um ser sem lugar.
Na minha melhor noite
Tive o meu pior pesadelo, mudo, suor frio, cara assustada,
Vivo na angústia de ser só mais um nesta caminhada, só, não só,
Sem tudo com tudo…
Pensamentos são cores de forma estranha, a lógica deles
É apenas lógica minha, a vossa lógica é só vossa.

Quando nos lembramos que tudo foi esquecido,
Foi tudo disperso, uma imagem pouco nítida,
Uma água agitada depois de pedra caída…
Dispersos estes pensamentos, que vão e voltam
E deixam saudade, saudade porque às vezes não os volto a ver.

Eu pouco ou nada digo
Mas na verdade tenho tanto nada para dizer, deixem-me contar.
E escrevo um apontamento, sem história, sem razão de ser,
Não sei saber ser, deixem-me pois então, escrever.


07/01/09 - Escrito às 2h58, "pensado" à trés dias. Primeiro poema de 2009.