sexta-feira, 20 de abril de 2018

Eu sei o teu nome

Não sei ainda se estou preparado.
Por estes anos que passaram ultimamente
Fui confrontado, felizmente, a desmembrar
essa criatura, esse fado,
Que tão rapidamente volta, como se estivesse estado
sempre presente.
Um descuido, um pequeno pormenor de menos sorte,
Uma luta quase vã, quase inglória,
Pouca fé, ignorância consciente das pequenas vitórias,
Desistência...afinal de contas lutamos diáriamente
com monstros de muito maior porte.

Nunca a esperança foi tão valorizada,
Apanham-se todas as migalhas, todos
esses pedaços de qualquer coisa mais que seja.
No fim, se tudo correr bem, é formada uma pintura,
Um poema, uma canção ou uma música
que irradia alegria.

Eu sei o teu nome...
Desvalorizada por quem não te conhece,
Expulsa a muito suor, com a ajuda de quem nos ama.
Contigo tudo foge da lógica, tudo se afoga,
mesmo quando pareces ser um lago calmo e límpido
de pouca profundidade...
Custa sorrir, depois de cada gargalhada o sentimento
é de tristeza, quase de penitência.
Fraquejam os membros, cansados e desmotivados
como se estivessem cansados e desmotivados, todos
os membros fraquejam. Todos. Estar-se dorido
sem se ter feito nada para que doesse.
A pequena bola de neve cresce,
e mais cedo do que mais tarde
já não sabemos onde tudo começou...
Nem porquê.

Nunca morras a tentar,
Morre a conseguir.

domingo, 25 de setembro de 2016

vida pós morte da máquina que viveu sofrida

Nessa mistura de cores,
(a preto e branco esboçado)
O sorriso da máquina, cansado,
(esconde as mais poderosas dores);
A energia incansável, eterna,
Tal coração que durante um século bateu,
Tal fóssil esquecido perante a Era Moderna,
Suspirou por fim, esgotou, morreu,
(foi colocado de parte,
Pegado ao colo, empurrado para um rio,
Largo, comprido, frio,
Como se uma vida mecânica não fosse também divina arte...)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

mensagens

Na louca espera pela revolução,
Pelo sol quente que penetra essa sala escura e fria,
Pelo vento que afasta as poeiras, as cinzas
dessas fénixes que nunca se chegaram a erguer.
Nesses bateres de portas, de janelas,
Nesses pedidos por ajuda,
Por essa alma que grita a uma alma surda,
Essas pequenas velas não chegam para iluminar
esse escuro recanto que é a solidão do falhanço...

Entre cálculos matemáticos, líricos, pequenas lembranças
vividas, relembradas, elevadas ao expoente máximo
como se se tratassem de verdades cientificas;
O bem o mal, o pecado, o desagrado, o degredo,
Às vezes a mentira é o maior segredo.
Esse arrepio percorre o corpo inteiro,
acerta em cheio no coração, fere o cérebro,
Quase toda a tua vida foi um erro - errantes passos
dados...

Toda uma miséria, uma energia negativa, uma falsa realidade
moldada a ferros, horas a fio a mergulhar nesse rio
pouco nítido, a subir a descer, a agarrar algum oxigénio,
de força fraca, já sem razão para lutar, para ser melhor.

Essa mágoa, essa tragédia, que magoa,
que vos deixa agarrados ao chão, tal calçada esquecida e pisada
em Lisboa.
Durante essas trevas negras que nunca dão tréguas,
Ignorância e arrogância, a cegueira é contagiaosa.

Restas-te, algures no mundo, sem lugar,
sem música de fundo, sem cores,
implorando para que o coração exploda em chamas devorando o mundo através de lava ..

domingo, 8 de maio de 2016

Vazio umbilical

Essas auroras celestiais, brilhantes como
cristais, cegas de tanto brilhar,
Por entre a névoa elevam o sol,
Enchendo de luz o negro que por tanto
tempo pairou e perdurou nos recantos d'alma;
Esse remédio ao mistério do tédio que infiltrado
nas veias se iam remoendo, tal veneno sereno
matando em silêncio;
Sozinho, sem rumo ou caminho, nas três paredes
desse quarto redondo, sonhando com um poder único
de conseguir mudar um pouco mais do que nada,
Exigindo conseguir tocar um pouco mais nesses mundos
Parados, estanques, sem brisa; Desejando desfazer mitos
de quem geme timidamente sem saber, por ajuda,
Delírios de quem está ensopado em absinto;
Loucuras de um louco tão sóbrio, tão só no desassossego,
Enquanto vai coçando as cicatrizes, fumando do seu tabaco
as suas raízes, triplicando a sua atenção absorto nas crises
de um cordão umbilical que une toda uma essência de nadas,
Esses nadas que nos pertencem, que são o nosso reflexo neste mundo,
Surdo, mudo, de gestos gastos;
e os versos aguentam firme, por uma fome
menos cansada de morrer, por um novo alento
menos morto, menos lento, um ritmo que move,
Que alerte, que comove, que no fim de contas,
ultrapasse um ligação carnal e sentimental
vazia de explicações, além terra, além sonhos,
Que seja a leitura real do que nos rodeia.

domingo, 6 de março de 2016

lembra-me um sonho medonho rústico ou moderno que ainda não tive

Deixei-me, a rir por dentro e por fora
Dentro dessa sala onde decorria o meu funeral,
Uma euforia desigual percorria agora
o que outrora fora a vida terminal.
A verdade foi coagida, de forma irracional,
a mentir, a construir outras realidades,
dos montes, das serras, das ervas,
aos pavimentos, aos cimentos, às cidades,
Esperança morta, erguida mais tarde,
por entre cinzas da saudade,
Luzes reais alimentadas por entre névoas,
Ao som desses esqueletos, dessas caveiras,
feitas catapultas de um barulho sem lugar.
Dói demais não compreender as rimas ímpares,
Mas dói mais ainda compreender a poesia,
Nessas raras alturas singulares,
em que tudo consegue fazer mais sentido
e em que tudo é sentido,
Em cada palavra um abrigo, em cada fome um alimento,
Em cada cor um cinzento, cinzento cor de luz,
Em cada pecado um acordar que seduz,
Em cada respirar, uma vida que cresce como fermento...

Não são só palavras,
Não é um conjunto de nada que se entrelaça
por de trás desta voz calada,
A reviravolta é conseguida, quando menos se espera,
Nesse despertar da Quimera;
Quem não respeita, quem não tolera,
acelera contra esse vértice, que magoa,
que desenterra a mágoa,
E que nos deixa pregados ao solo.
A compreensão é fácil, basta querer compreender.

sábado, 26 de dezembro de 2015

carpe noctem

Por entre os silêncios barulhentos
que vivem dentro das pedras da calçada,
Do alcatrão que pesa por cima das raízes,
Vives, de mãos nos bolsos, trocando os dedos,
sossegando esses vazios, esse nada,
Essas lembranças, essas cicatrizes...
Esses enredos, essas vitórias, esses segredos,
Todos esses e todos esses outros momentos.

O negro respira fundo, nessa noite escura,
Sem sol, sem lua,
Nesta rua tua.

O sentimento de alarme constante,
Esse mastigar do vento, que não sufoca
mas que é sufocante; esse fumo exagerado
do cigarro que foi fumado ao extremo,
Esse abrir de portas e fechar constantemente,
Essa nota musical repetida e louca,
Esses pensamentos embriagados,
Da loucura, do sabor da acidez e do moderno.

Assumimos que não existe remédio,
Tal ópio capaz de serenar as almas mais mexidas,
As almas mais queridas no ódio, e odiadas no amor,
As almas desta gente, que somos nós,
Tal furacão destruidor do tédio,
Regeneração das feridas,
O calor à luz do frio e frio à lua do calor,
E tudo isto passa, enquanto na rua te encontras a sós.

(um melhor 2016 para todos os leitores deste monstro. Que o que não conseguiram até hoje realizar seja realizado no próximo ano. Que tenham tudo a que têm direito, se por esse tudo lutarem. Até um dia destes. Estes dois anos que passaram, foram até agora, os melhores da minha vida. Obrigado a quem fez parte deles, a quem os mudou, a quem permitiu que eles se mudassem. Obrigado VGS, obrigado irmã, obrigado irmão, obrigado a todos os tantos outros.)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

locus horrendus ( II )

Quando acordas, depois de despertares
de mais um pesadelo, depois de despires
os lençóis suados, um arrepio
percorre os braços, o peito e a cara...
O pesadelo, que já não pertence ao sono, é ainda mais medonho.

Essas trevas que sussurravam, longe do futuro,
afastadas do passado, de dentes afiados cravados no presente,
São reais, procuram alimento na vida, e a vida pode não
ser suficiente.
Sorridentes, os demónios de asas brancas, aproveitam
estes momentos, nos bocejos dormentes de tédio
encontram a altura certa para o assédio.
Mas existe cura, existe remédio, e de todas as desgraças
das mais fortes às mais fracas,
Um poder mais alto acaba por se elevar,
Uma força mais alta acaba por subir,
Luta então a esperança contra a fome de destruir, de reinar,
de subjugar, de garantir que o Mundo jamais será como era.
Sobram os gritos da centelha ardente, as guerras pessoais,
nacionais, mundiais; e por breves momentos acalma-se
a Quimera.
Mas o Inverno não é infinito, o frio morre sempre
para que possa nascer a Primavera.
Dois lados, dois mundos opostos, lado a lado,
Duas faces da mesma moeda, que lançada ao ar
só uma face entrega, doce amargo fado,
Que rasga e trespassa e mata como uma fatal fera.
Olhos fixos em frente, ou olhos num céu maior,
Olhando o chão nada se modifica, o errado
fica no mesmo estado, e as cinzas sem alma e vontade,
sem movimento no pormenor, aguardam na dúvida da tristeza
por um renascer contrariado.

domingo, 30 de agosto de 2015

os Anjos da sombra

Por entre suspiros de caridade,
as nuvens deixam de desaparecer mesmo depois
de toda a água vertida. Ficam lá, suspensas,
sem nada porque esperar, apenas ficam lá, suspensas.

Num instante, ou melhor, em vários instantes, tudo muda,
As sensações mais queridas começam a ficar translúcidas,
estão lá, e querem continuar a estar, mas são sobrepostas,
por espaços cor de cinza. E um pó escuro começa a elevar-se
do solo, e só rezamos para que não chegue o vento,
que nos impeça de ver tudo à nossa volta.

É facilitada a entrada nestas sombras quase completas,
Quase parece impossível negar a imposição
que nos cobre os pensamentos, que nos obrigado a passar
por cima da hesitação.

As asas batem...
O vento começa a fazer-se sentir.
A poeira entra em cada poro da nossa pele. Os olhos começam
a ficar feridos,
A respiração chega a custo e a custo é engolida.

Alguns têm menos sorte, outros têm mais azar,
Alguns olham nos olhos
e sabem que os anjos não são formados dessa matéria.
As histórias são sempre parecidas, podem é começar de forma diferente.
E o final da história é contando por cada um,
e pela luz que os fez subir acima do vento e da sua poeira.

domingo, 7 de junho de 2015

Guerra fechada

Águas passadas não movem moinhos,
mas sonhos movem montanhas.
Aqui estamos perante o abismo do desconhecido,
Armas na mão, e um escudo de matéria imortal,
razão pela qual aqui estamos.
Guerreiros, sem qualquer receio da morte,
venha ela, se a o que sobra é esta prisão
física, psicológica.
Suor, lágrimas de sangue, músculos no chão,
A rendição não contempla a liberdade,
o sabor da verdade, a sabedoria da realidade.
Somos mais, somos melhores,
lutadores impenetráveis à corrupção,
Tal juramento de mão ao peito.
Os cabos foram dobrados, os caminhos traçados,
Monstros derrubados, para que um futuro melhor
fosse alcançado.
Vitórias alcançadas com honesto mérito,
dos Oceanos às Areias,
Ignorando sempre os perigos,
tal o canto das sereias.

As águas passadas...deveriam incentivar,
mas históricamente, estão trancadas nestes livros...

quinta-feira, 7 de maio de 2015

exorcismo intelectual

Absorto na impaciência paciente que aprision'almas
São tantos os monstros que aí se arrastam,
De olhos calmos escondendo as negras chamas,
Mas são mais os que que como fantasmas
amaldiçoam, penetram sonos e sonhos,
Amordaçando-nos em pesadelos.
São tantos, mas poucos os que admitem,
Quando nada mais sobra, dentro de quatro paredes,
Com vários espelhos apontados ao mesmo,
Só aí o sorriso da maldade entristece a realidade.

Monstruosidade moldada a ferros quentes,
polida a gelo, fertilizada por más condutas ditas superiores,
Falsas raízes, verdades trocadas,
Sabedoria errada.

Antes de fugires, tenta ajudar,
Antes de ferires, antes de apontares ao calcanhar de Aquiles,
Esforça-te por ser melhor sem covardias, sem atalhos,
reflecte nesses ensaios sobre a cegueira,
(que não sejam razão de poeiras e cinzas lançadas),
Não há limite para quem acredite,
Faz neste palco o que fazes nos bastiadores.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

prisão psicológica

Porque nem sempre o sal salga...
Vitórias são sonhadas, imaginadas mil vezes
mesmo no cérebro menos criativo.
Do acto ao falhanço correm meros segundos,
Mas o acto ficou travado, de medo ao peito,
sem qualquer respeito por futuros mais brilhantes.
Cegos e impotentes, dotados de uma fome resiliente,
Capazes de deprimir a depressão mais deprimente.
Sem loucura pela sede de saber,
Vivendo mortos, mesmo antes de morrer,
Cansados e fatigados sem um passo dar,
Perdidos e derrotados sem sequer lutar.

Retraídos pacientes perante as próprias criações
de vazios reticentes que colocam no vosso próprio caminho.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Perfume com sabor a cera

Saúde para quem está doente,
Amor para quem só recebe ódio,
Reconhecimento e respeito ao pisado
ignorado e tratado com indiferença,
Um pouco mais que nada para quem só fome tem,
Companhia para quem só tem solidão.