sexta-feira, 28 de maio de 2010

Desculpas-me?


Este texto é inspirado e de certa forma uma espécie de tributo ao filme "O véu pintado". Não queria fazer de todo uma reflexão...Queria talvez inventar uma ideia nova com um conceito antigo. Seja como for, deixo desde já a sugestão: vejam o filme.

"Ás vezes a maior viagem é a distância entre duas pessoas..."
(Se o é. Mas vale a pena chegar ao destino. Sim vale.)

Parte 1

- Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa, desculpa...
- Desculpa, mas não chega.

Parte 2

- Já ouviste da minha boca milhares de vezes um pedido de desculpa...todas as vezes que te fiz mal e nas quais sempre me arrependi. Apesar de o estar sempre a sentir, nunca ouviste da minha boca um "Amo-te".

Parte 3

Por alguma razão apaixonaste-te por mim...Às vezes parece uma espécie de magia. Olhamos alguém, e toda a sua presença exerce uma força, como se fosse de fora deste mundo, como se trouxesse à sua volta uma aura. E olhaste para mim e sentiste isso...Não foi por solidão. Não foi por motivo nenhum especial, excepto ter-te atingido, como nunca ninguém atingiu. E eu, por razões menos aceitáveis (muito menos aceitáveis) quis ficar contigo...E mesmo que quisesse começar a amar-te não consegui...Eras frio. Racional. Homem das ciências. E parecias sempre distante. Fazíamos amor às escuras...(porquê?), é suposto, também nestes momentos importantes olharmos nos olhos, olharmos os contornos, sentir tudo com os cinco sentidos...A distância para com a tua alma era tão grande que pensei que fosse infinita ou mesmo inexistente, como se não fosse possível chegar-te à alma. Acabei por te trair facilmente...Bastou encontrar alguém que fisicamente e emocionalmente (pelo menos à primeira vista) me fazia sentir querida e amada, verdadeiramente. Mas tu descobriste. E levaste-me para um mundo diferente, na obrigação de ficar contigo. Eu continuava afastada de ti, devido à tua maneira de ser...e tu? Tu continuavas igual, mas pior, com a desculpa da desilusão por mim causada. Tempos tristes que vivemos...e tudo isto com o medo da morte, que pairava tão de perto. Tempos tristes. Onde sofri, julgando já não ser gente, nem alma, nem coração. E foi então que aconteceu algo diferente...aos poucos fomos descobrindo as nossas almas de um ponto de vista diferente. Deixámos de ver em nós o que queríamos ver, por termos desejado ou sonhado, e passamos a ver o que de facto existia. E aos poucos...descobrimos que de facto encaixávamos...e que juntos tudo era diferente. Principalmente para nós, e depois talvez, para o mundo. E tudo começou a mudar. E tudo começou a ganhar outra cor, a brilhar...
E foi então que adoeceste. Durante todo o tempo juntos a frase que mais te disse foi "desculpa" ou "desculpa-me"...E tu, talvez por amor que me tinhas, acabavas sempre por desculpar, porque o amor era mais forte...E mesmo antes da tua morte...tudo o que consegui dizer-te foi "desculpa por tudo". E apesar de tudo o que se passou, desta distância que mudou de comprimento tantas vezes...apesar de tudo, eu...descobri-te, e senti-te, e ...Sim. Finalmente encontrei o verdadeiro amor. E para dentro, amei-te. E apesar de tudo...morreste nos meus braços e não consegui dizer que te amava...