quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O mundo onde nasci (as vossas palavras)

As vossas palavras não as mesmas que as minhas.
É com gravidade que compreendo agora
que as peças não encaixarão...
Não encontro soluções, nem no silêncio,
esse amável silêncio que já amei,
nem no barulho, amável barulho que já amei.
Poderá existir um meio termo?
Não existe nada. Este mundo não tem nada para oferecer.
Tudo não passa de palavras ocas que oscilam ao vento,
tudo não passa de gestos inexistentes, com ou sem vontade
de os colocar em movimento...
Tudo já foi luz, tudo agora é silêncio.
Nada. Tudo resume-se a nada. Nada é a palavra.
Nada é a não acção. Nada é o estado de alma,
nada é o nada que a todos preenche.
Vazio.
Um enorme vazio.
Um enorme vazio preenchido de nada.

Filantropia...de resto é tudo aquilo que ainda posso
dar a este mundo.
Tudo o que ainda posso fazer que não dê em nada,
que não se torne nada, que não morra como nada...
É tudo o que vos posso dar.
Já não posso dar brilho de estrelas,
já não posso dar a chuva que alimenta o solo,
nem tão pouco o sol que vos aquece.
Do meu prisma espiral já não sou mais Mãe Natureza;
já não sou forte certeza,
já não sou ninguém...
Valem as minhas acções de louco,
as minhas pequenas acções de louco
contra as vossas palavras
contra as vossas acções
(ou a ausência delas...).

As vossas palavras não me significam nada,
não me interessa o ornamento
o suposto poder,
não me interessa nada.

Este mundo onde eu nasci
é perigoso, e são muitas as entrelinhas,
são muitas as areias movediças,
são muitas as palavras sem sentido,
sem objectivo.

Filantropia...a única semente
que tento cultivar nesta selva de betão,
nestas mentalidades de betão armado.
Quando penso que encontrei
aquilo que sei fazer melhor que a maioria
com a alegria de quem faz o seu melhor
acordo!,
E as trevas da realidade
das razões mais verdadeiras
às mais criadas
abraçam-me.

Talvez seja um cobarde. Mas não sou um cobarde sozinho.
E as vossas palavras
(que serão depois dissecadas com todo o rigor)
fazem crescer este monstro.
Dois pontos finais,
parágrafo.