domingo, 25 de setembro de 2016

vida pós morte da máquina que viveu sofrida

Nessa mistura de cores,
(a preto e branco esboçado)
O sorriso da máquina, cansado,
(esconde as mais poderosas dores);
A energia incansável, eterna,
Tal coração que durante um século bateu,
Tal fóssil esquecido perante a Era Moderna,
Suspirou por fim, esgotou, morreu,
(foi colocado de parte,
Pegado ao colo, empurrado para um rio,
Largo, comprido, frio,
Como se uma vida mecânica não fosse também divina arte...)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

mensagens

Na louca espera pela revolução,
Pelo sol quente que penetra essa sala escura e fria,
Pelo vento que afasta as poeiras, as cinzas
dessas fénixes que nunca se chegaram a erguer.
Nesses bateres de portas, de janelas,
Nesses pedidos por ajuda,
Por essa alma que grita a uma alma surda,
Essas pequenas velas não chegam para iluminar
esse escuro recanto que é a solidão do falhanço...

Entre cálculos matemáticos, líricos, pequenas lembranças
vividas, relembradas, elevadas ao expoente máximo
como se se tratassem de verdades cientificas;
O bem o mal, o pecado, o desagrado, o degredo,
Às vezes a mentira é o maior segredo.
Esse arrepio percorre o corpo inteiro,
acerta em cheio no coração, fere o cérebro,
Quase toda a tua vida foi um erro - errantes passos
dados...

Toda uma miséria, uma energia negativa, uma falsa realidade
moldada a ferros, horas a fio a mergulhar nesse rio
pouco nítido, a subir a descer, a agarrar algum oxigénio,
de força fraca, já sem razão para lutar, para ser melhor.

Essa mágoa, essa tragédia, que magoa,
que vos deixa agarrados ao chão, tal calçada esquecida e pisada
em Lisboa.
Durante essas trevas negras que nunca dão tréguas,
Ignorância e arrogância, a cegueira é contagiaosa.

Restas-te, algures no mundo, sem lugar,
sem música de fundo, sem cores,
implorando para que o coração exploda em chamas devorando o mundo através de lava ..

domingo, 8 de maio de 2016

Vazio umbilical

Essas auroras celestiais, brilhantes como
cristais, cegas de tanto brilhar,
Por entre a névoa elevam o sol,
Enchendo de luz o negro que por tanto
tempo pairou e perdurou nos recantos d'alma;
Esse remédio ao mistério do tédio que infiltrado
nas veias se iam remoendo, tal veneno sereno
matando em silêncio;
Sozinho, sem rumo ou caminho, nas três paredes
desse quarto redondo, sonhando com um poder único
de conseguir mudar um pouco mais do que nada,
Exigindo conseguir tocar um pouco mais nesses mundos
Parados, estanques, sem brisa; Desejando desfazer mitos
de quem geme timidamente sem saber, por ajuda,
Delírios de quem está ensopado em absinto;
Loucuras de um louco tão sóbrio, tão só no desassossego,
Enquanto vai coçando as cicatrizes, fumando do seu tabaco
as suas raízes, triplicando a sua atenção absorto nas crises
de um cordão umbilical que une toda uma essência de nadas,
Esses nadas que nos pertencem, que são o nosso reflexo neste mundo,
Surdo, mudo, de gestos gastos;
e os versos aguentam firme, por uma fome
menos cansada de morrer, por um novo alento
menos morto, menos lento, um ritmo que move,
Que alerte, que comove, que no fim de contas,
ultrapasse um ligação carnal e sentimental
vazia de explicações, além terra, além sonhos,
Que seja a leitura real do que nos rodeia.

domingo, 6 de março de 2016

lembra-me um sonho medonho rústico ou moderno que ainda não tive

Deixei-me, a rir por dentro e por fora
Dentro dessa sala onde decorria o meu funeral,
Uma euforia desigual percorria agora
o que outrora fora a vida terminal.
A verdade foi coagida, de forma irracional,
a mentir, a construir outras realidades,
dos montes, das serras, das ervas,
aos pavimentos, aos cimentos, às cidades,
Esperança morta, erguida mais tarde,
por entre cinzas da saudade,
Luzes reais alimentadas por entre névoas,
Ao som desses esqueletos, dessas caveiras,
feitas catapultas de um barulho sem lugar.
Dói demais não compreender as rimas ímpares,
Mas dói mais ainda compreender a poesia,
Nessas raras alturas singulares,
em que tudo consegue fazer mais sentido
e em que tudo é sentido,
Em cada palavra um abrigo, em cada fome um alimento,
Em cada cor um cinzento, cinzento cor de luz,
Em cada pecado um acordar que seduz,
Em cada respirar, uma vida que cresce como fermento...

Não são só palavras,
Não é um conjunto de nada que se entrelaça
por de trás desta voz calada,
A reviravolta é conseguida, quando menos se espera,
Nesse despertar da Quimera;
Quem não respeita, quem não tolera,
acelera contra esse vértice, que magoa,
que desenterra a mágoa,
E que nos deixa pregados ao solo.
A compreensão é fácil, basta querer compreender.