quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Coisa ruim

Só posso dizer isto uma vez...

Trancado no meu quarto
Devoro agonia universal,
Sentado debruço-me sobre o papel
E o azul da caneta
Esboça o ódio que todos
Nós preferimos guardar.

Não se iludam, o inferno
Não nos aguarda,
O inferno já nos engoliu
Há muito tempo.

Enquanto perdemos tempo
Com inutilidades sem nexo
A coisa ruim já se instalou:
Preferimos criticar os outros
(é tão fácil apontar o dedo),
Preferimos continuar iguais
(é mais fácil do que mudar).

Paradoxo, eu mesmo.

Não morri na cruz,
Nem ficarei conhecido por morrer,
O calor de morte
Que me guia nestas linhas
É o mesmo calor
Que escaldou a mão
Do primeiro ser humano quando
Descobriu o fogo.

A raiva é consequência
Desta impotência existencial.

Exausto de vos ver
Sentados ou deitados
Na vossa passividade,
Prefiro escrever.

Positivismo? Esperança?
Palavras de ilusão…
O vento da hipocrisia
Apenas vos lança areia
Para os olhos…

O momento é o agora,
O lugar é aqui,
Pensam que vos falo
Em enigmas, pois serei
Simples,
Vejam-se ao espelho:
Eis a coisa ruim.

27/05/07

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