domingo, 16 de outubro de 2011

ingrata insatisfação

insaciável na vontade,
amante extremo para com a lealdade
de conseguir sempre alcançar; agora
quase na derrota, quase no repúdio
de aceitar com satisfação
linhas marcadas no universo
Obra de origem divina, ou construída
a medo pelos Homens.

As sombras escolhem sempre bem o seu tempo,
o seu lugar, e a hora chega,
é abraçada como um filho perdido outrora
agora recuperado, e chora-se, chora-se
até que se acabem as lágrimas,
lágrimas de gratidão.
Até quando iriam esperar?
Até quando? Até quando para depois
voltarem para trás?

se me aguentasse desta forma
não seria um monstro,
cansado de me tentar envolver à força,
esperando o que não se deve esperar,
numa secura de uma espera por uma chuva
que já deixou os céus à algum tempo.
a sorte da dádiva da vida é aceite
quase com desprezo, triste mediocridade
presente em cada coração humano, e não só,
mas não existe culpa maior que esta,
pecando negando a bênção;

continuo a procurar algum antídoto,
que me livre deste trono nosso, desta coroa
de maldição,
mas este não existe.
E as paredes fecham-se, e a respiração abranda
para preservar o pouco oxigénio que ainda resta.
e a razão, na sua dureza de pedra,
absorve cada lição chicoteada...com o tempo
já evita o golpe, como se bastasse
a compreensão solitária;
o sentimento, como que se fizesse parte
da História primária é quase esquecido
por estes novos Tempos.

na dor de quem realmente sofre, entre doenças
que ninguém merece ou pediu, na maldição de quem nasce
desde logo de cabeça na guilhotina da vida,
entre a fome e a solidão
não há como negar a monstruosidade de cada
sentimento meu, e de tantos outros.
Até quando afinal?
Mas é a nossa culpa, é o nosso peso, é a nossa
essência, e na falta desse alimento, neste vazio oco
da alma. Nas ajudas grãos de areia,
na mão que se estende e na sabedoria marcada
está a única forma de preenchimento.
Mas não chega, e dificilmente chegará.
A calma e a melodia que ilumina
fugiram para um lugar tão longe de qualquer retorno,
encontro somente refúgio
no barulho mais brutal e não é o medo
que acovarda o coração,
é todo este silêncio que se segue e se estende
depois de cada explosão.
Consciente no entanto, que cada palavra dita,
mesmo sentida, é carregada da maior ingrata
insatisfação. Perdoai, ou aceitai, mas
Hoje é um dia perfeito para morrer,
como outro dia qualquer.

Sem comentários: