sábado, 24 de dezembro de 2011

Mensagem de 'boas festas'

Este ano não vou gastar muitas palavras, pelo menos minhas. Sabe melhor ouvir duas músicas e as respectivas canções. Boas festas é o resumo. Lembrar que no Natal as melhores prendas não vêm embrulhadas, em papel pelo menos, e que é a altura perfeita para pensar um pouco mais nos outros, ou deveria ser. Quanto ao ano que aí vem...A passagem de ano interessa-me tanto como o desinteressante...O ano muda, mas não muda em nada, só aqueles que ainda não chegaram ao ensino superior (que todos os dias têm de colocar a data e a lição) ou os que diariamente, na sua função, têm de olhar para a data, é que vislumbram uma mudança muito muito pequena. O mundo não vai mudar, nem as pessoas...e se sobra alguma esperança no coração de quem gosta de sonhar, então é esta: uma quase folha de um branco pouco nítido para se começar de novo, ou algo do género. Dito isto, e com toda a honestidade que é possível a um monstro: desejo a todos um Natal feliz, com as pessoas que se ama por perto (de sangue e não sangue), assim como uma passagem de ano excelente, novamente com quem se ama por perto, mas valorizando ainda mais a frase: um ano de 2012 melhor ou muito melhor que todos aqueles que passaram até agora, todos. Obrigado.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

não aceitar Para morrer



Quando me vejo ao espelho...Por vezes esqueço...
Volto-me a ver ao espelho..Importava-me ser...
Agora não me importa nada.

Delicioso é o pormenor da vida, enquanto é alimentada.
A obrigação de esquecer é pesada, sempre presente
fazendo recordar uma maldição que não deveria
pertencer a ninguém. Mas pesa, mas pertence.
Inglória batalha, o esforço suja o chão como se fosse sangue,
são olhos de uma tragédia que devoram a realidade.
Absorção de cores tão frescas, tão secas, tão tristes,
contrários quase belos, que vão derretendo...Parece
beleza, parece utopia, mas é ilusão apenas,
escondendo a podridão de uma morte já assimilada.
Ser-se em alto e baixo relevo na mesma peça,
culminar num fingido êxtase de sentidos;
não são sonhos a perseguir, não são sonhos já perseguidos,
são vazios eliminados e esquecidos.
a Quem importa afinal o findar da vida? o Receber da morte?
fraqueza, ausência de qualquer poder para recusar,
é o desespero, o viver do pesadelo,
é não conseguir.
voa agora, voa para bem perto,
para continuares a ver cada sabor e cada sensação
a fugir das mãos, por cada dedo, como se fosse areia,
preenchendo
ainda mais este deserto.
não são tintas vivas; é o cinza
é o preto, é tudo pincelado, é tudo esculpido,
é tudo descrição surrealista, por parecer estar tão longe.
a chama congelou, bela obra de arte, enquanto a rocha
ardeu, e ardeu tanto que se transformou em água...
são Letras, palavras, procurando unir: a teoria
à prática, o concreto ao abstracto,
o que mais ninguém Vê
ao óbvio que realmente é. Não se aceita, nem se sente,
nem se faz, e mais ninguém nota,
e por isso estamos a morrer,
É o motivo pelo qual tanta beleza E cor
se chama Natureza Morta.




(notas: agradecer as views do blogue, que passado quatro anos, ultrapassaram as oito mil; dar ainda a sugestão a quem tiver tempo (o dinheiro gasto é mui pouco e compensa) para passar na exposição "natureza-morta gulbenkian" que está lá até meados de Janeiro de 2012. Está excelente, e tomou conta deste poema, ou deste texto.)
( quadro de
Pieter Claesz )

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

esquecer E aceitar

Quando me vejo ao espelho
Não vejo quem sou, vejo o que os outros vêem.
Eu mesmo, sempre mais velho, mais desigual.
Um retrato pintado a tintas vivas que se mexe
ao sabor do tempo. Sento-me à margem desse rio enorme
chamado oceano olhando, sem fazer quase nada.

A paz que não detenho é uma paz inglória, nada fiz para a merecer.

(a música embala-me enquanto passeio entre hesitações)

Por vezes esqueço...
Seres racionais esquecem-se de amar...
E os que amam, esquecem-se de pensar...E depois,
Sobra sempre a ignorância, de quem não quer tentar.
Ou de quem vive tentando, sem conseguir.
No fundo, caminhamos todos para o mesmo fim...
Apenas caminhamos por estradas diferentes.

Esqueço-me...mas é a verdade.
Por vezes pensamos tanto tempo na maneira de fazer,
Que nos esquecemos de fazer de facto.

Volto-me a ver ao espelho...o que mudou?
Nada...cresceram-me asas negras, num corpo humano...
Ou serão asas brancas num monstro?
Nada. As asas mudam de tamanho, mudam de cor,
e apenas sobram restos de um corpo humano
num real monstro.

Importava-me ser...
E para já não quero ser nada.
Porque nada importa.

(não deixa de ser curioso que este texto começou a ser escrito nos últimos dias do ano de 2009. Nunca foi totalmente acabado. Desse pedaço inacabado foram retirados 'excessos' e consegui agora, finalmente, acrescentar outras partes. Não o sinto acabado, no seu todo; mas nem tudo pode ser substituído, e algo verdadeiramente completo é complicado de alcançar. Resta-me ficar 'grato' por ter tido aqui a oportunidade de corrigir e de melhorar algo, passado tanto tempo, quando nesta vida quase tudo passa sem essa mesma oportunidade...e às vezes em espaços de tempo mais curtos, ou pior ainda.)

domingo, 4 de dezembro de 2011

entorpecida aceitação

Como posso fazer isto de maneira a não estragar tudo? Pergunta o ser humano.
Não podes. Responde o monstro.


(mas)
a mentira é sensível, mas também sensata,
e na face desolada é finalmente compreendida
a desilusão. é falsa essa luz, é falsa toda e qualquer luz
que finge roubar o lugar às trevas...
Mas que trevas? Mas que luz?
Se na visão que negam
falta a verdadeira observação?
olhos e rostos, que fogem
que se curvam
em direcção ao chão...
(mas) , é tão fácil cair nesta realidade
como noutra qualquer. (mas)
os olhos não vêem mais luz
se está escuro o coração,
e nessa mesma paisagem
da mais mundana
à mais diferente
os olhos não sentem a vastidão, tudo é finito,
tudo é fechado e triste,
tudo somos nós.
E às vezes só sabemos que algo já está morto
quando já não o sentimos vivo.

domingo, 27 de novembro de 2011

divagações

certezas
um dia desses, que passou exactamente como todos os outros que têm passado, fui abordado sobre esse tema tantas vezes sublinhado, recontado, exaustivamente estudado por todo o género de pessoas. O sonho, O fazer. É incrível. Este animal que rasteja com duas patas, que lutou por rastejar de pé, pensando estar em constante evolução (amarga ilusão?), consegue ver várias faces da mesma moeda, como também consegue não ver moeda nenhuma. É mais fácil fazer do que sonhar. Não nos cortam as ações, mas cortaram-nos a imaginação, a realidade que se queria alcançar...foram quedas constantes, más palavras em ouvidos por si só já cuidadosos, não querendo sofrer outra vez, e outra vez para nada. Não se sonha porque se teme sonhar. Sonhar e fazer é complicado. Não há asas, não há força para moldar asas. Sonhar é perder tempo; fazer é reforçar o tempo que se perdeu. Vive-se. Eu pessoalmente, fugindo de utopias, escolhi a terceira face da moeda. Posso não ser a pessoa mais honesta para comigo, quando me observo com olhar atento, mas a perspicácia com que olho o redor está trabalhada, é trabalhada constantemente. A resposta só poderia ser uma, só é uma, concluí enquanto abraçava toda a humanidade. É mais fácil sonhar do que fazer. Sonhar? Todos sonham; e quem não sonha está 'morto'. Mas é difícil mexer tudo aquilo que não seja a imaginação. É trabalho árduo, mesmo que o motivo desse movimento seja colocar dentro da realidade aquilo que se sonhou.
Utópicamente, se não me tivesse já desligado de toda esta triste realidade, dos atritos, das falsas esperanças, teria a certeza única - como já tive, que sonhar e fazer...é demasiado simples para quem anda com duas longas patas.
crenças
recentemente fui também abordado, de forma rápida e simples, mas de forma suficientemente concisa para revelar esse aroma de romantismo humano; não se fale de morte hoje!, não se fale da vida em si!, fale-se sim sobre o destino. A suposta existência de um destino é um lugar perfeito para se descansar ou para se morrer de angústia depois de tanto sofrimento. Para alguns, um escape perfeito pelos seus actos; para outros a justificação 'plausível' para finalizar todos os argumentos. E agora? Mas o livre arbítrio é tão mais forte, poderá de facto existir tamanha força capaz de derrubar a liberdade de uma raça? Uns dizem que não...outros acreditam que sim. Que as estrelas sabem e por vezes mostram o caminho...a palma da mão. Por momentos deixei-me novamente ser um pobre romântico, no que toca a estes pormenores; e talvez, digo talvez porque enfim, nestes assuntos não há preto no branco ou tão pouco branco no preto, a resposta seja a harmonia entre as duas possibilidades. Talvez exista de facto um caminho (ou vários caminho com sub-caminhos) marcados...algures. Só que ao mesmo tempo existe o livre arbítrio. Contradição? (Ainda) não. Não é por alguém que conhecemos estar numa multidão que a conseguimos distinguir dos outros, certo? O destino está lá. E o livre arbítrio também. E na minha romântica opinião, ou noutro tipo de opinião, é aqui que entram os chamados sinais. Sinais é o nome que lhe dou. Mas existem outros, e existem vários tipos. Ou seja podemos aceitar o caminho 'escrito', entrar e sair dele, ou nunca entrar, parte de nós, a liberdade talvez seja nossa. Aceitá-lo ou escolher outro, a nós cabe somente.
certezas ou crenças, ou a falta das segundas, ou o excesso das primeiras, pouco interessa, tudo são divagações.

(à divagação com Joana Henriques e Liliana Girão)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

old solution

a ira surgida na força
das entranhas de um vulcão,
somente o mais cobiçado
a coisa mais valiosa
pode passar de carne a ilusão
a cinzas para sempre encurraladas no chão.
que se revele o rosto divino
nas ações deste ser humano...
o sol ainda espera a vossa aproximação.
a vontade não passa de um sonho
demasiado pesado para se poder erguer,
agora é tarde demais para
fazer calar as nuvens da noite escura,
e não importa o quanto se quis viver
se viver foi esse respirar em vão...
Crente tão crente na desacreditação
alimento e alimentado na destruição.
Para retornar à essência mais pura
e à forma mais viva, mais sentida
só existe uma solução

é queimá-la, consumi-la - na procura
de uma absolvição.
é como outrora, como agora
é para sempre
senti-la destruída.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

sentimensar

...e os dedos tocam o abstracto, aflitos por uma realidade concreta..

Concreta e quente, só ela
realmente capaz de apaziguar o inverno.
Tocam uma face vezes e vezes
até ao número mais longínquo.
Coisas tão delicadas.
Ganham uma força quimera
para apressar o tempo, para o abrandarem
Eu não saio daqui, sei agora que nada mais vale a pena,
porque ele está à nossa espera.
Uma lágrima seca é como uma palavra que foi engolida,
e esta vontade, depois de perseguida, cai morta,
e sobra um olhar cor de raiva
ou um olhar consumido na mágoa. É um querer
sem resposta, é uma morte que já tarda.
A queimadura ajuda a limar o gelo, acaricia-o,
e a perfeição parece tão fácil de alcançar.
Tocam uma face, vezes e vezes, e outras vezes
sem conta, saudades de reencontrar,
num sentir único, num esquecimento
que não consegue pertencer a este lugar...
Eu sei, o gelo mais perfeito, lima-se a frio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

coisas delicadas


It seems what's left of my human side is slowing the changes in me ..

Falta de inteligência, excesso de dormência,
vulgar é a essência - pequena coisa delicada;
são as histórias das mil fadas
as milhares de vidas ceifadas
através de ordens tão calmamente suspiradas...
É o ódio que renasce, que nunca desapareceu
completamente, é a ganância em querer ganhar
mais do que aquilo que não se precisa,
é esta raiva indecisa à procura do seu lugar
para se soltar.
Coisas tão delicadas.
Não se trata só de ódio, ou de ausência de amor,
é um terror constante de impotência,
em rituais, em círculos,
que se prolongam ao infinito de uma vida mortal.
e Não se pode fazer nada. suprimido é o grito,
engolido nas entranhas das camadas
mais estranhas do nosso ser, um corpo
sentindo-se ser enterrado vivo,
a morte do melhor momento
no rebentamento enorme de um
explosivo escondido,
é fechar os olhos à luz, abri-los lentamente
para as trevas...é rezar em silêncio
para um silêncio que dorme no frio.
é esta falta do que não está, do que não vem,
tudo numa caixa, fingindo esperar fechada
enquanto esse veneno, essa matéria corrosiva
vai consumindo o vosso humanismo
- cada sentido e sentimento;
enquanto a mim
me aproxima do verdadeiro
e inteiro monstro.
Coisas tão delicadas...


( 10 000 days - inside album cover
(Alex Gray) )

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

sanidade imperfeita


Ninguém sequer suspeita de que o sonho não é nenhum absurdo,
e sim uma realização de desejo.. Freud


...que simplicidade complicadamente amarga;
podemos já não ser quem somos
- nesse suave engano, mas podemos sempre
relembrar, e a lembrança vem, destrói alicerces
de um presente que parecia tão seguro
- nesse suave engano.
Tudo parece estar no local correto,
na função do movimento e das palavras
que devem ser conduzidas, tão calmas...tão à
flor da rotina. Tão nossas? E porque não..
Mas a sensação amarga é mais forte
do que qualquer olhar que consciente evitou
a realidade, adiantará fugir? Mas o Homem
foge, e foge tão bem...
...ainda mal.
é um estado comum dos corações,
famintos, preparados para devorar riscos
que possam aparecer; desejando quebrar
leis e regras e tédios e formas como se viviam
vidas - Por Tudo, Para Tudo, até que neve
corra nas veias em lugar de sangue,
até que o desejo seja só um, até que a escuridão
cresça e faça o que tem de ser feito - a última aproximação.
é na sanidade que se caminha, dizem,
e então? se é para caminhar perdido em cada
transição, perdido na tradução num diálogo de almas
que aos poucos deixa de fazer sentido,
afinal o que pedem? o que negam? Do que fogem?
uma criatura, um monstro, uma besta,
a fome possuída por outro grau de amor,
talvez maior, talvez igual,
suspendeu-se, ao embater com tecido
tão fácil de rasgar, - a vontade de saborear
e avançar na evolução era deveras enorme,
mas este não era um tecido qualquer...era
o tecido mais perfeito, e cada embate
de tecido, de sabores, de carne,
e de sentimentos, como tanta outra coisa
para falhar numa amarga sanidade imperfeita.

domingo, 6 de novembro de 2011

Remember about your darkest moment

“I don’t believe in angels but I do believe there’s a constant struggle between light and dark in the world. Who knows, ... Maybe sometimes the light can win out. In my experience, darkness usually prevails.” – Dexter
desceu ou subiu à Terra, nesse momento esplendoroso,
tanto por sentir, do mau ao pior ao mais aceitável,
tanto por viver, absorvendo vidas
enquanto se é absorvido por tudo o resto,
não são só criaturas monstruosas com os mais diferentes
disfarces...é a sorte maldita que reina nos silêncios
dos escombros, que o barulho embale, até que
o sono eterno ceife o que restava da respiração.
é o fraquejar das forças, forças colocadas em
favor de um bem maior e de um bem menor,
é demasiado tarde para juízos de valor,
é demasiado tarde para acreditar.
a balança não obedece à nossa vontade, mas tão pouco
à verdade, é como se a corrupção fizesse
parte de cada coração, ao redor, no interior,
não existe justiça até à morte;
não é obra da imaginação de ninguém,
e bem que se tenta imaginar outra realidade que não esta,
mas só sobra abraçar esta sombra, a única
coisa que é justa na confidência, na entrega,
dureza realista, constante na consistência.
Ceifa, o que houver para ceifar, assim que possível.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

insanidade perfeita


o sonho morre quando se acorda..

a todo o custo tenta-se provar
que os melhores cálculos
estão errados, vezes e vezes antes
agora e depois, que para tudo
o que parece verdade, sinais estranhos
observáveis, tudo não pode passar de confusão.
E que confusão amarga.
Faltam linhas de pensamento ao cérebro,
ou devem faltar, para que tudo
faça mais sentido. É preciso negar os factos
se todos os outros não os aceitam
da mesma maneira, é o mais puro
reflexo da loucura, e que loucura amarga.
é preciso inspirar oxigénio, que se inspire,
é complicado mudar mecanismos
que fazem parte da vida comum.
escorre a água da chuva nas janelas
contemporâneas mas o passado da chuva
e das janelas sobrepõem ao presente,
a um presente tão amargo.
Morte à razão, morte à razão,
que abre as portas a toda esta loucura,
por vezes calma e doce,
agora, tão amarga.
A máscara não iludiu o tempo necessário
e agora caída deixa aos poucos
à mostra a verdadeira essência,
e num auxílio que não vem
talvez por não existir
numa verdade medíocre e triste
ou numa mentira que luta por ser desfeita
reina a razão mais forte
aquela que alcança todos os pormenores
levando a esta amarga insanidade perfeita.

(The Sickness - album cover)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

um clarinete e um piano

não importa se apanhamos
apenas os restos de tranquilidade, nesse caos
mundano são minutos
como estes que nos fazem
ambicionar a imortalidade, nem que seja
a do momento.
um cigarro respirado, respirado
por toda a alma,
um café para valorizar o saboreado...
é como se o diálogo fosse moldado
por instinto, alguma quantidade de absinto,
com alguns irmãos, ou irmãos que não de sangue,
se for preciso com a solidão, não existe quase mais espaço,
a companhia da melodia...neste espaço
de uma utopia? (de outras formas também,
mas não hoje, não agora, talvez nunca mais?)
De alguma forma captar
o rosto de Deus, o olhar misterioso do Universo,
enquanto a perfeição se encaixa.
Passou.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

sustentável peso da perspectiva



O facto de vermos algo
de diferentes
perspectivas
mudará a
essência daquilo
que é visto?

domingo, 23 de outubro de 2011

a culpa dos inocentes

finalmente chove, o calor dá lugar ao
frio, o vento beija a pele até
ao sentir de um arrepio, por tanto
tempo foi esperada esta bênção,
esperada como uma salvação que não vinha...
e agora que veio...
a minha mente não está aqui,
onde a água mata a sede das pedras
desta calçada.
E a acção do bater do coração é forçada.
atados estão os gestos, morta está a vontade,
e nem este frio tardio
consegue alterar o que resta
de uma alma e de um corpo.
a culpa está apenas na inocência do gesto.
não há fé em nada considerado menor,
desvalorizado ao pormenor, na frustração
de quem já não se sente vivo
o suficiente para viver e não querer
o fim de tudo.
Não estou mais aqui; e enquanto a chuva desce
enterro-me cada vez mais na loucura
marcada a ferros quentes ou frios
na minha pele
de que nunca aqui estive.
a culpa não é de ninguém
e a inocência não é só minha.

sábado, 22 de outubro de 2011

o jogo dos 7 diabos

Quem encontra e quem espera ser encontrado,
quem finge correr ao seu limite
quem se deixa de propósito apanhar;

entramos nesse recreio no dia em que
somos concebidos, salto por salto
e as pernas vão crescendo, a alma tão pouco,
mas a queda é enorme.

Alguns chamam-lhe vida,
outros ausência de morte,
mas a sorte de todos é a mesma,
são sete diabos que saltam e rebolam alegres
por receber a mais semelhante das companhias.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

a descrição de um monólogo

dizem ser ténue a linha que separa;

Nem uma só palavra sobre a linha que une.

talvez não faça mais diferença.
Onde a vida começa
o seu único destino é acabar.
é cansativo não se conseguir
esquecer, é respirado esse sentimento
dia após dia,
seria mais fácil ver o céu chorar fogo,
ou o oceano secar desidratado.
o veneno que corrompe tudo o que é amado,
mesmo num lugar onde se esteja
de alguma forma trancado,
é o nome repetido, o sonho
vivo do qual não se quer acordar,

é tudo aquilo que faz toda a diferença,
(aquilo que se quer agarrar
que se quer ajudar a mudar)

Vida tão pouca. Aquilo que se quer,
a correr nas veias, impossível de mover
por estar debaixo da pele,
é
aquilo
que não se consegue controlar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

antes de tudo

observo aquele pequeno casulo,
a maioria sonha com a sua evolução
nessa metamorfose para algo mais belo
para algo mais perfeito, capaz de voar...
a maioria já sonha e sorri perante
essa borboleta que ainda nem sequer existe.

é bom sonhar.
todos os dias esperei, e espero, e que o Universo
permita que morra contra este destino meu
não o conseguindo aceitar.

são várias as espirais, que balançam e rodam
fingindo descansar nesse caos,
também eu finjo descansar nele, no seu centro
envolto por todas as espirais;
e um sonho não passa disso mesmo
o nosso erro é desejá-lo mais
do que sentir realmente a sua concretização;
e tudo se encontra finalmente, e no silêncio do nada,
antes de tudo,
é contemplado a catástrofe da colisão...
afinal sempre aqui estive, observando,
chocando com cada espiral
recuando e voltando a chocar, voltando a recuar.
Antes de tudo era tudo igual.
E todos os dias a metamorfose não se dá, não avança,
e existem coisas que nunca mudarão.
Outras já deviam ter mudado. Pobre criatura sonhadora.

domingo, 16 de outubro de 2011

ingrata insatisfação

insaciável na vontade,
amante extremo para com a lealdade
de conseguir sempre alcançar; agora
quase na derrota, quase no repúdio
de aceitar com satisfação
linhas marcadas no universo
Obra de origem divina, ou construída
a medo pelos Homens.

As sombras escolhem sempre bem o seu tempo,
o seu lugar, e a hora chega,
é abraçada como um filho perdido outrora
agora recuperado, e chora-se, chora-se
até que se acabem as lágrimas,
lágrimas de gratidão.
Até quando iriam esperar?
Até quando? Até quando para depois
voltarem para trás?

se me aguentasse desta forma
não seria um monstro,
cansado de me tentar envolver à força,
esperando o que não se deve esperar,
numa secura de uma espera por uma chuva
que já deixou os céus à algum tempo.
a sorte da dádiva da vida é aceite
quase com desprezo, triste mediocridade
presente em cada coração humano, e não só,
mas não existe culpa maior que esta,
pecando negando a bênção;

continuo a procurar algum antídoto,
que me livre deste trono nosso, desta coroa
de maldição,
mas este não existe.
E as paredes fecham-se, e a respiração abranda
para preservar o pouco oxigénio que ainda resta.
e a razão, na sua dureza de pedra,
absorve cada lição chicoteada...com o tempo
já evita o golpe, como se bastasse
a compreensão solitária;
o sentimento, como que se fizesse parte
da História primária é quase esquecido
por estes novos Tempos.

na dor de quem realmente sofre, entre doenças
que ninguém merece ou pediu, na maldição de quem nasce
desde logo de cabeça na guilhotina da vida,
entre a fome e a solidão
não há como negar a monstruosidade de cada
sentimento meu, e de tantos outros.
Até quando afinal?
Mas é a nossa culpa, é o nosso peso, é a nossa
essência, e na falta desse alimento, neste vazio oco
da alma. Nas ajudas grãos de areia,
na mão que se estende e na sabedoria marcada
está a única forma de preenchimento.
Mas não chega, e dificilmente chegará.
A calma e a melodia que ilumina
fugiram para um lugar tão longe de qualquer retorno,
encontro somente refúgio
no barulho mais brutal e não é o medo
que acovarda o coração,
é todo este silêncio que se segue e se estende
depois de cada explosão.
Consciente no entanto, que cada palavra dita,
mesmo sentida, é carregada da maior ingrata
insatisfação. Perdoai, ou aceitai, mas
Hoje é um dia perfeito para morrer,
como outro dia qualquer.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

sintoma

desgastado na espera, enquanto cada
sintoma se agrava, se propaga,
e de repente é como se uma doença
única fosse uma praga,
atacando de maneiras tão diferentes,
é tudo aquilo que não dá certo
é tudo aquilo que acaba em coisa errada,

não há dia que passe, que passe ausente,
uma porta tão próxima, aberta de repente
e está-se novamente onde se quer
como se o que é história fosse outra vez presente.
Não há dia que passe...
a doença para alguns é a possibilidade
de poderem chorar, e contar ao mundo o seu sofrimento,
receber a pena de quem podem, o abraço e o consolo
dos que restam,
outros ardem nela, como se de febre se tratasse...
conscientes em alguns minutos apenas
de tudo aquilo que estão perder por terem
perdido.

Os sintomas não acabam, todos os dias
é como se novos fossem inventados.
Subjectivos, com diferentes graus de força,
mas estão sempre lá de alguma forma.
Um dia
chamei-lhe
aquilo que vale a pena. O nome deve ser outro.
Podiam dar-vos o mundo, e tudo o resto que pensam desejar
em segundos lugares. Mas não vos chegaria, nunca,
tanta posse, tanto tamanho, tanta alma,
vos conseguiria preencher o vazio...Porque continuaria
a faltar o ideal conhecido.

Um homem só aprende com os seus erros
depois de morto.

(Não os voltando a repetir..)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ao ritmo do silêncio

o sustento de um grito
é igualmente poderoso
no silêncio.
de um lado da rua bate o sol quente,
quente demais para esta altura do ano,
do outro, descansa a sombra,
passos dados, pesados, mesmo sem peso,
ou pelo menos um peso útil.
os passos são quase dados em silêncio,
todo o barulho exterior é como se fosse
inexistente,
passo a passo, numa tristeza de onda,
que vai e volta, sempre de maneira diferente,
sabe-se apenas que vai...e que volta..
é sufocante o sofrimento de quem não precisa
dele, oscilando entre as dúvidas de um Homem
entre as dúvidas de um Deus, todas elas
quase inúteis, quase tristes. O medo, e uma
vergonha, uma máscara de um sorriso tão fraco,
contrastando com a elevação de uma luta,
- Mas tudo é engolido, e despejado,
saboreado ou cuspido, adormecido.
Olha o céu, olha a esperança,
olha a persistência da criança.
Olha depois novamente. Volta a olhar.

Está preso o destino na vontade morta,
quebrada, dispersada, para sempre talvez,
talvez para nunca,
está presa ao destino de uma vontade morta,
aguardando de forma suspensa, sufocando
como sufoca essa folha de Outono
que no Outono
ainda morre mesmo sem cair.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

cor queimada

contam-se letras
com uma precisão igualada
aos números que formam palavras
evoluídos mais tarde em frases...Um texto,
sem sentido - com todo o sentido,
um rosto de drama escondido
de sorriso meio morto, fingindo estar mais vivo
já mergulhado nas rochas desse usual abismo.

desespero, desprezo, cada sopro do universo
é sincero, é a emoção, é a chegada
é a conclusão...
a vida nasce, a vida morre
a vida renasce, a vida é queimada.

o tempo que mais não volta,
o tempo que não chega,
é o tempo mais preciso - é o tempo mais desejado.

as cores escuras do sol
nas sombras claras das cores da lua.
a harmonia não existe - nesse grotesco todo
confuso, abstrato, sem arte do sentimento ou razão,
as cores que tudo pintam
foram pintadas baseadas na cor pessoal
e a beleza e a harmonia não vivem aqui dentro

nunca poderão pintar o lá fora.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pecado íntimo

se me tivessem pedido para esperar...

Esperar custa ou não custa, alguns
esperam outros não; atacam depressa o tempo
com uma fome desgraçada. As razões que me
fazem sentir, sentir-me neste sentimento,
são as mesmas que vos fazem cansar,
paragem, movimento, oração ao ser humano
sem resposta.
Se me tivessem pedido...para esperar...
(o tempo que fosse preciso)(feliz na espera porque...)
Mas. Mas. O mundo gira desta maneira. Girará?
Uns esperam, esperam sem razão até
morrer de sede, na altura da morte
já se esqueceram da razão que não sabiam de tanto esperar.
Esperar custa...(Custará?)
mas o peso do custo vai sendo absorvido
quando sabemos que vale a pena esperar.
Deus silencia-se em sinais tão facilmente
distorcidos pelas gentes. E a sua voz
pinta o mundo através de desenhos
e ações exteriores ao que precisávamos.
As vozes dos outros são igualmente vãs...
não é por serem gritadas que deixam de conter
o silêncio.
E a nossa voz interior é uma vaga miragem
que apresenta, constantemente,
um céu que acabou por secar...ou não? Ou sim?
É preciso saber, se é preciso esperar,
e só uma pessoa o pode dizer...
a pessoa por quem se vai esperar
até chegar o momento certo?
Se me tivessem pedido para esperar
(porque a espera era tudo)
eu teria esperado.

sábado, 17 de setembro de 2011

(Pleonasmo)

(não só a queda de um anjo caído
causa estrondo ao embater na terra,
por ser de mais alta altura...
tal homem, tal desejo de se elevar,
esquecido, obrigado a esquecer
tudo o que ficou para trás perdido,
fugido de palavras outrora conscientes
outrora falsas? Quando as palavras viram
poeira em memórias no que se deve acreditar?
a dor só com dor se mata,
o barulho preenche o silêncio
somente até o deixar novamente.
é como se o mundo tivesse parado.
alguns exigem imperfeição, sabem que somente
ela faz gerar a luta interior,
e o amor extremo ao próximo...
só existe uma forma de lutar por um círculo
perfeito: ser a sua imperfeição, louvar essa
imperfeição, abraça-la. alguns sentem-no
outros não, e o ciclo repete-se, e volta-se
a repetir, para sempre, como sempre, desde
sempre, porque é o Homem que comanda a sua mão,
os seus pés e o cérebro que tudo domina.
são certezas certas que aguardam mais alimento,
- como se fosse só isso que interessa nesta vida,
um vazio prolongado rastejando por um suspiro
dessa mesma vida...
ações de um louco, possuído por uma loucura,
crente em tudo aquilo que é facilmente negado
em tudo aquilo que é tão facilmente desmentido...
Não se iludam, a verdade raramente é o caminho certo
raramente mostra o que deveria ser visto,
sentido, porque na verdade o abraço não existe,
porque não é sentido como imperfeição...
não interessa a dor cuspida, a ferida que não sara
mesmo tentando ser esquecida...não.
Podem lhe chamar impotência, covardia, desmotivação
no peito...repetição de tudo, vezes sem conta
até ao cansar de Deus,

eu, olhando tudo isto nos olhos,
só lhe dou o nome de ilusão.)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Indestructible


[este texto não ia ser um tributo...mas as condicionantes da vida ditaram que assim fosse. (Assim junto duas coisas). Algumas frases não são minhas e por essa razão estarão a itálico. Há já algum tempo que não conseguia escrever um "hino", agora tentei. Um texto para todos, que vos acenda alguma parte da alma.
RIP Andy Whitfield, serás para sempre o 'true Spartacus' - e o verdadeiro lutador também na vida real (http://www.imdb.com/news/ni15252464/) ]

...a minha mulher sempre acreditou em deuses. Colocava a sua vida (e a minha) nas suas mãos. - Mulher sensata.
Eu nunca acreditei em deuses. E se acreditasse sei que estaria acima deles, na razão, nos actos...na justiça. Sei que os poderia fazer sangrar... - Teimosia...arrogância. Só tu para ousares desafiar os deuses...
Mas chega...não levarei mais a vida da minha forma. Tenho virado costas, este tempo todo, a algo que alguém sempre acreditou. Errei, e errei por muito tempo...

(O que posso fazer? - Mata-os a todos. E que fazer agora? Mata-os a todos...)

A força física acaba por se tornar radícula, fútil quase, na vida do mundo...a força física é apenas o prolongar do pensamento, da alma, se tivermos a alma pouco espessa, agachada, o resto não vale de nada...
Mas só o mais atento...só o que não se perde naquilo que todos os outros se perdem, consegue realmente sentir e ver isto. Todos vós só conseguem ver as pequenas ondas no lago, que caminham em direcção a terra...Eu, e outros poucos, conseguimos ver a pedra a cair, a pedra que criou as ondas.

- Consigo ver nos homens coisas que neles mesmos conseguem ver...o meu trabalho é alimentar esse pequeno deus dentro deles, essa chama, até que toda ela expluda, se torne a energia que o alimenta todos os dias...

(Mata-os as todos...) Engana-se quem pensa que tudo começa na paz... (e paz é um termo tão relativo...) Primeiro é preciso lutar, de uma ou de outra forma, não deixar nada aprisionado. Guerras interiores não dão resultados, e a paz parece sempre utópica...distante.

Perdi o amor da minha vida mortal para sempre...e a culpa foi minha. Foram as minhas acções, as que julguei mais certas que me trouxeram até aqui...Errei. (Não, não erraste, este era o teu verdadeiro caminho...vejo grandes feitos no teu futuro. Estarei sempre contigo...até que te juntes a mim na outra vida.)
Afastei-me, certo desta necessidade, para me guiar, de toda e qualquer humanidade...é preciso lutar contra todos, todos os seres humanos, e as suas ideias, fazer deslizar máscaras...afastar-me da carne...que não passa de carne...
- Luta por mim, pela honra, pela glória...
- Só luto por mim, e por quem amo.
- Então luta por isso (e Mata-os a todos)...

| A mudança que inspirou quem viveu a história, que sentiu o que ele sentiu. Quem ainda sente |

A minha esposa acreditou sempre em deuses...nessa força que guia tudo, e que nos coloca sempre no caminho certo...se os abraçarmos, de coração livre e aberto...Está na hora de me entregar a eles. Não farei mais actos desejados somente por mim..

Seis prisioneiros, ex-guerreiros, entraram na arena...Estava previsto mais um festival de sangue, e todos eles, segundo os homens mais poderosos, deveriam morrer ali...e dar o maior espectáculo de sangue que fosse possível. Todos juntos lutariam contra um...
...a outra porta abre-se. O povo, mais do aclamar, aclama o gladiador. Chamam-lhe Spartacus, gritam Spartacus. ( Mesmo sem saber os feitos que se seguiriam num futuro próximo, gritavam o seu nome, como se fosse um deus..)
Mas hoje seria diferente...(é assim com o ódio, é assim com o amor...é assim em qualquer um deles...é preciso a pessoa aceitar e deixar-se levar. Há coisas que não se conseguem controlar, outras, nem devem ser controladas...é preciso colocar o coração nas mãos de outra pessoa e de outra vontade. É preciso fechar os olhos...e o caminho abre-se, pronto para ser caminhado...) Foi dado o sinal para se iniciar o banho de sangue. Todos gritavam por sangue, por morte. Mas Spartacus ficou parado...os outros seis, como todas as pessoas em redor, ficaram a olhar espantadas. Abriu os braços, de espada em cada mão, fechou os olhos e ergueu a face para os céus (Só tens de fechar os olhos e deixar que eles te guiem...). Segundos passaram, pessoas enervavam-se, os seis fartaram-se. Um deles ganhou balanço e mandou uma lança...este subiu, brilhou com a ajuda do sol, e começou a descer em grande velocidade em direcção ao Spartacus...este nunca se mexeu, e a lança afiada faz-lhe uma ferida na cara que começa logo a sangrar...mas apenas isto. Começou a festa do povo...

...nesse dia Spartacus lutou sobre uma só influência: a dos deuses, lutou como uma lenda, um quase deus, um deus talvez, quase possuído. As suas espadas conseguiam cortar o vento, e a sua força conseguia furar pedra. Nesse o seu antigo eu morreu...e a chama, uma chama por ele desconhecida, acendeu-se, fazendo dele alguém melhor, indestrutível. Nesse dia morreram seis ex-guerreiros.

O que farias para poder voltar a acariciar a face da tua amada? Sentir os seus lábios? Dizer-lhe que a amas? Ouvir as suas palavras como se fossem a música mais bela? E agarra-la para sempre?... Eu mataria todos.

o autor:
A paz só se alcança depois de a luta ser travada. E não falo de pequenas lutas diárias, porque essas fazem parte do desafio de cada dia. Falo de um pequena grande luta...que nos muda, e que muda o mundo à nossa volta.
Se quisermos muito uma coisa...só existe algo que se pode colocar no nosso caminho para não a conseguirmos: nós...porque o universo há muito que nos deu a sua bênção. Isto porém é também a maior das ilusões.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Consciência


Soltarei a minha vida, depois de morto.
Quando tiver perdido alguma da minha
razão, alguma da chama do sentimento,
que me enraízou às almas da terra
e à própria terra.

O que vos faz tamanha falta como se
fosse oxigénio? Nesse labirinto
de emoções que construíram por debaixo
da vossa pele tenta viver uma calma
distraida...que não encontra aceitação,
que quase morta, espera recuar no tempo.

Perdi a fome, perdi o lamento,
fingi perder tanta coisa.
E o que perdi realmente relembra-me
constantemente que o sangue deve ser gelado.

Deixaram-se ir por vezes, a entrega
verdadeira preenche o coração,
Por verdadeiros momentos
de humana essência genuína
conseguiram...Agora? O que aconteceu?
Quem viveu tudo agora agarra uma recordação.

Entrei, falei para mim. Aterrado num medo falado,
partilhado. Como posso mudar isto? Não posso.
Rezo, desejo, aguardo que me mudes.

O que ainda pode ser mudado? (Tudo)
Já não caminham...preferem fugir, (novamente)
e qualquer lugar é perfeito para a alma se consumir.
Uma mão no cerébro, outra na ilusão do impossível,
esqueceram-se do mais importante.
Antes do tarde de mais reconquistem o que realmente querem.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Resilência



É um sentimento feliz
aquele que vos abraça
num amortecimento
de um peso constante nos ombros
e nas costas num pesar crescente
até ser amortecido.

Não nasci para ter algo,
algo só meu. Alguém que me amasse
como se fosse o único, o para sempre,
o verdadeiro destruidor do mais horrível
da nossa vida; o motivador.

Podem descansar nessa vossa jornada
de dor, por agora, nos momentos que
mais precisarem; esse lugar é a concretização
de uma miragem, num lugar onde reina a paz
a calma e o sarar de feridas, o descansar dos pesos
o partilhar dos pesos, um pequeno paraíso.

Este corpo amortece quedas...eleva,
degrau a degrau, a alma ao seu devido lugar: ao alto,
passo a passo os olhos foram motivados
nessa luz forte que ilumina todo um caminho de mudança
até ao limar de arestas,
à metamorfose tão querida nunca antes conseguida.

Exagerem...todos acabam por se cansar.
A felicidade não é fim, é o caminho,
exaustos de tentar tão pouco; e ao longe
um consolo sempre espera, cansado de consolar,
de ser luz, a raiva necessária, a palavra
mais sóbria nesta realidade escura, a motivação.

A liberdade de nada vale sem desejo,
e a ambição é só uma, os erros são cometidos
sempre da mesma maneira, aceito este destino
apenas triste, sem esperança,
sempre aceite pela espessura da minha alma,
pela diferença que sinto nos vossos olhos...
Soltarei a minha vida, depois de morto.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

a Pequena pedra

Foi começado outro caminho,
na magia mais pura de ser caminhado devagar
mas não devagar demais...a calma em demasia
tende a magoar
desde o mais superficial ao mais escondido.

Como em qualquer caminho escolhido
a ser caminhado, existem as suas paragens...
E parar só pode trazer uma boa razão:
a reflexão por uns momentos.
Porque todas as outras razões...
ninguém as quer sentir na pele dos pés,
na sensação da energia da motivação.

Terá sido a melhor escolha?
O intermédio entre a boa escolha
e a escolha que se queria realmente?
Que impasses são estes que impedem
que os passos continuem a ser dados?

Mas isto não basta...
Porque quando um mal vem...
ele vem acompanhado.
Treinado e equipado com um só objectivo:
colocar à prova; de várias maneiras...em vários momentos...
por longos momentos.
E o suspiro de alívio dá lugar à inquietação.

Neste momento os Homens acreditam mais em anjos
do que os anjos nos Homens...
Nesta luta apertada contra o peito,
num peito que se quer petreficar,
toda a mais pequena pedra que apareça no caminho...é um alerta.

Mas eu, ser sentirracional, consciente de verdades simples
que se apresentam, suspiro aos caminhantes:

Se respiram ainda devem estar vivos,
Se caminham é porque ainda deve existir um sentido...
Na luta desistida só triunfa o último suspiro.
Agora, finalmente, tudo vai acontecer
como sempre deveria ter acontecido..

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Suor de lágrimas

Desonrei a vida que me foi dada...
Perdido em sonhos medíocres
que fingem alimentar a alma humana.
Se for possível terminar um caminho,
mesmo sem a nossa completa vontade,
ou começar um novo,
mesmo sem outro ainda estar completamente terminado...
Então, chegou a minha hora.
O braço alarga o movimento possível.
Mas é esticado ao máximo, até a alma
suportar a dor do corpo.
Afastado de uma crença humana
que não consegue satisfazer a realidade
estou agora nas mãos...de outro, de outra,
de algo...

Cansei-me deste sentimento frígido.
E se não o posso combater
terei de me aproximar dele.
Porque não me falta uma vontade
mas apenas a sua concretização.
Espero que seja agora, a hora,
o estrangulamento desta falta de eficiência;
está na hora de esculpir-me, mesmo em algo
que ainda não me é de todo real...mesmo não sendo
de todo o que pensava ser o melhor...
Mas eu já não penso no que pensava,

não posso...Porque nada se concretizou.

Estou à tua vontade, mas consciente
que a metamorfose será a frio, a gelo,
quase à força, profunda, como se moldavam
as antigas estátuas...um trabalho àrduo.
A tua vontade...
...nas minhas mãos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O último portal

(Vai-te, novamente, e que seja de novo para sempre
até que sejas finalmente minha. Até.)

Entra, caminha comigo nesses passos
de um caminho paralelo à rotina...
Os sonhos são iguais
só muda o verdadeiro sentido de os alcançar,
para os alcançar realmente.
A teimosia do tédio desfaz
a sorte em pedaços demasiado pequenos,
apesar da sorte caber no coração de todos
e de forma talvez até abundante...todos
a devemos ter, não a sabemos é definir.
São os filhos de Deus nesta terra que
têm o poder divino de nos alterar,
seres humanos, abençoados ou amaldiçoados,
capazes do melhor e do pior em tempos
que passam tão depressa.
A desilusão é grande; a realidade da mudança
e da verdadeira luta é descrita como ilusão,
jã não rastejo neste chão à procura da cura
para tudo isto; tranquei-me finalmente
às palavras exteriores, às ações exteriores,
e só procuro conforto nas palavras e nas ações
de quem me pode ajudar a provar que estou certo.
Mais certo ainda...no caminho de uma perfeição qualquer
que ainda sonha ser concretizada.
Gargalhas ou silêncios compridos enchem as paredes
da minha alma, como podem ser tão ignorantes?
Se estivesse errado aprenderia, o mais depressa possível,
não o estando também nada muda...
é como se a nossa vontade de nada valesse.
Colocamos o peso da nossa verdadeira essência
nas costas ausentes dos outros.
Caminhei. E continuo a caminhar.
Dou passadas rápidas, sem pisar o que não deve ser pisado,
consciente que estou afastado de tudo
para morrer quando puder
sem que nada fique por dizer,...
Numa união de elementos voltei-me a tornar coisa,
do líquido passei para o físico, preprado para ser
esculpido...No silêncio, no recolhimento, na solidão,
no lutar de sonhos mais pequenos...até que o tempo
se encarregue de me encaminhar para a casa do Pai.
Uns caminham por caminhar, ou por caminhar pensando que
realmente caminham...Juntei-me a vós.
Quero sentir o que sentem...mas agora consciente,
apto, mas aperfeiçoado.
O silêncio não me congela por fora
apenas por dentro
e a cada momento que passa
estou mais sólido...
Um dia serei pedra, antes de morrer,
e as gargalhadas ou os silêncios
deixarão de me fazer marcas na alma...
porque já estarei morto por dentro
apesar de vivo e perfeito na vida
de quem quer apenas viver.

domingo, 14 de agosto de 2011

Grilhões imortais

(Daqueles textos que não escrevia à muito tempo. A ideia não foi minha; obrigado pelas ideias que fizeram rular cabeças do Poder Humano na História, mesmo que só na teoria...neste caso o pouco - é melhor que nada.)

Sinto o pulsar do fogo
nas veias do mundo injustiçado...
Trancado por fora
trancado por dentro.
Esta esfera imútavel que nos esmaga é
enorme no peso e no tamanho,
é capaz de matar, capaz de fazer calar,
as vidas são números numa lista
sem qualquer importância...
Oprimidos, castigados eternos
obrigados a caminhar como mortos vivos,
escravos de uma força
dita superior.
Não gostamos que nos causem dor;
preferimos causar dor a nós mesmos...
Até à revolta, se o vento da sorte
não nos favorecer...acabarão por ser
derrubados - não
interessa por quem.

sábado, 13 de agosto de 2011

Negação


[Quando uma terra está seca à muito tempo...qualquer líquido que apareça é benvindo..E nem mesmo eu, nesta tentativa de fechar portas (porque nunca as consigo trancar de forma eficaz), consegui resistir a essa inspiração que se abateu por uns momentos. Agarrei-a logo, mesmo sabendo que voltaria a abandonar-me, para que por uns minutos pudesse escrever aquilo que mais ninguém vê, mas que todos acabam por sentir, independentemente da razão. Por isso este texto é como se não fosse meu, porque foi escrito por todos vós...Abençoado o momento em que o sol não se limita a cegar os olhos de quem já desistiu de procurar a luz.]

Se existe algo que ninguém viu
Esse algo nunca aconteceu?
Não existiu essa gota de mar
Que ninguém chegou a ver,
Desaparecida mesmo antes de aparecer,
Consumida por essa estrela quente
Nesse por do sol num braço curvado
Que protegia a face...
Esse sabor também é salgado,
E mesmo antes de ter sido derramado
Foi fingido esquecido,
Não se deixou largar ao mundo
(Por ainda não ser o seu tempo)
Largando mundos de sonhos que ficaram
Por derramar vivos.
E essa mesma lágrima viria
A poder cair nessa mesma praia,
Depois do sol fugir para dar lugar à lua,
Numa areia calma, ausente de esperança,
Na fome do alimento que falta,
Nessa beleza tão só das estrelas que
Dão magia ao céu...Nessa paz da nossa existência
Que não existe...Hipócrisia.
Deixem-me só, e não me culpem
Por gritar o nome, porque os nomes
Ajudam a pintar as faces das nossas histórias...
Tão só.
Poderia ter tudo para ser feliz.
Mas a solidão marca-me
Como o sol marca a minha pele
Em dias mais quentes,
E a saudade...é a saudade,
Relembra-me a verdade que não tenho,
Que não consigo voltar a ter.
Não tenho tudo para ser feliz,
Porque me falta o mais importante. E isto é a verdade;
Estar vivo não basta...
Não estou em negação.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

(Another) "Love song"

Confesso...tenho de confessar. Apareceu esta jovem senhora, bem mais nova do que eu, e a magia instalou-se no ouvido atento. Derrubando sem quase dificuldade os enormes A Perfect Circle (nesse já grande cover misturado do Love song), deixando qualquer um à mercê...disto. Em Portugal temos a música "Eu nunca me esqueci de ti" do Rui Veloso, ou o "Haja o que houver" dos Madredeus...em Inglaterra? Temos isto. E não existe inspiração ou sentimento que valha o movimento dos dedos...
só que depois
como que para nos fazer sentimensar...acontece-nos...isto.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não sonhes, não olhes...não adies.







"So angels speak portuguese language.." Sem dúvida.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Na grande busca do pouco

[Tenho andado inclinado a despedir-me das letras por um longo tempo. Sei que preciso delas, quase todos os dias, mas sinto que me repito, constantemente, não consigo dar lugar a algo novo...digo o mesmo, mesmo no esforço de usar outras palavras, outras expressões; dito de outra forma: (citando Scarlett Johansson em Lost in translation) 'i'm stuck', estou rotineiro. Sinto exactamente aquilo que digo, e se ainda escrevo, é porque "tem de ser". Queria uma rutura enorme, em grande escala temporal...E queria sair numa grande despedida, num texto completo e final, para não deixar pedras por serem derrubadas. Ontem, à janela, ao fim de tarde, uma fúria vinda não se sabe de onde abateu-se sobre mim, e lembrei-me daquilo que sou e do lugar a que pertenço, e senti-me quase bem, porque já estou habituado a ser isto, a estar aqui. Como fugir da nossa verdadeira casa? Da nossa verdadeira companhia? Sei que, se isto não for a paragem que tanto desejo (e que tarda em se afirmar) voltarei às letras menos claras, às mais escuras, de onde nunca consegui sair totalmente...
Assumo total responsabilidade de utilizar neste texto frases inspiradas nesse mundo paralelo que é o dos Madredeus...há três dias encontrei toda a discografia e tenho a certeza que foi a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Para mim, e vão-me perdoar os portugueses, existe alguém muito acima d'Amália. É uma voz que não é terrestre, uma melodia que vem de longe...de lugares que pensamos não conhecer, mas que estão bem próximos. E as letras...somos nós. Deixo aqui algumas sugestões de músicas para quem queira sentir outro sentimento. De certo não se vão arrepender.

(As cores do sol; O pastor; O labirinto parado; Vem(além de toda a solidão); Haja o que houver; A praia do mar; O tejo; A tempestade; Os dias são à noite; O fim da estrada; O olhar; entre outras...)]

Só tenho uma pergunta para fazer...
Queria que toda esta certeza fosse em vão,
e que toda esta razão estivesse errada, para que
pudesse aguardar um pouco mais
pela claridade humana.
E estes dias vão passando, vão-se arrastando,
deixando no ar esse pesado ar de dia de Verão,
onde mesmo o vento não consegue empurrar
um ar mais fresco para os pulmões;
Sei que se acordassemos
com quem mais queremos a nosso lado
tudo isto teria mais significado...Seria abençoado
e louvado todo este fado...Um caminho feliz.

Ao cair da tarde...
Ao cair do dia...Ao chegar da noite...
Não sei se é luz, se é névoa que
cada pedaço de carne e alma invade,
Fingindo alterar...e num ardor
que depressa se torna dormente,
Avisto esse sonho que arde ao longe...
E eu estou acordado, atento,
de vígilia, mas não é por tentar que se aproxime
que ele vem...
Mas queria não acordar se sonhasse um pouco mais.

Tenho agora a certeza que nem tudo é culpa
do silêncio;
é tão ou mais forte a ausência daquilo que
queriamos ou queremos ouvir.

Tenho uma só pergunta para fazer...

Olhos fogem de olhos, medo,
vontade escondida, vontade fugida
mas apenas fingida...
Receio essa sensação de uma viagem
concretizada e em concretização
por outros relembrada como ilusão.
Marcada como ilusão a letras que fervem
na pele; sem fuga ao esquecimento.
Essa sensação de tanto amar.
Uma mesma visão mesmo em olhos tão diferentes,
tão distantes.

Deus complicou o mundo
ao simplificar o caminho para felicidade.
Até onde nos leva o silêncio?
E a ausência de quem mais nos completa?
E as palavras ocas?
(Por agora poesia...)
E depois de todos sentirmos
essa fúria
calma
que é a saudade
a pergunta que falta fazer é



porquê?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

3 anos de monstro..

Faz exactamente hoje três anos - e quase poderia jurar que foi mais ou menos a esta hora: 19h28, a que escrevo agora; que foi criado este blogue. Não estou com grandes disposições para uma grande festa, por isso o texto não vai ser habitualmente gigante. Aproveitar só para agradecer aos leitores: ao que leiem desde o início, aos que entraram a meio ou agora, aos que largaram, aos que voltaram, aos que virão (se vierem). Agradecer ainda a todos os que pelas boas ou pelas piores razões me fizeram escrever, e ainda aos que me apoiam. Não desejo que este blogue conte muitos...desejo-lhe saúde, assim como a todos os leitores (esses sim podem continuar a contar muitos e longos anos). Ao monstro.

O autor,
Diogo Garcia TH.

Desequilibrar a balança


"I guess there's a plan for all of us. I had to die - twice - just to figure that out. Like the book says, He works His work in mysterious ways. Some people like it. Some people don't." [Constantine - final quote]

De onde viemos? Onde estamos? Para onde vamos?
Viemos do erro, caminhamos no erro
na direção do próximo...Escolhas humanas.
Confusos no espírito, confusos na razão
de ser e de fazer, como se toda esta leveza
fosse peso, sentindo uma coroa de maldição
em lugar de uma benção...

A perfeição do universo foi destruída
no dia em que o ser humano começou a sentir.
Explorar o corpo humano é fácil...mas a alma
recorta-se em várias metades, todas com diferentes pesos.
E a minha monstruosidade observa
o anjo de asas negras, o demónio de asas brancas,
que se confundem nas verdades de cada mentira
preparados para colocar o Homem na dúvida,
deixa-lo à sua própria escolha...

Quero dar, mas ao mesmo tempo tirar-vos tudo,
Queria levar-vos mais alto...mas somente para vos
deixar cair?
Cravar-me a fundo no vosso coração...mas para sair
com tudo deixando-vos vazios?
Construir...destruir...
Parte de nós escolher a melhor metade?
Está em nós a vontade de escolher a parcela
que não nos pertence?

Este corpo que prende a minha alma...
Esta venda que cega o meu sentir...
Esse egoísmo; essa fraqueza,
esse sonho esquecido, essa realidade desistida,
essa lágrima de arrependimento...
faltou força? Encara o medo nos olhos,
ele que desapareça para sempre da tua vida...
Se cada pessoa
conseguisse sentir
o que um monstro tem de sentir
percebiam que a felicidade está tão mais próxima...
E que a vossa complicação está a destruir-vos
a cada momento que passa...E que a batalha
entre esses opostos todos
nunca existiu verdadeiramente...
porque a vossa escolha, aquela que deveria interessar,
(mas que é por vós ignorada)
aquela que deveria desiquilibrar a balança:
já está feita há muito tempo.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A passagem



Alguns acreditam nos anjos
que habitam no coração do Homem...
Outro acreditam que os demónios estão
só de passagem...
Poesia...
ainda
não sou
teu.

Nasci num mundo que gira ao contrário...
A Religião e a Ciência...O Sentimento
e a Razão continuam a correr para lugares opostos.
Continuamos a ser tão pequenos;
ignorando o poder da criação nas duas mãos que temos,
universos de soluções e sabedoria num ou noutro
bolso...
Às vezes tudo o que parece importar é sobreviver,
matar essa fome monstruosa que faz de nós
aquilo que realmente somos; num ritual que louva
apenas o instinto...
Continuo a apanhar destroços da realidade
no desejo de a tornar de novo completa.
Os meus sonhos não se realizam...por muito que lute
por eles até que nada mais falte fazer.

Saudades dessa locomotiva que passeia pela nossa
vida, com esse som belo que encanta cada ouvido,
com a mesma intensidade, em todos os que nos rodeiam,
desses enormes pedaços de planetas ou estrelas ou rochas
do universo quando embatem nesta terra.
São peculiares sorrisos, arrepios,
olhos vivos brilhantes
(reflexo de uma alma que brilha),
são suspiros...não de quem sofre, não de quem
respira tédio...de quem deseja, de quem
sente saudades.

Não conseguem perceber...e o contrário de tudo
é o que sobra;
nessa sala onde sonham
para fingir tentar concretizar
é Deus que vos faz companhia
se o diabo bater à porta...e não o contrário.

Enquanto olho o escuro do céu
desejo apenas
que os nossos olhares repousem na mesma lua,
no mesmo pensamento...
como se ela não estivesse apenas de passagem.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A terceira metade

Não me consigo controlar
em controlar-me...Tentando mastigar
onze dias que passaram
sem palavras vazias
mas que não passam sem se fazerem sentir.

Poesia, continuo sem ser teu.

A espiral aguarda, a elevação,
a conquista de tudo aquilo que pode ser nosso
ou que já o foi,
estão abertos os céus para se conquistar a lua...
único farol nessa folha escura.
E será sempre com alegria
que vos verei a caminhar por esse destino...
Mas o meu é bem diferente,
escravo deste apocalipse
dentro do meu ser.
Não lugar, adormecimento,
aborrecimento fatal...
Não é uma ideia, é uma aceitação
na dúvida máxima de uma possível
(e de que forma)
absolvição.
O sol ou momentos rasgados de céu azul onde abunda
a força luminosa...
E com a minha mão tapo o sol,
cinco sombras de cinco dedos
prolongam-se pela face, crescem
atigindo toda esta realidade...
até que tudo acabe
são tentáculos de um polvo
a devorar o total,
controlando-o.

domingo, 26 de junho de 2011

Necrófago canibal dos restos do meu ser

Quando um Homem perde
a vontade de amar e perde a inspiração;
de nada valem esses movimentos
desse processo chamado respiração...
E vão descobrir que não importa
de quem é o poder de tudo isto;
não importam as não acções dessas não histórias.
Tudo o que pedimos
e sempre vamos pedir
é o apogeu de cada momento,
nessa folha verde e fresca que roça a brisa dos prédios
assim como vai descansar no mar
depois de acariciar a paisagem calma do
verde, dessas cidades mais pequenas,
desses rios...
Não me importo tanto agora,
recolhido em toda esta escuridão,
agora que já não me tolero mais...
Irónico...Cansei-me de mim mesmo,
não me odeio por não me tolerar mais
odeio-me apenas por ter chegado até aqui.
Estou exausto, são discussões interiores que
não me conduzem a lado nenhum
ou que só me conduzem de onde não quero sair...
Quando perdi a vontade de amar
ou perdi a inspiração
é certo esquecer-me de respirar com vida.
E as palavras vão continuando a sair...porque
isso faz parte do meu ser; mas vão saindo cada vez
mais fracas...pouco intensas...E a cor já nem o preto
manifesta. Incolor. Sem sabor. Amor e ódio à dor.
Vou-me alimentando destes pedaços de ser partido,
por vezes consciente de que estou vivo
outras querendo estar morto,
sem ter vontade em agarrar mais palavras...
Estou tão cansado...
Estou mesmo. E eu sei, que todos estes pesos
e torturas, e prisões que nos prendem de forma
silênciosa, muitas vezes são uma obra só nossa...
Mas somos feitos destas matéria,
somos esta camada triste de miséria...
A fonte da força chega a todos por caminhos diferentes,
e a solidão ou a companhia preenchem cada
um da sua maneira.
Se algum dia encontrarem a melhor utopia da vossa vida
(espero que não a percam!,)
e se a perderem
terão então de encontrar um caminho diferente
para não cairem nesse poço fundo
onde só existem restos de pedaços imortais
acompanhados da mortalidade do vosso corpo.
O ser humano é imperfeito de nascimento...
Disso nunca duvidei. Também o sou;
amo a ironia, e o exageramento;
o dar o melhor de si, e evitar o lamento;
e terei de quebrar algo na minha vida
até ela própria ser quebrada,
sinto-me quase tão vazio em escrever
como ficando quieto...
E olhos nos olhos
para com todos vós
desejo-vos
(e a alguns agradeço)
esse momento peculiar, único nessas correntes
quotidianas que nos fecham a luz
como as cortinas de uma janela
em que numa discussão
ou numa ligação menos certa de ideias
tudo termina, e tudo faz terminar
num beijo...




Poesia, por agora,
não sou mais teu.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Δ


[Mesmo sendo estas palavras dispersamente processadas pelo meu cérebro, enviadas para os meus dedos...estas palavras não são minhas. Gostaria de ser um visionário, e conseguir calcular com eficiência matemática as razões desse dito tudo, abraçar a realidade com a certeza que sei mais do que aquilo que realmente sei...Se fosse um filósofo a minha matéria de estudo seria o concreto, a verdade, a frieza científica...Se fosse um ciêntista nada mais me interessaria do que estudar, com toda a minha força: o sentimento e as almas humanas...Só que eu não sou nada disso...por isso mesmo estas palavras não são minhas.] Delta

O ser humano rendeu-se
à mentira que pode controlar.
Neste jogo de ilusões não ganha
quem mais enganar, ganha quem mais se engana...
Força louca que faz virar mesas de mundos
até se revelar fraca e pouca.
Mas que interessa então a vontade de ficar mais
um pouco?
Se nesses corpos vivos reside um quase morto?
Procura-se um paraíso no inferno
como se o dia de hoje ardesse
no mais monstruoso calor.
Mas é lançada a moeda, mostrada ou escondida
a carta, e nesse complexo tabuleiro
(aos olhos da visão humana)
Deus sorri perante uma simplicidade inalcançável
aparente.
Afinal é tudo uma questão de sorte não?
Pois sejam feitas as apostas
e que o sonho mais alto não caia...
Os dados foram lançados.
Boa sorte.

domingo, 19 de junho de 2011

0.006

As palavras estão cravadas
a fogo e não há número que
as acalme.
Triste é o destino de quem
está dormente.
Na maior parte da minha vida
encontrei sempre nos números uma
exactidão utópica que pouco me alterava.
Mas agora a ironia do destino tem-se
revelado matemática...Onde costumava
querer sentir sinais, vendo, juntando,
agora só encontro crueldade divina.

Sinto agora o choro da criança que sente
a realidade exterior ao corpo da mãe
pela primeira vez. Consigo sentir a aresta
do verdadeiro e mais ilusório círculo...
As palavras nasceram para mentir mas
os números conseguem contradizer certezas.

Coloquem um ponto final na razão,
e alcancem o resultado final do sentimento.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Torniquete

[Sexta coligação literária contigo, e mesmo assim a elevação mantém-se, obrigado por esta excelente companhia. Para Joana GTH.]

Eu tentei matá-la. Eu tentei.
Estarei perdida por isso?
Tive de fazê-lo. Já não a suportava.
A dor era terrível. A perda foi enorme.
Estou a sangrar lentamente,
Tu eras a única coisa que impedia isso.
Eras tu que aparecias nas horas de
Escuridão; eras tu que me davas alento.
Agora já sem esperança, agora coberta
De escuridão, eu enfrento o meu destino.
Eu aceito o inevitável e deixo-me ir.
Entrego-me ao alívio que o sangue que
Escorre me deixa sentir. Já não há nada aqui.
Estes cortes e estas feridas dizem apenas
Que a salvação virá em breve. Ela virá.
E até lá, vão continuar a levar o melhor
De mim. O que restou.
Para trás fica a derrota, o arrependimento.
O putrefacto. A morte.
E eu tentei matá-la. Eu tentei...
Trancado em horas que se prolongaram
Em dias...Eu tentei. E só Deus sentiu
O sangue que sangrei...Sentei-me
Na dor; perdido, arrancando sonhos
À minha existência. O futuro já não é ambicionado,
E esta dor é a companhia mais fiel que tenho.
Sem esperança de ser algum dia recuperado
A fome de voltar a encontrar
É tão forte como a certeza de que estou vazio.
Por isso corro contra toda esta realidade
Até cair exausto por terra
Finalmente derrotado...
Beija-me esta ferida. Sara estas feridas.
Quanto tempo mais aguentamos nestas
Curas malditas que só me fazem piorar?
Ópio, lítio ou absinto...
No arrependimento, quando sentir
Que Deus chorou, nada mais interessa.
Maldição monstruosa esta, que faz o coração
Bater e desejar, tentar e perder,
E derrotar um universo inteiro
De perda e desilusão...
Mas eu...eu,
Mesmo respirando esta sombra,
Mesmo sendo enorme nesta escuridão...
Mesmo depois de tanto,
Sofro mais uma vez o erro
De voltar a querer acreditar...
Este acreditar já não me traz nada.
Estas palavras não têm significado,
A dor que carrego é mais que muita.
O fardo até aqui foi insuportável, mas
Eu carreguei-o pensando ser eterno.
Aguentei-o até ferir, até todas as forças
Serem drenadas do meu ser. Para quê?...
Ia inevitavelmente cair neste precipício,
Ia levar-nos à morte. A mim e a ti.
Não ia sobrar nada, só a cinza da escuridão,
Só a sombra da morte. Eu acabei.
Deus foi minha testumunha, só ele sabe
O que eu passei. Só ele viu o sangue
Que brotou de mim, dia após dia,
Lágrima após lágrima. E nunca o estancou.
Só me trouxe mais sofrimento, mais
Agonia, mais vontade de acabar com isto.
Ainda te lembras de mim? Após tanto tempo,
Será que ainda és capaz de ouvir a minha voz
A chamar por ti, a suplicar por perdão?
Estarei assim tão perdida ao ponto de não ver?
Estarei assim tão horrivelmente danificada
Que ao menor espinho cravado na minha
Carne julgo ver a face de um anjo caído?
Resto eu aqui, com o que sobrou de mim.
Com a réstia de esperança em trapos, com a
Miséria a escorrer por todo o lado. O rio de
Desespero já correu a meu lado e eu deixei-o secar.
Eu tentei matá-la mas falhei. Não consegui
Perceber que há muito que não existo.
Só finjo existir. Eu tentei matá-la. Agora desisto...
Enquanto essas almas choram
Sem saber e sem lugar;
Afogadas em névoa sem suspiro
Ou vento que sacuda esse todo
Deixando espreitar um caminho...
Nunca mais chega o dia
Em possa finalmente comtemplar
Sentado num banco, sentindo-me
Outra vez completo,
a cidade a viver
e o campo a descansar...Onde possa
abraçar faces diferentes
da mesma peça...
Esta é a dor, este é o sofrimento,
Neste sangue que enche as paredes
Da vida humana
Fazendo com que do sangue
Só possa surgir um e um só monstro,
Enquanto todos vós vivem outra dor,
Jorram outro sangue...
Nesta mágoa utópica.
E foi só aqui que desisti...
Quando compreendi
Que não precisava de um qualquer
Torniquete
Ou de outros apaziguadores...
Mas apenas de ti.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

β


[Mesmo sendo estas palavras dispersamente processadas pelo meu cérebro, enviadas para os meus dedos...estas palavras não são minhas. Gostaria de ser um visionário, e conseguir calcular com eficiência matemática as razões desse dito tudo, abraçar a realidade com a certeza que sei mais do que aquilo que realmente sei...Se fosse um filósofo a minha matéria de estudo seria o concreto, a verdade, a frieza científica...Se fosse um ciêntista nada mais me interessaria do que estudar, com toda a minha força: o sentimento e as almas humanas...Só que eu não sou nada disso...por isso mesmo estas palavras não são minhas.] Beta

Existem memórias físicas espalhadas
pela mesa, pelo chão, pela cama...
São imagens, são pequenos escritos
em pequenos papéis...
Provas em como por momentos fomos
fiéis à vida, à vontade
do universo.
E todo este processo é constante e firme
como a base de uma pirâmide
como o pilar que sustenta
a certeza e a inevitabilidade da morte.
E esta realidade espalhada
à nossa frente
não está adormecida.
Ninguém consegue descrever de forma sublime
estes pedaços que juntos
são iguais a uma reconstituição de um crime.
Podemos saber quem são peões da história,
podemos não saber o porquê.
E a exactidão dos quandos nem sempre se sabe.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

α


[Mesmo sendo estas palavras dispersamente processadas pelo meu cérebro, enviadas para os meus dedos...estas palavras não são minhas. Gostaria de ser um visionário, e conseguir calcular com eficiência matemática as razões desse dito tudo, abraçar a realidade com a certeza que sei mais do que aquilo que realmente sei...Se fosse um filósofo a minha matéria de estudo seria o concreto, a verdade, a frieza científica...Se fosse um ciêntista nada mais me interessaria do que estudar, com toda a minha força: o sentimento e as almas humanas...Só que eu não sou nada disso...por isso mesmo estas palavras não são minhas.] Alpha

A perfeição está no pequeno,
no pormenor que um ou dois ou poucos mais
conseguiram ver...
E às vezes nem é preciso uma letra
(ou um conjunto delas)
frases enormes, aparentemente profundas
e preenchidas de conteúdo...Por vezes basta uma melodia,
rugida do coração para outro coração,
tudo isto sem palavras...um silêncio mais elaborado
capaz de fazer estremecer ou de aconchegar a alma.
A atracção aparenta ser idílica...
E somos enganados...
Onde está a verdade? A que faz tremer a essência
dos nossos músculos? Não é o medo de ser uma
primeira vez...de ser outra vez...é um medo que nasce
por sabermos que não importa tudo o resto...porque
esta
é
única.
Tomar os actos maus de alguém como certos
pode ser sabedoria...mas ter-se certeza
na impossibilidade de sentir a bondade humana,
a sua capacidade para conseguir outra vez tudo,
de forma ainda mais forte...é ignorância.
Alguns querem dizer tudo o que lhes escorre por dentro
do corpo..porque vão guardando e aguardando...
Um dia a explosão é tudo menos iluminada.
E o desagrável cheiro chega-nos de carne humana
despedaçada, no chão, à espera de ser apanhada
e se a sorte soprar nos ventos da vossa estrada:
novamente reunida e encaixada.
Hoje dizes-me...Sei que nem tudo será fácil...
(Quem pensa isso afinal?)
Os problemas aparecem
(e voltam a desaparecer)
e tudo parece girar sem fim......
(Se o perfeito não dura sempre, porque haveria de durar o mau?)
Mas apesar de tudo vir a sofrer
(normais) danos e de ferir a ideia de uma perfeita esfera
não poderia deixar...de te dizer...
que seria um erro...não ficar contigo...
até um sempre. Porque eu quero.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ω


[Mesmo sendo estas palavras dispersamente processadas pelo meu cérebro, enviadas para os meus dedos...estas palavras não são minhas. Gostaria de ser um visionário, e conseguir calcular com eficiência matemática as razões desse dito tudo, abraçar a realidade com a certeza que sei mais do que aquilo que realmente sei...Se fosse um filósofo a minha matéria de estudo seria o concreto, a verdade, a frieza científica...Se fosse um ciêntista nada mais me interessaria do que estudar, com toda a minha força: o sentimento e as almas humanas...Só que eu não sou nada disso...por isso mesmo estas palavras não são minhas.] Omega

Alguns...alguns..
São poucos os que encontram num incêndio
na noite um ponto luminoso. Uma luz que progride
em direcção aos céus mais escuros...
A inevitabilidade da morte serve-me de paz interior.
Tudo o que posso fazer é deixar a vida
dos que ficam por este terreno
melhor e menos pesada
pela incompressão da minha partida.
Quando penso multiplico-me.
E os resultados são variados.
Ao ritmo destes tambores que batem de forma
sincronizada, vou absorvendo
a melodia hipnótica, e deixo-me ir,
absorto no meu verdadeiro eu.
E é aguçada essa ponta afiada
que enterra na carne, dando-nos a oportunidade
de amar momentos e odiar esquece-los;
O amor é a melhor sedução...
Mas quem não quer amar também a carne é fraca,
seduzida por essa mesma carna exterior,
que nos alimenta os sonhos
até acalmar o desejo...
Quem procura uma ilha temporária
para se manter vivo
vai acabar no sofrimento...
Existem coisas que não se substituem.
Existem verdades que não se dizem.
Existem peças que não vivem
a harmonia de estarem finalmente encaixadas.
Alguns...
Alguns..suportam melhor o vazio
(do que outros).

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Labaredas frias

Sou uma porta de entrada
sem forma de saída...
Fui e serei sempre uma peça inacaba.


O meu peso afoga-se debaixo d'água,
fiquei presa ao teu calcanhar
e contigo desci a esse lugar onde
não existem tréguas...nesse lugar
onde todos lutam por lutar cada vez menos
em crescentes movimentos
mesmo estando em areias movediças...
Terei força para vencer sozinha?

Quando me seguravas
o sentimento nem me deixava pousar os pés
no chão...e a razão caminhava de mão dada
com a minha. Tudo ficou queimado;
tudo ficou desabitado, e é impossível a sua recuperação.
Mesmo quando se agita o meu corpo
neste mar condenado, e sou levada sempre para o mesmo lugar,
ainda acredito que tudo possa voltar.

O vosso beijo, e o vosso abraço...as vossas palavras
E as vossas soluções...em nada me conseguem alterar.
A culpa não é vossa. Nem é minha.
Por isso não peço ajuda para esquecer
ajuda para deixar ir de vez
nem ajuda para recomeçar.

Encurralem-me mais, queimem-me com essas
labaredas que já congeralam de tão frias serem,
matem-me!, para que sozinha possa finalmente
mentir de consciência mais leve.

Essa sombra que te perseguia...agora está
atrás de mim, e em cada passo que dou
sinto-a.
E quando relembro
sinto ainda mais este vazio
nas cavidades enormes da minha alma...
A carne não sofre queimada...aos poucos
a hipotermia silência a respiração...
Se pudesse voltar atrás
ficaria no sossego
ou sonharia com a mesma paixão?
(Para que tudo se calasse
ou se mexesse
mas não me enlouquecesse
nestas sensações que ardem sem fim...)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Matéria envolvente


[O CCB, em Lisboa, serve para várias coisas e para várias pessoas...Para aquelas que percebem e gostam de arte, para aquelas que só gostam, e outras...É um grande lugar, neste país pequeno, desta pequena capital. Serve como sítio para: se estar bem; algo que existe com alguma fartura neste país, mas que regra geral está escondido...(ou sem que haja movimento para o procurar). Quando vi esta imagem...foi quase um amor à primeira vista - ou melhor, foi retomar um amor; achei a ideia excelente e não pude ficar apenas parado a olhar para ela como se quisesse descobrir uma revelação qualquer...Era o Homem...era a luz. Aquela forma de encostar. Uma imagem, que aos olhos de quem conhece, lembrou o universo dos Tool. No meu cérebro juntaram-se ideias e frases...quando dei por mim, estava criado mais um pedaço de mim...desfragmentado. Preciso apenas da matéria que envolve tudo isso...]

Fui acusado de roubar algo que não devia.
Mas como puderei roubar algo
se esse algo me pertencia?
Tão depressa sobe ao céus um corpo
envolto em chamas de várias cores
numa esfera de luz
como tão devagar se prolongam os dias
nessa dia que nasceu numa aurora negra
sem nunca receber o sol ou o céu azul.
A matéria prima do Homem deveriam ser os sonhos...
A paixão de agarrar e de conseguir...
Sinto o meu corpo a respirar ferozmente...
Alguns corpos demoram mais tempo a desistir.
(Derrotado pelo teu último suspiro.)
Renascido em cinzentas cinzas
leves o suficientes
para acreditar ser possível novamente aceitar
a gravidade, e finalmente voltar a voar.
Mas perderam-se as asas.
E não as quero recuperar. Enquanto observo
este momento, neste local, com esta realidade
abre-se um terceiro olho temporal
e fecha-se este tardar de amanhecer no peito.
Que alívio...
É como se estivesse morto
mesmo antes de ter morrido. Mas ainda acordado,
tento mostrar caminhos, e recuperar o equílibrio do
resto do universo dos outros.
Horas diferentes passam
onde se transbordam sensações
e falta delas;
e choquei contra as trevas, abraçando a escuridão,
e nestas horas finalmente aceito e vivo quase feliz
esta solidão...mas o Homem não é feito só de uma matéria,
e viajo de um lado para o outro, sempre, até sossegar.
Mas no fim a verdadeira preocupação
está nessa alma que domina sempre
que não conseguindo ultrapassar a luz
desistiu...frustrada...obrigada a esperar o inesperado...
encostando-se a ela...

domingo, 29 de maio de 2011

O 'erro' de Fernando Pessoa

[Em primeiro lugar dizer, principalmente a quem não conhece a minha escrita ou a minha alma - porque os outros já o sabem, que F.P. é o poeta que mais admiro. Ler Fernando Pessoa é estar num outro mundo, num lugar alto, onde foi um pouco mais díficil de subir - do que outros sítios altos, a observar a realidade dos outros - e a nossa antes de subirmos a esse lugar alto. Para mim Fernando Pessoa não é um poeta, é O poeta. E a sua escrita é sublime. Tão pouco estou aqui a criar uma luta qualquer entre um ser pequeno e um quase deus; para mim o erro foi só um, só numa frase...uma frase que alimenta mais pessoas do que secalhar o próprio F.P. alguma vez pensou...]

"Valeu a pena? Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena. (Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.)"

Para mim este é o erro fundamental. E ouço vezes sem conta esta frase. Posso quase garantir, que a queda enorme das pessoas que pensam que tudo de facto vale a pena (e na minha opinião a espessura da alma nem sequer é para aqui chamada), não tardará. E a exaustão vai atingir todos esses que queriam lutar e lutar e lutar, por tudo e por todos, sempre...
É sensato admitir que nem tudo vale a pena. Tão pouco...Existem vários problemas por lutarmos por tudo - e por muitas batalhas em vão; são energias gastas que não são devolvidas nem acrescidas - por ter valido a pena; é tempo gasto a não lutar por coisas que de facto valem a pena, não se estando a usar as mesmas forças para algo melhor - desperdício.
Nem tudo vale a pena. Algumas coisas valem muito a pena, e nessas deve ser aplicada toda a nossa força, sem cessar...mas seja por erro nosso - engano, ilusão; seja por nos apercebemos que afinal de contas não valia a pena o importante é: parar.
Na canção Stinkfist existe uma frase que complementa esta frase de Fernando Pessoa: I'll keep digging till I feel something. (Traduzindo: "vou continuar a escavar até sentir algo") E foi então que descobri, da mesma forma que percebi que Fernando Pessoa "errara", que podemos escavar muito tempo para nada encontrar...devemos parar de escavar? Não. Nós vivemos das nossas escavações e lutas...Mas devemos mudar o local da escavação, escavar noutro lugar, se percebermos que estamos a escavar para nada. Nem tudo vale a pena...não se deve escavar cegamente para nada encontrar...

Mas deve-se escavar sempre que valha de facto a pena, e a alma deve sempre ambicionar ser maior.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

The forgotten

'Do you remember me? Lost for so long..' (E. Torniquet)

Gerados num suposto amor e
evoluídos no calor do ventre humano, foi assim que
fomos criados...
Mas o tempo trás com ele tudo o que é possível.
E se alguns tentam conseguir recordar
outros tentam esquecer, onde alguns tentam
ser lembrados outros tentam ser esquecidos.
Mas o que acontece é acabar por sermos esquecidos,
como se nunca tivessemos existido...
Sem imagens vivas ou mais mortas
do nosso ser, da nossa vida,
como se os momentos de gestos ou falas
escritos, pinturas,
só existissem na nossa imaginação de corpo inexistente.
Tão pouco a alma terá deixado marcas.
Sente-se esta dor das palavras que se vão cravando
em nós, cada vez mais, cada vez mais dolorosas,
E eu deixo-as enterrarem-se...até que já não causem dor,
até que seja possível sentir outra sensação qualquer,
como se desse para esquecer e aprender ao mesmo tempo
nessa esperança de se começar de novo.
Nestas labaredas frias, que gelam tudo à minha volta,
volto a ser esculpido em gelo, crescente na minha racionalização...

De volta a esta espiral que ascende à exactidão,

Disciplinada na lógica, no pensar,

No trancar de caixas mitológicas

Capazes de abalar dores e sentimentos humanos..

Sinto-me capaz de fazer derreter pedra,
num olhar aguçado que sente a realidade
sem se deixar por ela afectar...Afinal já estamos esquecidos,
e nunca existimos.
Deixam-se estar perdidos durante tanto tempo
que não conseguem voltar-se a encontrar,
Desaparecidos...O abstracto vence o concreto
e a nossa alma desaparece
sem deixar marca, sem deixar rasto em nenhum lugar.
Mais tarde
(nesse tarde demais)
compreendemos o quão perfeito eramos
mesmo na nossa natureza de imperfeição.