Em tempos já fui católico. Na altura não foi um acto hipócrita. Aliás, sou relativamente contra aqueles que são batizados em bébés. Porquê? Por duas razões básicas: primeiro, estão a colocar um peso em alguém que nada sabe do mundo, e que ficará talvez para sempre "escravo" disso mesmo. Segundo ponto: (o que vejo mais vezes hoje em dia), renunciam à sua iniciação católica em jovens\adultos. Eu fui batizado com dezassete anos. Logo, foi um acto mais do que consciente, mas mesmo assim, fugi. Arrependo-me de me ter batizado? Não, porque na altura foi sentido. Sinto-me hipócrita agora por estar constantemente contra a Igreja? Nem por isso. Senti-me iluminado por estar de mãos dadas com a Igreja? Longe disso.
Mas isto sou eu. Porque se encontrar pessoas que descubriram na Igreja a verdadeira iluminação, algum tipo de sentido nas suas vida, não as julgarei. Cada um, dentro de si, encontra o caminho certo, seja ele qual for. No entanto devo dizer, que entre os actos grotescos, fúteis, hipócritas, de quem caminha e sorri dentro da Igreja, julgo que devem descobrir o Deus dos cristãos. Mas isso é apenas a minha opinião valor de grão de areia no deserto.
Onde comecei eu?
Sim, iluminação.
Disseram-me um dia destes que é preciso um "click". O problema dos "clicks" é que às vezes existem vários. E todos eles importantes. Portanto, como decidir o peso máximo de cada um? Como perceber aquele que de facto faz a diferença entre um caminho e não outro, entre entrar na luz ou nas trevas? A racionalidade dir-me-ia: pesa as consequências, os prós e os contras. O sentimento: saberás quando for o certo.
Mas também é indeferente. Hoje em dia o que interessa às pessoas é chegar a algum lado. Não importa como, nem porquê.
Ontem, em conversa com o meu amigo de longa data de um metro e noventa e três, descobri frases dignas de divertimento e reflexão. Passo a citar: "O povo só quer golos e vinho...", aucht!, mas de facto é o que parece. Achei graça. E é engraçado neste país rever o que é importante para o povo, os três F's, Fátima, Fado e Futebol.
Odeio fado. Gosto muito de música portuguesa, ou pelo menos abro umas excepções agradáveis...Rui Veloso, Madredeus, Silence 4, e toda a cultura hipopiana (mais do antigamente), principalmente a do Porto (que é a melhor) até Lisboa, abrindo ainda uma excepção para o Alentejo. Fátima...fui lá em criança. Chorei, a chamada "baba e ranho", pois levaram-me a um museu de cera. Desde criança tenho horror a tudo aquilo que parece demasiado real; mas mais horror do que isso só guardo a tudo aquilo que não era suposto mexer, mas que mexe. Era o caso. O meu avô Alfredo ria-se. Não compreendia o meu medo idiota. Estraguei a manhã à minha família. Por isso, ainda hoje, guardo algum pavor a placas que tenham escrito "Fátima, não sei quantos KMs". No entanto, gostava de lá voltar. Não pela fé, mas porque a sua grandeza, mesmo sendo esta uma comparação estúpida, é parecida à do Vaticano para Itália, mas versão portuguesa. Apenas e só por isso. E o futebol...esse tem os seus altos e baixos. Vai e vem, anima e deprime. Mas esse mesmo poder , de animar ou deprimir, prova a sua importância na minha vida.
Outra frase interessante: "Oitenta por cento das pessoas são doidas...", achei deveras exagerado, mas na altura cingi-me ao silêncio...Oito em cada dez pessoas ser "doido" (este não será o termo médico ou clinico) é muito. Das minhas observações valor de grão de areia no deserto, diria talvez quatro a cinco pessoas. Ele, como no passado, chegou à conclusão que na complicação e da complexidade estava a verdadeira felicidade. Por outro lado, tal como qualquer homem (com h pequeno), queixou-se da complicação e da complexidade, por ser complicade e complexa. Diria eu em tom irónico: homens? Não. Todos nós somos estranhos. Todos diferentes, todos iguais, todos diferentes naquilo que supostamente somos iguais. Alguns aspectos iguais, mas diferentes lá no senhor fundo.
Click.
Hoje de manhã dei comigo a praguejar à janela contra Deus. "Tu não dás sinais coisa nenhuma..." Serei consciente da realidade? Ou apenas arrongante? (Copo meio cheio ou meio vazio?Pormenores. E no entanto os "pornenores definem grandes planos".) Cheguei à conclusão que estava a ser arrogante. E como qualquer cristão, passei pelas brasas da minha essência, e resmunguei numa altura má, e também agradeço numa altura boa...o resto do tempo? Passividade, esquecimento. E não gosto de sentir isto. O ser humano cai sempre nesta rotina. E se por um lado achei patético outrora quem reza todos os dias à noite, agora respeito esse facto, e acho bonito. Quem diz isto, diz aquilo que outras pessoas mais cépticas fazem, como é o caso de lavarem a alma todos os dias antes de dormir.
Isto faz-me lembrar uma situação bem elaborada e inteligente por Eça de Queirós no livro Os Maias. Nesse excerto, o abade tenta convencer Afonso da Maia a instaurar uma educação religiosa no neto Carlos...Ao qual Afonso da Maia diz que Carlos vai aprender a ser justo, cavalheiro, honesto, lutador, (etc), através de uma educação séria, assim como os católicos, mas sem ser por temor a Deus, mas por ser um homem nobre. Excelente.
Estou K.O. (continua talvez.)