sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Cold Silence

A raiva voltou. A revolta também. Agora, só falta o ódio. Onde é que queres chegar com isto? Até onde é que a tua tirania te vai levar, até onde vais levar a tua obsessão? Estás tão cego que já pensas que a verdade é o que tu inventas. Não ouves ninguém; estão todos errados. Para quê perder tempo com pessoas imperfeitas, se tu estás sempre certo? Fazes-me rir. Estás tão focado na tua própria sombra que já nem ouves os teus passos. Já nem consegues ver as consequências dos teus actos. Estás tão focado no teu reflexo, afogado num mar de vaidade e egocentrismo, que nem te apercebes que a a imagem que vês reflectida se vai degradando rapidamente. Será que o mundo é teu e eu não me apercebi? Estarei assim tão errada, tão fora da realidade que não consigo ver? É que usas a tua coroa tão alta e tão confiante que fico espantada. Tu ainda me surpreendes! É incrível. Pensei que não me podias magoar de maneira nenhuma, pensei que nunca mais me podias causar estas lágrimas de sangue, mas enganei-me. Já não as sinto a cair... Não. Já estou mais do que dormente perante a tua arrogância. Perante a maneira como olhas para todos de cima, no teu trono de hipocrisia e presunção. A raiva voltou. A revolta também. Agora, só falta o ódio. Mas apesar de toda a raiva, de toda a revolta, Não deixo de ser quem sou. Foi um caminho que trilhei, que fui construindo, E construí-me. E agora espero o ódio. Esse ódio que se apodera de mim e me dá alma, me dá vida, que me ilumina de forma estranha para ver com os meus próprios olhos cor-de-raiva que nem tudo é o que parece, que neste mundo morre muita prece em vão, que o nosso esforço nem sempre acontece. Mas mesmo esperando por esse ódio que vem sozinho ou por nós puxado sei que prefiro viver apenas um dia defendendo a luz, o bem, a verdade, que uma vida eterna na escuridão, espalhando o mal, criando e alimentando a mentira. E falo, e canto e grito, e escrevo, e mostro-me!, não me entreguem silêncios, não me entreguem ao silêncio, não me entreguem o silêncio, Quero mais, mais de tudo um pouco para não ser frio, ser-me indiferente, Quero ódio na medida certa, na medida a mais se for para ser mais atento, mais forte, mais espiral. Não nasci revoltada com a vida, nasci com o coração aberto a todos, e a alma faminta, E se consigo gritar então grito mais um pouco, E grito com a mesma força que uma criança a nascer. Não mato esta solidão acompanhada porque o ódio ainda tem muito para me modificar. E quero aprender. Quero ensinar. E quero amar com a mesma força que já odeio. Porque o ódio é sempre fácil. Ele cresce numa pequena semente e a partir daí, ninguém a pode parar. Cresce, vai crescendo e quando dou por mim, odeio tudo o que me acontece, tudo o que me está a acontecer. Não é a verdade que me revolta. Não. Nem tampouco é a ideia que a verdade trouxe. É somente a mudança negativa que veio para ficar, é a ideia de que tudo podia ser melhor se um dia o Homem o tivesse querido.
É este silêncio que me gela as veias, que chega à minha cabeça e ao meu coração, parando-os num só bater. Tornando-me cega a algo que já nem eu consigo ver. Este silêncio funcionou como um despertar de sentimentos, de coisas escondidas, de algo que está seguro por apenas ruínas do que já foi belo. Foi esse silêncio acumulado que destruiu todos os caminhos que levavam à compaixão, todos os caminhos que levavam a algum lado. E agora? Agora... Agora já não resta nada para além de pedaços de madeira queimados. Eu própria ateei o fogo e vi-os arderem, no reflexo dos teus olhos. Os mesmos olhos que se não estivessem tão ocupados com o seu reflexo, veriam o que estava a acontecer mesmo à sua frente. Tudo o que alguma vez existiu, já foi queimado. Só restam cinzas. Cinzas de nós, cinzas de infâncias esmorecidas, cinzas de amor de ódio que violentamente abrem as feridas do meu coração e que ardem como sal. Passou tudo por ti. Não te apercebeste? Esteve sempre à tua frente, de todas as vezes em que chorei até adormecer, de todas as vezes em que a tua injustiça me deixou sem ar, de todas as vezes em que te recusaste a ouvir através dessa barreira que te impede de dar razão a alguém que não sejas tu. E para que me importam agora as tuas lágrimas? Onde estavas tu para limpar as minhas quando precisei? Estavas ocupado a construir e a aperfeiçoar o teu ser. Estavas tão centrado em ser eterno que não reparaste que as paredes começaram a ruir, até ficarem amontoadas no chão, à minha frente.
Para que me importa agora que fiques triste ao reparar que eu não vou olhar para trás, nunca mais? Deixa-me simplesmente morrer aqui, derreter ao sol, ao lado das chamas que eu criei para te apagar. Ao lado das memórias que tinham de ser soltas, para viajarem pelo vento.
Deixa-me aqui, na escuridão, onde ninguém possa ver as lágrimas de sangue que de tanto correrem, ficaram marcadas no silêncio dos meus olhos.
A minha sobrevivência está nas mãos do meu eu criador, do meu eu sofredor, está dentro da minha alma a capacidade de me mover acima do materialismo, do cinismo, da vossa capacidade arrogante de se considerarem superiores. Não conquistei um trono, nem conquistarei. Quero encontrar a verdade e nela me apoiar, quero viver um caminho por mim guiado, e guiar todo aquele que vê nos meus passos sensatez, e vontade de fazer deste mundo melhor.
As minhas lágrimas secarão...Deixarão marca. Mas acabarão por desaparecer sobre a pele, e eu, consciente da minha razão, daquilo em que acredito, triunfarei na minha verdade, na Verdade que quero atingir. Não preciso que me coloquem véus negros à volta dos meus olhos, nem que construam paredes que me frustrem os movimentos...Não somos uma ilha, mas não queremos ninguém que nos fira com falsas luzes, falsas crenças, e não toleramos hipocrisia. Somos humildes de alma, capazes de sentir e viver como filósofos que viveram apenas da vida...E não toleramos cegos aperfeiçoados. Não toleramos a mentira. Não toleramos que sejam o vosso pior eu. O que queremos está dentro da espiral que ruge nos nossos corações...Não tememos ser monstros...Tememos sim, monstros que se julgam melhores que todos os outros, e que esses sim!, são capazes das piores catástrofes. A todos vocês, que brilham de contentamento nesse vosso silêncio frio, a mensagem que deixamos é só uma:
Façam o esforço de aprender connosco, porque nós já muito aprendemos convosco.

(Terceiro texto elaborado por Diogo GTH e Joana GTH. É um prazer escrever contigo, e mais uma vez estiveste ao teu melhor nível. Obrigado.)