sábado, 29 de dezembro de 2012

Excéptio ( VII )


Se hoje olho para o agora pouco ou nada vejo.
De um passado alterado para um futuro por moldar
Prefiro ficar cansado, sozinho e discreto,
até que algo me liberte, ou até que eu
alguém consiga libertar.
Uma execção à regra ou regras sem qualquer
execção - o isolamento finge iluminar,
mas mesmo nesse fingimento
algo se aprende sempre. E seis cordas
rompem em agonia sincronizada
acompanhadas de tambores que abalam
as superfícies frias da minha alma;
Leva-me para as proximidades do longe,
numa guerra que procura somente a paz,

que se expande dentro de mim, fazendo-me acreditar
que tudo é possível mas que ao mesmo tempo
que nada mais interessa.
Não existe tempo nem lugar
existe apenas a vontade e um sentimento;
mas as vontades são muitas e muitos são os sentimentos
que se descontrolam que tentam não chocar,
que tentam sobreviver...
Tem de ser concedida essa execção,
para silenciar esse grito, esse atrito maldito,
Que implora para que o coração exploda em chamas
devorando o mundo através de lava.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Considerações

Está a chegar mais um ano (novo). O que trará o ano de 2013 de novo? Ainda não se sabe ao certo, pelo menos no que toca a coisas boas. A crise continua, isso é certo. A crise irá piorar, é mais que provável. Mas logo se verá. Sobre esta ano que passou...algumas considerações. Confesso que fiquei bastante feliz e aliviado por finalmente ter tido um ano em que a escrita foi muito mais pausada, sem os exageros passados, onde cada texto encaixou onde deveria ter encaixado, por outras palavras foram textos que de facto mereceram ser escritos, e dessa forma, fazer parte de mim e deste blogue, sem arrependimentos, sem leviandades. Nisso estou satisfeito, e espero, no que depende de mim, que o ano que se aproxima seja igual, ou melhor, mais pausado, mais completo.
Se tenho medo? Já tive menos. Com o andar do tempo, com o passar da idade, idade de anos e idade para se fazerem certas coisas ou já se terem certas coisas, o medo é uma constante. Vai-se gerindo as forças, de forma a injectar os músculos das pernas a recuarem somente para ganharem balanço para que conseguiam saltar o buraco ou o obstáculo (obrigado Fred pelas quotes constantes, as melhores).

Desejo a todos os leitores o mesmo que desejo para mim: menos guerras daquelas que se travam dentro da nossa cabeça - um ano onde abunde saúde física e mental e sentimental - um ano com novos e bons projectos ou pelos menos onde os que já se têm sejam mantidos...E quantia monetária para a sobrevivência mínima, dentro dos parâmetros de cada um.

Decidi acreditar que existem dois tipos de Carma. Aquele que é gerido e criado pelo Universo, por Deus, por deuses; e o nosso, aquele que depende de nós, que é por nos equilibrado, aquele em que nós temos o poder para investir as nossas forças alterando a realidade que nos rodeia e as pessoas que fazem parte do nosso mundo.

Um belo ano de 2013 - ainda cá estamos por isso...Seja o que vocês quiserem;
o autor, Diogo Garcia TH

sábado, 22 de dezembro de 2012

Um feliz Natal para todos

Não me irei alongar...
O Natal dá trabalho, mas quem corre por gosto não cansa, e esta é uma verdade verdadeira.
Comprar, embrulhar, entregar, correr de um lado para o outro, encontrões seguidos de um "Desculpe" ou "Peço desculpa", comprar, embrulhar e entregar. Tudo para fazer alguém (ou muitos alguém) feliz. Compensa? Pois está claro. Dar for tha win, always.
Um feliz Natal para todos os leitores. Com prendas físicas e não-físicas; na companhia de quem é mais importante.
[E abusem da solidariedade]

domingo, 16 de dezembro de 2012

The Fire Rises

[ Sétimo texto contigo...o que ainda posso dizer? Uma vez mais o privilégio foi meu, todo ele. O texto está concreto, belo, completo. As peças encaixam sempre. Obrigado. Com Joana GT Henriques. ]


No fim alguns dirão que tudo
Não passou de uma espiral de fogo…
Mas nós sabemos que foi muito
Mais do que chamas a ganharem vida
Em direcção a um céu.
O coração bate, e o seu batimento é um ritmo
Constante em crescimento, o corpo eleva-se,
O chão treme; o ritual está a começar,
O cântico move-se ao sabor dos passos,
A sicronização é perfeita,
Sabemos o que queremos, para onde vamos,
Como o faremos. O medo é transformado em gelo.
Mas o gelo também queima. Adormece. Torna o meu ser dormente,
Até cair num sono profundo, sem dar por isso.
A escuridão recebeu-nos dentro de si e deu-nos espaço para o luto.
Aqui, o silêncio abafa os gritos que ecoam, apaga o que realmente acontece.
Já nada importa, porque uma parte de nós estará para sempre perdida.
Viver na ilusão mantém-nos vivos, mas arrasta-nos ao fundo quando sabemos a verdade;
Nesse fundo é onde estamos, talvez à deriva, talvez sabendo perfeitamente onde viemos parar. Talvez tendo a certeza de que é aqui que pertencemos. Aqui viemos, por um motivo.
Claridade aqui não existe e as trevas, esmorecem o fogo, até ele desaparecer.
Ajoelhados colocam em causa todos os sentimentos
Todos os actos feitos e por fazer…
Procura-se uma luz segura que brilhe na mão
Dos verdadeiros ou dos inocentes, apontando um caminho,
Para uma redenção, agora que o arrependimento
Crava os dentes afiados na garganta e as unhas
No resto do vosso corpo.
Mais cedo, do que mais tarde, o fogo
Nada mais pode consumir…
E agora? O que farão de diferente?
Esta é agora a nossa sina: tentar agarrar-nos
A algo que nunca dura, que se esfuma no ar.
Mesmo à nossa frente, quando estamos prester
A tê-la. Tentamos agarrar-nos à realidade, à verdade
Que nos mantém na sanidade. É tudo o que nos resta,
Mas nem isso existe mesmo.
Esforçamo-nos por conseguir vislumbrar a luz neste
Fim de tudo sombrio. Mas talvez seja melhor assim,
Talvez a esperança só viesse prolongar o que está
Destinado a morrer. Fadados a viver para sempre entre
A mentira e a verdade, o que aconteceu e o que foi sonhado,
Deixamos agora de acreditar…É tão cansativo sermos os únicos
Que ainda tentam acalmar a dúvida, para manter o sofrimento longe.
É tão esmagador saber que no fundo, nada mudará, nada é
Possível fazer para consertar o que está mal. Não terá um final feliz;
Isto está amaldiçoado desde o primeiro pensamento que o originou.
Deixamos agora de respirar…Entregamo-nos à leveza do desistir.
Algo no entanto desperta na escuridão que nos 
abrigou por tanto tempo – O fumo entranha-se aqui e desperta-nos para o que começou.
O fogo regressou, não-derrotado de queimar. Não cessou de arder.
Ergueu-se. Tal como nós.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

amarrotamento


Onde estará essa serenidade,
essa paz calma que suaviza os balanços da vida,
dando lugar à raiva e ao ódio somente quando
é necessário?
Essas sensações de dever cumprido,
de que fazer melhor era impossível,
de felicidade autêntica,
de se estar completo?

Tudo não passa de um papel amarrotado
deixado ali ao lado, mesmo no chão,
repleto de rascunhos.
Planos desiguais, ideias novas e originais,
continuadas no pensamento
paradas antes do movimento.
Algumas raízes são cortadas antes
da árvore dar fruto, outras vezes falta essa
coragem para o colher.
E a rotina vai esmagando, envelhecendo,
roubando, enganando...São vontades
contrárias aquelas que contrariam os actos,
O atrito só é inexistente quando se caminha
para o abismo da derrota e da desistência,
em tudo o resto prende pés e mãos e razões e sentimentos
como se fosse areia movediça.

Será essa a felicidade? Caminhando, arrastando
membros presos, numa vontade morta?
Afinal é essa a felicidade?
Não a amas, mas irás amá-la sempre.


Podem não ter a sorte de o mundo acabar para a semana,
Pois então
mexam-se
e apanhem o papel amarrotado
que estava no chão.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Desiderium ( VI )


Nasce o verbo, (fazer) , para completar o desejo,
Se tudo o resto está ferido, às portas do acabado,
É preciso acreditar que esta possibilidade
não passa de mais um divino gracejo.

Num labirinto de enganos é difícil encontrar
o caminho que nos leva ao mais puro,
a esse desconhecido porto seguro,
E morrer a tentar sabe sempre a pouco, ..

Um arrepio que comove o ser mais frio,
a estátua mais dura, a rocha mais duradoura,
Por se estar perante um abismo
alcançavel a um salto de fé...
Recuam um passo, apenas para ganhar balanço,
E a imagem só se dissolve triste
quando o chão, matéria física estática,
vos é roubado...

Tenham (sempre) cuidado com aquilo que desejam
Pois pode muito bem tornar-se realidade.

Esta como tantas outras, é uma guerra
que dura desde o Início, por um lado
a presença tão próxima do realizável,
por outro, o falhanço prevísivel.

Do suor ao sangue, da semelhança
à certeza...Lutar por nada nunca compensa,
e o esforço em vão destrói lentamente
como a pior doença.

Abram alas, que outro monstro se levanta,
seduzido por toda a vontade manifestada
em finalmente concretizar,
De ferramenta na mão pronto para ceifar
o que restava da esperança.
Um duelo de porpoções épicas
aguarda em cada hesitar...
Sozinho contra o mundo, sozinho
contra ti próprio...Deseja-o com
entusiasmo e realiza-o mesmo.

Tenham (sempre) cuidado com aquilo que desejam
Pois pode muito bem tornar-se realidade.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ex confessso ( V )


Uma confissão interna que ganha força
para se libertar, seduzindo seguidores,
crentes e descrentes, numa espiral
de sensações reais.
Um arrepio cresce na base da coluna vertebral
O suor desce lento mas fluído como que lágrimas
O coração acelera, pulsam todos os orgãos,
Aceitação nesta essência vicariante
Consciência tranquila neste absorver intranquilo
Negação de uma insanidade transmitida pela realidade.
Vem de dentro, vem rastejando, silêncioso,
Um perfume poderoso é libertado,
Tudo pode ser feito de novo...
Gritos, paredes destruídas, algemas dissolvidas,
a fome pode ser saciada, em todas as suas vertentes,
Chegou a hora do verdadeiro ser.

Chega de enganos, nesta dança próxima
entre anjos e demónios e seres humanos.
Rezo para que esta fome não me devore vivo,
Rezam para que este saciar não passe de um delírio,
Rezem para que o incomum e o raro se tornem a constante neste ciclo.

Esta confissão é pintada a tinta fresca
Envolta em fragância acesa,
Saborosa para quem a confessa.
O toque, o rasgar, o morder, o arranhar,
o beijar, o sentir e uma língua que procura sem cessar;
O nada transforma-se em pouco e o pouco em tudo,
neste momento, neste lugar,
Uma carícia que invade e alcança os recantos
mais escondidos do universo.

Ouço a confissão, multiplicada por cada um de vós,
E sinto-me tão diferente e só
por me aperceber que têm o poder de o ser
de o fazer de se soltar, de caminhar,
Porque esperam - nunca saberei dizer,
Porque fingem, porque se enganam,
porque se deixam enganar,
Porque preferem aceitar estar a morrer um pouco mais
por um pouco mais de tempo...Em vez de.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Falling



Haven't you seen me sleepwalking 'cause I've been holding your hand
Haven't you noticed me drifting
Oh
Let me tell you I am

Tell me it's nothing
Try to convince me that I'm not drowning
Oh
Let me tell you I am

Please
Please tell me you know
I've got to let you go
I can't help falling out of love with you
Ooh

Why I am feeling so guilty
Why I am holding my breath
Worry about everyone but me and I just keep losing myself

Tell me it's nothing
Try to convince me that I'm not drowning
Oh
Let me tell you I am

Please
Please tell me you know
I've got to let you go
I can't help falling out of love with you

Won't you read my mind
Don't you make me like you
And I hear

Please
Please tell me you know
I've got to let you go
I can't help falling out of love with you
With you
Ooh
Ooh

Haven't you darling
I'm sleepwalking


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fiat voluntas tua ( IV )

Onde estás irmão?
Caminhando tão longe do coração
passos são dados devorando imensidões
no centro de todas estas multidões
nunca me senti tão a sós com a solidão,
enquanto respiro angústia, enquanto
procuro por comida ou esperança neste chão,
Enquanto não deixo de viver
Enquanto não conseguir cair mais um pouco...

Onde estão? Olho vicariante, astuto,
cortante e fácil de lacrimejar,
mas onde está essa força para estender a mão?
Minha culpa, ausência da vossa inocência,
Invado-me acima de toda esta pestilência
mesmo que só por alguns segundos
para contemplar a real essência
deste mundo condenado.

Irmão porque evitas olhar?
ou quando olhas finges impotência?
Por entre guerras, ganâncias cegas,
Da fé, às moedas, à imaginação cruel,
O preço que se paga por se ser
inocente é carregar a dor de quem tem
realmente a culpa.

Neste mar de escuridão
ansioso por engolir os barcos mais frágeis
a minha última prece é
dirigida a um Pai ausente
e a todos os Seus filhos que não me ouvem
perguntar: Onde estás irmão?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ad animum ( III )

Chegamos ao mundo
das profundezas do anônimo,
e por vezes a única
tentativa de tocarmos
a apoteose está escrita
no nome que nos dão,
forçando o destino
a reconhecernos.

O cordão umbilical é cortado,
a saúde é louvada,
Começa a vida.

Alcançar a verdade é fácil
difícil é compreende-la
e aceitá-la.
Caminhamos agora sobre pó e cinzas,
(Chegará a nossa hora também),
sem nos lembrarmos do que as
forjou, ao que pertenciam.

Um número ou um nome
ou uma impressão digital.

Reduz-se o importante ao
tamanho de pó e cinzas
(Chegará a nossa hora de o ser também),
E a vida passa, como todas
as outras. Marca só existe uma, na
essência humana: para o anônimo retornamos. 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Certo como a morte

Jamais poderá julgar-se
como certa a maldade
intrínseca no Homem, assim
como a bondade.
Mesmo na distância constante
para com a verdade jamais
se poderá julgar como certa
a mentira no Homem; e o
ódio, e o amor, e todas
as variedades de todos os sentimentos.
Certa, fatal, final
Só a morte.

Existem momentos em que as palavras
não são vento,
levadas por um nada
transportando um vazio
para um lugar qualquer,
para lugar nenhum. Não.

O que se enterra pode ser desenterrado, 
do que se foge, mesmo que para longe,
pode-se mais tarde para ele voltar, 
o que se perde no tempo
noutro tempo se pode reencontrar. 

Não. Nesse lugar único, construído
sob palavras, onde degraus levavam a
divisões diferentes e a janelas com paisagens
nunca antes vistas,
como se deveria agir?

O óbvio era falado por tantos, e falado
pesado de tanta verdade.
Acto vivo, já pensado, desejado, quase tardio.
Tão certo como a própria morte. 
Uma saudade do que ainda não se perdeu.

E escrito nas histórias mais banais
está escrita a verdade das almas
e das tristezas imortais:
o que está morto não pode (voltar a) morrer.



A frase a itálico, última frase do texto, é retirado da compilação : Game of thrones, de George RR Martin.
Este texto é uma lembrança para o leitor, ser humano atento, que vive cada dia, consciente que o céu muda várias vezes durante a sua vida. Existem vários tipos de escuridão, e cada uma delas dura o tempo que tem de durar. O problema é só um: algumas podem durar uns minutos, outras horas, outras tantas dias...algumas conseguem perdurar por meses e mesmo anos. E no extremo: para sempre. Não importa se a culpa da sua duração e até do seu aparecimento é nossa, de outrem, ou de ninguém...elas duram o tempo que têm de durar. O que está nas vossas mãos é isto: a vontade (somente) de tentar de uma vez por todas, fazer com que ela desapareça - talvez isso não seja possível, mas aos poucos, ao querer pelo menos (somente)  tentar, talvez ela diminua, fique pequena, tão pequena...que já pouco se faça notar, mesmo que nunca desapareça. Existem vários tipos de escuridão, e cada uma delas dura o tempo que tem de durar.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A estrela da manhã

(o Início)

A história que vai ser narrada é recriada em parte pelo autor (parte onde existe crença do mesmo). No entanto, seja em que circunstância for, os pontos são sempre acrescentados. A história que se segue, com ou sem pontos acrescentados, é considerada por muitos mitologia, e por muitos outros verdadeira (mesmo que apenas parcialmente)...

Era uma vez uma história que aconteceu antes mesmo de se ter dado origem à História. No alto, onde nenhuma criatura viva consegue alcançar, a solidão era constante e dolorosa. E quando os planos consistem em desenvolver algo tão infinito como o universo, uma só força, mesmo sendo a força mais forte de todas, pode precisar de ajuda.

Os anjos foram criados.

Mas mais cedo, do que mais tarde, a Ciência abateu-se contra o seu Criador...tudo tem o seu oposto, e esta
é uma regra sem excepção possível. E algo sem oposto ainda visível, depressa teria de ser revelado.

- Como ousas revoltar-te contra o teu Pai? Aquele que te criou, que te ensinou o caminho?
Eras o meu filho preferido, dotado de todas as qualidades, e todas elas se revelaram mais em ti do que em qualquer outro...Porquê a ganância? Essa vontade de usurpar um trono sem lugar ou tempo
e uma coroa tão pesada quanto o poder e a responsabilidade de quem a detem.

Entre várias maldades de raíz, inalteráveis, a que mais pesou na balança foi não existir qualquer arrependimento.

O Pai beijou o filho, e sabendo que jamais o voltaria a beijar como tal, (ou pelo menos não tão cedo), em vez de um só beijo, deu dois, um do lado esquerdo da testa, outro do lado direito. O Pai expulsou o filho de casa.
Depois o universo trovejou, por um lado o alívio de quem inspira ar depois dos pulmões estarem quase a engolir uma água forçada - pois tinha-se libertado o último oposto, deixando o universo infinitamente equilibrado), por outro lado o horror, o pressentimento seguro de morte, destruição e de uma batalha colossal e sem prazo final.

A queda durou muito tempo...A velocidade da descida fez realçar as marcas deixadas por cada beijo, e aos poucos essas duas marcas transformaram-se em extremidades, duras como ossos humanos, elevando-se acima da testa por alguns centímetros. Com a temperatura negativa existente acima das nuvens e com o auxílio da velocidade, as asas, partes do corpo mais frágeis,  ficaram danificadas, o toque suave e branco foi trocado por algo duro, espigado e retorcido.
O impacto que a terra sentiu só seria igualado milhares de anos depois...a força foi tal que o corpo que caía perfurou camadas várias de solo até chegar ao calor interior do planeta. Do Branco ao gelo ao fogo.
Renascido das chamas infernais.

Era uma vez um anjo caído
por ele próprio esculpido
para se tornar na força contrária
no oposto, o escolhido e o que se escolheu,
para sempre capaz de desequilibrar o Homem
(um Homem por si só já desequilibrado)
e para ser o Seu adversário,
até que a História decida
contar uma história diferente.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Três pontos finais


- Sim...Surpreende-me. A voz soou desafiante, mas sem grande esperança.
O homem baixou os olhos de um céu que aparentemente não era dele, para voltar a caminhar na sua terra.


- Ai, a vida do mundo. Suspiraram.

O senhor começou por se queixar do estado que o país atravessava, e apesar da idade experiente, mal sabia que as coisas, em poucos meses, iriam piorar imenso. Mas a angústica não se devia aos roubos, aos enganos. A televisão era a sua única companhia e queriam tirar-lhe. Agora só sobrava a televisão, e até isso...o mundo lhe queria tirar. Começou a chorar, há mais de dois anos, ia todos os dias visitar a sua esposa. Estava a dormir num profundo coma. Era o amor da vida dele, e ali estava, como que a dormir um sono honesto, como se se estivesse a preparar para o sonho maior que é ausência da vida. Chorou, e chorou um pouco mais, chorou abertamente como se mais ninguém, tirando o alguém daquele momento, o quisesse ouvir. Não tinha mais ninguém, e a única coisa que o conseguia distrair da dor diária, estava-lhe a ser retirada...

A senhora falava por cima de uma tristeza que não era possível disfarçar. Aos poucos as lágrimas esculpiam a voz. Trabalhou tanto, ajudou tantos, e agora, tantos se tinham esquecido dela. Ainda não passava fome, mas a vida aos olhos dos inocentes é sempre pesada, e a inocência traz com ela uma verdade honesta. Ia sobrevivendo, mas onde iria tudo isto acabar? Pagava sempre as suas pequenas dívidas, que criava nos bens essenciais. Disse que ia pagando aos poucos, sempre aos poucos, e que apesar de toda esta pobreza, deste perder constante da sua dignidade, acabava sempre por pagar, custasse o que custasse. Não era mentirosa, nem enganava. E se todos fossem como ela, nada disto estaria assim.

O Homem sentou-se à porta do Banco. Existem três grandes locais onde podia pedir esmola, facto que aprendeu em pouco tempo: à porta de supermercados, bancos e igrejas. Os primeiros dias foram difíceis. Rezam as lendas do senso comum, que os dias primeiros são os piores...mas não, estão todos enganados. Depois do choque inicial, chega o peso da verdade. Da injustiça, de olhos vendados por mãos humanas; da verdadeira fome, não daquela que se tem quando se passa à frente de uma refeição ou quando não se teve tempo para comer tudo o que estava no prato; do cheiro e da sujidade que um corpo e as vestes que o cobrem são capazes de acumular...do sentimento de repulsa e ódio que conseguimos ter para connosco e para com o mundo que nos rodeia.

A mulher estava em pé, parada num parque de estacionamento. Quem observava não poderia dizer com certeza se estaria à espera de alguém, ou se o seu carro estaria ali perto. Devagar tirou um objecto do bolso, capaz de memorizar imagens. Afastou-se um pouco da parede, que mais parecia um muro, e apontou o objecto. Memorizou a imagem e enviou-a para um familiar, amigo ou para a sua outra parte. É tão raro as mulheres terem estas originalidades romanticas, não é? Pensou. Hoje não, não comigo. Sorriu e seguiu a sua vida. Nas pinturas escritas que estavam na parede, que mais parecia um muro, podia ler-se, entre outras coisas: Amo-te, em letras grossas e vermelhas.

O casal não estava vestido formalmente, apesar de ter chegado do trabalho à pouco mais de vinte minutos. Eram 19h25. Podiam ter ficado a preencher mais alguns minutos de tempo vazio nos seus locais de trabalho, mas não. Podiam ter-se estendido no sofá, mas não. Podiam ter trazido trabalho para casa, mas não, pelo menos para já. O casal estava vestido o mais simples possível, talvez até de calções ou calças de fato de treino, e de t-shirt. No campo de basquetebol, jogavam com os seus dois filhos, e aproveitam desta forma, da melhor forma, momentos que não permitiam que ninguém lhes roubasse, conscientes do seu valor impossível de quantificar.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

modus vivendi ( II )

O pesadelo, que já não pertence ao sono, é ainda mais medonho.
Sombras arrastam-se, (a desgraça chegou),
uma a uma estendem o braço, só osso e podridão,
tentando agarrar outras almas...O drama é o lar
desta humanidade; o sol seca
a chuva e a humidade afogam.
O sonho horrível não existe
mas este local é bem real.
A culpa dos outros verga a coluna dos inocentes,
sem alimento ou água, sem coragem, sem força,
sem dignidade. São as sombras do Homem
a assombrar as planicies desta Cidade.
O Homem detem o amuleto para abrir
a Caixa de Pandora...tal poder,
mesmo que parecendo pouco,
é capaz de destruir tudo o que à volta
do sol gira. Dor.
Enquanto existir monstruosidade
haverá sempre mais alguém
a mentir, a enganar, a roubar.
A vida é um fino fio que une duas nuvens
afastadas; e ela abana, sofre forças
vindas dos trezentos e sessenta graus possíveis,
até não aguentar mais, até não querer aguentar mais.
A compaixão foi degulada, tudo o que se consegue
ouvir é um silêncio frio.

sábado, 13 de outubro de 2012

locus horrendus ( I )

Cada gota de suor que escorrega
pelas costas é como se caisse em queda livre
numa velocidade muito lenta,
Grãos de areia, pesados e grossos
fazem com que a passagem pela ampulheta
seja extremamente dolorosa.
Este lugar não te é estranho,
Anjos algemados esperam pela decapitação
A sua esperança de estanho há muito
se rendeu a uma ilusão consciente.
Uma aura vermelha e branca
rodopia à volta do teu corpo,
tentas respira-la, absorvê-la,
mas é em vão, uma poeira cinzenta
aproxima-se, já mais próxima
compreendes que afinal é negra...
Tudo o que era certo e seguro
tudo o que era correto e aceitável
desvanesse em poucos segundos.
A realidade, tal como ela é
penetra nos poros da pele,
amostras de insanidade começam-se
a fazer notar. Estarias a dormir?
Quando acordas, depois de despertares
de mais um pesadelo, depois de despires
os lençóis suados, um arrepio
percorre os braços, o peito e a cara...
O pesadelo, que já não pertence ao sono, é ainda mais medonho.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

guilty addiction

(o Durante)

O pecado zero, o pecado
enraízado em qualquer ser humano.
- Salvei ontem para hoje me tornar
num demónio, reza a História.
Duas faces da mesma moeda...
Até que a morte da vida
desmanche uma peça
já desmanchada, e na ralidade final
possa entregar a
verdade absoluta:
Um homem só aprende com os seus erros depois de morto.
Será necessário? Havéra outra escolha?

- Eu preciso de aprender.
- Ensina-me a ensinar.
A traquilidade é tão abstracta,
numa realidade assim o silêncio
é imprevísivel, na respiração de
tambores que abalam um momento
fazendo desmanchar ainda mais
certezas e vidas já desmanchadas,
tudo se entende num enorme caos.

A interrugação aumenta a cada dia
que passa, se a maré foge livre
na procura de uma resposta
volta demasiado cedo sem a trazer,
e com ela mais perguntas
chegam...com sede.

Fogo, sombras...gelo. Luz.
Luz, fogo...gelo e sombras.
Talvez em vão...gritem; peçam só mais um instante.

sábado, 6 de outubro de 2012

a Dança da Morte


uma dança de enganos, uma dança de incertezas,
Se assim o é em vida
também o é na morte.
A melodia passeia por todos os géneros músicais,
e a dança começa a ser dançada
no momento da criação.
A vida dança com a morte, e por muito bem
que a vida dance, mais cedo ou mais tarde,
tudo acaba, e a morte continua a dançar
sozinha.
Se a sorte existir, faz companhia aqueles
que durante a dança, estão quase a errar,
e quando vão pisar os pés da morte, esta muda
de posição, e acabam por pisar apenas o chão.
Outros fazem de tudo para manter
uma concentração longíqua, mas sem a mesma sorte,
e apesar do esforço, a morte antecipa-se
ao movimento rotineiro, e faz por ser pisada. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Wait for Sleep



"Standing by the window
Eyes upon the moon
Hoping that the memory will leave her spirit soon

She shuts the doors and lights

And lays her body on the bed
Where images and words are running deep
She has too much pride to pull the sheets above her head
So quietly she lays and waits for sleep


She stares at the ceiling
And tries not to think
And pictures the chain
She's been trying to link again
But the feeling is gone

And water can't cover her memory

And ashes can't answer her pain
God give me the power to take breath from a breeze
And call life from a cold metal frame

In with the ashes

Or up with the smoke from the fire
With wings up in heaven
Or here, lying in bed
Palm of her hand to my head
Now and forever curled in my heart
And the heart of the world..."

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

breaking All illusions


Fios apertados em cada extremidade
para que o forte som seja capaz
de trazer algum género de paz
às entranhas desta calamidade.

Os tambores manifestam-se como um trovão
abalam esta monótoma realidade
Triste, seca, sem capacidade
para evolução.

Magia, História e simbologia
tudo envolto em névoa de confusão,
Sarar, fugir, morrer hoje, uma obsessão
presa aos alicerces desta vontade fria.

Números e letras que afectam o pensar,
Acendem o Passado e a Nostalgia
se tudo pudesse voltar atrás por um só dia,
Tudo por tudo para tudo recomeçar...

A vontade não chega, para quebrar todas as ilusões
Carne, osso e pele, preparados para se sacrificar
Por um mal menor por um bem maior, se calhar,
Fingir é fácil, até que comece a doer
Porque a dor se baseia (na falta de viver
realmente), no cansaço constante de respirar apenas recordações.


 (imagem: Dream Theater, A Dramatic Turn of Events - cover)

sábado, 22 de setembro de 2012

zahir

Nessa espiral consumida de negro
costuma brilhar a esperança,
recatada, silenciosa, como
o sono de uma criança.
Quando chegar a hora de despertar
só sobra um único medo
ter despertado tarde de mais.
Como é possível ainda aqui estar,
depois de várias tentativas
em forças e acções entregues à vontade dos Céus,
e das terras. Como é possível?
Agora mesmo, um constante delírio,
uma concretização quente longínqua
incapaz de se aproximar
para matar esse arrepio frio.
Uma centelha divina vai perdendo força,
como já perdeu em tantas outras almas,
esta é só mais uma,
E os passos arrastam-se, fracos,
movidos por uma vontade inexistente.
Não encontra saída da minha mente,
não encontra saída do meu corpo.
A esperança brilha, onde ninguém
espera que ela se faça brilhar,
recatada e silenciosa, à esperam que a matem
ou que a possam finalmente abraçar.


 'Segundo a tradição islâmica, o Zahir é algo ou alguém que acaba por dominar completamente o pensamento, sem que se possa esquecê-lo em momento algum.'

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Palavras de sangue, Segundo


" Um Peão bem posicionado pode valer muito mais do que o Rei... " (Castle)

...Mas a sorte nunca retribui com sensatez e
o Jogo recomeça. As peças voltam a ser
colocadas no seu devido lugar.
As memórias nunca mentem
e agora a função primeira é lembrar
cada erro, cada força do oponente,
Para que desta vez o resultado seja diferente.

A cada movimento de cada peça
um rasgo de sangue alastra-se pelo tabuleiro.
Seria perder tempo tentar evita-lo ou lava-lo.
(Xeque)
Pequeno Peão que se avança, oito pequenas criaturas
consideradas por todos mera carne para canhão.
Para aquele que não acredita na sorte
no fim será contemplada a verdadeira distinção.
Segurem com força esse vosso Rei - pois perde-lo depende
apenas de culpa vossa,
O Rei, esse está seguro, sabe que sem ele nada mais interessa.
(Xeque)
Uma jogada bruta deve ser pensada
Um sacrifício de louca aparência
Para que o triunfo seja tudo o que resta.
(Xeque)
Num tabuleiro preenchido de sangue - onde cada quadrado
se tornou vermelho - restam dois Reis e um Peão.
Rainhas morreram, Bispos aguardam no Purgatório,
Cavalos servem de alimento, as Torres não passam de ruínas...
Quinze pequenas criaturas aguardam no exterior da batalha,
Aguardam para que possam levantar o seu Rei, festejando,
Aguardam para que possam levantar o seu Rei, levando-o
para junto do corpo da Rainha...
(Xeque)
Movimento, aproximação, esperança na luta.
A jogada está feita...a vez de jogar passou para outrem.
Desde o primeiro movimento do Peão
começou logo a ser escrita em sangue a palavra...
(Mate) 


( Primeiro :  http://versologista.blogspot.pt/2012/05/palavras-de-sangue.html  )

terça-feira, 11 de setembro de 2012

prisão de Vidro e Gelo

O único desejo é que o tempo estivesse
parado, melancólico e sicronizado
como o silêncio prolongado que chega
depois de se ouvir os sinos de uma
Igreja. Aqui.
Nesta prisão física e mental
todos os movimentos que não foram
dados pesam de mais,
Todas as letras e palavras
que não foram ditas ou escritas,
A realidade está já ali, do lado de fora,
e observá-la sem poder vivê-la
é um sofrimento constante,
antes de inspirar, depois de expirar, durante.
O frio que rodeia o interior da prisão não é um frio
qualquer, não é daqueles frios superado com o peso
de tecidos, é um frio forte, capaz de gelar o Inferno.
Olha-se a realidade, o movimento do mundo,
e nada se pode fazer.
Se nos conseguissem ouvir, ouvir verdadeiramente,
talvez tudo fosse diferente.
Mas as pessoas não conseguem ouvir, não querem
ouvir.
Não se consegue escapar - e o transparente
do vidro é a metáfora contrária da não
transparência de quem vive fora dele.
Este local nasceu com o ínicio:
Alguns vivem nele por terem sido lá aprisionados...
Outros, (a maioria), desde sempre lá vive, sem nunca
se terem apercebido.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

iNSTANTE

Num abraço aparentemente inocente
só o olhar mais atento
consegue observar o pormenor
onde a mão do demónio acaricia
o fundo das costas do anjo...mas
a mão sobe e por entre os omoplatas
crava-se...tudo se dá num Instante
e nesse Instante tudo muda.
A verdade é fácil de esconder,
A mentira é fácil de aceitar.
Tudo já mudou, e mudou há muito tempo.
Os olhares fingem estar fixos, num ponto escolhido.
O livre arbítrio é justificação para os que não entendem
o lugar matemático em que estão situadas as estrelas,
E o Fado, desculpa justificada, para que o peso
do erro e da morte, não seja tão pesado.
Já não me sinto preso, aprendi a respirar este pesadelo,
a vive-lo, porque assim é a vida.
Entrelaçados movimentos, sentimentos,
unidos pela origem e pela origem separados,
Será isto o que perpetua a história do Homem?
Quem poderá negar? Fazer diferente? Iluminar?
Quando tudo o restam são trevas.
    A sabedoria está na altura máxima que os olhos alcançam
A sabedoria está na distância máxima que os olhos alcançam
Mas é aqui, tão perto, tão junto ao chão, que olhos olham.
Respirar e viver dentro de um pesadelo é a única forma
de morrer a sonhar, por uma realidade diferente,
pois esta já é autêntica e pura, na escuridão, na certeza.
O anjo teria conseguido voar se qualquer homem ou mulher o tivessem
soltado. Mas ninguém se moveu. E mesmo se alguém se tivesse movido
teriam chegado a tempo de evitar aquele Instante?
Digam-me...porque demoraram tanto? Porque continuam a demorar?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

No lesson learned

' Sometimes in life you feel the fight is over,
And it seems as though the writings on the wall, .. '

Sensações tão merecidas,
carícias ressequidas apodrecem esquecidas
dentro de quatro paredes fechadas
- Nunca existiu saída.
Culpamos os outros pelo excesso de ingratidão
Por não terem dado o valor
Por ser tão tarde agora...
Mas nada é o que parece ser
e agora já não adianta esforçar as pernas
empurrar os braços contra esse chão tão pesado
- Com ou sem ajuda é impossível voltar a erguer.
Repetição constante de uma desgraça que nasceu
no dia do nosso nascimento, lutando contra um vento
que nunca fez por se desviar.
E o que toda essa gente teme
é que a fraqueza e o errar
estejam enraizados no seu ADN. 
Os anos passam e voltam a passar,
as letras marcam palavras nessas quatro paredes
e nas paredes da alma
Fortes como quem as escreveu
fracas pelo vazio de actividade que são,
O que as mudará? A vida essa está morta
só nos resta negar mais uma lição.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

ataque De pânico


Os olhos assustados observam
trevas, movimentos acelarados
de passos dados em direção a um fim.
Garras afiadas e infectadas rasgam
a pele do peito, cravam carne
destroem osso, finalmente é atingido
o objectivo. Na ignorância da ingenuidade
está o perigo, acreditar sem ver, acreditar
sem sentir por completo,
acreditar numa sombra daquilo
que realmente existe. 
Estar morto é como ser-se deserto:
o calor é em demasia, e cansa e o silêncio
é infinitamente frio.
O sistema nervoso dá cordas à imaginação,
o coração aperta até ao tamanho de um pequeno grão,
e a dor é a consequência de uma vivência
exagerada na ilusão.
O barulho estica o comprimento da alma
até à sua exaustão, e enquanto esta não quebrar
tudo pode continuar...foi apenas mais um ataque de pânico.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Transcrições


Não existe origem diferente
daquela que já existia. Observam-se
as emoções, o vento das palavras, as ilustrações,
com detalhe tudo é assimilado
e são feitas transcrições.
Que falta de autenticidade.
Mas esta é a realidade.
Somos todos iguais, no bom, no mau
na igualdade. Transcreve e continua a viver.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

( 10 000 )



Dias, punhos no ar, lágrimas, sorrisos, abraços, beijos, quedas, pensamentos, palavras...Vinte mil olhos, dez mil visualizações. Obrigado

sábado, 4 de agosto de 2012

o Corvo


Todas as noites caio novamente - e se me levanto
é somente para poder cair outra vez. E outra.
Porque voar alto não me chegou. Porque deveríamos beijar
o céu, se um pouco mais acima está o sol?
Cai-se, cai-se abaixo da terra, onde as chamas
queimam e ardem à inferno.
Aceitei, o que me demonstraram por tantas vezes
ser o destino que um Homem deve aceitar,
ser destruído por ele era um desafio demasiado imenso.
E não se luta - não se deve lutar - as lutas estão guardadas
para os que devem sangrar - na busca do verdadeiro alimento.
Aceitação numa luta medíocre...e mesmo nessa
falta a força de ser lutada. Fraca, hostil, esta é a minha casa.
Orgulho ou pena são em vão
numa aceitação que foi assente na escolha.
Por muito que queime - e queima sempre,
na dura ausência de um verdadeiro alimento
sobram os restos mortais de tudo o que rodeia.
Voa, mas voa muito baixo, e chega ao longe que pretende,
tão só, tão perto, da tua janela - vestido de negro
na vastidão da noite - protegendo-te dos pesadelos
mesmo quando não sabes que lá está,
sozinho no escuro - e os olhos não se movimentam
para além de ti, deitada, num descanso sereno.
E o grito é o alongar da queimadura...e o pequeno consolo
é ver-te sonhar perante este horror cravejado de trevas da realidade...
Descansa, deves estar cansada. Aqui caio, aqui grito,
daqui vejo o teu nome, por detrás do vidro.

domingo, 29 de julho de 2012

depois da Madrugada

' Há algo de desesperante na solidão, na dormência.
Algo de inevitabilidade no vazio que ecoa cá dentro.
Nas palavras que ardem como se o sol me ferisse o
Coração. Que nunca vão, porque são a realidade
. ' JH

estrelas que retiram ao céu a monotonia das trevas,
céu esse, reflexo interior de almas negras
sem estrelas que lhes dêem brilho.
na noite o único conforto é o sonho
e o desejo do milagre humano ou divino
trazer um sentimento diferente no dia seguinte.
E o dia vem, vem sempre, até deixar de vir,
mas nada muda, tudo está igual, tudo está pior,
a rotina crava-se na coluna vertebral -
controlando todos os gestos, todos os movimentos,
Cala o cérebro, cala os pensamentos, os ditos
e não ditos. E o vazio não chega, porque já cá estava,
e fica, continua a ficar, porque a madrugada
é calma. Um pesadelo que dura até ao noite cair
só para que haja espaço para o sonho sonhar - ilusões.
O avanço poderia ser cego, mas não há avanço,
os ponteiros rodam, acrescentando sempre mais tempo,
o tempo que já não volta; mas não faz mal, nada se perdeu,
porque durante todo esse tempo nada se ganhou.
Uns avançam, para não recuar, uns recuam só para
ganhar balanço. Todos olham o sol que se esconde,
de esperança na mão. Amanhã será um novo dia,
mas um dia igual. Espera, escuta e olha, ouve
e fala, deseja e faz...a mentira do resto ficará responsável,
pelas feridas, suores frios, silêncios frios, espaços vazios
dentro de algo que devia estar sempre a evoluir.
O dia nasce...vive, morre ou perde-te.

sábado, 28 de julho de 2012

o silêncio de Deus, o sorriso do diabo, e outras coisas insignificantes


..fazendo com que fosse aberta a porta, onde com um sorriso distante nos espera do outro lado a criatura que diz com uma voz firme: Estás de volta.


Quando tudo o que está à volta
crescer deixarei de escrever,
quando morrer, finalmente deixarei
de escrever.
a sanidade não é constante, reflexos
de uma doença igual a tantas outras.
Meros seres humanos, numa luta,
num amor, numa derrota certa
contra a divindade humana.
Já lá estiveram, de lá não conseguiram sair,
para lá voltaram. São pegadas que acabam,
é impossível seguir mais, para onde terá ido?
Coincidências são leituras forçadas,
o cérebro é iludido por uma vontade
e os sentimentos revoltam-se
deixando como movimento um atrito maldito. 


Sentimentos racionais, religiões cientificas,
os contrários que se unem
os contrários que se destróiem
A ira de outrora, o escárnio de outrem. 

(Para que os que foram presos possam escapar,
para que os que se prenderam tenham
igual força para se soltar)

Diz a verdade, para que a mentira possa
viver sossegada e feliz noutro lugar qualquer.
Quem se importa o suficiente para alterar
seja o que for?
Nem eu, nem os outros.
Dizem-me e eu sozinho acompanho - tenho medo.

sábado, 21 de julho de 2012

não perguntes


por esses movimentos
levemente pesados, trilhos escolhidos,
indecisos fados, nas estrelas estranhas
dum céu que não consegues entender.
Devaneios de quem procura na loucura
uma razão distante de ser apenas diferente,
brincadeiras de um Deus
perante uma negação constante e firme do ser humano.
Alguns sabem; outros fingem saber,
sobre cada pormenor
do homem, da mulher. De cada parede,
das suas janelas ou portas, e da importância
da sua ausência.
Não perguntes.

e a felicidade tamanha, tão enorme
dita quase impossível de conter,
deixou de fazer sentido; deixou de ser sentida;
e será fácil destruir mais uma teia de aranha,
pois depressa outra estará erguida.
não Perguntes.

Cortar o simples em dois,
sobram duas complicações. Sempre mais além.
Nada disto tem consequências
verdadeiras, porque a realidade está diferente.
Conhecemos esse caminho, sabemos onde vai dar,
mas escolhemos esse na mesma.
não perguntes
porque eu sei responder.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

4, os que passaram

Quatro anos a amonstrificar…
Confesso, nunca pensei ter tantas letras, para alimentar tantas palavras, para construir versos e frases. Quatro anos. Quatros anos passaram desde o primeiro texto que foi partilhado para este mundo enorme que é a internet. Quatros anos de escrita, entre textos de tantas formas e conteúdos…Uns melhores, outros piores. Por onde começar? Pelo fim? Pelo meio? Por lado algum. Entre projectos sonhados que ficaram sempre pela base mais junta ao chão, entre descobrimentos e re-descobrimentos, entre os altos e baixos que todos os outros sofrem, o monstro não fica indiferente…Nem quer. Nem pode. Porque escrevi durante quatro anos? Pela mesma razão que não posso deixar de escrever. Se o mundo fosse perfeito tudo isto seria bem mais complicado – apesar de não faltar vontade de descrever o belo existente, o belo por alcançar. Assim sendo, ainda bem, apesar de ser um verdadeiro ainda mal.
Queria que esta  data ficasse marcada ao mesmo tempo que chegasse às 10 000 visualizações, mas também não foi possível.

Obrigado a quem tem lido, aos que vão e aos que voltão, e aos que desde sempre aqui estão.
Um obrigado especial a quem comenta, pela “ousadia”, pelo feedback.

Quatro anos a amonstrificar, nestas Narrativas de um monstro
‘On a long enough time line, the survival rate for everyone drops to zero.’
E isto serve para todos, humanos e monstros…

domingo, 8 de julho de 2012

na Guerra

' Porque a nossa guerra é outra . . '

Depois da tempestade, vem a descrença.
Não se iludam, a batalha ainda agora começou.
Na procura da cura para todo este suor
que escorre pel'alma e que invade o terreno
em redor, a terra apodrece, e os pensares
fazem pactos com a ignorância.
União mental, física e sentimental,
a gargalha só podia ser fria,
alargada ao eco de uma gruta.
Vai e volta, embate num poder mais fraco
as batalhas de ontem já não querem chegar amanhã.
(Porque a vossa guerra deveria ser outra)
no Céu a metamorfose é somente
entre o preto e o cinzento, e cantam
luzes que abalam quem está por esta terra,
sobra o medo, sobra o negro,
sobra tudo aquilo que escolheu ficar ao vosso lado.
Aperfeiçoamento numa ira verdadeira
de lutar pelo que se quer, antes do Fim.
(Porque a vossa guerra deveria ser outra)
Cordeiros numa planície aberta
à espera do caçador; ele virá, eles virão,
e o sangue escorrerá antes do dia chegar a meio.
Depois da tempestade foi roubada a esperança...
Que se erga a Fénix, a obra prima humana
sem limites primários, que se abra a caixa
de Pandora de olhos bem abertos, sem hesitação.
Porque a vossa guerra deveria ser outra
- Mas não é.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

o Outro caminho


Serão precisas palavras, mas só mais tarde,
não agora, não aqui,
o silêncio, se for partilhado perante
peças que se encaixaram
por uma vontade ou por uma não vontade
de deuses em uníssono, bastará.
Podem entrar num desacordo cósmico,
planetas embatem com planetas,
e a chuva d'estrelas só é bela vista
cá deste chão, sobe o mar,
expira o vulcão, mas são outras guerras.

O tempo envelhece e leva com ele
tudo o que não se pode recuperar.

Cara e coroa. Porquê esperar?
Se a verdade dos olhos bastasse,
os movimentos que param a meio caminho
que transbordam vontade,
e um desenho nos lábios impossível de forjar.

Serão precisas palavras. Mas as palavras
nunca chegam, porque são de mais. Ditas em
silêncio. O silêncio bastará...até que
se escolha o outro caminho.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

domingo, 24 de junho de 2012

omnisciência



Saberão os deuses, saberá Deus, mais um pouco,
perante toda esta minha arrogância.
Mais um dia, mais uma noite, 
num relógio com ponteiros que rodam parados,
momentos contados num calendário.
Toda esta minha ignorância.
Um movimento acelerado de quem se arrasta,
um sorriso de louco para quem se aproxima
e para aquele que se afasta. 
Por mim não basta. Nesta simplicidade em decomposição
nesta complicação vasta; onde os sonhos trocam
noites e as noites são divagações; rangendo 
pensamentos, crucificando escolhas.
Quem se lembrará destes nomes? 
Mais ninguém. Omnipresente, preso em dois lugares,
tão diferentes, comuns naquilo que fazem sentir,
e num perfume partilhado que não volta.
Perante toda a minha arrogância,
afinal que sei eu?
Quando penso saber, saber mais do que outros,
tudo se torna engano. E a certeza era tanta..
Nada. O nada é o denominador comum.
E as palavras começam a ser como incógnitas,
não se percebendo deixam de fazer sentido.
Não que me importe, não que precise, 
apenas queria. Não que me importe, mesmo
que precise, apenas queria. 
Afinal que sei eu? Nada. E nada
vale tanto como nuvens no céu nocturno. 
O medo de estar enganado consome tudo,
o sentir e o pensar, lutar ou recuar,
já não alimentam o ar forçado que respiro.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

argumentos de uma maldição


Doce despertar de uma loucura...
Amargo adormecer numa noite
sem sonhos, numa conclusão escura.
O que pode ser tolerado
até que as costuras da alma
se rasguem, deixando vísivel
o medo, o falhado, o adormecido?
Não era preciso ter acabado assim.
Grita a tortura - que não se consegue calar
por muito que doa.
São nuvens negras que iluminam o caminho,
mesmo nos que procuram a luz,
fogem e voltam, e se voltam a fugir
é porque pretendem voltar.
Já não consigo sentir dessa forma.
A frieza acompanha um gesto que agora já é puro,
Aceito esta herança humana, como aceito
a esperança divina. Consegui admitir
que neste momento parado nada tem de fazer
sentido, que neste barulho completo
tudo pode estar distorcido - mas o mais importante
é saber que é tudo isto assim, sabê-lo e senti-lo.
Não era preciso ter acabado assim.
A sede - acordar de saliva seca, rodeado
de um mar exageradamente salgado,
E na fome de quem se vê no pedaço de carne
que pende do bico de um abutre que se distancia ao longe.
Este mundo é d'outrem, e este mundo não é de ninguém,
Mas tudo isto, mais tudo o resto, continua sem chegar,
porque o tudo não basta, o mundo é pouco, o amanhã
é outra coisa desinteressante e sem valor...
...argumentos de um demónio, assentes no dorso de um anjo
Sentado na cabeça do Homem, olhos brilhantes de ironia
olhando nos olhos de um monstro.
Talvez ainda não tenha acabado. E não deveria acabar assim.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Palavras de sangue


Lançaram os dados e as moedas,
rezaram aos deuses para que os dedos
fossem abençoados...mas a sorte
nunca retribui com sensatez.
Repousa-se a consciência,
com a mão apoiada no Peão
e finge-se pensar,
porque tudo vos levou a crer
que essa pequena jogada fará toda a diferença.
(Xeque)
A preocupação constante por ser ter
perdido a Rainha, esquecendo
que o que realmente importa ainda está no tabuleiro.
Avançam-se as Torres, mais nada por ali passa,
uma barreira dita implacável; Saltam e dançam
Cavalos brancos e pretos apanhando
desprevenidos os menos atentos...O Bispo
aguarda-se na fé, à espera de uma revelação divina.
(Xeque)
Sempre que uma peça é arrastada deixa
no tabuleiro um rasgo de sangue.
Somente o esforço em alcançar mais dor
será recompensado. As lágrimas e o suor
fazem parte desse jogo onde ninguém vence.
(Xeque)
O medo da morte não pode existir.
E as memórias nunca mentem.
Mas as memórias são como os sonhos
são distorcidos no movimento de cada peça.
Terão sido os actos pensados?
Ou o pensamento terá vindo depois?
Tudo passou tão distante...e todo o jogador
percebe tarde de mais que falhou na razão
ou que foi abandonado pela sorte
quando tudo perde.
(Xeque..)
Desde o primeiro movimento do Peão
começou logo a ser escrita em sangue a palavra...
(Mate)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Outr'Água


Ao mergulho de olhos fechados
no suave abismo onde vivem os sonhos mortos,
O cinzento encaixa perfeitamente
na tua essência, da mesma forma como
o sol aconchega cada sombra de cada esquina
de cada rua, de cada aresta da tua face.
São sonhos mortos.
Vivos seres alimentados de sonhos mortos.
Realidade desigual, tornando o mais belo
em linhas e curvas tão tortas e direitas
sentimentos num silêncio barulhento
quebrados sem lugar ao certo
onde possam ser colocados
como essa pintura surreal ou abstracta
que nunca fez sentido.
Nem que voltará a fazer.
Porque sim, porque a razão é estranha e forte
mas guardada num lugar onde falta a compreensão,
porque isso poderia não interessar,
como segundas oportunidades que precisam de
uma terceira, e de uma quarta,
Como um pacto imortal entre seres vivos
onde a morte desde sempre os espera.
Fala-me tão pouco. Fala-me o suficiente.
Outr'água foi derramada, tal pequena graça
sorriso que desenlaça uma complicação tão absoluta
quanto a verdade, a dura e pesada verdade,
tão mentirosa; Outr'água que rompeu pedra,
e que se emaranhou na superfície do solo
e que se enraizou aos confins da terra
onde há calor e frio. Caminha ao teu lado,
passo a passo, como o batimento cardíaco mais íntimo,
como uma telepatia ambiciosa que procura
adivinhar o futuro, mas sem pressa.
Amaste.
Amaste.
Amas.
E amarás.
Como um batimento cardíaco íntimo
assim como o fio de pensamento que o acompanha,
a ambos, ambos em paralelo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

a Sétima vida


Era preciso uma marca mais,
mesmo que pequena, mesmo que pouca,
mesmo que sem sentido ou lógica para este lugar,
Algo mais que simples imagens reais estancadas
ou memórias.

Na esperança talvez vã, talvez de criança,
que num mundo onde reina o horrível
seja possível ao universo bater o coração
na mesma sintonia que de todos os seres vivos
que nele habitam, do racional ao irracional
porque todos pensam um pouco, porque todos sentem...

Nada é eterno, pelo menos nada que respire,
e a resistência é a inércia dos mais fortes.

Tomara aos humanos tamanha capacidade lutadora
por ti tantas vezes demonstrada;
sem medo do escuro, ou de luzes que ofuscavam
e que passavam tão depressa por ti; sons desconhecidos,
a solidão acompanhada somente de monstros,
cortes fundos e tantas foram as vidas suportadas
mas não perdidas.

A maioria não faz por resistir,
Mas mesmo os que o fazem
mais cedo ou mais tarde
não conseguem fugir da morte.
Os mais próximos jamais esquecerão,
desejando que mesmo no fim
algo possa fazer algum sentido...
E que não seja só isto.

Seis vezes te levantaste depois de cair,
e em tanta luta conquistada
só mesmo a última queda
para te deixar vencida
aos pés da Sétima vida.

( RIP Kika , o ser não racional que era família cuja falta já é mais do que sentida )


terça-feira, 8 de maio de 2012

daylight


não saberás como dizê-lo.
Dar tudo por um pouco mais
desse nada, desse tão pouco,
como dizer?
Acorda o dia, tão cedo,
nessa violenta luz
dirão alguns
uma claridade apática
que já não te seduz. Desaparecimento.
Tudo elevado ao segundo, ao expoente máximo
do momento, sem inspiração divina
sem inspiração humana
sem inspiração cientifico-matemática-racionalizada.
E as palavras não chegam por serem tão poucas.
Sou um espaço vazio
que vive completamente entre silêncios.
Tens o mundo nas mãos,
o único crime é abri-las.
Escolher o que não fica,
olhando um espaço, interdito à presença de outro alguém,
que fica uns centímetros ao teu lado;
o molde de uma frágil alma delineado,
um corpo levemente inacabado;
às custas do pensamento nada poderia fazer
menos sentido; por cada gesto
de segredo levemente mantido
que escreveu nos lábios um sorriso.
Como poderias dizê-lo?
Se tudo o resto, assim como cada dia,
gira e mexe e vive e responde e pergunta
sempre igual ou desigual mas sem vigor,
esta máquina programada para não errar
faz tudo parecer mais fácil.
Poderias dizê-lo
para o ouvires, para o ficares a saber.

domingo, 6 de maio de 2012

( . ..)


Horrível
é o serviço oferecido
ao outro que é o dono da máscara.
E por tantas ou por tão poucas máscaras
passam todos os outros...mas elas passam
da mesma forma que por todos nós.
E a única voz que nos podia acudir
já não acode, porque sempre que tenta falar
mais fundo, mais certa, mais pura
é sacudida.
As mãos estão guardadas nos bolsos,
tão presas, escondendo o sentimento mais nobre,
por sonhos tão próximos da realidade,
novamente afastados como se não
fossem nossos.

Horrorosos
traços de negação
são aceites como a mais bela certeza.
Não se olha, não se vê, e o presente
tudo esquece. E não esquece.
O atrevimento é somente ousar
e poder querer, odiar e amar é tão fácil
quando não existe amor ou ódio,
difícil é ousar, é conseguir querer.
Todos conseguem ler mais além
como deseja o mais antigo cartomante,
e todos, pela vontade de cada outro
que não é de mais ninguém além de seu,
desgastam-se na rotina escolhida
de descer cada degrau do Inferno de Dante.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cognitive


ali chegou, pouco tempo depois
de ter terminado uma pequena farsa,
apesar de toda a raça humana ser feita de fraca matéria
é feita de fraquezas bem diferentes.
Ali onde a chuva deixou um rastro fresco,
agora pisado por tantos que dali não eram.
Mas o movimento e a luz citadina afugentam
a claridade e o mexer dos astros,
no ali, no algures,
no vazio do conhecido. Por isso

Subiu a rua, a perfeita rua da qual
nunca se pode cansar, porque não consegue,
caminhando sobre as pedras da calçada
na sombra da escuridão,
sem forçar mais do que o suficiente
a razão da procura, ou a pergunta
que perdura sem resposta.
o Deus é silencioso, respira
no respirar das gentes, e afasta
a impotência perante os outros
através de sinais que não existem,
é um Deus que não dorme.

Tomada pela realidade daquele momento
prefere parar. Será a vida assim tão complicada,
ou serão as pessoas assim tão pouco simples?
E a resposta está guardada...vai sangrando,
ao longe, ali, no algures,
sem entendimento, sem consciência,
tão só, ... até que o melhor caçador
corra e salte ao primeiro sinal
do cheiro do sangue da presa.
Depois do ataque tudo continuou igual,
ela sozinha, e a dor, ou a sensação mais próxima
e semelhante, à procura do que está tão perto.