quinta-feira, 29 de abril de 2010

Afinal quem são os doudos?


Há muito tempo que não comprava um livro para mim próprio. Já andava a namorar este há algumas semanas...Gostei da capa e li o seu resumo. Resumidamente é uma psicóloga que faz a sua observação de "malucos"\"doidos" da História portuguesa. Entre eles: Marquês de Pombal, D.Afonso IV, Antero de Quental, Fernando Pessoa. Achei desde logo interessante. E este livro está-se a revelar uma caixinha de surpresas. O único grande contra, é para alguém que é hipocondríaco (mesmo que de forma muito suave) este livro pode ser uma faca de dois gumes. Mas tirando isso, tudo muito bem. Este livro ajuda-nos a perceber realmente a loucura humana, e o sentido que esta também ajudou a grandes feitos portugueses. Em todas as personagens encontramos algo que nos faz suspirar, retrair, entristecer. Mas também: sorrir, pensar. Uma das primeiras frases marcou-me desde logo: quem neste mundo é o verdadeiro louco? O que se comporta como tal ou o que o classifica? Pois a realidade, e sejamos honestos, é que hoje em dia, mais do que no passado, dadas várias variantes, como os estudos médicos relacionados com a nossa mente, (muito deles apoiados em grandes filósofos), remetem à "dura" certeza que quase todos nós sofremos algum tipo de distúrbio mental. Está provado, que um em cada quatro portugueses sofre de um. Para os menos habituados a esta certeza devem estar preocupados, talvez aterrorizados, mas não fiquem. Estamos a falar por vezes de coisas muito pequenas, ou não, com tratamento ou até cura. Não é de todo o fim do mundo, pelo contrário. A minha mãe trabalha numa clínica psiquiátrica, e muitas são as histórias que absorvemos de casos de uma loucura enclausurada.
E remetendo para outra morada, quem não é louco de todo? Os infelizes. Por ser-se louco, noutros contextos, é arriscar, ousar, sentir. Como diz um poeta brasileiro: o amor é para se sentir e não para se compreender.
E acreditem, a loucura tem muitos níveis de facto. Podemos pensar também, que cada um vive a loucura à sua maneira.
É este um livro interessante e que aconselho, pelas razões descritas atrás e ainda porque: a escritora tem um à vontade contagiante na maneira com escreve e conta, tem uma carga histórica (tudo baseado em depoimentos, escritos, etc. , nada é inventado) repleto de acontecimentos já por nós conhecidos mas aprofundando assim como outros que desconhecíamos.
Quem é de facto o doudo? Possivelmente somos todos um pouco. Seja qual o nível, seja qual o "motivo".
Por mim vivo uma certa loucura. Mas e então?
"Quando dermos por nós temos, se formos a fazer tudo certo, dentro do manicómio estarão todas as pessoas...".

Eu sou doudo,
Tu és doudo e douda,
Nós somos doudos.