segunda-feira, 7 de novembro de 2011

sanidade imperfeita


Ninguém sequer suspeita de que o sonho não é nenhum absurdo,
e sim uma realização de desejo.. Freud


...que simplicidade complicadamente amarga;
podemos já não ser quem somos
- nesse suave engano, mas podemos sempre
relembrar, e a lembrança vem, destrói alicerces
de um presente que parecia tão seguro
- nesse suave engano.
Tudo parece estar no local correto,
na função do movimento e das palavras
que devem ser conduzidas, tão calmas...tão à
flor da rotina. Tão nossas? E porque não..
Mas a sensação amarga é mais forte
do que qualquer olhar que consciente evitou
a realidade, adiantará fugir? Mas o Homem
foge, e foge tão bem...
...ainda mal.
é um estado comum dos corações,
famintos, preparados para devorar riscos
que possam aparecer; desejando quebrar
leis e regras e tédios e formas como se viviam
vidas - Por Tudo, Para Tudo, até que neve
corra nas veias em lugar de sangue,
até que o desejo seja só um, até que a escuridão
cresça e faça o que tem de ser feito - a última aproximação.
é na sanidade que se caminha, dizem,
e então? se é para caminhar perdido em cada
transição, perdido na tradução num diálogo de almas
que aos poucos deixa de fazer sentido,
afinal o que pedem? o que negam? Do que fogem?
uma criatura, um monstro, uma besta,
a fome possuída por outro grau de amor,
talvez maior, talvez igual,
suspendeu-se, ao embater com tecido
tão fácil de rasgar, - a vontade de saborear
e avançar na evolução era deveras enorme,
mas este não era um tecido qualquer...era
o tecido mais perfeito, e cada embate
de tecido, de sabores, de carne,
e de sentimentos, como tanta outra coisa
para falhar numa amarga sanidade imperfeita.

1 comentário:

Joana disse...

Excelente citação, para começar...Cada palavra fez sentido na minha cabeça, mesmo que individualmente. E o que me espanta sempre que te leio, é a força que consegues imprimir às palavras que utilizas, independentemente da emoção que queres passar. Acho isso louvável e uma característica que é rara hoje em dia; usar as palavras no seu todo, espremendo cada bocado de sumo que ela tem para dar.

«...que simplicidade complicadamente amarga;» começo perfeito e estranhamente familiar

«mas podemos sempre relembrar, e a lembrança vem, destrói alicerces [...] nesse suave engano» Não há palavras para exprimir, muitas vezes, o que leio nos teus textos; algo parece sempre encaixar-se no momento certo, no sítio certo e cria-se a poesia. Obrigada