sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Apologia de uma explosão hereditária

Condenados estamos a gatinhar até aprendermos a andar.
E foi mais uma experiência da minha vida
descobrir que por vezes também eu sou capaz
de perceber onde devo parar
para meu bem.
E apesar de toda uma calma serena
que corre por esses prados
onde uma luz matinal corta o verde e o amarelo
que ainda estão frescos da noite
a realidade é bem diferente...
E o belo com que pinto a realidade
consome-se. E vai-se deixando consumir.
Quando dou por mim todos esses prados
toda essa brandura
fica extinta...
E sobra uma procura
sobra uma nostalgia
que apenas é mal preenchida pela vida que devo levar...
Na procura de outras coisas, de outras pessoas...
Na procura desses instantes quase perfeitos
que formam um momento, um momento que queríamos guardar
para muito sempre; para repetir.
Queria explodir, invadir lares e ruas,
chegar aos bosques e florestas
chegar aos desertos
e a cada ilha habitada;
E eu queria, como sempre quis, muito pouco.
Terá Deus algum prazer neste afastar da minha alma
deste mundo?
Terei eu alguma culpa em tudo isto?
Terei eu errado ou deixado errar?
Queria explodir, e aos poucos, sem mais ninguém
se aperceber vou explodindo de facto,
deixando um rasto de pequenos pedaços de loucura
de amor inacabado e de um ódio aperfeiçoado.
Alguns choram a minha explosão...Sabem que a culpa
foi de todos, que ninguém é inocente, que ninguém é perfeito.
Outros seguem a sua vida. Todos somos iguais não é verdade?

O destino cortou-me os braços e as pernas
mas deixou-me uma ferida aberta na cara que nunca sara;
e uma mão, uma mão direita que escreve
e continua a escrever;
e que em uma linha alegre ou mais impressionista
tenta cavar além fronteiras, além possíveis,
onde nunca mais ninguém cavou, até onde mais ninguém cavou.
Talvez seja essa uma função minha
tentar-me sentir o primeiro, o único, o que ousou,
o que conseguiu. Mas todos nós sentimos isso,
mesmo sem querer;
pois faz parte de nós.
Nega-lo é negar a nossa humanidade.

É tudo culpa do primata que quis tentar andar;
é tudo culpa do primata que conseguiu andar,
é tudo culpa da evolução.

Levanto longe este peito de ventania,
onde as asas são leves, quentes, numa beleza
em harmonia; onde o som que corre atrás de nós
é de um rio, de um banco, de uma árvore;
Tudo como se fosse único,
concretamente importante e especial.

Mas o vento levou-te
e não trará mais ninguém;
não por agora, não por aqui,
E todos os dias, nesses momentos em que preciso
de respirar e afastar-me da minha rotina,
desejo que esse vento te traga
ou que volte sozinho
e me leve até ti...
Belos são os pensamentos
dolorosos são os sonhos impossíveis de concretizar:
por tudo, para tudo,

que nos deixam aqui
nesta explosão fria, destruidora,
ruidosa
no centro do nada...