quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sombras

"I am just a worthless liar, I am just an imbecile...There's a shadow just behind me
shrouding every step I take. Making every promise empty, pointing every finger at me..."


São sombras sombrias que me assombram...
E eu não gosto de me sentir assim.
Existe uma sombra que me acompanha mesmo quando não
há luz, que me segue durante o dia, mais silenciosa,
que não me deixa durante a noite.
E o sossego que povoa em mim
anda desaparecido de momento,
deixando-me sozinho nesta frustração
neste nervosismo, como se soubesse o caminho
mas não o conseguisse encontrar.
O que queres?
Eu quero o que eu quero.
E vou elevar-me para cair mais alto,
vou preencher para depois deixar um vazio.
Vou odiar-me durante muito tempo...
E a sombra acabará por ficar
algum tempo mais.

Arremessamento contra qualquer coisa


"Take everything from the inside and throw it all away..."

Pego em todos os pedaços do meu ser
e vou arremessando-os contra qualquer
coisa, a toda a força, a toda a velocidade.
E aguardo, quase paciente
por algum reacção.
Pego em todos os pedaços que tenho dentro de mim
e faço-os voar em várias direcções
contra qualquer superficie ou vazio,
E vou esperando ouvir um som que se propague
em mim, uma destruição qualquer,
qualquer evolução que me faça render
à verdade que todos estes pedaços nada faziam
dentro de mim.
Arremesso todos.
Partam-se, façam ricochete contra a parede
e voltem para mim! Magoem-me se for preciso.
Só quero mandar tudo contra alguma coisa,
seja o que for,
seja para o que for.
Eu
pela última vez
mando tudo embora de mim,
para me sentir aberto, ou fechado,
ou qualquer coisa que não seja isto.
Porque isto não me chega.

Piano, essa frágil folha de Outono


Enquanto a realidade ainda acredita...

Onde coloquei os meus dedos de pianista?
Eram finos, saudáveis, eram dedos numa mão
bonita, num tom de pele bronzeado.
Onde está o piano que nunca tive?
Nessas melodias que nos preenchem de tristezas,
nesse não saber se se está num vazio
ou numa aurora, uma melodia carinhosa
que nos sobe pelo corpo, arrepiando a pele,
até atingir o prazer do cérebro...
Onde está?
Essa melodia, nunca cansada, sempre profunda,
num ritmo que nos agita a alma, que nos faz pedir:
toca outra vez,
toca mais uma vez até eu ficar consolado
de toda esta realidade.
Toca outra vez, só mais uma vez,
até me sentir eu de novo,
até me sentir bem
como outrora.
E os dedos percorrem o piano, como se fosse
a primeira vez, sentem as teclas, sentem
o mundo que me rodeia. Os dedos têm vida
e dão vida,
tiram vida,
fazem milagres, e são capazes
das piores catástrofes.
Melodia perdida que ainda vive na minha memória.
Quem sabe onde?
Quem sabe como?
Quem saberá?
Sei o que sinto, sei o que existo,
mas pouco mais sei,
sei que não sei desses dedos belos que queriam
tocar uma melodia bela, mesmo não a sabendo tocar...
Os dedos estão desfeitos.
E a melodia toca, ou vai tocando,
lembrando-me o porquê desse Outono ter acabado
fora do seu tempo,
e vai tocando enquanto essa frágil folha cai
e cai num silêncio mudo, num som surdo,
cai e só eu a vejo cair.
É frágil mas poderosa como a música deste
piano que não toco, que não sei tocar,
e a folha caída está intacta.
Não a pisem...
Pelo menos hoje,
pelo menos nunca.

Parabol(a)


"Twirling round with this familiar parabol. Spinning, weaving round each new experience. Recognize this as a holy gift and celebrate this chance to be alive and breathing."

Dois pontos equidistantes vão se aproximando,
e não deixa de ser belo
apreciar a velocidade a que caminham um para
o outro.
Começam muito longe um do outro...
E é como se vagueassem sem rumo,
e apesar de não saberem da presença do outro
vão à mesma velocidade, vão na mesma distância,
vão juntos, coordenados, mesmo sem saberem...
E não é menos belo observar o que acontece
quando estes dois pontos se apercebem um do outro.
De inicio ficam surpresos, intrigados,
Será possível terem feito a mesma rota
ao mesmo tempo?
Os pontos começam a conhecer-se, de longe.
Quando dão por eles estão a correr cada vez mais depressa
como se isso os fizesse chocar, como se isso
os fizesse tornarnarem-se num só.
Uma luz começa a crescer dentro destes dois
pontos.
A velocidade aumenta.
É possível vê-los a aproximarem-se...naquela pequena
curva que une os dois caminhos.
Terão chocado?
Terão passado um pelo outro
trocando assim de lugar?
Meu Deus.
O que fui eu fazer?!
Morro.