sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Experimentos finais


Magoa antes de cortar,
Corta, sangra, magoa um pouco mais.
Até à perfeição, até à última queda,
Até ao profundo, do melhor deste mundo
às sombras da escuridão,
Tudo não passa de uma experiência final,
seguida de tantas outras.

Volta a magoar, agora somente depois do corte,
Retira, reconstrói, amaldiçoa o erro que se repetiu,
Destrói novamente.
Sangra.
As emoções não podem ser presas.
Corta novamente e verás.

Corta, corta mais fundo, e corta outra vez.
Sangra. Sangra ainda mais. Mas já não dói.
Não pode doer.
Aguenta firme, imóvel e estanque
como uma rocha que nasceu com o Mundo.
O que não magoa não pode doer.

A luz agora está apagada.
Naquela mesa colocada ao centro da divisão
existe sangue, de cada corte, de cada incerteza
de cada tentativa falhada.
Mas o corpo não está lá; porque vivo e silencioso, levantou-se e saiu,
Continua a aprender com cada corte, esperando que a próxima
experiência seja a última.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ad unguem ( IX )

Um suspiro que esconde uma melodia,
do sentimento mais vivo
ao escurecer que traz a morte;
E do passado nada nasce, nada se multiplica,
E do futuro tudo se espera, nada se faz,
E a melodia escondida vai suspirando...

Nada consegue ser infinitamente estático
 - Fazemos parte deste todo que mexe, que roda,
que respira, que destrói aquilo que mais ama
e que odeia aquilo que jamais conseguirá destruir.

De olhos certos cravados na peça que vos completava
a existência, um suspiro vacilou, retomaste a respiração,
que farei deste momento? Não procuraste desculpas
carregadas de abstracto, de realidades inventadas;
Encontraste um sentimento retomado, depois de intensamente
saboreado, vivido, explorado, levado a um quase limite,
Sentiste, deste um passo a medo, mas verdadeiro,
Como se levantasses uma caixa à altura dos olhos
e os teus dedos já a estivessem a abrir, começando a mostrar o interior,
Agora é a vez do outro alguém suster-se no suspiro,
que farei deste momento? Com toda a perfeição
o passado e o futuro uniram-se, sorriram
e choraram juntos, e o presente ergueu-se
acima de todas as importâncias,
mas o Homem fraquessou,
e tudo morreu.

Cega é a procura pela utopia;
os passos são dados sem a preocupação
do que se pisa, de quem se pisa,
do que se deixa passar sem aproveitamento,
Dos erros, das vitórias, das histórias, da procura
mais pura dos mais simples segredos.

Não quero conseguir mais, e já não tento,
Mas talvez a cegueira seja o remédio
para essa vida que apelidaram de doença...
Decerto estou errado, mas para mim
a perfeição morreu de tédio.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Unu et idem ( VIII )

Essa é a vida que passa diante dos olhos,
Próxima, intensa, presa ao abismo da morte.
Essa é a vida, e nada poderá ser melhor do que isso.


Seria mais fácil sentir por números
multiplicar ou dividir por palavras,
Talvez fosse mais simples ser-se Deus.
Encontrar uma vitória num passo
tão curto de uma criatura tão inferior,
Nascer-se com uma perfeição alcançada,
Mas talvez não, demasiada simplicidade
seria tediosa, conflituosa, ao coração mais sedento.


Unidos como um só, e separados como vários,
grãos de areia que pairam em ventos tão diferentes
que seguem diferentes direcções.
A carapaça é dura, mas o interior consegue ser ainda mais duro,
Imutável, frio, um lugar escuro
onde a luz deixou de sentir emoções.


Quando o coração parar de bater
o ritmo do Universo pára por uns segundos...
Pois tudo está unido, até ser separado.
Um coração novo nasce e o ritmo é retomado...