quinta-feira, 21 de outubro de 2010

omem (percepção)

(Passaram muitos dias, semanas e meses. Coloquei suspensas duas ideias. Criei outras duas. Mas o tempo continua a passar. Continuo à procura do pedaço escrito que culmine no choro das almas, no sofrimento, na aprendizagem. Possivelmente, para não fugir muito ao meu fado, estou no caminho errado. Não seria a primeira vez. Nem será a última. As tentativas continuam a falhar, de forma grosseira. Admito, sou igual a todos os outros. Mas sobre isso escrevo mais tarde. Os meus pés estão amarrados ao chão. E tento escrever sempre mais e melhor. Nunca pensei entrar numa espiral destrutiva, uma espiral que não transpira esforço. O ser humano balança nas acções de perfeição: tão depressa lima uma aresta como causa defeito a outra. Não sei se é disto que precisamos.)

Sim, continua a faltar algo.
Poderia ser uma letra, ou alguém ou alguma coisa.
Talvez seja todas elas.
Nunca me ensinaram a fortalecer uma ligação,
por muito forte e inabalável que esta já fosse.
Teria de aprender sozinho talvez.
Os olhos secaram. Às vezes, mas só as vezes
ganham uma vontade desesperante de criar.
Antigamente nos teus olhos via
o medo a desaparecer; como se o Céu fosse nesta terra,
como se o Céu fosse a terra. Tudo parecia melhor,
tudo era melhor,
não importa para que olhos.
Talvez devesse ter chorado.

Rasga-se uma corda...esse rasgo reforçar-se
ou deixa-se lá ficar, morto, estragado,
esquecido.
Talvez nunca tenha sabido voltar a atar
com habilidade e eficácia.
É isso que me dizem agora.
O que tem de ser tem muita força.
Ou talvez não.
Passo os dias tentando criar,
tentando provar que estão todos enganados menos eu...
E que erro.
Que danos terei causado tão graves?

Como se fosse fácil
separar a voz venenosa
da voz que ilumina verdadeiramente...
E apesar de já ninguém me conhecer dessa forma
estaria, num patamar bem diferente, só para ti.
Como sempre estive.

A vida não me quer matar já. Mas já faltou mais.
Eu vou morrer; vamos todos, mas eu vou morrer.
Medo?
Medo do que sinto em falta em mim.

O tempo sempre escassa.
A carne é fraca.
A morte é certa.
A falta é alterada.

Talvez tenha faltado muito mais por sentir
e conhecer;
apesar da sensação do total.
E todos os dias,
sem medo de o desejar,
sem medo do que possa ficar igual
anseio
pelo momento
em que te ouço.
Com naturalidade da rotina,
com saudade do passado.
Com aquilo que somos.

E dizes-me outra vez, como se eu tivesse ouvido mal
à primeira:
agora só te falta
(e falta muito
e quero muito
e morro por não conseguir)
o H.