sábado, 19 de setembro de 2009

A Primavera da minha vida


"I regret the times I didn't spend
Watching the flowers grow..." (Silence 4)

O que faz alguém perseguir a pessoa que ama?
A loucura, o amor, a vontade...

Cheguei a este estado de alma,
Onde receio não existir retorno.
Primavera da minha vida.
Sentado neste campo verde, encostado a uma árvore,
Recordo-me do teu sorriso, e gosto de vê-lo dentro de mim,
Antes que desapareça, devido ao tempo que passa,
Tornando-se num sorriso como outro qualquer,
Numa face de qualquer pessoa comum,
Num rosto sem expressão...
Atrás de mim tocam um piano, muito ao de leve,
Acompanhado de uma aragem de vento muito suave,
Sabe bem estar aqui.
Desejava-te aqui.
Tenho a tua voz trancada e presa por amarras
na minha memória, tão viva.
Vou por passos pequenos para chegar mais devagar.
O tempo que passo a desejar é tempo que perco
a fazer de facto. Misericórdia.
O piano toca agora um pouco mais depressa,
Vai criando em mim uma vontade de escrever
um poema ou uma música. Pode ser sobre ti.

E peço ao piano que não pare de tocar nunca,
Que seja sempre Primavera, a união perfeita entre frio
e calor, entre aquilo que amo e daquilo que mais fujo...
Sentimentos partidos recordam-me que ainda não estás aqui.
De repente o frio entra nos meus olhos,
E seguro pela rédeas o meu coração acesso.
Muito ao longe ouço partir uma peça de porcelena...
Alguns dos seus pedaços acabam por chegar aos meus pés,
Uma peça destruída, dividida, sem retorno.
E tu não estás aqui.
É como se fosses essa peça ao longe,
De ti só tenho pequenos pedaços que caíram por sorte
aos meus pés.

E o piano toca uma melodia alegre,
E eu agradeço.
A minha alma está azul, com alguns tons de cinzento,
Mas o piano tenta puxar-me para a força, para a luta,
Para uma ignorância, um esquecimento completo da tua pessoa.
Piano, doce música a tua: Primavera da minha vida.

Quando me levanto, depois de sacudir-te para fora do meu corpo,
Da minha memória, do meu desejo,
Olho para o piano,
Aceno com agradecimento...
E fico comovido, triste e delicado,
Pois és tu que estás a toca-lo.