Ficas-te preso ao tapete
Desde o esquecimento da
Empregada de Fernando Pessoa.
Sentes os pés de quem te pisa
E sentes revolta:
Ou pisam de propósito
Fingindo não te ver
Ou pisam porque não te vêem.
Das duas uma,
E das duas ficas sempre infeliz.
És vidro partido, pedaço de porcelana,
Pedaço de alma fragmentada, fragmento de ser.
Tentas esquecer em vão
A razão pela qual te esqueceram no chão.
E sonhas todos os dias
Que alguém repare em ti
E te coloque no lixo,
Lugar onde encontrarás
Mais pedaços esquecidos e partidos
Como tu.
Fechas os olhos e tentas ignorar
O facto de a empregada ter
Acabado de varrer todo o tapete
Deixando-te numa solidão limpa.