segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Até à perfeição

"Até à perfeição
são três degraus como o pódio" (VRZ)

Não procuro a perfeição
Procuro aperfeiçoar-me.
Mas nessa estrada tortuosa
O mais provável é queimar-me.

Não jogo ao dados com o Universo
Restrinjo-me à linha e ao verso.
Não me esqueço de quem se esforça
Pois todo esse vosso esforço
Deverá ser no sentido de ignorar a casca
E valorizar o caroço.

Nunca será em vão
Quereres melhorar
Se conseguires
Ao contrário de todos
Fazeres da tua vontade
Acção.

domingo, 17 de agosto de 2008

Texto e breve explicação

Este texto foi especial para mim porque não foi de todo rebuscado com palavras caras, foi simples e concreto, foi a descrição total e sincera das palavras e situações. È engraçado também, pois sou ligeiramente obsessivo em relação aos títulos, seja em poemas ou prosa, sem o título nunca consigo avançar e desenvolver ideias, mas neste caso consegui dar a volta. Nunca surgiu título e não vai ser agora que o vou dar. Este texto tem 3 anos de existência, na altura quem o leu gostou e foram vários os comentários. Na minha opinião foi o texto comprido que melhor escrevi. Espero que gostem se tiverem paciência para o ler. Tem muitas falhas, alguma linguagem pouco cuidada mas foi assim que o escrevi. Boa leitura.

Eram quatro da madrugada. O seu amor estava à distância de um corredor, uma sala, umas escadas, dum corredor. Depois de muitos pedidos de silêncio o silêncio finalmente tinha dado o braço a torcer. As luzes apagaram definitivamente e infelizmente reinou a paz. Ele perdia toda a esperança de voltar a estar com ela, pelo menos antes do raiar do dia... E como ele gostaria de partilhar com ela um nascer do sol!
Mas os professores e o padre pediam silêncio...
E o silêncio, acabada a força lutadora, cedeu. Os temas de conversa iam-se evaporando , estranhamente a maioria dos rapazes do corredor já dormia, e a ordem tinha sido explicita: durmam.
Eram quatro e meia da madrugada. Ele dormia desde as quatro. Acordou sobressaltado. Alguém, carinhosamente, acordava-o dizendo ao ouvido o seu nome num tom amoroso e suave. Era ela. Ainda com sono viu a sua outra parte deitada ao pé dele. Um sonho? Na pouca consciência que o mantinha de olhos abertos, beijo-a, afago-a, cobriu-a por baixo dos mesmos cobertores que o cobriam. Quase inocentemente percorreu o corpo dela com a mão direita. Aproximou-a dele. Sentia a sua cara fresca. E gostava dela assim. Beijo-a como se fosse a primeira vez. Lábios mornos envolviam-se com lábios doces e frescos. Queria ficar assim para sempre.
Mas ela tinha vindo acompanhada de amigas cansadas que depressa quiseram voltar para o seu quarto. Imóvel e confuso ouviu um “boa noite, amo-te, até amanhã". Zangado sentiu o corpo dela separar-se do seu e sair pela porta que se manteve sempre aberta. Irritado pela sua impotência de gestos e palavras caiu outra vez num sono profundo. Voltou a acordar pouco depois com a sensação de um chamamento. Levantou-se. Tinha adormecido vestido e vestido se levantou. Ela apareceu no corredor, fora ela a motivação do saltar da cama e aproveitar o que restava da noite que se ia transformando em dia.
As amigas dela comiam silenciosamente na sala de escura apenas iluminada por uma luz de presença. Depressa satisfizeram o seu apetite e depressa voltaram para o quarto. Naquela sala melancolicamente antiga ficaram apenas ele e ela.
A sala era enorme. Seis mesas enormes. Muitas cadeiras. Alguma mobília. Janelas enormes fechadas e trancadas para aquele enorme mundo que os esperava lá fora. No cantinho, uma pequena mesa com flores deixava ver um pequeno sofá. Um sofá verde com um cheiro característico. Cheirava a mofo. Sentaram-se. Conversaram sempre baixinho. Riam, sempre baixinho. Namoravam baixinho.
Tinham caminhado bastante nesse dia, ela estava cansada. Ele docilmente pediu que ela se deitasse em cima dele, com a cabeça sobre ele e o resto do corpo no sofá:
- Dorme um pouco. Pediu com amor. Mas ela não queria dormir, queria aproveitar aquele momento tão bom junto com quem mais amava naquele mundo:
- Dorme um pouco. Ela aceitou cansada, na condição de descansar apenas dez minutos. Ela aninhou-se. Sabia que ele estaria ali a protege-la de todos os monstros e fantasmas que todo o ser humano acredita existirem por muito que o negue. Ela sabia disso e sabia que ele também a amava e isso bastava.
Foi assim que ambos entraram num paraíso quase solitário: ela nos sonhos, ele na solidão acompanhada daquele anjo que lhe lembrava a sua missão nesse mundo tão complicado de tão simples ser.
Ela dormia. Ele agradecia por poder contempla-la. Era magnifico vê-la dormir: ar doce de criança traquina cansada, boca semi-cerrada beijando o ar, o nariguete grande de tão belo. Apesar de ela estar a dormir acariciou-lhe os cabelos. O toque físico era o seu contacto com ela nos sonhos. Brincou ainda com insectos que os rodeavam, observou sombras, inventou músicas que cantou (baixinho), fez-lhe festas na cara. Soube ao certo quanto tempo ali ficou.
Voltou a olhar aquele rosto tranquilo. Comoveu-se:
- Deus proteja esta criança pura e inocente.
Oxalá o recado tivesse sido recebido, afinal ela merecia tudo de bom que a vida pudesse dar. E ficou assim, assim como se fosse um anjo protector do seu próprio anjo, ela. Assim ficou, sempre alerta, e o paraíso solitário durou até ao amanhecer. Com o sol veio ela e com ela veio um paraíso para sempre.

Nunca lhe chamei vida utópica(5ªparte)

Desculpa cósmica

"Achas que o diabo existe? Um ser que corrompe e destrói o Homem?(Calvin) "Acho que o Homem não precisa de ajuda."(Hobbes) Este diálogo fantástico fez-me rir imenso na altura em que o li. Depois reflecti. Mais uma vez estava perante uma desculpa cósmica. Uma desculpa cósmica é algo que tira a responsabilidade ao ser humano nos actos por ele cometidos e que lhe dá, de certa forma, uma fuga covarde. Não estou a par de quem vive ou governa o Universo, mas se o Homem age mal e comete erros só o deve a ele próprio.

"Achas que o diabo existe?" Não sei. Sei que o ser humano é sempre capaz de fazer mais do que aquilo que faz.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Nascido


Nascido no paraíso
O caminho que hoje piso
São as brasas do inferno.
O mais comovente
É descobrir que os que vivem
No paraíso julgam morar no inferno.

E eu não finjo a dor
Não sofrida,
Como que de uma aberta ferida
Sinto o odor dos muitos que sofrem
Realmente. E com eles sofro.
Não choro, apenas desespero,
Não grito, apenas escrevo.

Como o planeta terra
Tenho períodos cíclicos
De luz e trevas.
Estremeço quando o sol nasce,
Louvo o nascer da noite.

Uma guerra civil mundial
Revolta Deus:
Homens ajudados pelos demónios
E demónios ajudados pelo Homem!
Os anjos? Morrem de exaustão.

De nada serve ter-se paz de espírito
Pois não passa de paz armada.
Nascido no paraíso
Não desprezo a importância do inferno.
Às vezes é preciso viver o mau
Para valorizar o bom.
Escrevo sobre o paraíso
Apesar de escrever no inferno.

21/04/08

Claustrofobia

Não consigo pensar claramente
Num mundo por mim
Fechado.
Respiro agonia desenfreadamente
Enquanto elevo o pensamento.

Não existem janelas onde
Costumo passar os meus dias,
Vivo num mundo à parte
Do meu, vivo nas alegrias
Diárias do mundo social,
Desfruto do sol nas varandas
Da hipocrisia.
Gosto de me ligar electronicamente
A todas as máquinas que o ser
Humano já criou.

Quando chega a hora,
Gosto de passear
O clone do meu animal
Preferido. Dentro de casa
Prefiro os seres mutantes
Criados pelo Homem científico.

O meu país é dirigido
Por forças de Inteligência Artificial
Mas é reconfortante
Saber que somos controlados por
Forças mais inteligentes do que todos nós…

Estou internado num instituto psicológico
Porque não aguentava mais esse mundo.
Aqui, rodeado de paredes pintadas
De claustrofobia sonho e recordo e
Desejo sair desta realidade com um leve sabor a
Metal, gasolina e falsidade.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pseudo-Renascimento

Os dias a voar passaram
Apesar de terem corrido como meses.
Acompanhado pelo sol
Viagei para outras paragens,
O pôr – do – sol em todos esses lugares
Foi apreciado.

Queria ter mudado ou ter feito mudar,
Mas o sujeito poético continua igual:
Ele próprio, ele mesmo.

O mundo raramente muda
E quando muda geralmente é para
Pior, num mundo que gira
Sempre da mesma forma
Porque havia as pessoas de outra
Forma girar?

Pois esta bola que gira,
Para além de ser rotineira
Gira sempre no mesmo lugar.

De que vale o conhecimento
Se não conseguimos mudar?
Por isso lhe chamo pseudo-renascimento.

7/10/07, Pelo melhor Verão, 2007

Estado de elevação


Mergulho de olhos abertos
Nesse teu mar profundo,
Respiro-te e sou, dentro do teu eu,
Uma faísca de egocentrismo.

Lutar por alguém
É a melhor prova que
Somos humanos.

Não procuro facilidade
nesta luta porcelana frágil,
Atingir o inantigível
é a minha aproximação a ti.

Por vezes não percebemos
que esta luta não é
por alguém que nos ilumina o dia;
É sim o melhor de cada
Estação do ano,
Porque luto por cada momento
que estou contigo,
Por isso luto pelo teu amanhecer.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Musa


Não encontro necessidade
De elogiar palavras,
De modificar adjectivos
Utilizados por tantos em tantas Eras.
Mereces mais do que uma reciclagem poética.

Vejo muita gente
Mas és tu que te destacas.
Agrada-me olhar-te.
Linhas de humana em forma de musa.
Desvio o olhar mas volta sempre para ti.

É graças a pessoas como tu
Que não desvalorizo o ser humano.
Penso-te. Aguardo-te.
Vivo-te em cada arte
E dou-te tudo o que posso dar-te.

Não passas de uma pessoa,
Uma como tantas outras,
Reparo agora que isso é o melhor:
O sonho em forma de realidade;
Não és deusa, nem musa,
E contigo percebi
Que um ser humano
Vale mais que mil deuses.

Nunca lhe chamei vida utópica(4ªparte)

"Morrer na praia"

Dizem as pessoas: é mau "morrer na praia", tomando um exemplo literal, um naúfrago que sobrevive no mar, que luta pela vida, que dá tudo por tudo para chegar a terra e quando chega a terra já não encontra força para pedir ajuda ou para chegar a alguém. Algo que nos acontece muitas vezes. Quantas vezes pensamos dar o nosso máximo para chegar a terra mas depois falta aquela réstia de força ou de vontade essencial para ficarmos bem. Por muito belo que seja suar em vão a verdade é que muitas vezes de nada vale. Na caminhada nem sempre devem existir objectivos, mas escolhida uma meta há que lutar por alcança-la, melhor, há que lutar por ultrapassa-la.

Dizem as pessoas: isso é "morrer na praia", então não morras. As forças só acabam quando morres, até lá temos força para tudo. Usando palavras minhas:

A vida é curta,
Mas enquanto te restar um sopro de vida
Luta.
A batalha diária que travas
Às vezes é injusta,
Mesmo assim luta.
(...)
Às vezes a força já é pouca,
Não faz mal, respira fundo
E Luta. (Conclusão;A outra face)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Breve explicação

Neste dia 1 de Agosto de 2008, aproveitei para passar estes poemas, que contam já com mais de dois anos. Para os mais atentos depressa podem reparar um sujeito diferente. Talvez até contraditório. Mas não, momentos diferentes da mesma pessoa. O que me leva de facto a reflectir é que a verdade pode ser só uma, mas pode ser vista de vários ângulos diferentes e interpretada de formas também diferentes. E nessa batalha eterna entre a razão e a emoção, chamemos-lhe assim, a verdade é que todos nós, influenciados pelo nosso estado de espírito e momento actual, podemos defender tanto um lado como o outro, ou ambos. Ambos têm as suas vantagens e desvantagens. Relativamente ao poema Alencar, para quem se lembrar, da personagem d'Os Maias. Também eu gostei e de momento a minha poesia reflecte mais um certo Ega, por assim dizer, mas neste caso calhou a vez ao Alencar. Mais uma vez, reina esta magia contrária, de dois pólos.

Canções de embalar


Tenho saudade de ser criança.
Quando fazia tudo por espontaneidade
Verdadeira.
Quando chorava para chamar
A atenção, quando chorava sentido,
Quando pedia um brinquedo.

Por outro lado gosto de ser quem sou.
De ter as características que fazem
De mim o que sou hoje.

Por outro lado sou apenas:
Idade de adulto em pensamento
Quase inteligente numa mentalidade
Cómica e infantil.

Como todos nós
Existiu um dia em que também
Eu chorei ouvindo uma canção
De embalar.
Lembro-me como se fosse anteontem.
A minha mãe querendo-me acalmar
E eu ali, no silêncio de pura
Paz de alma, a chorar.

Oxalá Deus tenha
A sensibilidade
De nos dar uma
Canção de embalar
Durante a intemporal
Caminhada para a luz.

Alencar

Podem-me tirar tudo,
Podem-nos tirar tudo:
A razão, a lógica, a ética,
A moral, a verdade.

Mas não nos tirem
A beleza.
Quando quero ser eu mesmo
Olho-me ao espelho.

Quero lá eu saber
Como funciona a fotossíntese,
Quando vejo uma flor
Vejo apenas as suas
Cores, a sua forma,
A sua origem criativa,
A sua essência divina ou não,
A sua beleza.

O coração comove-se e ama,
Não me desiludam dizendo:
“É o órgão que bombeia o sangue”.

Se pesarem beleza e razão
Encontrarão a resposta.
Pesa mais a razão
Pois no mundo só caminham
Seres cheios de razão,
Obcecados por mais razão,
Ofuscados pela falta de emoção.

Alencar de Alenquer,
Viva cada um como quiser
Mas cá entre nós:

Um dia o Homem morre
E sobra apenas a natureza
Vai-se o que estava a mais
Fica a beleza.

Os donos da verdade


Quando quero ofender todos
Os seres humanos de uma só vez
Digo que também eu sou dono da verdade.

Falas e dizes pensar melhor que todos
Os outros.
Abram alas, chegou o sabedor.

Às vezes não te percebo, sentes-te
Vencido ou vencedor?
A verdade nunca é dita
Na sua totalidade.

Falas e dizes que só falas a verdade.
Por isso opto pela escrita,
Porque se falo as verdades estas caiem
No abstracto, perdem-se no tempo.
Quem as ouviu, depressa as
Esqueceu.

Ser-se verdadeiro não é ter-se sucesso,
É conseguir incomodar de maneira
A corrigir o que está errado.

Os donos da verdade já me acenam
Ao longe,
Eu sorrio hipocritamente,
Nem imaginam como vos odeio.

Na linha ténue, quase inexistente
Que devide uma folha pintada de preto
E de branco, ai reside a diferença:
Eu sou dono da minha verdade,
Mas sei que muitas vezes a minha verdade
Está errada.
Pois eu paro, ouço e se necessário mudo-a.

Fotografia

Resta uma formação
De cores logicamente
Aplicadas, de acordo
Com o meu mundo.

Vejo o que quero ver
E não o que vejo.
Confundo realidade
Com verdade e isso
Deixa-me nervoso,
Um pouco irritado até.

Faço uma aproximação do tamanho
Do universo…
Que contradição absurda!
Pareço um modelo irracional.

Gosto de captar a sensação,
O sentimento.

Gosto de tirar fotografias
A mim próprio.
Rio-me sempre com elas.
Não significam nada mais
Do que aquilo que é uma
Fotografia. Apenas uma imagem.

Gosto de matar saudades
Do meu melhor amigo.
Tão perto mas ao mesmo tempo
Muito mais longe.

Nós até gostávamos um do outro.
Eu tentava proteger-te, agora já não
É preciso.
Às vezes sinto falta de nós.
Mas ninguém vive da saudade.
É melhor assim talvez.

Nós até tínhamos graça juntos.
Pode-se rasgar uma fotografia.
Mas também se pode voltar a colar.