segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Coisas - Monte Gordo, Aymonte, Quintã



A minha perspectiva de três vistas diferentes, o que mais mais gostei. Uma pequena descrição, uma pequena "publicidade" para quem não conhece, para quem poderá vir a visitar. Passou-se de 20 de Setembro a 31 de Setembro.

Primeira paragem, Monte Gordo - "Faz tudo como se alguém te comtemplasse"(Epicuro)

Apesar de visitar Monte Gordo todos os anos, desde há cinco anos, a verdade é não sei ao certo se é uma pequena cidade ou uma vila. Fica no fundo do território português, junto a Espanha. Uma zona fantástica para quem gosta de passar férias a descansar e a divertir-se. Ruas muito animadas, desde o nascer do sol até à noite. Lojas que convidam, algum comércio artesanal, pay shops, ATMs, o necessário para ninguém morrer à fome. As praias que lhe pertencem, para quem nelas passeia, apanha sol ou prova o mar, justificam o porquê de o ALgarve ser conhecido pelas melhores praia.
Para quem arranja força de vontade para viajar 2\3kms poderá encontrar uma das melhores praias, a praia verde. Um mar fabuloso, uma areia fabulosa e uma calma que não se encontra em mais praia nenhuma. Mesmo quando se encontra cheia de pessoas, se fecharmos os olhos apenas ouvimos o mar.
Num dos dias em que passeava pelas ruas de Monte Gordo encontrei esta frase, num painél de publicidade redondo: "Faz tudo como se alguém te comtemplasse", adorei. Acho que esta frase devia ser regra, lei, mandamento.

Segunda paragem, Aymonte - "O sol morre em Portugal"

Lamento ir apenas uma vez por ano(quando vou) a esta cidade espanhola. Uma cidade espanhola de território mas muito portuguesa no seu dia-a-dia, pelo menos no Verão. È uma cidade extremamente acolhedora e viciante. Podemos desde logo reparar na postura perante a vida do povo espanhol, tão diferente da portuguesa. Uma felicidade, uma estado constante de animação, o chamado "salero". Fascinante.
Toda a Espanha é uma lufada de ar fresco em termos de qualidade e variedade para todos os gostos, mas em especial no ramo gastronónico. Ir a um supermecado espanhol, mesmo sendo pequeno é um espectáculo de cores e feitios. Tudo tem um aspecto impecavel e fantástico. O mais irónico é que alguns desses produtos são portugueses mas trabalhados e aperfeiçoados por eles. Aqui reside já um pequena grande diferença entre portugueses e espanhóis, enquanto que os portugueses só querem enriquecer sem grande trabalho os espanhóis empenham-se ao máximo. Primeiro o cliente final, um esforço por tornar tudo melhor. Cinco estrelas.
Ao fim do dia, numa paisagem linda, conseguimos ver que o sol, de maneira indescritivel, vai morrer do lado português.

Terceira paragem, Quintã - "Se existe algum sítio para ouvir Deus respirar, é aqui"

No ano passado tive o privilégio de visitar Ferreira do Alentejo, uma terra magnifica que desde já aconcelho. Uma vila animada e muito povoada, que parece uma cidade em ponto pequeno. Mas pensava eu que isso era o verdadeiro Alentejo. Como me enganei. A 50kms de Beja descobri o verdadeiro Alentejo. Uma aldeia, se é que se pode chamar tanto, com umas quinze casas e uma população de aproximadamente 10 pessoas(sem contar com pessoal de em estado de férias). Sem mini-mercados, sem cafés, nada. Apenas casas, no meio do nada e distanciado de tudo. Tive sorte pois estava um dia relativamente enublado, mas quando o sol mostrava a sua cara o sol queimava e muito, e por muito que queiramos encontrar uma sombra enquanto passeamos é impossivel, pois elas não existem. É tudo um conjunto de planícies gigantestecas em fim e à vista e alguns pequenos montos. Não deixa de ser uma paisagem bonita e contrasta com as paisagens do centro e norte do país. O castanho da terra, algum amarelo do pasto já comido ou seco. Bonito. O que mais me espantou foi o total silêncio daquela zona, nunca tiva "ouvido" nada como aquilo. Mesmo em outras aldeias, ou em outros sitios calmos e mesmo à noite, nada como aquilo. Não é exagero, não se ouvia absolutamente nada, nem carros ou aviões, nem animais ou insectos. Nada. Se é possivel escutar o silêncio do mundo, então naquele sitio escutei-o. Disse ao meu amigo, que me proporcionou todas estas viagens, que se houvesse um sitio para se ouvir Deus, ou para se falar com Deus era ali. Melhor, acho que seria quase impossivel.

Gravidade zero

Voltei hoje de viagem;
Pouco mais que nada
Levei de bagagem
Mas trouxe algo mais
do que o pouco nada que levei.

Novas paragens, um novo aroma
Um sabor novo
Um olhar novo sobre
o habitual olhado.
A rotina descansou.

Descansei do pesadelo
da lembrança rotineira
que gosta de se relembrar
em sonhos.

O sol, o mar e a terra seca,
Uma praceta.
Sem promessas, sem juramentos,
Eu, os meus e os meus
momentos, num pequeno ponto
de equilibrio
ao qual chamo
gravidade zero.

O melhor ar que já respirei

Olho fixamente para o buraco
na parede ao qual chamam
irónicamente janela.
Mas consigo respirar
Mas já me habituei.
Sei que lá fora a vida
é melhor mas cá dentro
Sou só eu e o meu suor frio.
Queria abrir a porta
e dançar, beijar o chão.
Mas aqui dentro dentro sou só eu
Eu e o meu suor frio
E o que me resta de
uma crença num Deus
Que já se cansou das minhas preces.

Já não saboreio o sabor
dos cigarros, apenas fumo
para passar o tempo.

Vocês só desvalorizam
a liberdade porque nunca
tiveram de abdicar dela.
Uma semanas mais tarde saí da prisão:
dancei, beijei o chão e ao respirar foi o melhor
ar que já respirei.