sábado, 23 de outubro de 2010

(teclas que vivem debaixo dos meus dedos)

Toca a melodia, dentro da minha cabeça.

Meu amor...
Hoje foi assim, enquanto vivia centro da vida dos outros
a uma velocidade pequena, sem pressa,
atingi esse momento.
E lá estava eu,
toda uma sensação de estar a viver um eu que já vivi,
que já fui.
Aquela sensação de um eu crescido,
aquele eu que fui em tempos,
pesando palavras, pesando números,
sem balançar entre problemas e resoluções.
Onde estive?
Onde estou e por quanto tempo?
Toca, essa melodia, em mim.
E agora peço-o, toca-a mais uma vez em mim.

Ali estava eu, a viver um déjà vu, que esperei que se repetisse
em mim vezes sem conta.
Acordei. Todos nós temos uma paragem concreta, e eu estava a chegar
à minha.
Sorte? Azar?
Aos poucos fui desistindo de acreditar no mundo que quero,
e em dias mais tristes já não luto por cada manhã
e espero, nessa espera mais triste que a espera da morte,
que seja a manhã a lutar por mim...

Já me conheci melhor.
(Silêncio)
O fingidor entra no palco...
A maioria aplaude.
A maioria atinge o apogeu desta mentira.
São poucos aqueles que se mantêm sossegados de mãos...
Pois esses poucos são os únicos que sabem
que não é fingimento.
São poucos, cada vez menos,
os que sabem que o amor é amor verdadeiro
que o ódio é ódio sentido por inteiro,
e que nas palavras o objectivo não é gastar tinteiro.

Mas a música toca. E se parar volto a por a tocar.
E toca, toca toca toca, e toca mais um pouco,
e agarro-a com tanta força
como se perder-la desse comigo em louco.

E em palavras que escrevi nesse momento
vivido entre vidas
onde por momentos desejei ter-me reencontrado mais ainda
desabafei:

Estou a morrer nesta situação,
que nada tem de abstracta,
desta vez não é uma questão
de revolta ou de impotência. Estou perante um inimigo desconhecido,
pelo menos é a primeira vez que o enfrento desta forma. Está perante mim
como se já me conhecesse. E olha-me com uma intensidade sábia, como se...
eu fosse a criatura de mais fácil leitura desde que há memória.
Estou desiludido comigo. Abre-se uma porta, fecham-se duas; abrem-se duas portas
fecham-se quatro. Ah ah, ainda dizem que a matemática e os seus números
não interessam..que neles a verdade nada tem de bela. Pois não tem não. (Desconheçam...[silêncio um pouco mais prolongado que o anterior])
Tem de prática, tem de concreto, tem de concretização.

Podem chorar.
Tão depressa não vou a lado nenhum.