sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Us"

Ter-se consciência é demência...
Ter-se esperança é ingenuidade.
Louvados os que sabiam que o fogo queimava sem ter que se queimar primeiro...

Já deram por vocês a falar ou a pensar no plural? Nós isto, nós aquilo? Depois dá-se um momento parado no tempo, desenvolve-se um silêncio, e chegamos à conclusão certa de que estamos sozinhos. Apenas sozinhos. Não interessa se foi passado, se é um inventado presente, ou um desejado futuro...Somos nós e uma palavra: "nós". Não interessa o sentimento com que é dito ou pensado, porque a razão é esmagadora e sincera: não há um "nós". Sou eu sozinho. És tu sozinho. Já repararam como as músicas e os filmes que ouvimos e vemos atingem-nos apenas por duas razões? Ou por reflectirem a triste verdade da nossa vida, ou porque fazem crescer em nós uma nostalgia de vontade e de sorrisos por algo que não temos...é um sonho acrescentado, que é alimentado durante esse tempo apenas, porque depois, acordada esta consciência, tudo o que sobra é uma pequena ou imensa tristeza.
No que toca ao sentimento nada se vai alterar...e na nossa maneira de agir também não. Por momentos queremos acreditar que sim, e em casos mais belos, tenta-se até...Até que nada mais se avança ou se modifica. Estas espirais entram na nossa vida. Em casos raros entram e deixam cá dentro alguma coisa. E essas coisas quando de facto entram fazem com que exista modificações multi-sentidos. Mas é tão raro...Meu Deus, como é raro.

Por favor vê o filme...Sim já sei. Pela narração que me fizeram depressa cheguei à conclusão que não o queria ver...Aquele filme era demasiadamente parecido com a minha vida. E isso, tristemente, não me agradava. Mas vai fazer-te bem, vais ver. Sim já sei. Ganhei "coragem", como se tentasse vencer algum tipo de fantasma que não só me afectava por fora mas também por dentro...Sim, vou ver o filme. E o filme começa a dar...e uma das primeiras frases, logo assim para matar qualquer esperança de um final feliz (pelo menos um final feliz como a maioria das pessoas deseja ver - pelas razões infantis e sonhadoras de ser o que desejavamos se fossem aquelas as nossas vidas, a nossa história): Esta não é uma história de amor, é uma história sobre amor. E eu estava certo. Por muito que às vezes tentemos forçar gargalhas ou lágrimas elas não aparecem, e depois, quando menos se espera, quando chega aquele momento "certo"; que todos dizem que acabará por chegar, as coisas apenas acontecem...mas não se iludam, isto dá-se tanto para as coisas boas como más. Portanto, sem querer, mesmo que muito ao de leve, uma lágrima, muito pequena, apareceu no canto superior esquerdo e direito...Se vissem um filme com outras personagens, que não com vocês, com uma história muito próxima da vossa, como se sentiriam? Sentiriam aquilo que todos sentimos...noutros filmes, noutras músicas, noutros livros...
Aprendemos algo? Umas vezes sim, outras não. Estas coisas todas fazem-nos bem? Outras vezes sim, outras vezes não.
Talvez neste mundo não valha de nada tentar ir mais longe, perfurar solos até se encontrar algo; talvez procurar respostas seja só uma desculpa para se fazerem perguntas, e fazerem-se perguntas uma forma de se parecer interessado em viver. Não importa o que eu diga neste momento sobre todos estes assuntos, e tão pouco importa estar certo ou errado...porque a verdade é que todas estas "coisas" que mexem ou fingem mexer connosco são contagiosas...são viciantes, e até chegar a altura de as deixarmos de ouvir e ver pelas razões "erradas" (sonhar com elas, sendo elas alheias) e começarmos a ver nelas um reflexo belo daquilo que somos e daquilo que fazemos. É assim, isto tudo, um pouco disto, um pouco daquilo, um pouco de nada e um pouco de tudo...a capacidade para abraçar o abstracto e o concreto ao mesmo tempo; é saber que somos seres humanos, mas reflectir quantos são os momentos em que realmente agimos como tal.
Uuuhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh uhhhhhhhhhhhhhhhhh...
Alguns viverão felizes, como poucos outros: Poderiam ter feito uma estátua nossa; poderiam, mas aqui estamos, NÓS, sem ela, no apogeu do sentimento e da razão da vida. Outros viverão na tristeza do sonho, cantando: Fizeram uma estátua nossa...de "nós".
E mesmo fingindo aspirar mais longe, e entrar em sítios impossíveis, a verdade é que tudo o que eu sou é decadência, a curto e a médio prazo, e deixo-me ser assim, para já nada posso mais fazer; no entanto, não queria de deixar passar esta frase que todos os dias se depara à minha frente, e pela qual ainda vou nutrindo sentimentos, da mesma forma que todos vós ao ver filmes, ou ouvindo músicas, ou lendo livros. E a frase é:

Ser tudo o que podemos ser. Porque não? (Publicidade Oliveira da Serra - azeite)

Porque não?


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A revolta de sentimentos vagabundos

Não somos feitos da mesma matéria.
Não fazemos parte da essência, nem
da primeira ideia; não vivo os dias nem as noites,
aguardo-me neste crespúsculo,
Só, cansado da humanidade,
relembrando com saudade
a falta da divindade...
Um só momento, uma só luz,
esse momento que nos sorri
e que sorrindo nos seduz,
cicatrizando no meu ar um cheiro inconfundível,
e o pesadelo distante de alguém
que não conseguirá jamais crucificar o ego,
de alguém que acabará sempre por querer
carregar uma cruz, por si, para si.
É todo um desgaste exterior
que acaba por vir adormecer em mim,
e já não importa a minha razão
a minha luta
ou pelo que bate este coração, tudo se une
tudo adormece de forma revoltada,
e cresce esta fome que não é alimentada
e cresce esta sede que não é preenchida.
Não são letras nem números, nem prosas
nem poesias, canções, teoremas
ou teorias; Nem gramática, ou Ciência
nem matemática...
É estar-se fingindo dormente, quase morto,
Quando se está apenas foragido, quase doente,
é esperar sem grão de fé,
é desejar sem movimento
é a vontade de se dar esmola a este sentimento
sem a vontade de levar a mão à algibeira...
É tudo isto, mas de uma outra maneira,
porque não somos feitos da mesma matéria.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Avatar of Woe (5/5)


Se depois da tempestade vem a bonança, a seguir a essa claridade vem de novo a escuridão. Ciclos e círculos imperfeitos são a realidade, com ou sem a aceitação que, no fim de contas, quase tudo o que sobra é: devastação...Será o preto a continuação do branco?

Se olharmos o céu durante a noite
todo ele é vasto em escuridão.
A realidade porém é que mesmo durante
o dia, esse mesmo céu, mais branco
mais azul, por detrás daquilo que a nossa
alma não capta, nem os nossos olhos,
é do mesmo vasto preto...
Nem sempre se pode escolher a cor das coisas;
nem sempre podemos pintar algo com a cor errada
só para nos facilitar a pintura...
A desgraça e a miséria,
a dor e a tragédia,
a doença, a morte,
tudo consciente de uma só cor,
E é o preto que se destaca nas vestes
destas vidas
nesta vida do mundo;
sangrando, chorando, sofrendo...
Em alguns a vontade de esquecer para sempre
ou de continuar num ciclo de sofrimento,
Mas outros,
aqueles que respeito acima de todos
lembram-se que:
Antes de tudo se tornar negro,
o tudo era branco,
era iluminação...


(imagem -
Magic: The Gathering)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Avatar of Fury (4/5)


Se a chama não arde dentro de nós de um vermelho aceso...nada mais interessa; então que se abra o mundo em dois, que tudo seja engolido em labaredas, que tudo seja molhado pela seiva de cada vulcão...Como foi no ínicio...agora...e talvez para sempre.

Não é preciso imaginares um dragão colossal
que expira fogo...
Mesmo que te pareça tão real...
Não receies o medo, depressa tudo acaba logo,
quando as misérias deste mundo atingirem
o seu apogeu;
no escuro das vossas almas
a chama nunca sobreviveu...Agora é ela que vos queima
enquanto leva consigo todo este mundo.
Quem não sobrevive ao amor
acaba por encontrar tréguas no desespero.
É bom voltar a ver-te...
É bom sentir que sentes...mesmo que apenas esta queimadura
exterior.


(imagem -
Magic: The Gathering)

Avatar of Might (3/5)


Onde a Mãe Natureza sempre se escondeu melhor; entre o verde, no verde; ...talvez já de nada valha mostrar poder...força...sabedoria e habilidade...Quem sabe.

Ficarei contigo para sempre, ao teu lado
amando-te, protegendo-te...
Mas quando olho para a realidade que me rodeia
parece que estás sozinha,
como se Deus te tivesse deixado nas nossas brutas
mãos; deixado-te às nossas vontades de ter mais
do que aquilo que realmente precisamos...
Eu sei...Senão nasci ganâncioso pelo menos
tornei-me. É este o destino de quem nasce humano:
nascer-se ou tornar-se defeituoso,
um sonho de esfera...mas somente arestas.
Destruir o que mais nos faz falta para viver
destruir quem nos ama ou quem amamos...
Já não se cultiva sequer...
É somente destruição.
É sempre isto:
arrancar tudo, tudo o que poderia ser arrancado,
e arrancar tudo o resto...para que tudo fique perdido
para sempre...
Que a raíz das coisas seja mais forte, e que mostre
essa força, como tu outrora mostraste.


(imagem -
Magic: The Gathering)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Avatar of Will (2/5)


Uma cor azul em nome do mar, uma força capaz de escolher, com toda a vontade, sem se deixar controlar...

O poder que a vontade tem
depende da força com que lhe é aplicado vida;
Vida máxima, como o azul que cobre em demasia
este mundo...O poder de nos ajudar a chegar a outro
lado, e o poder de nos afogar.
Existem forças impossíveis de se controlar:
não tentem colocar grilhões, nem amarrar,
é a calma, e é a raiva,
Lágrimas e decepções, sorrisos e uniões.
A milhares de distâncias até às profundezas
do oceano, nesse lugar escuro onde não capta o olhar
humano, existe uma vontade escondida,
(por alguns já esquecida)
da mesma forma que está nas profundezas
de cada um de vós...
Basta soltá-la, porque a vontade é vossa
e só depende da vida que colocam nela...


(imagem -
Magic: The Gathering)

Avatar of Hope (1/5)


Antes de tudo se tornar negro, o tudo era branco, era iluminação; o tudo era brancura, o tudo era o caminho, a meta, a elevação...e nada era impossível...

Do infinito branco, e do infinito vazio,
Explodiu a criação do tudo...
Sem uma só palavra, apenas movimentos,
A criação de gestos, das cores, dos sentidos
dos sentimentos, da essência de cada partícula...
A natureza e o vento.
E o tempo.
Antes do nascimento já existia a esperança;
branca, forte, guerreira,
Branca como a neve que cobre cada pedaço de montanha,
Forte para suportar toda a força contrária,
Guerreira, para batalhar sempre,
contra tudo e todos
mantendo-se viva, e viva em nós
para nunca morrer para sempre.


(imagem - Magic: The Gathering)

Avatares (0/5)

Cinco são os avatares criados noutra era...
Cinco são os avatares que nos invadem
e elevam
nos fazem curvar ou erguer:

cinco foram os avatares criados,
para vivos
nos fazerem viver...
(de uma outra forma qualquer
ou como sempre quisemos...)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

As trevas do dia

De que adianta saber tudo,
ou pensar-se saber?
Que adianta caminhar um caminho que não
pertence a mais ninguém
que aos outros?
Valerá quanto lutar contra tantos
mesmo quando somos tão poucos?
Agita-se a solidão entre esse barulho
tão próximo...numa proximidade tamanha
como se estivesse por de baixo da nossa pele...
Tudo parece bem mais claro agora,
quando o dia nasce, derrubando as trevas da noite...
O mundo ainda dorme quando venho à janela;
foi com certeza neste momento que Deus sorriu,
foi neste momento que o Homem foi feito,
à semelhança do que existe de mais belo neste mundo,
recheado de sentimentos e razões,
planos e acções...
Tudo por um bem maior,
tudo por um bem pessoal e interior.
Disseste-me que não irias a lado algum
que eras para sempre de uma só pessoa,
olho-te, enquanto ouço estes ruídos do mundo
a acordar,
vou-te amar para sempre, à minha maneira,
Serás para sempre aquilo que me faz distinguir
recordação de saudade,
Recordar-te na escuridão
sentir a tua falta em horas de claridade,
até que a morte tudo separe.
Vivemos para ver estes nascimentos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sounds great - taking some kind of chances



(Ainda a recordar: Lose yourself (E.), com um arrepinho a descer as costas...

"Look, if you had one shot, one opportunity
To seize everything you ever wanted, one moment
Would you capture it, or just let it slip?

The moment
You own it, you better never let it go
You only get one shot, do not miss your chance to blow
This opportunity comes once in a lifetime...
So here I go with my shot, feet fail me not
This may be the only opportunity that I got.
You can do anything you set your mind to...")

"Don't know much about your life.
Don't know much about your world, but
Don't want to be alone tonight,
On this planet they call earth.

You don't know about my past, and
I don't have a future figured out.
And maybe this is going too fast.
And maybe it's not meant to last,

But what do you say to taking chances,
What do you say to jumping off the edge?
Never knowing if there's solid ground below
Or hand to hold, or hell to pay,
What do you say,
What do you say?

I just want to start again,
And maybe you could show me how to try,
And maybe you could take me in,
Somewhere underneath your skin?

What do you say to taking chances,
What do you say to jumping off the edge?

Never knowing if there's solid ground below
Or hand to hold, or hell to pay,
What do you say,
What do you say?

And I had my heart beaten down,
But I always come back for more, yeah.
There's nothing like love to pull you up,
When you're laying down on the floor there.
So talk to me, talk to me,
Like lovers do.
Yeah walk with me, walk with me,
Like lovers do,
Like lovers do.

What do you say to taking chances,
What do you say to jumping off the edge?
Never knowing if there's solid ground below
Or hand to hold, or hell to pay,
What do you say,
What do you say?

Don't know much about your life
And I don't know much about your world
"

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Untouchable


É este um brilho interior que nunca passará pela vida da maioria de nós...Por muito que estes braços se estiquem (que já não esticam...desistiram à muito tempo), e por todo o esforço (inexistente) que o dedo faça para tentar alcançar...Não existirá luz, não existirá aprovação...é este o melhor retrato da condição humana: a um pequeno passo de tudo, sem nunca conseguir lá chegar. São poucos os que conseguem tocar esse dedo que nos espera ou que se esforça por também a nós chegar; seja a vida, seja o divino, seja a nossa outra parte. ...

Uma música que já conta com alguns anos não me conseguiu despertar, mas fez-me repensar na vida que levamos e na forma como a levamos...Parece que esta canção, para além de me devolver alguma certeza na forma humana de viver triste, descreve o povo português...por outras palavras reinventa este Fado já marcado dentro das gentes, esta calma morta, esta certeza de já nascermos derrotados...A música Dream On, encaixa na perfeição. Nunca deixámos de ser Os Vencidos da Vida, nome dado por Eça de Queiroz, apartir dos Descobrimentos...Derrotados e frustrados...sempre, para sempre...E todos estes pedaços de arte
confirmaram, dentro do meu ser, que a verdade é só uma: nós não sabemos ganhar; (se soubermos como, não o fazemos) mas sabemos de cor como perder, e como viver a derrota. Balada triste esta que acompanha os nossos passos...é como se preferissemos sofrer na dor, na derrota, na frustração, do que caminhar alegremente por esta vida fora. Seja numa decadência pura ou numa decadência camuflada, todos os dias pisamos esta não-história, deixando em aberto outros finais, outros actos, outras palavras... ...

É como falar de amor
sem nunca ter amado,
como escrever
sem nunca ter sentido...
É saber o sonho, o caminho,

mas olhá-lo com terror
virando costas...
calando o seu chamamento.

É como morrer

mesmo antes de ser ter nascido,

é deitar o corpo na constante seca da vida
por se ter medo de prolongar o dedo.

É passar do sonho
à alucinação...
e mentir-lhe, sem dúvida,

como se a verdade fosse nossa
só nossa...de mais ninguém.
Estes dedos jamais se tocarão...
Porque a razão está quase esgotada
e o sentimento quase chora de forma derrotada...
Como se eu me importasse

Ou então talvez até me importe

e até me importe muito...

Cataclysm

Escrito por Diogo Garcia TH e Joana Garcia TH, pela quarta vez juntos...

E se a esperança morresse hoje?

E se a vida acabasse amanhã?

Sejam bem vindos ao ínicio do vosso fim;

Onde os anjos choram e Deus se esconde atrás

Do sol, onde ninguém o pode ver sofrer;

Onde as ondas do mar invocam antigos seres imortais

Capazes de fazer tremer o mais corajoso mortal.

Este ar pesado, quente, este vento que traz com ele

Restos desse Inferno já tão próximo...

Não existe tempo para mais sentimentais espirais;

Os vendavais trouxeram com eles furacões,

Enormes, colossais,

E o medo cresce, expande como todo esse

Universo que ficará para trás...

Desejam estar nesse vosso calmo mundo

Admirando esse calmo mundo

Sentados no vosso cais...

E é nesse mesmo cais que podemos ver as ondas gigantescas que se aproximam inevitavelmente. As ondas colossais que em breve afogarão memórias e vidas construídas a partir do nada, retratos de quem já existiu e vestígios da nossa própria existência. Ondas que por fim chegam a terra, a esta Lisboa cinzenta e pálida, pilhada de toda a cor que um dia possuiu. As ondas chegam, tumultuosas, numa revolta sem fim, mais fortes do que a força do Homem, mais imparáveis do que queremos imaginar. Começam a levar consigo pessoas e objectos que há minutos atrás faziam parte do nosso quotidiano, mas que agora, representam aquilo que foi arrancado à força. Há quem corra para a salvação, mas outros aceitam o seu destino e deixam-se ficar, apreciando o espectáculo que é ver o mar ganhar vida e em toda a sua glória, devastar o que lhe pertence. Eu corro. Corro com toda a minha energia e força, e rezo para que chegue a hora em que eu possa parar de correr. Mas, ironicamente ou não, as minhas preces são atendidas e eu páro realmente de me mexer. Páro até de respirar. Lisboa à minha volta encontra-se mais uma vez destruída, como se de sina se tratasse. E vejo-me rodeada de destruição, do caos, de um reboliço inimaginável. O pânico corre violentamente nas veias de quem ainda ousa viver só para morrer mais tarde e por breves segundos eu deparo-me com a catástrofe que é viver rodeada de outros seres que se intitulam de humanos. Porque neste momento nada têm de humanos, nada resta da vossa grande dignidade.

O medo invade-vos as veias a toda a velocidade!

Não existe mais espaço neste mundo

Para a verdade, a mentira e a cobardia

Venceram! Que comece a calamidade.

Trovões no céu escuro aclaram

A vossa realidade!, fazem lembrar

As horas em que a luz vos iluminava.

Agora talvez seja tarde de mais...

Pagam o preço elevado de ter errado.

O caminho nunca foi traiçoeiro,

As medidas apenas foram mal tiradas,

Recuaram, choraram em horas desnecessárias,

Mas não mostraram receio na ganância!

A morte está à espreita como uma criança

Curiosa, pronta para avançar sem que ninguém

A veja...

Desejava estar morto para não vos ver

Enterrados em sofrimento,

Nesse arrependimento...

Deus terá chegado o momento?

A sorte é cega para uma moeda

Com duas caras...

Agora sorrio, enquanto a natureza

Não deixa pedra sobre pedra!

E como poderia, se as paredes estão a ruir como castelos de cartas ao vento? Como, se as paredes derretem mais rápido que a própria cera, deixando atrás de si um rasto de miséria e inseguraça? Deixaram tudo ao acaso, deram todo o controlo à grande Mãe, correndo o risco de perder o chão por baixo dos vossos pés, quando tentavam tão arduamente alcançar o céu. Quando tentavam quebrar todos os limites e barreiras imagináveis, mudar o que não devia ser mudado. Tentaram fazer o impossível, mudar a face do mundo que conhecíamos só para se poderem glorificar ainda mais, não pensando nas consequências. E agora, por isso mesmo, o fim está próximo. Estendo a mão e verifico que estão a chover cinzas quentes e poluídas, que revelam a verdadeira essência de algumas almas que andam por aí a tentar a todo o custo sobreviver ao que não se sobrevive. Que tentam já dar a volta por cima, que querem já colocar-se na vanguarda, criando vantagem sobre os o os rodeiam, pondo acima de tudo o egoísmo primal que reina a vida humana. Foi aqui, nestes últimos minutos, neste corredor cheio de corpos há muito mortos, que pude ver pela primeira vez, com os meus próprios olhos, o que numa vida inteira não fui capaz de constatar. Vi a verdade, escrita de uma maneira tão clara, tão absoluta e sincera, que deixei de temer o destino negro que a cada passo se aproximava. A hipocrisia, a falsidade, a inveja, a ganância, o egoísmo e o egocêntrismo levados ao extremo, escritos na cara de todos os que passam por mim, tentando vencer o inevitavél. Só queria que tivessem noção do que eu vejo, que conseguissem sentir a revolta que eu sinto ao ver o cancro comer-vos por inteiro. O cancro causado pela vossa alma, por vocês próprios. Caminho pelas ruas do que costumava ser Lisboa, capital de gente racional, abismada com o que a desgraça causa. O mar já veio e tirou o que tinha a tirar. O sol apagou-se deixando-nos nas trevas, a chuva tornou-se pó, cinza que vem contaminar quem há muito devia ter partido; e agora, por fim, para levar o que resta, as labaredas crescem em força, arrebatando o que nunca nos pertenceu. Arrebatando a vida humana à sua vontade, deixando-nos à mercê de um Deus qualquer, que nos redima do nosso núcleo não digno de assistir a tal baptismo de alma. Porque a desgraça só vem buscar o que de mal havia, e porque a tragédia só vem purificar a alma dos mais perdidos, deixando o que há de bom no mundo por descobrir. As labaredas tocam os céus, unindo duas dimensões, fundindo dois mundos opostos, mostrando-nos o caminho do fim do mundo. Nova onda de pânico atinge os menos iluminados quando vêem o mar ganhar nova força, ganhar novo alento de destruição, em direcção a terra. A onda vai devastando tudo à sua passagem, não poupando nada que respire ou finja respirar. Chega perto de mim, e antes de ter tempo de me cobrir por completo, fecho os olhos e sorrio porque sei que isto não é o fim.

É apenas um dos inícios.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A luz da noite

Tentei esconder-me na luz...
Fiz um esforço enorme para respirar tudo menos trevas.
Talvez neste imenso mar negro tenha tentado encontrar
uma ilha onde pensei poder fugir à escuridão...
(Mas foi em vão)
Ainda não chegou o momento que tanto tenho esperado...
Depressa nesta pequena ilha, que se avistava como
um oásis de claridade, começou a aparecer um nevoeiro
já por mim conhecido...e não é com alegria
que o vejo reaparecer como um amigo à muito perdido...
Às vezes acabamos por nos esconder, camuflar na luz
quando na verdade ainda somos trevas...Mais uma tentativa
falhada.
É este mundo que promete tudo, e são estas pessoas que não
fazem nada...
É este movimento preso, esta inércia pesada...
Tudo agarrado e bem preso como se se tratasse
de pedras na calçada...
Volto a mergulhar neste mar, este mar que conheço já tão bem,
Sempre preparado a sentar-me em ilhas que pareçam
sempre mais do que aquilo que são...
Esta é a vida, a vida que existe...Promessas,
vazios, não-histórias...Até que se encontre
a verdadeira ilha de claridade
no quase infinito de trevas.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Outras espirais de origem

(Passo a vida a dizer à minha irmã: não te esqueças de onde vieste, das tuas origens, das tuas espirais...Mas poderão de facto as músicas, e\ou filmes, e\ou livros, moldarem quem somos? A fazer de nós alguém melhor\pior? Serão eles reais inspirações nas nossas modificações? No meu caso sei que sim. E a espiral que me invade de momento é a mesma de há já algum tempo atrás...e é forte, faminta, com fé de continuar a crescer e a girar, até...não sei ainda onde. No entanto quis recordar uma espiral que já fez parte de mim, e que na altura foi importante, e ainda hoje, mesmo já só somente pairando na minha memória, ainda está cravada com força bruta no meu coração...)

"Don't tell me what you've done..." (FATM)
"Cause I don't wanna know..." (APC)

Guiai-vos por isto, pois por vezes nada mais interessa:
(Fado Vadio - Dealema)

"Tudo que eu tenho é uma caneta e o pôr do sol desenhado
No canto de um papel, amarrotado pelo meu ódio
Acredito em pesadelos belos
Quando a vida dá-me estalos com luvas de ferro;
Mas de coração cheio, vou compreendendo
Que a máquina que move a vida é o sentimento...

Porque quem tem tudo, vive por trás de um escudo
Mas quem não tem nada, vive pela lei da espada
A sentença é pesada, mas encara-a de frente
Quem tem vergonha do que sente, perde sempre e nunca ganha
O peso na consciência é clara evidência da falta de experiência
No campo do relacionamento humano...

Criando o futuro, passo a passo
Nada aqui é permanente
Tudo o que tem começo também acaba
Cinzas, pó e nada...


A brilhar como o orvalho na madrugada
O nosso fado faz chorar as pedras da calçada...
Há quem viva esta vida em vão
Sem dar valor à dádiva, sem acção
Como um espectador de televisão
Qual é a direcção? Quem saberá...
Muita gente tira e muita pouca dá
A vida são dois dias, um deles é para acordar
O tempo começa a apertar
Está na altura de expulsar os vendilhões do templo
Criar sustento, parar, pensar e apreciar o momento
Somos guiados por valores:
Uma voz interior que me move
Encontro o verdadeiro norte
O coração sofre quando alguém parte
Porque o amor é forte como a morte
E foi na arte de viver que nos reconhecemos
Erguemos isto desde os velhos tempos, que saudade!
A nossa história é única, como uma rubrica
Canto esta canção com paixão, como se fosse a última...

Vivemos tempos soturnos, nestes locus horrendus
Não é à toa que vêm à tona os nossos medos mais intensos
Nós lidamos com sentimentos, sem ressentimentos
Seguimos pressentimentos
Vozes interiores sussurram orientação
Dão-nos a obrigação de ver na vida uma benção
Apesar da sucessão de depressões e desilusões
Perdi batalhas, mas nunca perdi lições...
Dias bem difíceis que passava para os papéis
Ansiedades e angústias abalavam a alma
Anestesiava os sentidos, tentava manter a calma
Vi sonhos ruírem como castelos de cartas
Quase desacreditei, abandonei as palavras
Neste mundo de mau carma, armas e pragas
Invado-me... A minha imaginação tem asas
Exorcizo fantasmas nas folhas de um caderno
Através da criação eu consigo ser eterno
Poeta boémio, gato vadio
Noctívago nas ruas deste Porto sombrio
Os meus pais perguntam-me o que é que eu vou fazer da vida
Prometo-vos, é este o ano em que tudo cambia
Tenho fé, esse é o meu trunfo na manga
Junto com os meus irmãos dou o grito do ipiranga..."

Estava à muito tempo para fazer isto;
pareceu-me a altura ideal.
Obrigado ao Norte pelos preenchimentos
na minha vida.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Almost tear droping

Ontem, na inocência da amizade, mas também na sua verdade, desejaram-me: inspiração.
Agradeci. Costumo ser educado, ainda para mais quando se trata de algo verdadeiro...

Mas de momento o que preciso não é de inspiração...porque essa está comigo quase sempre, seja nos momentos bons ou nos maus, e seja ela boa ou menos boa, ou até má...Mas não. O que preciso é de vida. Na linguagem de quem não é monstro: preciso de claridade.
É nestas alturas que me levanto, com um sorriso leve no rosto (com grande probabilidade de se extender mais), e digo a quem se encontra nestas situações: move-te, procura lugares onde não existem nuvens, onde o sol bate e o céu é totalmente azul...Sim eu sei. Sou eu de facto.

...Esqueci-me talvez, e talvez só por tentar dar o meu melhor eu a outrém, nunca a mim próprio, que às vezes estamos enraízados...num lugar qualquer...e os nossos braços não conseguem para já chegar às nuvens...Temos de esperar que o tempo se encarregue de as sacudir do céu...e a espera é dolorosa mesmo que expulsemos a dor...e é cansativa, e tudo o que conseguimos pensar é que jamais as raízes vão romper, e pouco ou nada nos dá a esperança ou a calma necessária para acreditar que as nuvens vão acabar por desaparecer ou fugir devido a alguém que nos ousou abraçar e as afugentou.