segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

esquecer E aceitar

Quando me vejo ao espelho
Não vejo quem sou, vejo o que os outros vêem.
Eu mesmo, sempre mais velho, mais desigual.
Um retrato pintado a tintas vivas que se mexe
ao sabor do tempo. Sento-me à margem desse rio enorme
chamado oceano olhando, sem fazer quase nada.

A paz que não detenho é uma paz inglória, nada fiz para a merecer.

(a música embala-me enquanto passeio entre hesitações)

Por vezes esqueço...
Seres racionais esquecem-se de amar...
E os que amam, esquecem-se de pensar...E depois,
Sobra sempre a ignorância, de quem não quer tentar.
Ou de quem vive tentando, sem conseguir.
No fundo, caminhamos todos para o mesmo fim...
Apenas caminhamos por estradas diferentes.

Esqueço-me...mas é a verdade.
Por vezes pensamos tanto tempo na maneira de fazer,
Que nos esquecemos de fazer de facto.

Volto-me a ver ao espelho...o que mudou?
Nada...cresceram-me asas negras, num corpo humano...
Ou serão asas brancas num monstro?
Nada. As asas mudam de tamanho, mudam de cor,
e apenas sobram restos de um corpo humano
num real monstro.

Importava-me ser...
E para já não quero ser nada.
Porque nada importa.

(não deixa de ser curioso que este texto começou a ser escrito nos últimos dias do ano de 2009. Nunca foi totalmente acabado. Desse pedaço inacabado foram retirados 'excessos' e consegui agora, finalmente, acrescentar outras partes. Não o sinto acabado, no seu todo; mas nem tudo pode ser substituído, e algo verdadeiramente completo é complicado de alcançar. Resta-me ficar 'grato' por ter tido aqui a oportunidade de corrigir e de melhorar algo, passado tanto tempo, quando nesta vida quase tudo passa sem essa mesma oportunidade...e às vezes em espaços de tempo mais curtos, ou pior ainda.)

1 comentário:

Sofia disse...

Não o sentes acabado porque este texto faz-se da vida - da que já foi e da que ainda aí vem. Não é um texto escrito, é um texto que se vai escrevendo. Ao compasso da vida.
E sei o que é isso. Conheço a sensação. O espelho do lado de lá, e, do lado de cá, o reflexo do que somos para os outros. Não te sentes perdido dentro de ti? Não é difícil encontrares-te? Não há muito tempo senti isso na pele com demasiada força...
*