sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Devastação - Desejo de iluminação


Como a chama da vela que vai queimando e tremendo
nessa casa silenciosa, quase abandonada,
distorcendo toda a sua realidade envolvente;
a mesma chama que escasseia
e que faz tudo menos arder,
e que por muito forte que seja não a deixam queimar.
Adoro a forma como mentes.
Não me mentes só, mentes a quem te estende
a mão, a quem te recebe no peito,
Quando olhamos para trás tudo não passa
de um momento perfeito que sofreu
o efeito da humanidade.
Como me dói ser um ser humano
em constante mutação, sem conseguir sentir
o carinho que me permite estancar
esta distracção contínua.
E mentes-te. Não diria todos os dias...
Acabas por sofrer por erros que outros cometeram em ti
por erros que cometeste, erros pequenos outros maiores
que te deixaram assim: a sufocar.
Um dia não aguentas mais,
tens de respirar, receber o ar que faltou por tempo
a mais,
e nesse dia oxalá estejas na presença de ar,
pois vais devorar o que te envolve,
ou devorar substâncias tóxicas
ou devorar água.

Talvez, depois de tanta vida,
a verdade seja apenas dolorosa,
sem grandes justificações racionais,
gostamos de sofrer, a dor fica-nos tão bem,
é como se fosse a nossa pele...
Em tempos é como se fosse uma corpo estranho
agora já faz parte de nós.
Gosto da forma como dói. A forma sublime como corrói.
Quem me dera conseguir mentir-te.

Nada mais interessa. É engano. Tudo interessa.
Está na hora de te levantares, de dar tudo o que tens a dar
encontrar forças onde pensavas que elas não existiam.
O que ainda guardo de ser humano
é esse fogo do amor que queima a mente
que queima os músculos
que nos faz andar, correr, voar
atrás daquilo que mais queremos.

Pode não existir próxima vez...
Mas existe o agora
e o agora vale muito mais que teorias
mentiras, promessas, arremessos.
O agora tem um valor incalculável,
e é no agora que tudo acontece.
Agarra-me.
E não te mintas.

Está tudo tão próximo
não interessa o quão longínquo.
Não minto, nunca menti,

prefiro ferir com a verdade
do que iludir com a mentira,
mas isto não basta, eu sei disso.
A verdade às vezes parece que fere, mas lá no fundo
dessa carne humana, onde bate o coração,
choramos, choramos o tempo suficiente para nos apercebemos
que cometemos um erro grave, que alterámos o rumo da nossa vida,
e tudo fica mais escuro...
E é para isso que trago esta vela, que treme, que geme silêncio,
mas enquanto a segurar na mão tudo tem futuro
nada está morto, para sempre.

Alguma vez já amaste alguém
que te faz temer perde-la? Mesmo quando
está abraçada a ti, num momento único?
Já lutaste por alguém que valesse a pena?

Dizem-me que falar é simples...agir é complicado.
Para mim
ambas são simples
como são complicadas.
É
tudo
uma
questão
de vontade...
Pois tudo o que às vezes parece inalcançável
e longínquo
é o realmente, dentro de nós
na possibilidade da verdade
é aquilo que sempre
esteve mais próximo.

Chega de criar barreiras que não existem
só para nos dar a ilusão que tudo
é real e sentido e impossível.

Algumas coisas mudam, muito ou pouco, mas mudam.
Outras? Nunca mudarão.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O mundo onde nasci (as vossas palavras)

As vossas palavras não as mesmas que as minhas.
É com gravidade que compreendo agora
que as peças não encaixarão...
Não encontro soluções, nem no silêncio,
esse amável silêncio que já amei,
nem no barulho, amável barulho que já amei.
Poderá existir um meio termo?
Não existe nada. Este mundo não tem nada para oferecer.
Tudo não passa de palavras ocas que oscilam ao vento,
tudo não passa de gestos inexistentes, com ou sem vontade
de os colocar em movimento...
Tudo já foi luz, tudo agora é silêncio.
Nada. Tudo resume-se a nada. Nada é a palavra.
Nada é a não acção. Nada é o estado de alma,
nada é o nada que a todos preenche.
Vazio.
Um enorme vazio.
Um enorme vazio preenchido de nada.

Filantropia...de resto é tudo aquilo que ainda posso
dar a este mundo.
Tudo o que ainda posso fazer que não dê em nada,
que não se torne nada, que não morra como nada...
É tudo o que vos posso dar.
Já não posso dar brilho de estrelas,
já não posso dar a chuva que alimenta o solo,
nem tão pouco o sol que vos aquece.
Do meu prisma espiral já não sou mais Mãe Natureza;
já não sou forte certeza,
já não sou ninguém...
Valem as minhas acções de louco,
as minhas pequenas acções de louco
contra as vossas palavras
contra as vossas acções
(ou a ausência delas...).

As vossas palavras não me significam nada,
não me interessa o ornamento
o suposto poder,
não me interessa nada.

Este mundo onde eu nasci
é perigoso, e são muitas as entrelinhas,
são muitas as areias movediças,
são muitas as palavras sem sentido,
sem objectivo.

Filantropia...a única semente
que tento cultivar nesta selva de betão,
nestas mentalidades de betão armado.
Quando penso que encontrei
aquilo que sei fazer melhor que a maioria
com a alegria de quem faz o seu melhor
acordo!,
E as trevas da realidade
das razões mais verdadeiras
às mais criadas
abraçam-me.

Talvez seja um cobarde. Mas não sou um cobarde sozinho.
E as vossas palavras
(que serão depois dissecadas com todo o rigor)
fazem crescer este monstro.
Dois pontos finais,
parágrafo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O mundo onde nasci (não por agora)

Preparava-me para escrever sobre...o habitual.
E talvez, por obra divina
algo me reteve em recontar essa escrita oca.

Verdade seja escrita:
ainda bem para quem me lê;
ainda mal para as criaturas que vivem aqui...

Neste momento preciso de dormir e repousar...Afastar-me disto,
desta realidade concretamente triste,
abstractamente corrigível...
Tudo começou com a frase:
de seis em seis segundos morre uma criança vítima de fome.

E depois, mais tarde, talvez para reconciliação do meu sentimento
frustrante, semelhante a tristezas alheias e interiores
li:
Já é demasiado tarde para sermos pessimistas.

(espero amanhã estar apto para explodir escrevendo. Resto de uma boa noite)

domingo, 24 de outubro de 2010

Cold and ugly

DESVALORIZAÇÃO

DESTRUIÇÃO E AUTO-DESTRUIÇÃO

AUSÊNCIA DE REALIZAÇÃO, AUSÊNCIA DE RESOLUÇÃO

ALIENAÇÃO DE FACTOS, EXCLUSÃO DE FACTOS

A experiência nasceu morta. E a minha vida secou.
Receio que as palavras da língua portuguesa
não passem de uma centrifugação que nunca chegará
a ser ciclone, tornado, na minha espiral.

Estou pronto para cantar o refrão da morte. Quem quer cantar comigo?
Quem quer descobrir comigo?
(Esse dito renascimento, ou Renascimento)
Se já não sentisse nada
preferia estar morto.


Não foste tremor de terra;
Talvez a força do impacto seja similar ao asteróide que assolou este planeta.
Paz; mudança, evolução.
Encontrei...

Se já não sentisse nada, preferia estar morto!

(You told us how you weren't afraid to die...Talvez eu tenha mentido...
Neste mundo nada é garantido, nada é definitivo...
E viver-se na ilusão é viver-se perdido.)

Olho para trás,
é como se desde que nasci
apenas tenha feito um só pedido.

Não se incomodem a não fazer nada,
ainda para mais se já era esse nada que planeavam fazer.
Nunca encontraram o culpado;
e eu, na minha monstruosidade
na minha frieza,
preferi continuar a sentir
para não morrer tão cedo.

Como comecei?
Pelo início.
Como quero terminar?
Não quero, pois o resto é desperdício.
Não se incomodem...
Para quê?
Por vós?
O meu sorriso é curto, distante e triste.

Ensinaram-me: não lhes dêem nada; mas tirem-lhes tudo!
Como comecei?
Pelo início;
e se algo ficou por terminar, mesmo sem ter fim, nunca ficou terminado.

sábado, 23 de outubro de 2010

(teclas que vivem debaixo dos meus dedos)

Toca a melodia, dentro da minha cabeça.

Meu amor...
Hoje foi assim, enquanto vivia centro da vida dos outros
a uma velocidade pequena, sem pressa,
atingi esse momento.
E lá estava eu,
toda uma sensação de estar a viver um eu que já vivi,
que já fui.
Aquela sensação de um eu crescido,
aquele eu que fui em tempos,
pesando palavras, pesando números,
sem balançar entre problemas e resoluções.
Onde estive?
Onde estou e por quanto tempo?
Toca, essa melodia, em mim.
E agora peço-o, toca-a mais uma vez em mim.

Ali estava eu, a viver um déjà vu, que esperei que se repetisse
em mim vezes sem conta.
Acordei. Todos nós temos uma paragem concreta, e eu estava a chegar
à minha.
Sorte? Azar?
Aos poucos fui desistindo de acreditar no mundo que quero,
e em dias mais tristes já não luto por cada manhã
e espero, nessa espera mais triste que a espera da morte,
que seja a manhã a lutar por mim...

Já me conheci melhor.
(Silêncio)
O fingidor entra no palco...
A maioria aplaude.
A maioria atinge o apogeu desta mentira.
São poucos aqueles que se mantêm sossegados de mãos...
Pois esses poucos são os únicos que sabem
que não é fingimento.
São poucos, cada vez menos,
os que sabem que o amor é amor verdadeiro
que o ódio é ódio sentido por inteiro,
e que nas palavras o objectivo não é gastar tinteiro.

Mas a música toca. E se parar volto a por a tocar.
E toca, toca toca toca, e toca mais um pouco,
e agarro-a com tanta força
como se perder-la desse comigo em louco.

E em palavras que escrevi nesse momento
vivido entre vidas
onde por momentos desejei ter-me reencontrado mais ainda
desabafei:

Estou a morrer nesta situação,
que nada tem de abstracta,
desta vez não é uma questão
de revolta ou de impotência. Estou perante um inimigo desconhecido,
pelo menos é a primeira vez que o enfrento desta forma. Está perante mim
como se já me conhecesse. E olha-me com uma intensidade sábia, como se...
eu fosse a criatura de mais fácil leitura desde que há memória.
Estou desiludido comigo. Abre-se uma porta, fecham-se duas; abrem-se duas portas
fecham-se quatro. Ah ah, ainda dizem que a matemática e os seus números
não interessam..que neles a verdade nada tem de bela. Pois não tem não. (Desconheçam...[silêncio um pouco mais prolongado que o anterior])
Tem de prática, tem de concreto, tem de concretização.

Podem chorar.
Tão depressa não vou a lado nenhum.



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

omem (percepção)

(Passaram muitos dias, semanas e meses. Coloquei suspensas duas ideias. Criei outras duas. Mas o tempo continua a passar. Continuo à procura do pedaço escrito que culmine no choro das almas, no sofrimento, na aprendizagem. Possivelmente, para não fugir muito ao meu fado, estou no caminho errado. Não seria a primeira vez. Nem será a última. As tentativas continuam a falhar, de forma grosseira. Admito, sou igual a todos os outros. Mas sobre isso escrevo mais tarde. Os meus pés estão amarrados ao chão. E tento escrever sempre mais e melhor. Nunca pensei entrar numa espiral destrutiva, uma espiral que não transpira esforço. O ser humano balança nas acções de perfeição: tão depressa lima uma aresta como causa defeito a outra. Não sei se é disto que precisamos.)

Sim, continua a faltar algo.
Poderia ser uma letra, ou alguém ou alguma coisa.
Talvez seja todas elas.
Nunca me ensinaram a fortalecer uma ligação,
por muito forte e inabalável que esta já fosse.
Teria de aprender sozinho talvez.
Os olhos secaram. Às vezes, mas só as vezes
ganham uma vontade desesperante de criar.
Antigamente nos teus olhos via
o medo a desaparecer; como se o Céu fosse nesta terra,
como se o Céu fosse a terra. Tudo parecia melhor,
tudo era melhor,
não importa para que olhos.
Talvez devesse ter chorado.

Rasga-se uma corda...esse rasgo reforçar-se
ou deixa-se lá ficar, morto, estragado,
esquecido.
Talvez nunca tenha sabido voltar a atar
com habilidade e eficácia.
É isso que me dizem agora.
O que tem de ser tem muita força.
Ou talvez não.
Passo os dias tentando criar,
tentando provar que estão todos enganados menos eu...
E que erro.
Que danos terei causado tão graves?

Como se fosse fácil
separar a voz venenosa
da voz que ilumina verdadeiramente...
E apesar de já ninguém me conhecer dessa forma
estaria, num patamar bem diferente, só para ti.
Como sempre estive.

A vida não me quer matar já. Mas já faltou mais.
Eu vou morrer; vamos todos, mas eu vou morrer.
Medo?
Medo do que sinto em falta em mim.

O tempo sempre escassa.
A carne é fraca.
A morte é certa.
A falta é alterada.

Talvez tenha faltado muito mais por sentir
e conhecer;
apesar da sensação do total.
E todos os dias,
sem medo de o desejar,
sem medo do que possa ficar igual
anseio
pelo momento
em que te ouço.
Com naturalidade da rotina,
com saudade do passado.
Com aquilo que somos.

E dizes-me outra vez, como se eu tivesse ouvido mal
à primeira:
agora só te falta
(e falta muito
e quero muito
e morro por não conseguir)
o H.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Benção ou maldição

"One more medicated peaceful moment
Give me one more medicated peaceful moment...
" (APC - Orestes)

Depois de ver tantos rostos
e olhos
passando por mim
nessa frágil situação de vivência,
chegou a minha hora
de me moldar ao presente.
Medicamentos de alto espectro
invadem-me o sangue.
Poderia tudo passar de uma ilusão.
Imitando a dor.
Imitando a desilusão, a solidão.
Oh, são palavras, todas elas sem sentido...
Eu sei que sim.
Quem não sabe?
Alguém quer saber mais?
Eu abro a porta. Sempre abri.

Nunca me doeu a cabeça antes,
e agora, eis-me aqui, a ter sensações que todos
vós têm todos os dias.

Recordo-me vagamente, como quem mal se lembra
que estive noutro lugar, sentado
e foi então que tudo pode ter acontecido...
A razão de viver, para depois aparecer
esquecido; de confusão vestido.
Só mais um momento de calma
mesmo que não seja verdadeiro (?).
Dói-me o estômago de andar
nestes quadrados todos.

domingo, 17 de outubro de 2010

O último homem - o elogio que faltou

Foi o último homem a partir daquela terra, da sua geração. Deixou-lhe marcas físicas, desde pequenas obras à vista de todos, até pequenas ou médias obras que ficaram marcadas em quase todas as casas daquela terra; em algumas até mais do que uma marca. Costumava pegar no segundo neto que nasceu e leva-lo para essas casas, onde num quase silêncio ia ensinando. O neto gostava de o seguir, de o ver trabalhar, naquele ramo que ele dominava: fazer de tudo um pouco, aquilo que era preciso ser feito. Assim sendo, depois de fechada a fábrica onde trabalhou durante muitos anos, onde conheceu a sua esposa, começou a dedicar-se a ganhar a vida nesses pequenos trabalhos. Era a sua verdadeira arte. E em vários sítios daquela terra, assim como podemos observar naquele portão grande verde, encontramos várias vezes as iniciais AH. Agora, tão depressa, mais ninguém poderá escreve-las.
É curioso a falta que as pessoas fazem.
O seu primeiro neto respeitava-o. Mas na altura, assim como a maioria da raça humana, não lhe deu o devido valor.
É triste a clareza que a morte trás às nossas vidas. Já repararam?
Vivia naquela terra há tanto tempo, viveu tantas coisas, tantas pessoas, para depois, sem "razão" (desse mundo que me revolta e que a muitos leva à loucura), morrer.
Talvez ele saiba, espero que sim, seja lá onde estiver, que todas as semanas entra nos sonhos do neto.
E que até hoje, de algumas mortes que já passaram na sua vida, foi a dele que mais o marcou.

A vida, quando para nós parece um merda, trás com ela várias ideias que devem ser compridas...uma delas é parecer que fizemos tão pouco em vida, e que fazemos tanto depois de mortos.

E perguntamos todos os dias, será melhor o esquecimento ou a dor da lembrança?
Porque é que pessoas que nunca fizeram mal a ninguém morrem supostamente mais cedo?

Como qualquer ser humano, é normal mesmo na crença colocar em causa todos estes acontecimentos. Alguns procuram uma resposta. Eu nunca procurei resposta a isto, porque a raiva que me vai no cérebro é só uma, e nenhuma explicação, mesmo a mais honesta, mesmo a mais serena, me vai fazer sentir outra coisa qualquer.

Eras Touro, e como qualquer Touro que obedece às leis dos astros, eras teimoso. Muito. Talvez nisso tenha saído a ti.
Podia-me arrepender de muitas coisas. Mas só me arrependo daquilo que me lembro. Tudo fizemos para te ajudar a suportar melhor o que te restava da vida. Os que eram do teu sangue, e mesmo aqueles que não eram.
De todas as doenças que corroem este mundo, de todas elas, só uma está com o ser humano desde o seu nascimento. E toda esta família a teme, pois está no seu sangue. Se pudéssemos matar o cancro.
Esse estupor, mesmo depois de arrancando de um corpo, é como se ainda lá estivesse. A fazer-se sentir. A consumir.

Ninguém escolhe morrer. Mas tu morreste. Deixaste para trás um arrecadação cheia de ferramentas do teu trabalho, de materiais de construção. Agora, tudo está diferente. E a tua mota Casal, aquela que te guiou durante toda a tua vida, foi vendida.
Restam agora fotografias vagas. Tu a pegar em cada neto. Nas festas do Natal ou Ano Novo. Mas mesmo nessas, a doença também já está presente.
No teu último mês de vida nunca tivemos a coragem nem o amor de te irmos ver. E talvez seja isso o que me magoa mais. Se fosse hoje nada seria como foi. Mas não é. Existe o passado que ainda pode ser corrigido, e aquele que tem de viver connosco para sempre, sem correcção possível.

Tudo o que resta agora é sentir a tua falta, e fazer-te este elogio. Pois enquanto eu puder, lembrarei-me de ti, lembrarei os outros de ti. Fazes-me mais falta do que alguma vez pensei, e as saudades que sinto são muitas.

Em Lisboa, no IPO, faleceu o meu avô. Pai de dois filhos, marido de uma só mulher, avô de três rapazes e de uma rapariga. O último sobrevivente homem de toda uma aldeia chamada Sapateira, onde agora só agora residem apenas viúvas, nesse fundo do lugar, dessa vila chamada Castanheira de Pêra.

Foi uma honra estar na tua família, fazer parte de ti.

Obrigado.

Dedicado a Alfredo Henriques.

Gritocalo .

Fechaste o livro. Arrumaste-o no lugar onde ele não pertence.
Ficará a repousar escondido, camuflado na realidade que queres esquecer.
Por ti nunca mais voltarás a pegar nele.
Chamam-lhe vencer os fantasmas.
De que forma posso escrever um livro que fique guardado no peito?
Como se fosse uma maldição
um elixir eterno...
Neste mundo terreno
gosto de brincar com o divino.
Fingindo escondido, quase clandestino, honesto
mas mentindo, mais podre de alma do que pobre.
E a mentira é narrada com uma poesia nobre.
Queria ser uma abertura.
E mesmo sendo-a
acabo fechado
e mato o caminho como uma saída. E chegou a hora
de te retirares.
Como de todas as vezes.
Encontrarei liberdade quando expulsar o veneno
dos outros por mim implementado.
Sou o azar das vossas vidas
a morte dos vossos sonhos.
Sou o pior que o mundo tem para oferecer.
Se querem ser felizes
não estejam ao meu lado,
e guardem o livro nesse local já reservado
onde tudo é intocável, inalterado.
Apanhas as folhas desse livro rasgado, como se fossem
doenças, dias para não mais recordar.
Dias de uma luta que nunca aconteceu.
De uma dor que nunca doeu, pois tudo é inexistente.
Nada aconteceu. Nada se viveu.
É o amanhecer das trevas...
(Mente)
Vivam o amor!
(Matem)
Amem.
(Aproxima-te)
O meu corpo não acompanha os meus pensamentos;

Está tudo demasiado à frente de mim,
e eu
estou a ficar velho.

Escorre uma lágrima transparente.
Se tudo pudesse ser diferente. Mas não é?
Por momentos pensei que todos os fantasmas
tivesse desaparecido. Os meus, os vossos, os teus, os nossos.

Todos os dias tento não me lembrar de ti.
Não rastejar por pessoas e acontecimentos
que outros vivem também por ti.
Talvez ninguém tenha sido escolhido para sobreviver desta maneira;
sorrirei de inveja daquele homem
que vencerá o que mais ninguém venceu.
O homem que terá o maior prazer que qualquer outro
algum dia sentirá.
A minha curiosidade deixou-me sozinho,
a minha vontade deixou-me com menos um pedaço que nunca
pensei que constituísse o meu ser.
É uma balança quase injusta a que pesa
os pesos do mundo;
e que me faz implorar um pouco de paz de alma
e felicidade no coração.

Em tantas primaveras...
É complicado rasgar a vontade
e trancar à chave a voz que grita
por ti;
e tentar ignorar
aquilo que me falta.

A menos que tenha feito por matar-me
aos vossos olhos
sei que sentem o mesmo.
A bondade e a crueldade do mundo já me ensinaram,
e ensinarão muito mais
até que a morte coloque essa forca em mim
e que puxe com toda a força.

Esse livro ainda está guardado.
E sabemos onde ele está.

As diferenças despercebidas

Os pormenores passam ao lado de todos nós...
Na maioria das vezes perdidas, perdemos muito.
Talvez desta forma,
desta peculiar forma
ainda vá a tempo de vos ajustar os sentidos...
Sejam felizes e aproveitem.

(Para os mais sensíveis este clip pode causar arrepios fortes ou mesmo um pequeno estado de euforia no coração, ou estado de elevação...)

(Danny Carey - Considerado por alguns o melhor baterista dos últimos tempos. Pormenor sublime a solo - e um pormenor ainda mais sublime no seu todo.)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Blood to whine

(É relevante dizer que este título não é obra minha. Aliás, em primeira instância, é tirado da Bíblia. Esse meu deus (com letra minúscula), começa de certa forma a afastar-se da espiral com que pintou os meus dias, para se transformar num autêntico Baco (deus do vinho). E apesar de ir trabalhando nos dois projectos que mais admiro dele a verdade é que não se consegue desligar de outros dois...Mas não serei egoísta, assim como outros não o estão a ser. Cada um deve fazer aquilo que ama, esteja ou não dando um contributo talvez prático a quem o segue. (Será mesmo?) Portanto vai cantando com os Púscifer...Portanto vai editar um livro sobre a sua nova arte e paixão. E pelo rumo das coisas tem o mesmo jeito para ela como tem para as outras. Sempre me disseram, e com razão devo acrescentar, que ninguém é totalmente perfeito ou imperfeito (se bem que é tentador afirmar que existe imperfeição total em algumas coisas ou casos), mas que realmente existem pessoas mais ou menos perfeitas que outras. A verdade é que este título é aliciante. Faz-me pensar em vários assuntos a explorar...
Ironia das ironias (que saudades tinha eu dela), agora que tenho um excelente título, com várias ideias, não consigo dar seguimento.
No entanto fica aqui esta janela aberta, de supostas oportunidades...
Talvez fosse a hora certa para entrar algures um Jesus, que cheio de poderes, fizesse esse milagre. Não sou do género de só acreditar quando vejo...mas ver ajuda.)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lateralus (seguimento)


Escrevi, de forma talvez pouco usual para o que se vai escrevendo por esse mundo fora, um texto que comparava situações concretas (ou não) da vida, ou mesmo entradas e saídas de pessoas, com um acidente rodoviário. E não falei de probabilidade (tentativa de prever algo) mas sim de estatística, ou seja algo que de facto aconteceu. E dessa forma falei da força fatal dos impactos laterais e frontais que se podem dar num acidente.
Nessa altura, não diria que o mais importante, mas algo bastante importante, que contribuiu para a minha postura perante a vida foi estar completamente em sintonia e com uma fome douda de não parar de ouvir a música Lateralus.
Porquê ouvi-la agora? Porque às vezes temos de pegar em pequenos fragmentos do passado e voltar a estuda-los. Mesmo que não se saiba a razão para tal acto a verdade é que é assim que agimos.
E por momentos penso sorrir por dentro quando encontros peças soltas...Não sorrio por encontra-las. Sorrio por pensar que ficaram soltas de propósito. Para mim o acaso é inútil a menos que seja programado...E dado que toda esta afirmação é uma contradição, prefiro garantir a mim mesmo, nem que seja como consolo à minha alma, que nada é por acaso; que nada ficou ali por ficar. Dá-me uma enorme repulsa sentir que o atrito existente ou criado recentemente está lá apenas por estar...Não pode ser. Está lá para nos dar a necessidade, de mesmo sem querermos, encontrar uma forma de o refutar.
Como é óbvio tudo o que digo e escrevo caí depressa no esquecimento. Como está música desapareceu do meu cérebro, e mais grave ainda: da minha emoção de vida. Foi então que voltei a ouvi-la com a mesma atenção da primeira vez; com a mesma atenção da segunda vez; com a mesma iluminação crescente das vezes que se seguiram. E foi então que de certa forma algo dentro de mim acordou. Na minha cabeça surgiram algumas certezas novas. Mas algo é certo: ainda sou o mesmo que pensou partir. Talvez apenas esteja de volta. E na ausência, descubro um porta que se abre sem deixar escapar frio: esperança. Começo a juntar pequenas peças, momentos passados, que unidos significam muito.
Neste momento tudo o que posso odiar sou eu mesmo. Mais ninguém tem culpa de nada a não ser eu. O ser humano pensa sempre que tem de pedir desculpa ou que lhe peçam desculpa...É um erro normal. Às vezes não é preciso nada disso. Às vezes temos de nos desculpar a nós mesmos. Ou esperar que o tempo nos faça querer de novo. Voltar a querer as peças que ficaram soltas por essa razão que deve ser percebida.
No primeiro texto não mencionei um pormenor importante, que só agora enriqueceu o meu ser. Um choque frontal temos várias vezes na vida...temos um metro e pouco de metal que se vai encolhendo até chegar a nós com um pouco menos de força.
Pensem nisso...Vivemos em choques frontais. Não é hora de sentir a força de um choque lateral? A força do impacto será muito mais forte...e única.

"Spiral out, keep going! Spiral out, keep going! (Going...going...)"

sábado, 9 de outubro de 2010

Outra perspectiva do caminho marginal



Quantas mais versões terá a vida?
Quantas faces aguardam numa cara?
E fases?
Para quê mentires-te? Porque haveria eu de querer ver-te morrer?
A pressa é sempre a mesma,
o medo levanta-se e leva com ele tudo que és...
Minto. Leva apenas aquilo que quiseste que ele levasse.
Pensa nisso.
Ninguém está sozinho, mesmo numa espiral
auto-destrutiva; sentirás isso.
Quando? Quando tu quiseres.
Agarra a arma depressa
e mata o medo, num ápice
sem pestanejar,
consciente da melhoria
ou da mudança.
Quando? Agora.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Disposition - Watch the weather change

"Mention this to me
Mention something, mention anything
Mention this to me
Watch the weather change.." ( Disposition - Banda do costume)

(Dedicado de alguma forma ao meu coelhinho, pela forma como ama a música, e mais importante ainda: pela forma como ama esta chuva, este cinzento, este frio, este tempo.)

Foram noites a fio que vivi sozinho
na calma de uma cama que não era minha,
esperando que todo o escuro me envolvesse num sono
calmo e indolor, sem sonhos sem pesadelos, só queria dormir,
fiquei assim na espera, deitado a matar pensamentos
ou a tentar matar no escuro que não me acalmava...
Desta vez o tempo não iam mudando fora da janela, pois estava o mesmo
calor de sempre, e eu só queria dormir. O tempo ia mudando dentro de mim.
Metamorfose climática interior, onde sabores se misturam
dando lugar à agonia...
Vi o tempo mudar, apenas dentro de mim; e nunca mudou para melhor
o calor sentia-se longe e perto de mim, fora e dentro de mim,
Eu era calor, eu era explosão, eu era raiva aprisionada no suor da minha alma...
Um cheiro horrível instalava-se nas paredes dos meus orgãos, da minha pele,
e na minha saliva morria a esperança, nos meus olhos a ternura...e os meus dedos
perderam o tacto. Vi o tempo mudar, e tal como se fosse no céu, não pude fazer nada...

Hoje, sendo o mesmo que sou desde que nasci, com a experiência que aprendi
e que me ensinaram, vejo as nuvens a moverem-se muito mais depressa
ou muito mais devagar, e a chuva que cai intensamente.
Queria dizer algo.
Queria que me dissessem algo.
Mas vejo o tempo mover-se de forma cinzenta,
a ser ele próprio
e eu aqui a observa-lo.
Também a música me embalou os sentidos em noites mais drásticas,
horas de calma guiaram os meus sonhos.
O que me resta? Viver cansado?
O que me resta é sobreviver para depois voltar a viver.
Mas não é isso que quero.
Esqueceram-se de pedaços vários dentro do meu ser.
Vejo o tempo mudar
e nada posso fazer além do saborear. Menciona...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O cemitério dos vivos

Eu costumava ter uma voz...
Era uma voz que se fazia sentir perto
dos corações mais próximos.
Às vezes penso que posso ser mais,
mas depressa me esqueço como aqui vim parar,
Todos os dias são iguais,
todos.
Eu costumava mostrar caminhos
e sentir palavras
e gestos,
Eu antigamente era uma voz,
agora, e só agora, fiquei para trás.
E sou observado, de formas nunca antes sentidas,
e de uma forma que não me agrada.
Porque os dias são todos iguais.
Não sou eu que escrevo neste momento.
É outro qualquer, que costumava ter uma voz
e que cantava, e que sentia a voz fluir
num turbilhão de palavras que o faziam sentir feliz.
Sou outro qualquer, mas morto; sentindo os pés
de quem caminha neste cemitério.
Corroí-se-me a alma nestes momentos de solidão
debaixo desta terra, nesta cova que nunca cavei.
E é o coveiro que sorri de braço abraçado à enxada.
Sobrei nestes restos mortais
sem uma palavra,
eu que costumava ter uma voz.
Eu que não morri mas que estou morto.
As palavras foram mortas
facto que ninguém previu...
E foi isto que nunca fui, isto que nunca serei,
nas palavras longas e ocas
que na primeira oportunidade verdadeira
se sumiu.

sábado, 2 de outubro de 2010

Distúrbios vitais

Ænima

...alguém desligou o sol. E outro alguém esqueceu-se
de acender a lua, ficámos no escuro,
mas não foi um escuro duradouro.
Alguém se lembrou de unir pedaços de madeira
e com a força de mãos humanas
através de o forçar de atrito
criar uma chama, uma acção,
e ficámos a rodear uma fogueira.
A maioria nunca fará a mais pequena
ideia de como tudo aconteceu.
Censurada será a história de quem se uniu
ao pôr de um sol que desapareceu sem deixar rasto
de uma forma estranha
e de quem viu a lua nunca respirar...Está escuro, mas
não o estará por muito tempo...
Sinto-o,
sentiste o mesmo que eu?

A respiração acelerou
o mundo deixou de rodar, perplexo na sua calma,
e todo um silêncio perdeu-se no preencher de um vazio...
Tudo o resto nunca será história contada,
tudo o resto é o espaço vital
de quem quis matar e fazer sangrar,

tudo o resto é o que sobra nas mãos de quem viu
o sol morrer de forma diferente,
e uma lua que nunca nasceu,
O coração do guerreiro silenciou
toda a luz que poderia existir,
e o distúrbio
nasceu e morreu
no mesmo instante que se deu.

Ænima