segunda-feira, 30 de maio de 2011
Matéria envolvente
[O CCB, em Lisboa, serve para várias coisas e para várias pessoas...Para aquelas que percebem e gostam de arte, para aquelas que só gostam, e outras...É um grande lugar, neste país pequeno, desta pequena capital. Serve como sítio para: se estar bem; algo que existe com alguma fartura neste país, mas que regra geral está escondido...(ou sem que haja movimento para o procurar). Quando vi esta imagem...foi quase um amor à primeira vista - ou melhor, foi retomar um amor; achei a ideia excelente e não pude ficar apenas parado a olhar para ela como se quisesse descobrir uma revelação qualquer...Era o Homem...era a luz. Aquela forma de encostar. Uma imagem, que aos olhos de quem conhece, lembrou o universo dos Tool. No meu cérebro juntaram-se ideias e frases...quando dei por mim, estava criado mais um pedaço de mim...desfragmentado. Preciso apenas da matéria que envolve tudo isso...]
Fui acusado de roubar algo que não devia.
Mas como puderei roubar algo
se esse algo me pertencia?
Tão depressa sobe ao céus um corpo
envolto em chamas de várias cores
numa esfera de luz
como tão devagar se prolongam os dias
nessa dia que nasceu numa aurora negra
sem nunca receber o sol ou o céu azul.
A matéria prima do Homem deveriam ser os sonhos...
A paixão de agarrar e de conseguir...
Sinto o meu corpo a respirar ferozmente...
Alguns corpos demoram mais tempo a desistir.
(Derrotado pelo teu último suspiro.)
Renascido em cinzentas cinzas
leves o suficientes
para acreditar ser possível novamente aceitar
a gravidade, e finalmente voltar a voar.
Mas perderam-se as asas.
E não as quero recuperar. Enquanto observo
este momento, neste local, com esta realidade
abre-se um terceiro olho temporal
e fecha-se este tardar de amanhecer no peito.
Que alívio...
É como se estivesse morto
mesmo antes de ter morrido. Mas ainda acordado,
tento mostrar caminhos, e recuperar o equílibrio do
resto do universo dos outros.
Horas diferentes passam
onde se transbordam sensações
e falta delas;
e choquei contra as trevas, abraçando a escuridão,
e nestas horas finalmente aceito e vivo quase feliz
esta solidão...mas o Homem não é feito só de uma matéria,
e viajo de um lado para o outro, sempre, até sossegar.
Mas no fim a verdadeira preocupação
está nessa alma que domina sempre
que não conseguindo ultrapassar a luz
desistiu...frustrada...obrigada a esperar o inesperado...
encostando-se a ela...
domingo, 29 de maio de 2011
O 'erro' de Fernando Pessoa
"Valeu a pena? Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena. (Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.)"
Para mim este é o erro fundamental. E ouço vezes sem conta esta frase. Posso quase garantir, que a queda enorme das pessoas que pensam que tudo de facto vale a pena (e na minha opinião a espessura da alma nem sequer é para aqui chamada), não tardará. E a exaustão vai atingir todos esses que queriam lutar e lutar e lutar, por tudo e por todos, sempre...
É sensato admitir que nem tudo vale a pena. Tão pouco...Existem vários problemas por lutarmos por tudo - e por muitas batalhas em vão; são energias gastas que não são devolvidas nem acrescidas - por ter valido a pena; é tempo gasto a não lutar por coisas que de facto valem a pena, não se estando a usar as mesmas forças para algo melhor - desperdício.
Nem tudo vale a pena. Algumas coisas valem muito a pena, e nessas deve ser aplicada toda a nossa força, sem cessar...mas seja por erro nosso - engano, ilusão; seja por nos apercebemos que afinal de contas não valia a pena o importante é: parar.
Na canção Stinkfist existe uma frase que complementa esta frase de Fernando Pessoa: I'll keep digging till I feel something. (Traduzindo: "vou continuar a escavar até sentir algo") E foi então que descobri, da mesma forma que percebi que Fernando Pessoa "errara", que podemos escavar muito tempo para nada encontrar...devemos parar de escavar? Não. Nós vivemos das nossas escavações e lutas...Mas devemos mudar o local da escavação, escavar noutro lugar, se percebermos que estamos a escavar para nada. Nem tudo vale a pena...não se deve escavar cegamente para nada encontrar...
Mas deve-se escavar sempre que valha de facto a pena, e a alma deve sempre ambicionar ser maior.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
The forgotten
'Do you remember me? Lost for so long..' (E. Torniquet)
Gerados num suposto amor e
evoluídos no calor do ventre humano, foi assim que
fomos criados...
Mas o tempo trás com ele tudo o que é possível.
E se alguns tentam conseguir recordar
outros tentam esquecer, onde alguns tentam
ser lembrados outros tentam ser esquecidos.
Mas o que acontece é acabar por sermos esquecidos,
como se nunca tivessemos existido...
Sem imagens vivas ou mais mortas
do nosso ser, da nossa vida,
como se os momentos de gestos ou falas
escritos, pinturas,
só existissem na nossa imaginação de corpo inexistente.
Tão pouco a alma terá deixado marcas.
Sente-se esta dor das palavras que se vão cravando
em nós, cada vez mais, cada vez mais dolorosas,
E eu deixo-as enterrarem-se...até que já não causem dor,
até que seja possível sentir outra sensação qualquer,
como se desse para esquecer e aprender ao mesmo tempo
nessa esperança de se começar de novo.
Nestas labaredas frias, que gelam tudo à minha volta,
volto a ser esculpido em gelo, crescente na minha racionalização...
De volta a esta espiral que ascende à exactidão,
Disciplinada na lógica, no pensar,
No trancar de caixas mitológicas
Capazes de abalar dores e sentimentos humanos..
Sinto-me capaz de fazer derreter pedra,
num olhar aguçado que sente a realidade
sem se deixar por ela afectar...Afinal já estamos esquecidos,
e nunca existimos.
Deixam-se estar perdidos durante tanto tempo
que não conseguem voltar-se a encontrar,
Desaparecidos...O abstracto vence o concreto
e a nossa alma desaparece
sem deixar marca, sem deixar rasto em nenhum lugar.
Mais tarde
(nesse tarde demais)
compreendemos o quão perfeito eramos
mesmo na nossa natureza de imperfeição.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Lâmina a quente
para começar uma nova guerra.
Tenho de a encontrar...
Conseguem mentir-me de forma generosa,
distorcendo cada gesto, cada palavra
de forma meticulosa...é em sentimentos
destes que abomino a prosa.
Os mesmos padrões de um vazio
que se projectam numa repetição...
É fraca a emoção sentida...
E deixa-se ficar morta como essa lanha
que deixou de arder
sem ninguém por perto para perceber
que era preciso mais emoção.
Troca-se a madeira mas não se troca mais nada.
E tudo se repete...porque tudo é sempre igual,
pouco importa a chuva que vem molhar dias mais quentes
ou o sol que nos vai queimando a pele;
os pulmões pegam fogo - mesmo sem se ter corrido,
e os olhos procuram - sem sequer serem vistos,
e os dedos tocam o abstracto, aflitos
por uma realidade concreta...
Até que tudo se regenere
é preciso não pensar nessa lâmina
que escaldada cortou sentidos...Alguns cortes
que já não doem mas que ainda estão doridos
e pedaços espalhados nesse chão
onde o tempo parou.
E tu estás desaparecido...
E a regeneração que vier
não apaga a certeza
de não te lembrares de desaparecer.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
A Deus
[Praying : open my THIRD EYE! Porque dois nunca chegaram, chegam ou chegarão.]
Pelo terceiro olho
que não chegou a abrir,
mas resta um suspiro marcado na parte de dentro
do meu corpo que esperará por um outro quatro olho.
(Dedicado aos momentos agradáveis que passei nestes textos; dedicado a quem leu, e a quem comentou. Obrigado às músicas que me inspiraram nesta luta (ou nesta espera) de um terceiro olho, principalmente à obra prima (que tardou a ser reconhecida por mim) chamada Third Eye, música do albúm Ænima.)
Iludi-me...
Terei sido arrogante? Terei sido gula para
com a arrogância que transparece
sem dificuldade dos poros da nossa pele?
Não iria tão longe.
Caminhei este chão durante tanto tempo...
E a tortura de me separar dele não tem descrição;
ainda sinto o seu cheiro, e cada pedra cravada à superfície
nos meus pés...e o seu sabor...Mas não, por agora não mais.
Onde errei? Terei de facto errado?
E sim falhei, sem qualquer luz de dúvida,
errei ao acreditar. O ser humano erra sempre que acredita.
Acreditar é um tempo que morre na secura da espera.
Deixei-me levar por essa vossa esperança...a que finge
encantar, a que promete trazer tudo a todos. Humanos...
Em todos os momentos em que caminho para fora
desta criatura monstruosa sofro, e sofro cada vez mais,
sem aprender, sem conseguir aprender.
Deixei-me moldar suavemente como vidro no calor,
esquecido de como era ser-se calculista e realista...
Ali deixei-me embalar...e ignorei os momentos em que arduamente
me esculpi em gelo, frio e imutável na razão.
Terei sido arrogante em ambicionar um terceiro olho?
Não. Apenas não me deixei ser como devia...
E esqueci-me da melhor lição que tanto grito
a quem me quer ouvir, (e mesmo a quem não quer)
que a simplicidade está dentro de cada um nós...
Até ao momento em que pegamos nela
e a destruímos...alguns ainda a tentam voltar a montar,
peça a peça, com paciência, muita paciência
porque sabem da sua importância.
Mas a maioria, (e eu caí nesse erro),
contempla os cacos no chão...e a visão
é só uma: as complicações da nossa vida
cada vez maiores, cada vez mais compridas.
Ainda não foi desta que abri o terceiro olho...
Mas terei tempo, se o tempo que tenho chegar.
E tentei, mais do que aquilo que pensava conseguir,
caminhar na luz, seguir a luz, puxar a luz para mim,
mas todo este caminho, toda esta claridade
a nenhum outro lugar me levou senão às trevas.
É o preço que se paga por se negar uma verdade,
ou pelo menos por se tentar chegar mais longe.
O mal do homem é sonhar. O mal do Homem é acreditar.
E a esperança deveria ser, na maioria dos casos,
a primeira a morrer...ali desde logo estendida
sem respirar.
O triste é que poderia voltar atrás
que faria tudo igual...assim como todos vós
ainda tenho muito para aprender;
porque reajo da mesma forma que todos vós
quando alguém me desilude;
e sinto o mesmo sufoco na garganta
e no coração quando desiludo.
Procurei justifição nesta distância curta
que sempre separou dois mundos:
para que o monstro se afirmasse mais forte,
consciente que das letras vou bebendo
o que não consigo beber na vida que tenho...
Mesmo no coração menos sentido
onde a razão faz força por não ceder,
mesmo aí,
se existe algo
acaba-se sempre por quebrar essa força
indestrutível para abrir os braços a algo bem maior.
Hoje senti-me diferente
e o silêncio que me tem acompanhado como uma sombra
(mesmo sem sol no céu)
continuou...mas só. Às vezes só sentimos verdadeiramente algo
quando o resto desaparece; e percebo agora que não era só silêncio...
Havia algo mais ali, que agora desapareceu.
E sinto-me diferente
e sinto-me mal, e a vontade de um terceiro olho nascer
morreu por inteiro, como se fechassem a porta assim
que me aproximo dela ao ponto de lhe poder tocar.
Sinto-me agora desta forma,
de uma maneira até familiar, mas antiga,
onde ninguém mais me fecha, sou eu quem se decide
a fechar, soltando uma pessoa que já não era
e que não queria voltar a soltar.
A simplicidade de abrir este olho foi demasiada...
Às vezes temos de lutar...ou esperar que lutem...
E às vezes temos de esperar que a Deus seja dado tempo.
Terei sido arrogante? Terei errado?
Depende da perspectiva...
Poderão dizer que não fui monstro...
Eu...
Diria que fui humano.
http://apologiadomonstro.blogspot.com/2011/05/8760.html
terça-feira, 10 de maio de 2011
Dark desire
Fechando por breves momentos este terceiro olho que ainda não abriu..
"...sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado...tem a dimensão de um tudo e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte."
"Here in the darkness I know myself. Never wanted it to be so cold. Wonder what's wrong with me."
Procuro conforto na morte,
como se de alguma forma fosse esse
o paraíso pelo qual procuram...
Não imaginam as cores possíveis
que pintam a escuridão.
É toda uma dimensão de medo
que nos espera mesmo antes de avançar.
Nunca me quis tornar gelo,
nem pedra...nessa batalha cega
acabei por ver que não mereço respirar.
É vão o sentimento de lutar um pouco mais,
Juntando peças, alimentando almas e bocas,
procurando uma solução; amando e recuando
sem conseguir preencher o vazio.
E neste eco silenciosamente drámatico
só se ouve um grito, gelado e continuado.
Alguns tentam matar a dor...Ultrapassa-la,
viver ignorando-a...sangram tudo
até que alguém se aproxime
e lhes abençoe com um torniquete.
Beijam essa ferida, ou essas feridas,
e tentam cicatrizá-las.
Aqui irá jazir ninguém...Ninguém que desistiu a tempo,
sem precisar a cada momento
de ópio, lítio ou absinto.
Quando já não se destingue o sonho
de uma lembrança, a outra parte
de um vício no amor, tudo é absolutamente branco...
E um anjo aguarda do outro lado dizendo:
Fiz tudo o que podia...
E chora-se muito, noutro lado, por não se saber a razão.
Alma erguida, sabedoria virgem, e um coração humilde
como se estivesse a começar de novo...
Não me deixem ir - mas nada podem fazer.
Talvez me tenha encontrado sempre muito pouco,
insuficiente foi o tempo que me foi concedido.
Agradeceu-se a todos aqueles
que fizeram de ninguém um ser monstruoso
- Amados para sempre pelo bom e pelo mau que fizeram
- Odiados por tudo o que não alteraram na essência.
Passaste tanto tempo na escuridão; com mais
ou menos claridade...Ainda consegues seguir outra cor?
O peso do maravilhoso desfaz-se pesadamente no nada...
Ia-me esquecendo de tudo isto...e para quê lembrar?
As palavra vão esculpindo...beleza ou histórias.
É um veneno poderoso que me afecta os pensamentos
fazendo lembrar doenças mentais.
Quem nasce monstro
não pode morrer de outra forma...
A escuridão tem tantas cores.
Para os corajosos que não se cansam de lutar
-Ou para os que aguardam porque sabem que chegará um
momento melhor;
Voltem-se a erguer das cinzas...
E não esperem por mim,
nem esperem por ninguém.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Dark passenger
faciais e na maneira um tanto ou pouco extrema de amar...
E custa-me ver os mesmos erros e situações
O amor de irmão...é amor de irmão.
domingo, 1 de maio de 2011
A fonte por detrás da lua
São essas brisas raras
que me seguram esta fome monstruosa
de atropelar cada vez mais almas...
Os anjos são crianças que foram tiradas
ao mundo demasiado cedo...
E o seu suspiro, a brisa que nasce
ao baterem as asas,
faz com que o pensamento
e o coração cruzem o mesmo caminho...
Ali, rodeado de vida, e por muito escuro
que estivesse, não consegui ver esse reflexo
espalhado no céu...não consegui alcançar as estrelas,
nem a lua...
Já não espero nada...sinto por vezes,
próximo o suficiente de mim para o sentir,
um anjo caído. Não sei está cansado
ou com alguma asa ferida...Ele escolheu o silêncio
para comunicar, porque o silêncio é a única
língua que consigo falar.
E o mesmo silêncio acompanha
lágrimas pesadas que de forma escondida
se vão escapando da alma...
Por um pouco menos de paz,
por um pouco mais de loucura,
onde o verdadeiro amor amordaça a tortura...
As lágrimas que cairam desapareceram no chão;
as que ficaram por cair
seguiram viagem
para essa fonte por detrás da lua
onde alguns anjos tocam as mais tristes melodias
e onde descansam as asas...
Eu procuro o terceiro olho
para ficar com três...
e tu com dois, afinal até onde vês?