terça-feira, 24 de novembro de 2009

Primeira vez

Isto já não é sentimento, isto já não é pensamento.
É apenas sofrimento.
Rimo o que sinto, tudo isto é alimentação
do meu instinto.
Ainda não estou extinto. Não minto,
Não iludo, não tiro o chão a quem me sente e pisa,
A minha rima é negra mas purifica, é luz na guarida,
A magia por ela própria se concretiza...
A minha sabedoria é quase nula,
A única vontade que exerço na verdade é a gula,
Não desisto às portas do total, não me rendo,
Quero e vou querendo
Cada vez mais, enquanto respiro, vou correndo.
Força demolidora, irmã gémea da primeira vez,
Construo uma história só minha
Tento escrever e fazer aquilo que nunca ninguém fez.
Defendo a poesia, como se fosse rei ou rainha,
É a minha defesa, o meu melhor ataque,
A força que faz correr o sangue e que no meu coração bate,
A minha alma, nesta luta, neste combate.
Ignoro a arte e a beleza fútil, detesto véus,
Ignoro Vénus, Zeus, apenas abraço os meus
e tento não desapontar Deus...
Em cada acto, em cada demonstração, autenticidade,
Respeito, admiro e venero a minha cidade,
Lisboa, a terra mais bela, mais pura,
Em cada pedra da calçada, em cada rua,
Sinto-o como se fosse minha, como se eu fosse sua.
É um céu estrelado sem nuvens plantado
nesta realidade crua.
Sinto o sol, assim como sinto a lua,
Guerreiro que beija as feridas, sempre revoltado,
Até conseguir tudo o que quero não ficarei calado.
Não sou doença, tão pouco sou a cura,
Não sou deserto nem sou floresta,
Sou beijo na testa, sou alma modesta,
Estou vivo, sou crítico, contrariedade certa.
Como na primeira vez, caneta na mão
Rumo à revolução, destruidor da desilusão.
Continuo um ser vivo amante revelação.
O pior sabor vive no arrependimento
Tão certo como a tempestade
estar associada à cor cinzento.
Neste monte, só meu, onde sinto a realidade,
Onde penso para depois escrever
Onde sinto para depois viver,
Tenho de vos perguntar: Que mais querem para além da verdade?!