terça-feira, 2 de junho de 2009

Na pele de um ser humano

Despassarado. É assim que atravesso a estrada. Acabei de perder o autocarro, que parou numa paragem a cem metros do terminal dos barcos. Corro e corro, corre e faço da corrida a minha prioridade. A próxima paragem fica em pleno Terreiro do Paço. Afinal é assim que os seres humanos se sentem... Uma pressa doida por chegar e por evitar esperar. Hoje é daqueles dias...daqueles dias em que nada parece correr bem. Assim falando começo a parecer-me com um ser humano. E eu a pensar que os dias podiam ser todos diferentes e especiais. Mas corro, com muita sorte e dedicação nas pernas ainda intercepto o autocarro antes de chegar aos semáforos. Estou me a atrasar e de que maneira, e tu estás à minha espera.
Afinal a sorte sorriu-me, apanhei o autocarro! E cá dentro, olho lá para fora, para esta bela Lisboa, com uma vontade quase exagerada de nela marchar ao som da música. É pena não estares aqui, mas também estás à minha espera, e enquanto esperas sem que desesperas, pois queres estar comigo. E eu? Desespero pois quero estar contigo. E corro em pensamentos no momento de te abraçar e estar contigo, e sei que por muito que pense, imagine e sonhe, nada vai saber tão bem como chegar ao pé de ti e estar contigo.
Reclamo com o tempo por demorar tanto tempo a passar! Reclamo com os transportes que tardam em chegar a tempo, que demoram tanto tempo a chegar ao seu devido lugar! Hoje estou-me a sentir um ser humano: vivo rotineiro, sem apreciar a vida, sem aproveitar o momento, grito por gritar, prefiro estar triste do que sentir.
Quando estou contigo o tempo passa tão devagar, porque caminhamos sem pressa.
Sonho-te tão perto. Como se fosses fruto da minha imaginação. E sorrio pois és real, existes, e fazes parte de mim.
Espero que ainda me esperes, pois estou quase a chegar...Quase a chegar.
Troco de transporte, fumo um cigarro, iludido da sua necessidade. Espero mais cinco minutos e entro no último transporte que me leva até ti.
Chego, enfim, finalmente ao pé de ti, transbordando felicidade por cada poro do corpo, pedindo desde logo desculpa pelo atraso. Mas a ti não importa! A felicidade de estar comigo, de me ver finalmente, ultrapassa a irritação. Damos um longo beijo, como se fosse o primeiro ou o último.
Ficamos juntos toda a tarde, a falar do mais precioso ao mais fútil, gozando o silêncio como gozando tudo o que possa ser gozado.

Não compensa ser humano. O que parecia mau, depressa se tornou bom. O que parecia ser um mau dia, foi um dia bom, como todos os outros.