sexta-feira, 20 de novembro de 2015

locus horrendus ( II )

Quando acordas, depois de despertares
de mais um pesadelo, depois de despires
os lençóis suados, um arrepio
percorre os braços, o peito e a cara...
O pesadelo, que já não pertence ao sono, é ainda mais medonho.

Essas trevas que sussurravam, longe do futuro,
afastadas do passado, de dentes afiados cravados no presente,
São reais, procuram alimento na vida, e a vida pode não
ser suficiente.
Sorridentes, os demónios de asas brancas, aproveitam
estes momentos, nos bocejos dormentes de tédio
encontram a altura certa para o assédio.
Mas existe cura, existe remédio, e de todas as desgraças
das mais fortes às mais fracas,
Um poder mais alto acaba por se elevar,
Uma força mais alta acaba por subir,
Luta então a esperança contra a fome de destruir, de reinar,
de subjugar, de garantir que o Mundo jamais será como era.
Sobram os gritos da centelha ardente, as guerras pessoais,
nacionais, mundiais; e por breves momentos acalma-se
a Quimera.
Mas o Inverno não é infinito, o frio morre sempre
para que possa nascer a Primavera.
Dois lados, dois mundos opostos, lado a lado,
Duas faces da mesma moeda, que lançada ao ar
só uma face entrega, doce amargo fado,
Que rasga e trespassa e mata como uma fatal fera.
Olhos fixos em frente, ou olhos num céu maior,
Olhando o chão nada se modifica, o errado
fica no mesmo estado, e as cinzas sem alma e vontade,
sem movimento no pormenor, aguardam na dúvida da tristeza
por um renascer contrariado.