sexta-feira, 15 de julho de 2011

Na grande busca do pouco

[Tenho andado inclinado a despedir-me das letras por um longo tempo. Sei que preciso delas, quase todos os dias, mas sinto que me repito, constantemente, não consigo dar lugar a algo novo...digo o mesmo, mesmo no esforço de usar outras palavras, outras expressões; dito de outra forma: (citando Scarlett Johansson em Lost in translation) 'i'm stuck', estou rotineiro. Sinto exactamente aquilo que digo, e se ainda escrevo, é porque "tem de ser". Queria uma rutura enorme, em grande escala temporal...E queria sair numa grande despedida, num texto completo e final, para não deixar pedras por serem derrubadas. Ontem, à janela, ao fim de tarde, uma fúria vinda não se sabe de onde abateu-se sobre mim, e lembrei-me daquilo que sou e do lugar a que pertenço, e senti-me quase bem, porque já estou habituado a ser isto, a estar aqui. Como fugir da nossa verdadeira casa? Da nossa verdadeira companhia? Sei que, se isto não for a paragem que tanto desejo (e que tarda em se afirmar) voltarei às letras menos claras, às mais escuras, de onde nunca consegui sair totalmente...
Assumo total responsabilidade de utilizar neste texto frases inspiradas nesse mundo paralelo que é o dos Madredeus...há três dias encontrei toda a discografia e tenho a certeza que foi a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Para mim, e vão-me perdoar os portugueses, existe alguém muito acima d'Amália. É uma voz que não é terrestre, uma melodia que vem de longe...de lugares que pensamos não conhecer, mas que estão bem próximos. E as letras...somos nós. Deixo aqui algumas sugestões de músicas para quem queira sentir outro sentimento. De certo não se vão arrepender.

(As cores do sol; O pastor; O labirinto parado; Vem(além de toda a solidão); Haja o que houver; A praia do mar; O tejo; A tempestade; Os dias são à noite; O fim da estrada; O olhar; entre outras...)]

Só tenho uma pergunta para fazer...
Queria que toda esta certeza fosse em vão,
e que toda esta razão estivesse errada, para que
pudesse aguardar um pouco mais
pela claridade humana.
E estes dias vão passando, vão-se arrastando,
deixando no ar esse pesado ar de dia de Verão,
onde mesmo o vento não consegue empurrar
um ar mais fresco para os pulmões;
Sei que se acordassemos
com quem mais queremos a nosso lado
tudo isto teria mais significado...Seria abençoado
e louvado todo este fado...Um caminho feliz.

Ao cair da tarde...
Ao cair do dia...Ao chegar da noite...
Não sei se é luz, se é névoa que
cada pedaço de carne e alma invade,
Fingindo alterar...e num ardor
que depressa se torna dormente,
Avisto esse sonho que arde ao longe...
E eu estou acordado, atento,
de vígilia, mas não é por tentar que se aproxime
que ele vem...
Mas queria não acordar se sonhasse um pouco mais.

Tenho agora a certeza que nem tudo é culpa
do silêncio;
é tão ou mais forte a ausência daquilo que
queriamos ou queremos ouvir.

Tenho uma só pergunta para fazer...

Olhos fogem de olhos, medo,
vontade escondida, vontade fugida
mas apenas fingida...
Receio essa sensação de uma viagem
concretizada e em concretização
por outros relembrada como ilusão.
Marcada como ilusão a letras que fervem
na pele; sem fuga ao esquecimento.
Essa sensação de tanto amar.
Uma mesma visão mesmo em olhos tão diferentes,
tão distantes.

Deus complicou o mundo
ao simplificar o caminho para felicidade.
Até onde nos leva o silêncio?
E a ausência de quem mais nos completa?
E as palavras ocas?
(Por agora poesia...)
E depois de todos sentirmos
essa fúria
calma
que é a saudade
a pergunta que falta fazer é



porquê?