sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sem significado ou fim

Se Deus não joga ao dados
Com o universo
Não os vou jogar apenas com tom de provocação.
Carícias forçam um apogeu que tarda
Em chegar, na vontade minha
De reformular um sentimento,
Deveras sentido, deveras vazio,
Sentido e preenchido de vazio como
As minhas letras, certas, tão pouco concretas.
Quanto mais sonho menos me mantenho
Acordado e vagueio em promessas
De ilusão que acodem o espírito
E me embalam, numa dança de dormir quieto.

O abstracto sorri-me como que para
Provar que estou errado, para me fazer
Sentir que a dor infligida
É uma dor doce, quase suave,
E que a pele arrancada é a beleza,
A dor é certeza.

E se a verdade dói, sem por vezes magoar,
A verdade é então beleza.

Não fujo a Deus por Ele evitar
Jogar os dados,
Fujo-lhe por Ele jogá-los em segredo.

Quem solta a verdade no céu livre
Vê-la cair pesada em terra crua,
Uma lágrima silenciosa, uma criança
Que se rende à humildade de ser imperfeita
E ousa ultrapassar a repulsa humana
De ajudar outrem.

Lanço os dados em tom de provocação.

5/02/09