quinta-feira, 27 de outubro de 2011

um clarinete e um piano

não importa se apanhamos
apenas os restos de tranquilidade, nesse caos
mundano são minutos
como estes que nos fazem
ambicionar a imortalidade, nem que seja
a do momento.
um cigarro respirado, respirado
por toda a alma,
um café para valorizar o saboreado...
é como se o diálogo fosse moldado
por instinto, alguma quantidade de absinto,
com alguns irmãos, ou irmãos que não de sangue,
se for preciso com a solidão, não existe quase mais espaço,
a companhia da melodia...neste espaço
de uma utopia? (de outras formas também,
mas não hoje, não agora, talvez nunca mais?)
De alguma forma captar
o rosto de Deus, o olhar misterioso do Universo,
enquanto a perfeição se encaixa.
Passou.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

sustentável peso da perspectiva



O facto de vermos algo
de diferentes
perspectivas
mudará a
essência daquilo
que é visto?

domingo, 23 de outubro de 2011

a culpa dos inocentes

finalmente chove, o calor dá lugar ao
frio, o vento beija a pele até
ao sentir de um arrepio, por tanto
tempo foi esperada esta bênção,
esperada como uma salvação que não vinha...
e agora que veio...
a minha mente não está aqui,
onde a água mata a sede das pedras
desta calçada.
E a acção do bater do coração é forçada.
atados estão os gestos, morta está a vontade,
e nem este frio tardio
consegue alterar o que resta
de uma alma e de um corpo.
a culpa está apenas na inocência do gesto.
não há fé em nada considerado menor,
desvalorizado ao pormenor, na frustração
de quem já não se sente vivo
o suficiente para viver e não querer
o fim de tudo.
Não estou mais aqui; e enquanto a chuva desce
enterro-me cada vez mais na loucura
marcada a ferros quentes ou frios
na minha pele
de que nunca aqui estive.
a culpa não é de ninguém
e a inocência não é só minha.

sábado, 22 de outubro de 2011

o jogo dos 7 diabos

Quem encontra e quem espera ser encontrado,
quem finge correr ao seu limite
quem se deixa de propósito apanhar;

entramos nesse recreio no dia em que
somos concebidos, salto por salto
e as pernas vão crescendo, a alma tão pouco,
mas a queda é enorme.

Alguns chamam-lhe vida,
outros ausência de morte,
mas a sorte de todos é a mesma,
são sete diabos que saltam e rebolam alegres
por receber a mais semelhante das companhias.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

a descrição de um monólogo

dizem ser ténue a linha que separa;

Nem uma só palavra sobre a linha que une.

talvez não faça mais diferença.
Onde a vida começa
o seu único destino é acabar.
é cansativo não se conseguir
esquecer, é respirado esse sentimento
dia após dia,
seria mais fácil ver o céu chorar fogo,
ou o oceano secar desidratado.
o veneno que corrompe tudo o que é amado,
mesmo num lugar onde se esteja
de alguma forma trancado,
é o nome repetido, o sonho
vivo do qual não se quer acordar,

é tudo aquilo que faz toda a diferença,
(aquilo que se quer agarrar
que se quer ajudar a mudar)

Vida tão pouca. Aquilo que se quer,
a correr nas veias, impossível de mover
por estar debaixo da pele,
é
aquilo
que não se consegue controlar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

antes de tudo

observo aquele pequeno casulo,
a maioria sonha com a sua evolução
nessa metamorfose para algo mais belo
para algo mais perfeito, capaz de voar...
a maioria já sonha e sorri perante
essa borboleta que ainda nem sequer existe.

é bom sonhar.
todos os dias esperei, e espero, e que o Universo
permita que morra contra este destino meu
não o conseguindo aceitar.

são várias as espirais, que balançam e rodam
fingindo descansar nesse caos,
também eu finjo descansar nele, no seu centro
envolto por todas as espirais;
e um sonho não passa disso mesmo
o nosso erro é desejá-lo mais
do que sentir realmente a sua concretização;
e tudo se encontra finalmente, e no silêncio do nada,
antes de tudo,
é contemplado a catástrofe da colisão...
afinal sempre aqui estive, observando,
chocando com cada espiral
recuando e voltando a chocar, voltando a recuar.
Antes de tudo era tudo igual.
E todos os dias a metamorfose não se dá, não avança,
e existem coisas que nunca mudarão.
Outras já deviam ter mudado. Pobre criatura sonhadora.

domingo, 16 de outubro de 2011

ingrata insatisfação

insaciável na vontade,
amante extremo para com a lealdade
de conseguir sempre alcançar; agora
quase na derrota, quase no repúdio
de aceitar com satisfação
linhas marcadas no universo
Obra de origem divina, ou construída
a medo pelos Homens.

As sombras escolhem sempre bem o seu tempo,
o seu lugar, e a hora chega,
é abraçada como um filho perdido outrora
agora recuperado, e chora-se, chora-se
até que se acabem as lágrimas,
lágrimas de gratidão.
Até quando iriam esperar?
Até quando? Até quando para depois
voltarem para trás?

se me aguentasse desta forma
não seria um monstro,
cansado de me tentar envolver à força,
esperando o que não se deve esperar,
numa secura de uma espera por uma chuva
que já deixou os céus à algum tempo.
a sorte da dádiva da vida é aceite
quase com desprezo, triste mediocridade
presente em cada coração humano, e não só,
mas não existe culpa maior que esta,
pecando negando a bênção;

continuo a procurar algum antídoto,
que me livre deste trono nosso, desta coroa
de maldição,
mas este não existe.
E as paredes fecham-se, e a respiração abranda
para preservar o pouco oxigénio que ainda resta.
e a razão, na sua dureza de pedra,
absorve cada lição chicoteada...com o tempo
já evita o golpe, como se bastasse
a compreensão solitária;
o sentimento, como que se fizesse parte
da História primária é quase esquecido
por estes novos Tempos.

na dor de quem realmente sofre, entre doenças
que ninguém merece ou pediu, na maldição de quem nasce
desde logo de cabeça na guilhotina da vida,
entre a fome e a solidão
não há como negar a monstruosidade de cada
sentimento meu, e de tantos outros.
Até quando afinal?
Mas é a nossa culpa, é o nosso peso, é a nossa
essência, e na falta desse alimento, neste vazio oco
da alma. Nas ajudas grãos de areia,
na mão que se estende e na sabedoria marcada
está a única forma de preenchimento.
Mas não chega, e dificilmente chegará.
A calma e a melodia que ilumina
fugiram para um lugar tão longe de qualquer retorno,
encontro somente refúgio
no barulho mais brutal e não é o medo
que acovarda o coração,
é todo este silêncio que se segue e se estende
depois de cada explosão.
Consciente no entanto, que cada palavra dita,
mesmo sentida, é carregada da maior ingrata
insatisfação. Perdoai, ou aceitai, mas
Hoje é um dia perfeito para morrer,
como outro dia qualquer.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

sintoma

desgastado na espera, enquanto cada
sintoma se agrava, se propaga,
e de repente é como se uma doença
única fosse uma praga,
atacando de maneiras tão diferentes,
é tudo aquilo que não dá certo
é tudo aquilo que acaba em coisa errada,

não há dia que passe, que passe ausente,
uma porta tão próxima, aberta de repente
e está-se novamente onde se quer
como se o que é história fosse outra vez presente.
Não há dia que passe...
a doença para alguns é a possibilidade
de poderem chorar, e contar ao mundo o seu sofrimento,
receber a pena de quem podem, o abraço e o consolo
dos que restam,
outros ardem nela, como se de febre se tratasse...
conscientes em alguns minutos apenas
de tudo aquilo que estão perder por terem
perdido.

Os sintomas não acabam, todos os dias
é como se novos fossem inventados.
Subjectivos, com diferentes graus de força,
mas estão sempre lá de alguma forma.
Um dia
chamei-lhe
aquilo que vale a pena. O nome deve ser outro.
Podiam dar-vos o mundo, e tudo o resto que pensam desejar
em segundos lugares. Mas não vos chegaria, nunca,
tanta posse, tanto tamanho, tanta alma,
vos conseguiria preencher o vazio...Porque continuaria
a faltar o ideal conhecido.

Um homem só aprende com os seus erros
depois de morto.

(Não os voltando a repetir..)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ao ritmo do silêncio

o sustento de um grito
é igualmente poderoso
no silêncio.
de um lado da rua bate o sol quente,
quente demais para esta altura do ano,
do outro, descansa a sombra,
passos dados, pesados, mesmo sem peso,
ou pelo menos um peso útil.
os passos são quase dados em silêncio,
todo o barulho exterior é como se fosse
inexistente,
passo a passo, numa tristeza de onda,
que vai e volta, sempre de maneira diferente,
sabe-se apenas que vai...e que volta..
é sufocante o sofrimento de quem não precisa
dele, oscilando entre as dúvidas de um Homem
entre as dúvidas de um Deus, todas elas
quase inúteis, quase tristes. O medo, e uma
vergonha, uma máscara de um sorriso tão fraco,
contrastando com a elevação de uma luta,
- Mas tudo é engolido, e despejado,
saboreado ou cuspido, adormecido.
Olha o céu, olha a esperança,
olha a persistência da criança.
Olha depois novamente. Volta a olhar.

Está preso o destino na vontade morta,
quebrada, dispersada, para sempre talvez,
talvez para nunca,
está presa ao destino de uma vontade morta,
aguardando de forma suspensa, sufocando
como sufoca essa folha de Outono
que no Outono
ainda morre mesmo sem cair.