segunda-feira, 21 de julho de 2008

Impressão digital


Acordo todos os dias
Com a impressão
Que estou a mais no mundo.
Maldita a hora em que
Comecei a inalar essa substância
A que chamam oxigénio.
As razões do meu nascimento
São uma incógnita, até mesmo
Para Deus.
Sinto-me mais inútil do
Que o uma pedra que não respira
Não come, não se mexe, não fala,
Não dorme, não acorda, não ama,
Não ajuda e não é ajudada…
Sinto-me acompanhado
Como um grão de areia no deserto
Pois ninguém conversa e mesmo
Que conversassem apenas perguntas
Fariam.
Sinto-me frustrado pois são todos
Diferentes de mim, todos dizem saber
O que fazem neste mundo,
Todos sabem os seus sonhos e
Quais os que são possíveis de concretizar.
Prefiro um pesadelo a um sonho
Pois está mais próximo da realidade.
Realidade essa que desconheço.
Não sei ao certo se estou
Mais longe de mim ou dos outros.
Nasci e cresci, ponto final.
Nada trouxe ao mundo
E o mundo nada me trouxe.
Talvez apenas um pouco de desilusão.
Não que estivesse à espera de algo
Só não estava à espera disto.
Acho que não passo
De uma cara sem razão de alma
Num bilhete de identidade
Sem impressão digital.

2 comentários:

Anónimo disse...

Amei este.
Transmite um sentimento de tristeza e de frustação perante o mundo, perante as pessoas, perante as coisas e perante a sua existencia.
O sentimento é triste, mas sincero e isso é o que mais adoro na tua escrita. És sincero, aberto e simples.

Beijo *


( espero q nao te sintas realmente como o sujeito poetico.. nao quero isso sim? :D * )

Anónimo disse...

Não podia deixar de comentar este texto que também desde o primeiro minuto que o li, me apercebi que estava perante uma escrita fenomenal. A revolta que este poema traz, mas ao mesmo tempo a tristeza que parece carregar, dá-lhe o essencial para passares essa mensagem que é tão necessária hoje em dia. Continua, por favor. :) *