sexta-feira, 22 de maio de 2009

Fisionomia de algo sem corpo


Um dia viro-te as costas, como se não sobrasse mais nada.
Pedra sobre pedra, pó na luz, olhos que pairam no ar
Sem corpo, sem rosto, sem luz no olhar.
Deixei o meu antigo eu numa caixa sem lugar,
Vivida por alegres melodias tornadas agora obscuras,
Um sismo na minha alma, uma revolução quase iluminada.
Sou servo da poesia como sou da morte,
Rei no meu próprio reino, enquanto respiro
Agradeço à sorte, enquanto reinar agradeço aos céus.
Transpiro necessidade como transpiro sensação,
A vida é para mim uma ponte
Entre aquilo que quero e aquilo que não me dão.

Um dia viro-te as costas, como se não restasse mais nada!
E serei eu mesmo aquilo que sou! Forte fraqueza sem receio!
Corpo que arde debaixo de àgua! Uma vida humana!
Fusão de animal ou deus e sou criado!
Olhos cor-de-raiva faícas na vossa luz escura, palavras são
Palavras, cabe me a mim colocá-las no lugar certo!
Durmo enquanto estou acordado, para vos poder seguir
Com o meu olhar!
Confia em mim enquanto aqui estou, mais cedo ou mais tarde
Todos se cansam, todos se desiludem, todos morrem, agarra-me!
Agarra-me! Vives tu debaixo de que céu pesado?

Cansei-me...Estou à espera de ser criança.
De acordar sorrindo, convecencido que a minha vida
Será para sempre brincar...
Estou cansado...E o meu sonho acaba tarde...
A luz do teu sol nunca mais se aproxima,
E por isso mesmo a moleza por mim dentro invade.
Não quero que tudo isto acabe,
Quero que tudo isto simplesmente continue...
Às vezes peço tão pouco que recebo mais nada.
Fisionomia de algo sem corpo...