sábado, 4 de outubro de 2008

Last day on earth

Visto deste meu actual presente. De certo faltam muitas coisas, de qualquer maneira nesse dia, mais do que em qualquer outro, o tempo passará a voar. Serio o meu. Como será o teu? Aproveita pois, como diz o povo, cada dia como se fosse o último.

“O que farias de diferente se o mundo acabasse amanhã, se exactamente ao fazeres algo diferente o mundo não acabasse?” (Bill Watterson – criador de Calvin and Hobbes)

Descobri hoje que tenho como últimas horas a réstia de tempo dos minutos de um nascer do sol até ao outro nascer do sol.
Acordo às oito da manhã e deixo-me na cama. Saboreio a sorna matinal no aconchego da cama. Sem alguém ao meu lado a quem possa acordar com suaves beijos, visto os calções e vou correr um bocado. Correr, pelo simples prazer de correr, sem qualquer meta, apenas até os músculos pegarem fogo e os pulmões fraquejarem é o que eu mais gosto.
O resto da manhã passo-a com os meus. Recordamos os velhos tempos. Choramos de tanto rir com histórias e fotografias antigas. Dedico um tempo especial à minha irmã. Ela merece-o. Damos um passeio agradável. Prometo-lhe que à tarde estará comigo na despedida da praia e do mar.
Volto para casa e despeço-me de quem posso através do computador e telefone. Vou ouvindo todas as músicas que posso. Almoço a melhor lasanha alguma feita por um português. Bebo água, a melhor bebida até hoje inventada.
Peço um momento a sós e passeio na minha rua. A mais comprida estrada lisboeta, a Estrada de Benfica. Não choro mas comovo-me, a minha rua e um último caminhar nela. Adeus vizinho e conhecidos, foi um prazer.
Reservo uma boa fatia da tarde para pegar nos meus verdadeiros amigos. Nunca vos esquecerei. Há três coisas que os verdadeiros podem e devem fazer: estar lá no bom e no mau, apoiar-nos quando estamos certos e corrigir-nos quando estamos errados. Por último filosofar ou rir até não podermos mais. Vamos de carro para me despedir dessa cidade mais bonita que alguma vez encontrei. A grande Lisboa. Colocamos uma banda sonora só nossa. Variada. Lisboa serei para sempre teu. Sentirei falta de cada pedra na calçada tão perfeitamente colocada com arte e engenho, dos teus monumentos, dos teus mendigos, lojas e paisagens. Lamento não me puder despedir de sítios tão belos como o Algarve, Sintra, a terra da minha avó e mais ainda do grandioso Porto.
Na praia aproveito a areia, a calma e o mar. Amigos de todos os géneros e família. É bom estar ali.
Tinha mesmo razão, tantas coisas para fazer e tão pouco tempo. De volta a casa faço uns últimos recados e janto esparguete à bolonhesa. Que posso dizer? Adoro comer e adoro comida italiana. A comida portuguesa ficará sempre no meu paladar, desde a feijoada, cozido à portuguesa, os enchidos, os peixes, as sopas. A melhor.
Despeço-me por fim da minha família, como qualquer viajante para a morte deixo uma mensagem especial para cada um.
Saio de casa. Uma noite enorme espera-me. Com os meus amigos vamos viver o que resta da minha vida.
Conversamos, bebemos álcool até ao estado de felicidade consciente e rimos.
De manhã corri, de noite danço. Dançar liberta-nos. Ironicamente parece-me a noite mais comprida que alguma vez já tive dada a diversão diversificada. Está quase a nascer o sol. Vamos até Belém enquanto saboreio um ‘final-fast-food’.
Ao pé do rio Tejo despeço-me de cada um deles e de todos em conjunto. Sento-me e acendo um cigarro. Este rio sujo é o meu rio. A sua calma espera-me. Sem ninguém a quem por o braço por cima do ombro penso em todos o que ali queriam estar. Mas se a morte pode ser silenciosa também assim seria a minha despedida.
Como todos aqueles prestes a morrer ou como todos aqueles que perdem alguém reduzo-me à realidade: quem me dera voltar atrás, quem me dera ter vivido mais, ter corrido até não poder mais, ter amado cada mulher como se fosse única e última, ter feito tudo de melhor que conseguisse. Não choro, gostei de ter nascido e amei viver a vida.
A banda sonora final? O pouco barulho do rio e os carros que passam. Porque nesta vida a banda sonora é incontável, para todos nós, uma mistura de todos os estilos de música. O sol vai espreitando e desta vez não abre a janela do meu quarto mas a janela para morte. Riu-me sozinho, depois do dia que tive hoje o que poderei mais ver nas visões ante morte?


(depois de ter escrito, de facto reparei, faltaram algumas coisas)

2 comentários:

Joana disse...

Este poema tocou-me muito, porque demonstra por um lado o quantto amas a vida e por outro conseguiu mostrar-nos a sua beleza. Mostra que não tens medo da morte, embora talvez preferisses viver, mas ao mesmo tempo mostra que não te importas, porque gostaste do que viveste. :) *

Anónimo disse...

sinceramente? fiquei sem palavras.. disseste-me para so ler o ultimo paragrafo.. mas cusca como sou tive de ler tudo.. posso dizer q ate agr este é um dos meus perferidos.. e mais uma vez parabéns! nasceste com um dom.. =) Está um espetaculo!*