sábado, 1 de janeiro de 2011

Apetece-me acordar (em) 2011...

(Primeiro texto de 2011...)
(http://apologiadomonstro.blogspot.com/2011/01/apetece-me-adormecer-em-2011.html)

Chegou mais um ano. Dizem que é novo. Que se deitou fora o velho. Dizem que tudo será diferente. Que tudo acontecerá desta vez...
Podemos ser honestos por um momento? (Muito obrigado.)
Nada mudou. Nada.
A única coisa que realmente muda é aquela parte da data que foi igual durante um ano, e muda apenas em quem a vê; na tecnologia de casa, nos transportes, na tecnologia fora de casa, nos alunos que ainda escrevem as lições e o sumário e a data. De resto? Está tudo igual. O que muda é uma data que se manterá agora por um ano até que mude novamente.
De resto está tudo no mesmo lugar. A passagem de ano serve para festejar, ainda não percebi bem o quê, para se estar com quem se gosta, etc., e tudo isto parece...para mim, suficiente. Porque tudo o resto, o resto de tudo, fica na mesma. Queriam a verdade? Hei-la. Se não a queriam, podem voltar à vossa vida, porque tudo o que quero é tentar acordar (em) 2011.
Terei tempo para dormir, no outro texto que escrevi, agora é hora de acordar. E acordar é mais doloroso do que adormecer. Porque na vida os sonhos escasseiam, e podemos tentar muito tempo para às vezes nem os termos. Enquanto dormimos, os sonhos aparecem com uma facilidade tremenda. Na vida os pesadelos ferem-nos, e ferem, e não podemos simplesmente acordar para depressa passar à fase do esquecimento, enquanto nos convencemos "Isto não aconteceu!"; aqui os pesadelos vão até ao fim, e nós estamos bem acordados. Não vamos a lado nenhum...
E os dias são todos "iguais", os dias têm todos os mesmo problemas, as mesmas resoluções (ou as suas tentativas); no entanto, a meia noite passa, salta-se, grita-se, abraça-se, beija-se, bebe-se, vê-se fogo de artificio...O primeiro nascimento do ano, a primeira morte (que ninguém conta, talvez por serem mais do que os nascimentos). As pessoas continuam a morrer à fome, de doenças que a nós, na nossa realidade, parecem doenças idiotas que por nós são facilmente curadas. Os mendigos passam frio e vêem o esbanjar do dinheiro a rebentar no céu, acompanhado de música. Idosos passam a noite sozinhos, na pesada solidão, na malvada doença, outros ainda têm a "sorte" (magoa-me utilizar este termo) de estar no hospital, e de certa forma não passam tão sozinhos...Este mundo revolta-me. E tenho de ser um pouco vicarious nisto, ver estes actos todos sem amor, compaixão, partilha e ajuda; actos desumanos, num suposto ser humano, faz-me pensar que não sou assim tão monstruoso como penso ser. Talvez até seja, mas por momento abrando-me...Que raio de mundo é este? Onde a futilidade esmaga o que é realmente importante? Onde tudo aquilo que alguns querem é o que outros deitam fora? Desperdiçam?
É isto tudo e muito mais. Por isso não fiquem espantados quando vos digo que este ano vai ser igual ou pior que os outros. É lógico que não é isto que desejo a ninguém. Apenas o sinto. Para mim vai ser igual ou pior, porque muitas destas coisas vão-se manter ou pior. Não me resta qualquer dúvida...é triste não é? Sou um vencido da vida, e ainda estou tão longe de tudo...
Tudo isto foi despoletado a partir de um bom cocktail, de várias coisas, onde a cereja no topo do bolo (para outros a gota de água) foi Jornal da Noite.
Talvez tenha sido só impressão minha, mas entre as crises, e as crises, e a crise que vem por aí, as pessoas que passam o Natal sozinhas porque foram abandonadas, a fome e a miséria; apenas um casamento de 65 anos (isto sim é amor, e é bom de tempos a tempos saber estas coisas, para contrastar com os divórcios e separações, e 'amores' que parecem paixões ou brincadeiras) e o grau de felicidade das pessoas conseguiram tentar dar cor a 2011. Sad world. Mundo triste.
Já ouvi tanta boa gente dizer que nunca desiste de nada, etcs, e coisas até boas de se ouvir, e depois nada. Tudo não passou de um grito do epiranga falso, tudo não passou de uma mentira. Pois então, para tentar ser diferente de todos vós, vou ser honesto, mesmo que triste: Hoje, perante tudo isto, perante tudo o que sou, e o que não tenho nem vou ter, por tudo o que nunca serei; só me apetece dizer "Desisto". Assim. Só isto.

Mas ainda não vou dormir. Quando for, aí sim, já terei desistido. Não falta muito.