Criticar-me é como tentar implantar um cancro numa estátua...(I.M.)
Queria que se alimentassem disto
Como um mendigo que procura minuciosamente comida no lixo.
Cada monstro domina a sua interior fera
Reservando-se à implosão da espera...
Olhem que nem tudo é o que o parece
Como num museu de cera.
Sinto vergonha de quase tudo o que tenho visto
Em cada acto, em cada palco, em cada paisagem,
Perco a noção da verdade com a qual cresci...
Temo a realidade julgando ser miragem, e caio
na calçada, caio de muito alto de olhos fechados
para ignorar a vertigem.
Engulo em seco, respiro fundo, de rosto duro,
Olhos esquecidos no pensamento,
Escrevendo momentos na mente, captando o sentimento,
Fora do casulo abro as asas cinzentas e vôo para o cinzento.
Não rezo o Credo. Não me sento no desespero.
Não seco os gestos das minhas mãos na hipocrisia.
Não me rio da morte. Mas não a temo.
O tempo é curto e corre muito depressa...
Como se mesmo antes de pensar no assunto
já tivesse terminado a conversa.
Sou estranho como o desconhecido,
Sou trágico como uma bala a trespassar um corpo,
Sou a loucura de um louco,
Sou a carne morta de um morto presa no bico de um abutre.
O ser humano jamais me poderá surpreender...
Já nasci chocado, preparado, racionalizado...
E se vos condeno é porque já nasci condenado,
Firme na vontade de ver o vosso reino destronado.
O ódio é de novo desenterrado!
Ascendo numa espiral que me solta os sentidos...
Viagem espiritual, consciência ética e moral,
Descontinuação de um ritual, se vos quero ensinar o bem
tenho de vos mostrar o mal...
Cristão, rasgo almas de quem faz parte de associações
religiosas, essas mentes fracas que se julgam poderosas,
Criam em mim um monstro sem amarras
Capaz das acções mais horrorosas.
A ferramenta certa apazigua a tentação
de desiludir o mundo...
Como se vocês precisassem de ajuda...
Diria eu em tom irónico:
Uma tragédia.