domingo, 17 de agosto de 2008

Texto e breve explicação

Este texto foi especial para mim porque não foi de todo rebuscado com palavras caras, foi simples e concreto, foi a descrição total e sincera das palavras e situações. È engraçado também, pois sou ligeiramente obsessivo em relação aos títulos, seja em poemas ou prosa, sem o título nunca consigo avançar e desenvolver ideias, mas neste caso consegui dar a volta. Nunca surgiu título e não vai ser agora que o vou dar. Este texto tem 3 anos de existência, na altura quem o leu gostou e foram vários os comentários. Na minha opinião foi o texto comprido que melhor escrevi. Espero que gostem se tiverem paciência para o ler. Tem muitas falhas, alguma linguagem pouco cuidada mas foi assim que o escrevi. Boa leitura.

Eram quatro da madrugada. O seu amor estava à distância de um corredor, uma sala, umas escadas, dum corredor. Depois de muitos pedidos de silêncio o silêncio finalmente tinha dado o braço a torcer. As luzes apagaram definitivamente e infelizmente reinou a paz. Ele perdia toda a esperança de voltar a estar com ela, pelo menos antes do raiar do dia... E como ele gostaria de partilhar com ela um nascer do sol!
Mas os professores e o padre pediam silêncio...
E o silêncio, acabada a força lutadora, cedeu. Os temas de conversa iam-se evaporando , estranhamente a maioria dos rapazes do corredor já dormia, e a ordem tinha sido explicita: durmam.
Eram quatro e meia da madrugada. Ele dormia desde as quatro. Acordou sobressaltado. Alguém, carinhosamente, acordava-o dizendo ao ouvido o seu nome num tom amoroso e suave. Era ela. Ainda com sono viu a sua outra parte deitada ao pé dele. Um sonho? Na pouca consciência que o mantinha de olhos abertos, beijo-a, afago-a, cobriu-a por baixo dos mesmos cobertores que o cobriam. Quase inocentemente percorreu o corpo dela com a mão direita. Aproximou-a dele. Sentia a sua cara fresca. E gostava dela assim. Beijo-a como se fosse a primeira vez. Lábios mornos envolviam-se com lábios doces e frescos. Queria ficar assim para sempre.
Mas ela tinha vindo acompanhada de amigas cansadas que depressa quiseram voltar para o seu quarto. Imóvel e confuso ouviu um “boa noite, amo-te, até amanhã". Zangado sentiu o corpo dela separar-se do seu e sair pela porta que se manteve sempre aberta. Irritado pela sua impotência de gestos e palavras caiu outra vez num sono profundo. Voltou a acordar pouco depois com a sensação de um chamamento. Levantou-se. Tinha adormecido vestido e vestido se levantou. Ela apareceu no corredor, fora ela a motivação do saltar da cama e aproveitar o que restava da noite que se ia transformando em dia.
As amigas dela comiam silenciosamente na sala de escura apenas iluminada por uma luz de presença. Depressa satisfizeram o seu apetite e depressa voltaram para o quarto. Naquela sala melancolicamente antiga ficaram apenas ele e ela.
A sala era enorme. Seis mesas enormes. Muitas cadeiras. Alguma mobília. Janelas enormes fechadas e trancadas para aquele enorme mundo que os esperava lá fora. No cantinho, uma pequena mesa com flores deixava ver um pequeno sofá. Um sofá verde com um cheiro característico. Cheirava a mofo. Sentaram-se. Conversaram sempre baixinho. Riam, sempre baixinho. Namoravam baixinho.
Tinham caminhado bastante nesse dia, ela estava cansada. Ele docilmente pediu que ela se deitasse em cima dele, com a cabeça sobre ele e o resto do corpo no sofá:
- Dorme um pouco. Pediu com amor. Mas ela não queria dormir, queria aproveitar aquele momento tão bom junto com quem mais amava naquele mundo:
- Dorme um pouco. Ela aceitou cansada, na condição de descansar apenas dez minutos. Ela aninhou-se. Sabia que ele estaria ali a protege-la de todos os monstros e fantasmas que todo o ser humano acredita existirem por muito que o negue. Ela sabia disso e sabia que ele também a amava e isso bastava.
Foi assim que ambos entraram num paraíso quase solitário: ela nos sonhos, ele na solidão acompanhada daquele anjo que lhe lembrava a sua missão nesse mundo tão complicado de tão simples ser.
Ela dormia. Ele agradecia por poder contempla-la. Era magnifico vê-la dormir: ar doce de criança traquina cansada, boca semi-cerrada beijando o ar, o nariguete grande de tão belo. Apesar de ela estar a dormir acariciou-lhe os cabelos. O toque físico era o seu contacto com ela nos sonhos. Brincou ainda com insectos que os rodeavam, observou sombras, inventou músicas que cantou (baixinho), fez-lhe festas na cara. Soube ao certo quanto tempo ali ficou.
Voltou a olhar aquele rosto tranquilo. Comoveu-se:
- Deus proteja esta criança pura e inocente.
Oxalá o recado tivesse sido recebido, afinal ela merecia tudo de bom que a vida pudesse dar. E ficou assim, assim como se fosse um anjo protector do seu próprio anjo, ela. Assim ficou, sempre alerta, e o paraíso solitário durou até ao amanhecer. Com o sol veio ela e com ela veio um paraíso para sempre.

Nunca lhe chamei vida utópica(5ªparte)

Desculpa cósmica

"Achas que o diabo existe? Um ser que corrompe e destrói o Homem?(Calvin) "Acho que o Homem não precisa de ajuda."(Hobbes) Este diálogo fantástico fez-me rir imenso na altura em que o li. Depois reflecti. Mais uma vez estava perante uma desculpa cósmica. Uma desculpa cósmica é algo que tira a responsabilidade ao ser humano nos actos por ele cometidos e que lhe dá, de certa forma, uma fuga covarde. Não estou a par de quem vive ou governa o Universo, mas se o Homem age mal e comete erros só o deve a ele próprio.

"Achas que o diabo existe?" Não sei. Sei que o ser humano é sempre capaz de fazer mais do que aquilo que faz.