sexta-feira, 24 de maio de 2013

Inércia resiliente

...é absorvida...é aceite.

O pensamento estanca, assombrado
por todo o cansaço que não descansa,
Pela desilusão que fura a armadura
e trespassa pele e carne em forma de lança.
Nada dura, nem a chuva nem a secura,
Nada vive de intenções.
Duro é o custo a pagar por quem não avança,
à deriva, nesses mares, procurando
uma ilha de ilusões.

O sentimento sufoca, algemado nas mãos,
Preso nas asas, preso na garganta...
Tortura infligida por vontade própria...

Mundos mudos, ouvidos surdos,
Uma cegueira que se alastra...
Anjos caídos, anjos levantados
Nesse lugar tão improvável para se unir
o paraíso e o inferno.
O amanhã não chega, o amanhã não morre,
Mas a esperança escorre,
E o tempo corre.
Na essência humana está o mesmo velho do restelo
que sozinho finge sonhar quando já se rendeu ao pesadelo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

filhos d'uns deuses Menores

(Mas não estás só.)
Quando o céu chora
e sozinha te proteges debaixo de um
prédio qualquer, sem saber ao certo
porque olhas para um vazio que te adora.
Quando o sol te aquece o corpo
e tu sozinho, absorto no igual e constante aperto
de que a este mundo nada acrescentas
e que preferias estar morto.

Não somos o que parecemos, não somos
o que queremos, não somos o que dizemos,
Somos o que procuramos, pelo o que encontramos,
e pelo que fazemos...
(Mas não estás só.)

a Sós, depois da cortina descer
podes expulsar os demónios deste mundo
no palco que é o teu recanto,
Linhas saiem sem esforço, das letras às imagens,
Das memórias captadas
às filmagens...
Da dança que mais ninguém precisa de ver,
Da canção; da magia com que fazes arrepiar um instrumento.
(Mas não estás só.)

Não somos o que nascemos, não somos
o que gostariam que fossemos,
Não somos o que nos moldaram,
Somos na maneira como amamos, como odiamos,
Como vivemos e agimos...

Mas não estás só, nunca estarás,
Outros como tu respiram por todo este lugar,
Nessa busca ineficaz pela razão de tanto
andar sem chegar a bom porto...
Sei que saberá sempre a pouco,
Mas lembra-te: não estás só,
nem nunca estarás.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

a sede da secura

Olhos fechados, cabeça para baixo inclinada,
Rosto firme livre de emoções...
A cabeça levanta-se e os olhos abrem,
Nada de diferente terá acontecido,
bastou a percepção de que tudo está igual
para absorver a realidade com uma sede
nunca antes sentida.
Ganância na ignorância para se alcançar a dormência eterna.
Revoluções suspiram impotentes escondidas
em escondidas cavernas.
A ascenção espiritual, física, sentimental e mental
está em constante submissão, por todas essas
variáveis pessoais, exteriores,
De todos estes vazios da desculpabilização.

Lábios secos, um peito queimado,
Rosto firme livre de emoções...
Por favor não deixem entrar o mal
nos vossos corações; mas é um pedido vão,
com vários séculos de atraso.
O desejo que arde, na esperança que nunca
acabe, na ilusão de um ou mais brilhos que pareceram
viver em outros olhos,
O fado e a vontade são curtos,
mais curtos que um curto cigarro.

A negação é um fardo pesado,
A escuridão é apenas o outro lado da luz,
Por entre sorrisos e tristezas,
Esse líquido límpido seduz
O afastamento das trevas,
Num pensamento dormente, mas acordado
Sedento, na busca do iluminado...

 (imagem de Alex Grey)

sábado, 4 de maio de 2013

Finem habeo momentum ( XIII )

Quando duas forças se anulam...o Universo suspende
a respiração; parado por um momento não precisa de mais nada.

Voltarias atrás? Moverias essa peça - abrindo ao adversário
a possibilidade bela de conseguir fazer cheque? Uma jogada falhada
e as cartas caiem por terra, primeiro tropeçam duas, depois
as três que as sustentavam...e por aí em diante.

De que lado nos querem afinal?
A favor? Contra? Em termos de igualdade?
Pelo conforto da paz ou pela guerra que conquista?
Queriam que fosse diferente - mas não o posso ser...

Um grito assume o pavor generalizado,
E neste solo abençoado
Reinam as maldições de quem protesta
Contra a falta de vida...

Se sentirem como eu sinto,
se conseguirem ver o que eu vejo...
Quando duas forças se anulam o universo suspende
a sua respiração.

Uma espiral inunda os sentidos,
Vermelho, branco e azul,
Por tudo o que nos faz mais falta...
Por cima do amor, por cima da oração,
Por cima da hesitação, da acção,
do medo e do terror.
Quando duas forças se anulam...