segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Doença

Quando me vejo no centro dessas nuvens cinzentas, onde o ar me estanca a respiração, onde não encontro sossessego, onde tudo o que me resta é o medo de sair desse cinzento.
Porque o medo de sair dele é quase igual ao medo de o suportar, e por isso, mas só por isso tornamo-nos cinzentos, começa-mos a fazer parte dele. Às vezes não nos apercebemos, deixamo-nos ir...é demasiado fácil deixarmo-nos ir. Resta-nos a sorte rara de alguém nos puxar a tempo, de alguém chegar e soprar com muita força, para a afastar as nuvens cinzentas, derrotar essa pseudo-mãe-natureza-humana. Louvadas sejas essas pessoas, dispostas a estender a mão, a continuar ao pé de nós mesmo quando o cinzento já de nós fazia parte.
Tudo o que quero neste momento é voltar a casa. Sentir o cheiro da minha casa, do seu pó escondido que se esconde do aspirador, da vassoura. Quero sentir o calor farto do meu quarto nos dias de Verão. Quero pegar na minha gata e agarrá-la com força para saber que está viva e ao pé de mim.
Quero ficar na varanda, ver os carros e as pessoas a passar. Quero sentir uma paragem de autocarro cheia de pessoas vivas.
Porque o cinzento ainda não entrou dentro de mim. Mas já o senti de perto. Pode voltar talvez. Mas espero estar à altura dele.
Dele...dele...dele...

Esclarece-me as minhas dúvidas mais importantes,
As que me interessam, as que mais receio.
Porque essa dúvida, esse estado de alma que te percorre
o pensamento também me procura por vezes...
(Ninguém está só...)
Quando ignoras o mundo, e a parte que dele te influência,
Quando te recolhes ao teu espaço de pensamento,
Quando vives sobre telhados de acontecimentos que te infurecem
que te revoltam, que te fazem pensar deveras a sério,
Quando não encontras resposta esses mistérios...
Porque morrem, porque sofrem, porque sofrem e morrem...
E sentes uma inquietação na alma, sentes uma tristeza
inexplicável que te faz aproximar da janela para comtemplar a rua
com uma lágrima a escorrer.
Não a ignores. És humana. Sentes. Estás viva.
Ainda não te tornaste uma pedra. Ainda não te tornaste um músculo
escravo de outrem.

Afasto-me das nuvens cinzentas, pois sei que para lá delas nada de bom me espera. Raiva, solidão, pena de mim próprio. De sair agora, pelo meu próprio pé, ou com ajuda de quem de mim gosta, estarei a fazer um favor a mim mesmo.
Se as ultrapassar, se viver para além delas, nunca mais serei inocente, serei para sempre culpado.

Esta doença, de desconhecida natureza
faz-me pensar...

1 comentário:

Joana disse...

Um lado novo, diferente, surpreendente, no bom sentido. Sim de facto, quando estás no cinzento, todos os minutos contam...Se lá ficares demasiado tempo, podes nunca recuperar. ^^ Adorei. E sei que sou humana, obrigada por me ajudares a ser uma melhor. *