quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um pedaço da minha "dor"

Desta vez trago-vos um pedaço da minha "dor". Um espelho cem por cento credivel da minha alma. E apesar de compreender o sujeito poético, e apesar de por vezes, em alturas menos saudaveis para a alma também eu querer estar sozinho, a realidade é que só não me reflicto neste poema nessa pequena condição: querer e fazer por estar sozinho. Não sou assim, nem quero ser, há coisas que nunca mudam.
Desta vez fiz um favor a todos...ninguém me estará a comentar, quem comentar este texto pode dizer o que este poema lhe diz ou faz sentir. Não se escondam, eu sei que estão aí, como sempre.
Gozem desta revolta magnifica, do melhor poeta português(na minha opinião) de todos os tempos. Sintam-se e evoluam.
(se quiserem sentir a revolta por mim lida, terão acesso à minha leitura deste poema. Nunca nada me soube tão bem sentir e ler não sendo meu.)

Por Àlvaro de Campos (um dos Fernandos Pessoa):

LISBON REVISITED (1923)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul ­ o mesmo da minha infância ­,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!