terça-feira, 25 de maio de 2010

Bater no fundo para depois sentir a gravidade (agora sim o último)



Por momentos pensei estar num dos melhores dias de à muito tempo. Mas depressa percebi que era exactamente o oposto. Já vos vi por várias vezes passarem da luz à escuridão de forma repentina...Mas na maioria dos casos acontece, e vão-me desculpar, porque não têm mais nada em que pensar, e porque, por alguma razão, preferem as coisas más às boas, mesmo quando as boas nada têm de mal para ser apontadas...Comigo não. Foi diferente. Fui pensando...e concluindo tudo com a alma triste. Tentava agarrar-me a uma ponta de luz que fosse, mas lá vinha a escuridão. Tentei e tentei, mas tudo acabava por me levar a essa escuridão. Rendi-me. As conclusões custam a ser tiradas, e custam quando não há volta a dar. Por isso, decidi escrever este texto. Ao que parece na altura pareceu-me a melhor solução em vez de justificar o meu estado de alma e os meus pensamentos. Foi bom ainda ter arranjado mais dois "episódios" do Mr. Durden para vos contar. Mas julgo serem mesmo os últimos. Espero que gostem...
(O filme já conhecem : Fight Club)
Quero participar, estou farto de ser um espectador. Não tenham medo de seguir os vossos sonhos nem tenham medo de ser felizes, nunca.
( alínea A )

O Tyler tinha acabado de fechar a porta da cave.
-Vejo muitas caras novas por aqui...
Os lutadores começaram a rir, mas o Tyler cortou as gargalhadas:
-Calem-se! (Todos fizeram silêncio) Isto significa que alguns de vocês andam a transgredir as duas primeiras regras do Fight Club...
(Todos estavam atentos, e ele continuou)
-Vejo aqui tanto talento desperdiçado. Estou diante dos melhores homens. São pessoas, toda uma geração que serve à mesa, que vende jornais, que põe gasolina, ... Escravos de colarinho branco e gravata. Grande parte da culpa é do espírito da publicidade e do consumismo...que nos faz trabalhar em coisas que odiamos para comprar coisas que não precisamos. Somos os filhos do centro da História. Não temos nenhuma grande Guerra...nenhuma grande depressão...A nosso guerra é espiritual. A nossa grande depressão são as nossas vidas. E a televisão faz-nos acreditar que todos nós um dia vamos ser milionários, deuses do cinema ou cantores. Mas não vamos...e devagar estamos-nos a aperceber disso...e nós, ficamos irritados com isso!

( alínea B )

Tínhamos acabado de chegar a uma loja de conveniência mesmo ao lado de uma bomba de gasolina:
-O que estamos aqui a fazer?
-Sacrificio humano. Foi a resposta do Tyler.
-O quê?
-Vai ter comigo às traseiras da loja. Entretanto Tyler tirou da mala algo que me pareceu uma pistola.
-Diz-me que isso não é uma pistola!
-Vai ter comigo lá atrás...
-Isso é uma pistola?
-Sim é. Vai ter comigo lá atrás!
-Oh meu Deus...
Quando cheguei às traseiras da loja o Tyler trazia pelo braço um rapaz dos seus vinte e cinco anos, de nacionalidade oriental, ao que parecia. O Tyler colocou-o de joelhos no chão e tirou-lhe a carteira...
-Raymond...tu vais morrer.
O pobre do rapaz começou a choramingar.
-Ao que parece vives num apartamento minúsculo...aliás numa cave, a avaliar pela morada. Estou certo?
-Sim sim...
-Raymond, porque estás a trabalhar numa loja destas?
O rapaz não respondia. Estava a tremelicar e a choramingar. O Tyler bateu-lhe com a pistola na cabeça:
-Porque desisti de estudar!
-O que querias ser?
O rapaz balbuciava grunhidos...
-Preferes morrer nas traseiras de uma loja?!
-Não quero morrer! Queria estudar animais e essas coisas...
-Ah!, querias ser veterinário!
-Sim e essas coisas...
-Sim e essas coisas já percebi.
-E porque desististe?
-Porque tinha de estudar muito...
-Preferias estar morto? (E o Tyler fez uns sons com a pistola que deduzi darem-se antes de se disparar uma arma)
-Não, não por favor!
O Tyler guardou a arma. Tirou a carta de condução do Raymond da carteira e guardou-a no bolso:
-Vou guardar a tua morada. Para saber onde moras. Vou andar de olho em ti, se daqui a seis semanas não te estiveres a esforçar para ser veterinário então estarás morto. Agora vai, corre. Run Forrest Run!
O rapaz correu até sair da nossa vista:
-Estou enojado. Para que é que foi isso tudo? Estás feliz?
O Tyler só respondeu:
-Amanha vai ser o dia mais belo da vida do Raymaond...Tudo lhe vai parecer belo. O seu pequeno-almoço vai-lhe saber melhor que qualquer refeição que nós alguma vez comeremos. Ele vai viver o sonho dele...
O Tyler mandou-me a arma para a mão. Abri-a. Não tinha nenhuma bala...As coisas, mesmo que à maneira do Tyler, começavam a fazer sentido. Ele tinha um plano.

"Só quando perderes tudo é que estarás livre para fazer tudo...

Tens de desistir. Tens que perceber que um dia vais morrer! Porque até perceberes isso és inútil."

Durante a corrida, sentimento primeiro

Este texto, se menos fortemente sentido, poderia acabar na apologia do meu eu. Por alguma razão achei mais correcto coloca-la aqui.

Ontem corri. Corri muito. Foi a vez que corri mais ao que me lembro. E a minha cabeça ia pensando da mesma forma que todo o meu corpo ia sofrendo dor. Todo o meu corpo é exagero...apenas as pernas e os pulmões. Quando estou a correr as músicas que prefiro ouvir nem sempre são as mesmas que prefiro ouvir quando não estou a correr...Apesar de gostar de todas as que transporto. Os meus pensamentos iam já perdidos, quando parei na música Sober, dos Tool. A verdade é que a ouvi umas quatro vezes. Na altura foi o que me fez companhia, e a razão pela qual comecei a pensar nas reflexões que me fizeram escrever este texto.
Comecei a pensar que não, não queria ser esse tipo de monstro. Esse tipo de ser vivo. E a música entrava dentro de mim...de forma tão suave...e eu deixei. O bater do meu coração começou a bater ao ritmo da música, pelo menos assim parecia. Comecei a ter medo não sei do quê. Não quero ser mais um imbecil neste mundo, nem o pior mentiroso. Não quero preencher ninguém só para depois sair de lá, deixando um espaço vazio. Não te quero elevar só para depois te fazer cair...Não. Eu não quero ser assim. E depois pensei...mesmo não sendo assim, conheço tanta gente que sofre por pessoas como estas, que existem em todo o lado, a todo o tempo.
Meus caros...As pessoas não são objectos, que são usados e descartados. As pessoas não devem ser abraçadas apenas em alturas que vos dá jeito para depois serem descartadas. Usam e largam...sem qualquer amor puro ou reconhecimento...Amor?Amizade? Não...para vocês, tudo se resume a necessidade. E vocês são falsos...fingem amor, ou amam mesmo, mas muito pouco, para terem o que querem...seja lá o que for.
Dizem-me desde pequeno que não se deseja a morte a ninguém...muito bem, não o farei, mas devido ao sofrimento que causam, às cicatrizes que deixam nas pessoas, posso afirmar, sem qualquer ponta de sensibilidade, se morrerem não vos lamento, e não afectarão a direcção da minha vida por um milímetro que seja.
Há pessoas que não parecem pessoas...ou então sou eu que estou no lugar errado. Talvez isso seja mais verdadeiro. Todos queremos aquilo que queremos...mas a vossa necessidade é satisfeita da forma que calhar...a minha pode ficar pendente, mas tudo o que vem com ela é a fome e o sentimento. O mais triste é que vocês mesmo sendo dessa forma, dormem descansados (não sei como), sem arrependimento, e satisfizeram-se...Não sei porque sou assim. Por isso façam-me um favor: não me preencham se depressa me deixam.