quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Desiderium ( VI )


Nasce o verbo, (fazer) , para completar o desejo,
Se tudo o resto está ferido, às portas do acabado,
É preciso acreditar que esta possibilidade
não passa de mais um divino gracejo.

Num labirinto de enganos é difícil encontrar
o caminho que nos leva ao mais puro,
a esse desconhecido porto seguro,
E morrer a tentar sabe sempre a pouco, ..

Um arrepio que comove o ser mais frio,
a estátua mais dura, a rocha mais duradoura,
Por se estar perante um abismo
alcançavel a um salto de fé...
Recuam um passo, apenas para ganhar balanço,
E a imagem só se dissolve triste
quando o chão, matéria física estática,
vos é roubado...

Tenham (sempre) cuidado com aquilo que desejam
Pois pode muito bem tornar-se realidade.

Esta como tantas outras, é uma guerra
que dura desde o Início, por um lado
a presença tão próxima do realizável,
por outro, o falhanço prevísivel.

Do suor ao sangue, da semelhança
à certeza...Lutar por nada nunca compensa,
e o esforço em vão destrói lentamente
como a pior doença.

Abram alas, que outro monstro se levanta,
seduzido por toda a vontade manifestada
em finalmente concretizar,
De ferramenta na mão pronto para ceifar
o que restava da esperança.
Um duelo de porpoções épicas
aguarda em cada hesitar...
Sozinho contra o mundo, sozinho
contra ti próprio...Deseja-o com
entusiasmo e realiza-o mesmo.

Tenham (sempre) cuidado com aquilo que desejam
Pois pode muito bem tornar-se realidade.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ex confessso ( V )


Uma confissão interna que ganha força
para se libertar, seduzindo seguidores,
crentes e descrentes, numa espiral
de sensações reais.
Um arrepio cresce na base da coluna vertebral
O suor desce lento mas fluído como que lágrimas
O coração acelera, pulsam todos os orgãos,
Aceitação nesta essência vicariante
Consciência tranquila neste absorver intranquilo
Negação de uma insanidade transmitida pela realidade.
Vem de dentro, vem rastejando, silêncioso,
Um perfume poderoso é libertado,
Tudo pode ser feito de novo...
Gritos, paredes destruídas, algemas dissolvidas,
a fome pode ser saciada, em todas as suas vertentes,
Chegou a hora do verdadeiro ser.

Chega de enganos, nesta dança próxima
entre anjos e demónios e seres humanos.
Rezo para que esta fome não me devore vivo,
Rezam para que este saciar não passe de um delírio,
Rezem para que o incomum e o raro se tornem a constante neste ciclo.

Esta confissão é pintada a tinta fresca
Envolta em fragância acesa,
Saborosa para quem a confessa.
O toque, o rasgar, o morder, o arranhar,
o beijar, o sentir e uma língua que procura sem cessar;
O nada transforma-se em pouco e o pouco em tudo,
neste momento, neste lugar,
Uma carícia que invade e alcança os recantos
mais escondidos do universo.

Ouço a confissão, multiplicada por cada um de vós,
E sinto-me tão diferente e só
por me aperceber que têm o poder de o ser
de o fazer de se soltar, de caminhar,
Porque esperam - nunca saberei dizer,
Porque fingem, porque se enganam,
porque se deixam enganar,
Porque preferem aceitar estar a morrer um pouco mais
por um pouco mais de tempo...Em vez de.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Falling



Haven't you seen me sleepwalking 'cause I've been holding your hand
Haven't you noticed me drifting
Oh
Let me tell you I am

Tell me it's nothing
Try to convince me that I'm not drowning
Oh
Let me tell you I am

Please
Please tell me you know
I've got to let you go
I can't help falling out of love with you
Ooh

Why I am feeling so guilty
Why I am holding my breath
Worry about everyone but me and I just keep losing myself

Tell me it's nothing
Try to convince me that I'm not drowning
Oh
Let me tell you I am

Please
Please tell me you know
I've got to let you go
I can't help falling out of love with you

Won't you read my mind
Don't you make me like you
And I hear

Please
Please tell me you know
I've got to let you go
I can't help falling out of love with you
With you
Ooh
Ooh

Haven't you darling
I'm sleepwalking


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fiat voluntas tua ( IV )

Onde estás irmão?
Caminhando tão longe do coração
passos são dados devorando imensidões
no centro de todas estas multidões
nunca me senti tão a sós com a solidão,
enquanto respiro angústia, enquanto
procuro por comida ou esperança neste chão,
Enquanto não deixo de viver
Enquanto não conseguir cair mais um pouco...

Onde estão? Olho vicariante, astuto,
cortante e fácil de lacrimejar,
mas onde está essa força para estender a mão?
Minha culpa, ausência da vossa inocência,
Invado-me acima de toda esta pestilência
mesmo que só por alguns segundos
para contemplar a real essência
deste mundo condenado.

Irmão porque evitas olhar?
ou quando olhas finges impotência?
Por entre guerras, ganâncias cegas,
Da fé, às moedas, à imaginação cruel,
O preço que se paga por se ser
inocente é carregar a dor de quem tem
realmente a culpa.

Neste mar de escuridão
ansioso por engolir os barcos mais frágeis
a minha última prece é
dirigida a um Pai ausente
e a todos os Seus filhos que não me ouvem
perguntar: Onde estás irmão?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ad animum ( III )

Chegamos ao mundo
das profundezas do anônimo,
e por vezes a única
tentativa de tocarmos
a apoteose está escrita
no nome que nos dão,
forçando o destino
a reconhecernos.

O cordão umbilical é cortado,
a saúde é louvada,
Começa a vida.

Alcançar a verdade é fácil
difícil é compreende-la
e aceitá-la.
Caminhamos agora sobre pó e cinzas,
(Chegará a nossa hora também),
sem nos lembrarmos do que as
forjou, ao que pertenciam.

Um número ou um nome
ou uma impressão digital.

Reduz-se o importante ao
tamanho de pó e cinzas
(Chegará a nossa hora de o ser também),
E a vida passa, como todas
as outras. Marca só existe uma, na
essência humana: para o anônimo retornamos. 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Certo como a morte

Jamais poderá julgar-se
como certa a maldade
intrínseca no Homem, assim
como a bondade.
Mesmo na distância constante
para com a verdade jamais
se poderá julgar como certa
a mentira no Homem; e o
ódio, e o amor, e todas
as variedades de todos os sentimentos.
Certa, fatal, final
Só a morte.

Existem momentos em que as palavras
não são vento,
levadas por um nada
transportando um vazio
para um lugar qualquer,
para lugar nenhum. Não.

O que se enterra pode ser desenterrado, 
do que se foge, mesmo que para longe,
pode-se mais tarde para ele voltar, 
o que se perde no tempo
noutro tempo se pode reencontrar. 

Não. Nesse lugar único, construído
sob palavras, onde degraus levavam a
divisões diferentes e a janelas com paisagens
nunca antes vistas,
como se deveria agir?

O óbvio era falado por tantos, e falado
pesado de tanta verdade.
Acto vivo, já pensado, desejado, quase tardio.
Tão certo como a própria morte. 
Uma saudade do que ainda não se perdeu.

E escrito nas histórias mais banais
está escrita a verdade das almas
e das tristezas imortais:
o que está morto não pode (voltar a) morrer.



A frase a itálico, última frase do texto, é retirado da compilação : Game of thrones, de George RR Martin.
Este texto é uma lembrança para o leitor, ser humano atento, que vive cada dia, consciente que o céu muda várias vezes durante a sua vida. Existem vários tipos de escuridão, e cada uma delas dura o tempo que tem de durar. O problema é só um: algumas podem durar uns minutos, outras horas, outras tantas dias...algumas conseguem perdurar por meses e mesmo anos. E no extremo: para sempre. Não importa se a culpa da sua duração e até do seu aparecimento é nossa, de outrem, ou de ninguém...elas duram o tempo que têm de durar. O que está nas vossas mãos é isto: a vontade (somente) de tentar de uma vez por todas, fazer com que ela desapareça - talvez isso não seja possível, mas aos poucos, ao querer pelo menos (somente)  tentar, talvez ela diminua, fique pequena, tão pequena...que já pouco se faça notar, mesmo que nunca desapareça. Existem vários tipos de escuridão, e cada uma delas dura o tempo que tem de durar.