sábado, 28 de setembro de 2013

Enigmática máquina que respira quando morre

Respiração profunda,
Por entre carvão queimado
E as águas dos rios.
Entrego-vos as palavras,
Porque a necessidade monstruosa
Está silenciada. Nesta hora, nesse agora,
Saciar-me das trevas, dos assombros
Dos Homens e das suas Eras,
Da magnitude dos erros colossais
E das vontades cansadas ou mortas,
Não faz mais sentido. Morder, rasgar,
Desfazer, destruir, sangrar,
Libertar, guiar, fingir ser mais alto
E maior que os Homens,
- Tudo adormecido, ainda não esquecido,
Mas adormecido.

Dou-vos as palavras,
A amizade que nunca se afastou,
A amante que nunca deixou de amar,
A revolução que conquistou e que nunca
Deixou de evoluir,
A Fé aliada e unida à Ciência.

Palavra a palavra, passo a passo,
Nada é mais belo e nada é mais incerto
E nada é mais poderoso ou frágil
Ou sentido ou camuflado
Do que as palavras.
E se por hoje, vos dou as palavras,
Absorvam-nas, venerem-nas,
E sejam palavras por inteiro.
A monstruosidade descansa,
As palavras por agora são vossas,
Até que da inspiração se volte a sentir o perfume.

Dou-vos as palavras.