domingo, 16 de dezembro de 2012

The Fire Rises

[ Sétimo texto contigo...o que ainda posso dizer? Uma vez mais o privilégio foi meu, todo ele. O texto está concreto, belo, completo. As peças encaixam sempre. Obrigado. Com Joana GT Henriques. ]


No fim alguns dirão que tudo
Não passou de uma espiral de fogo…
Mas nós sabemos que foi muito
Mais do que chamas a ganharem vida
Em direcção a um céu.
O coração bate, e o seu batimento é um ritmo
Constante em crescimento, o corpo eleva-se,
O chão treme; o ritual está a começar,
O cântico move-se ao sabor dos passos,
A sicronização é perfeita,
Sabemos o que queremos, para onde vamos,
Como o faremos. O medo é transformado em gelo.
Mas o gelo também queima. Adormece. Torna o meu ser dormente,
Até cair num sono profundo, sem dar por isso.
A escuridão recebeu-nos dentro de si e deu-nos espaço para o luto.
Aqui, o silêncio abafa os gritos que ecoam, apaga o que realmente acontece.
Já nada importa, porque uma parte de nós estará para sempre perdida.
Viver na ilusão mantém-nos vivos, mas arrasta-nos ao fundo quando sabemos a verdade;
Nesse fundo é onde estamos, talvez à deriva, talvez sabendo perfeitamente onde viemos parar. Talvez tendo a certeza de que é aqui que pertencemos. Aqui viemos, por um motivo.
Claridade aqui não existe e as trevas, esmorecem o fogo, até ele desaparecer.
Ajoelhados colocam em causa todos os sentimentos
Todos os actos feitos e por fazer…
Procura-se uma luz segura que brilhe na mão
Dos verdadeiros ou dos inocentes, apontando um caminho,
Para uma redenção, agora que o arrependimento
Crava os dentes afiados na garganta e as unhas
No resto do vosso corpo.
Mais cedo, do que mais tarde, o fogo
Nada mais pode consumir…
E agora? O que farão de diferente?
Esta é agora a nossa sina: tentar agarrar-nos
A algo que nunca dura, que se esfuma no ar.
Mesmo à nossa frente, quando estamos prester
A tê-la. Tentamos agarrar-nos à realidade, à verdade
Que nos mantém na sanidade. É tudo o que nos resta,
Mas nem isso existe mesmo.
Esforçamo-nos por conseguir vislumbrar a luz neste
Fim de tudo sombrio. Mas talvez seja melhor assim,
Talvez a esperança só viesse prolongar o que está
Destinado a morrer. Fadados a viver para sempre entre
A mentira e a verdade, o que aconteceu e o que foi sonhado,
Deixamos agora de acreditar…É tão cansativo sermos os únicos
Que ainda tentam acalmar a dúvida, para manter o sofrimento longe.
É tão esmagador saber que no fundo, nada mudará, nada é
Possível fazer para consertar o que está mal. Não terá um final feliz;
Isto está amaldiçoado desde o primeiro pensamento que o originou.
Deixamos agora de respirar…Entregamo-nos à leveza do desistir.
Algo no entanto desperta na escuridão que nos 
abrigou por tanto tempo – O fumo entranha-se aqui e desperta-nos para o que começou.
O fogo regressou, não-derrotado de queimar. Não cessou de arder.
Ergueu-se. Tal como nós.

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