sábado, 5 de setembro de 2009

Voz

Tu "és aquela ferida no céu da boca, que sararia, senão estivessemos sempre a colocar lá a língua"...(FC)

Preciso de dormir um bocado...
Porque não te aproximas, o suficiente para sentir o teu cheiro,
A tua pele, a tua textura, porque não te aproximas?
O caminho é o mesmo em ambos os sentidos,
Mas o que me fizeram?
O que querem que eu faça?
Ouço a tua voz a perder proximidade, a deixar-se ir para longe,
Um longe que desconheço mas que ao mesmo tempo
agradeço por existir.
Vens e vais, vais e vens,
Numa roda tão viva,
Vais e vens, vens e vais...
Porque não te aproximas?
Mas o que foi que me foi feito?
Hipnotizado, desconhecido, forçado a ficar,
Que foi que me fizeste?
Eu,
Venho,
Muito devegar...
E vou,
Muito,
Mais depressa...
A tua voz larga-me a memória, larga-me o desejo,
Pareces tão preciosa agora,
A vida alucina-me nestes momentos de pura ironia,
Pareces tão preciosa, tão intocável,
E a tua voz...tão doce, como se a quissesse mais que tudo.
O que foi que me fizeste?
Terei de concentrar na ironia, não me fizeste nada.
Exactamente isso, nada.
E por isso a mesma voz que pensava querer
É a voz que me dá um imenso prazer quando a vejo
ir-se embora.
Eu,
Eu, assim muito devagar,
Vou saindo deste mundo,
Cansado de voar baixo, de sorrir com medo, de conseguir sem resultado,
Ao som da tua voz, que diz muitas coisas, das quais nenhuma delas
quero ouvir.