sábado, 18 de outubro de 2014

Cala o desespero refeito

Quando pegamos nesses sonhos perdidos,
Porque do passado ficam as cicatrizes,
E nelas o presente construímos,
para que no futuro venham dias mais felizes...
Mas não basta procurar:

Nestas auroras mais negras, sem regras de bom senso,
Onde reina o atrito agradável do medíocre,
O obstáculo fácil e fútil,
Sem que para o melhor bem comum se lute;
Filhos precoces duma evolução assente em dois pés,
Construída por mãos ancestrais,
Não estou sozinho - mas estou a mais,
Por entre esforços vãos, entre gestos somente de essência
gananciosa, sorrisos falsos numa postura graciosa;
Dentro dessa raiva que domina, faminta,
Cega a essa luz extinta,
Esta dormência contamina
tal doença maligna.

Não basta procurar.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Raiva dormente

Como que crianças a brincar com fósforos,
Aventuram-se nessa queimadura imensa
nessa chama intensa de tentarem ser deuses,
Adamastores, históricos colossos,
Julgam-se aplaudidos, venerados,
Nesses actos dramáticos, de máscara ao rosto
como os antepassados nossos...

Pintores e escritores, e das artes da moldagem manual,
Matemáticos, pensadores, filósofos,
E amantes do próximo,
Escondidos, presos, servos de uma rotina habitual,
Criada por outrém, apodrecem nesse fosso
quase sem fim, onde d'outros repousam apenas ideias mortas
e os ossos.

Sigam por entre as estrelas,
Neste calado grito de raiva dormente
As histórias belas
não chegam a ser vividas.

Desvalorização do que realmente importa,
da simplicidade à qual fecham constantemente a porta,
Desde a queda desses meteoritos d'ilusão
Aos trezentos e sessenta graus da calamidade
presentes nos gestos diários desta dita humanidade.


Uma vez mais, obrigado pela música que serviu de fundo. 

domingo, 10 de agosto de 2014

Radioativo

Tal pacientes sem paciência,
Deixei-me a divagar, nesse estado de latência,
Tal dormência, devagar arranca a carne dos ossos,
E aos poucos tudo fica contaminado
E das profundezas nasce a morte
retirando tudo o que era nosso.

Mas seria?

Acordo, envolto em pó e cinzas,
Desagradado com estas supostas novas eras,
Rainhas utópicas, quimeras,
Salvadoras desse passado errado.

Esta sonolência contamina os recantos d'alma,
Outrora criadora, demolidora,
Aguçada tal lança que crava o alimento que fugia,
Tal ventania que destruía barcos e cidades,
Solidão desoladora,
Paz e calma exagerada acalmam e matam
estas raízes cortadas, sem as deixarem renascer.

Onde está a habilidade genuína,
essas gramas de sabedoria, de alquimia,
Tudo agora ruína, desfeito, sem vislumbres
de esperança, tal criança enterrada em escombros
de uma catástrofe natural...
Neste vosso mundo perfeito,
são meras preocupações vãs que vos preenchem,
Inutilidades, futilidades, que se penduram nos ombros...
Prefiro sentir a falta,
- Que o ar me escapa, por entre soluços debaixo d'água,
morrer a tentar, desistir somente quando já não controlo
cada veia que alimenta cada membro do corpo,
Neste silêncio absoluto, sou uma peste que se alastra,
a doença prolongada que vos puxa e arrasta,
Esse vírus invísivel ao olhar humano...
Tenho o poder de não ser visto,
e de não ser ninguém.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Distrações

Sábias palavras afogadas em lágrimas forçadas,
Almas escravas mal tratadas até ao limite sádico,
O expoente máximo é recalcado e ultrapassado
Pelas fraquezas que farão parte da História.
Perseguem com a mente, e com os olhos de visão aguçada,
Presas saltam por entre os prédios e os verdes curtos
que pintam as terras da minha realidade;
Falso sabor a verdade, falsa inocência enterrada
em tenra idade...Aflitos dançam aos gritos
desesperando por uma psicologia mais pragmática.

Das letras aos números, da língua à matemática,
é tudo uma questão de prática, de sentido num esforço maior,
tal suor que não se liberta, que sufoca na ingratão
que se faz sobressair  nos outros,
Medicação, espirituais retiros,
Sorrio - equivalência entre todos somente na comum demência.
Destruição compulsiva, acção destrutiva massiva,
faltam-me palavras para descrever toda esta bondade genuína.

Finalmente.
Convivem com monstros diáriamente,
mas por vezes é necessário um monstro para conseguir ver outros.
Loucos roucos, entregues a uma vida que se esvai aos poucos
São as distrações mundanas, essas águas calmas onde
podemos repousar; caçar alimento para a mente,
retoma de energia para os músculos, que nos permitem acreditar.

Tudo o resto, mesmo que não seja pó,
Fumos e cinzas, não passa de um conjunto de rimas,
Desvalorizando a essência, o interessante,
O que realmente importa...
Linhas menos rectas ou mais tortas,
podem formar um círculo perfeito..

quarta-feira, 4 de junho de 2014

monstruosa fome honesta

...insaciado,
a pancada da mão na parede áspera
deixa a ilusão num estado de espera
Réstias de pele deixam-se ficar na mármore,
E pequenas gotas de água escorrem por entre os dedos.
Miserável injustiça, o ser humano diz-se em constante evolução,
Mas a gargalhada fria e castiça é a minha resposta a essa errada afirmação;
Essa honesta falsidade destroí-me as mais profundas entranhas,

Por entre ruas, das mais puras às mais imundas,
Tudo o que consigo respirar são cheiros de características estranhas.
Interrogações, por entre aspas e pontos finais; a exclamação é o pão
diário que alimenta as mentes banais...
Sempre preferi reticências, silenciosas entre gritos de euforia e tristeza,
abalando as caves escondidas desta terra.

Este terceiro olho não dorme,
Incansável, indestrutível, inabalável,
Horrível é a voz que desarma os que mais têm fome,
Sacode-s'alma por entre pesos e sacríficios,
atritos infindáveis em espirais que fingem sofrer mutações,
São as mais belas tristezas gravadas em canções.

Feras obrigadas a viver entre grades,
Criaturas embora mais mortas, soltas por essas pedras da calçada,
Que vivem apenas para não estarem mortas...
A gargalhada morre por entre olhares vazios de quem se julga acima, de quem
só pensa bem julgar,
E a fome não termina,
E os monstros ficam por se saciar.




terça-feira, 13 de maio de 2014

E Se deus Não Quiser?


Os olhos por mim foram vendados,
A boca por mim foi silenciada,
Os grelhões que prendem as mãos, os braços
os pés e as pernas por mim foram atados;
Ultrapassei os limites dos rios, lagos e mares,
Para que o ar aos pulmões fosse retirado..

..mesmo que tudo não passe de um breve momento.

As pupilas dilatam, o coração oscila entre o Verão e o Inverno,
Esmaga-se o pensamento em teorias incompetentes e escuras,
Realidades mais duras e pesadas são finalmente e friamente
apunhaladas na alma; e essa dor dorida que se aclamava ao longe,
distante como a morte aos olhos de uma criança,
Cai em nós estrondosamente.

Porque a culpa é minha, não é de mais ninguém,
e só eu poderei lutar, até que as unhas se transformem
em garras, até que os braços abram asas e a pele se torne
tão resistente que nada a pode trespassar;
De visão aguçada, tal águia,
a inteligência dos mais inteligentes junta e abraçada,
Tal leão ou urso na eficácia do músculo...
Mandíbulas mais rápidas e letais que as de um crocodilo,
Audição igualada à apurada de um predador.
Ego maior, tal adamastor, tal baleia, que saboreia o medo que espalha
tão rapidamente por entre os seus inferiores.

a mão direita do diabo poderá ser a mão esquerda de Deus,
Mas o caminho que cada um abraça
só por si próprio poderá ser largado.

sábado, 22 de março de 2014

o Coveiro das Testemunhas

Como tantas outras histórias mal contadas,
Umas sem início, outras sem os meios
e o fins pelo qual pessoas esperavam,
desesperadas, de fome ao peito,
De saliva seca, com mãos apoiadas na esperança
que morre em suspiros longos...

..Porque eu não sou português,
Eu sou Portugal, reunificado pelo Passado,
Pelas conquistas dos Mares E Oceanos,
Quando na apoteose me elevei além dos outros humanos,
Quando, com inteligência e conhecimento,
Passei o cabo d'além dor do desconhecido,
E inventei, construí, por todo esse mundo fora,
Das Américas, em espiral movendo-me mais longe,
Às Ásias, da pólvora às especiarias,
Da arte escrita, desse desassossego imortal 
dos amantes que querem amar mais,
Do Auto Da Barca, por entre Mensagens, 
Portugal é sofrer no fado genuíno que mais ninguém
consegue sentir.
Dos pastos e montes até à secura calma amarela e seca do Sul,
Dos vinhos, dos sabores saboreados, apurados pela experiência
Pel'alma rústica, mãos cansadas do trabalho, raízes de uma educação
baseada no respeito e na aprendizagem...
Mas como sempre, tanto fica por contar,
Contar por verdadeiro...

..Do Convento de Mafra, colossal obra física acima da terra,
E gravada para sempre num Memorial escrito,
para sempre na História.
Do Ramalhete a Sintra e os seus palácios, serras de terrores
e outras lendas; Coimbra e Braga e toda e cada cidade, vila, aldeia,
Onde a beleza descansa...
Do Porto e de Lisboa, onde cada pedra da calçada
Acrescenta um ponto e uma vírgula à essência de cada rua.

Mas como sempre, tantos ficam por se contar,
Tantos, mais dos que apenas uns poucos..
Eu não sou português.
Eu, sou Portugal.

domingo, 2 de março de 2014

teoria Iluminada da Ilusão

Alegre ironia que pinta as realidades
amolgadas da verdade;
enquanto a tristeza soberana
Afoga em lava de lágrimas
os que já queimaram a chama...
Sombrio é o rio que sobe por este 
corpo acima, escuro e frio,
silencioso mas sem calmaria,
relembrando aos deuses
o vazio da sua existência.

É o conhecimento, é a experiência,
sobrepostos por camadas,
Unindo-se como que água e pedra e solo,
e restos mortais dos corpos lá sepultados...
Dizem-se vida, e morte,
Como se o resultado final não dependesse
D'outros, ou da sorte,
Isolados estão da verdade,
Como quem diz estar mais perto
porque não está mais longe.

Ás vezes só o sangue interessa,
Tudo o resto é solo árido, é carne seca,
É cereal morto, tentando vingar numa paz destruída.
Tudo o que está acordado um dia acabará por adormecer,
E é com tristeza que reflicto sobre esse facto,
Enquanto amizades acabam, mais pobres nascem,
E toda a luz que desce até nós pode não chegar certa
Pois a chuva da terra não brota.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

versofado


Sons sombrios aquecem esses
sapatos frios que caminham por entre os prédios.
Mas a música que exalta a alma
e retira a calma ao coração
vem de dentro, nessa rua tudo o que se pode ouvir é
o tilintar dos pés contra a calçada,
do sofrimento humano que nos rodeia, mas a sós,
como que uma voz só ecoando pelas trevas
de uma gruta...
Este mundo é tão puro que até custa a engolir,
Sacode-se a parede da garganta,
é impossível conter este ódio outrora abandonado,
Engasga-se o receio na verdade de nunca se ter enganado;
Tal fado, tal tristeza alegre triste que nos cobre
como que uma manta, cinzenta, negra, vazia.
A esses que tanto mal fazem aos outros da sua natureza
(e de outras naturezas ditas inferiores)
Não vos posso desejar o mesmo mal ou até a morte, não...Posso
apenas desejar tudo o que de pior possa ainda existir,
Que vos falta sentir, para que sintam o sofrimento alheio,
esforço das vossas mãos e fraqueza humana,
não viverá impune.

O silêncio acorda-me, como o barulho continua a acordar,
Silenciado, quase adormecido,
este monstro sossega nesta fado tão vivido,
Enraizado, e sentido...
E tal familiar à muito fugido, volto,
para tentar conter ou ilustrar aos cegos as cores da destruição.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Consequências ingratas

Esqueci-me de como continuar a respirar,
Linha por linha, verso por verso;
Nada mais alimenta o suficiente
para que os fragmentos de ideias,
teorias e rimas se tornem em algo mais.

Como que vivendo entre Homens,
partilho da mesma demência
clandestina de todos os outros,
Sem explicação, sem curas da Ciência.
A semelhança imensa cansa,
Quando as barreiras se aproximam
trazendo uma solidão inata,
Sem imaginação, sem inspiração,
Restando para a maioria
a ingrata claustrofobia
da amarga maresia
da espera pela morte...

Não há destreza na certeza 
do limar das arestas; 
Num correr sem pressa, 
Numa gargalhada irónica
de quem se ri de todos - menos de si próprio,
Temo que a consciência se torne tão pobre
quanto o mundo que recuso voltar respirar.